happily ever after. escrita por unalternagi


Capítulo 32
Corte todas as cordas e me deixe cair


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente

Voltei rapidinho, vai?

Estou muito animada com as repostas que venho tendo, adoro quando comentam que estão ansiosas por mais (eu leio fanfic também, sei como é ansiedade então...)

Espero que gostem do capítulo de hoje. Alguém disse Alisper? hahaha

Boa leitura ♥



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Capítulo 32 – Corte todas as cordas e me deixe cair

|JASPER|

Comecei a ganhar maior consciência sobre os dias e seus nomes e como passavam e a distinção entre manhã, tarde e noite apenas depois de chegar a Suffolk.

Maria e Peter estavam mais do que aliviados, quase não os havia visto desde que chegamos. Eles saíam com antigos amigos que tinham aqui pela cidade e viajaram de carro para Londres para visitar os pais de Peter. Eu estava sozinho, me sentia estranho, como se não realmente pertencesse aqui ou a um mundo qualquer.

Melhorou depois de conseguir falar com meu pai, me senti mais a criança que eu me lembrava, ele me passou confiança, jurou encontrar-me em Nova Iorque o quanto antes acompanhado por minha mãe – com quem não falei já que não considerei fuso horário nenhum quando liguei para Forks e, aparentemente, ainda era madrugada lá. Meu pai me passou um número de telefone quando pedi para conversar com Rosalie e eu brinquei com o papel por um tempo antes de ter coragem de ligar. Estava com medo de que cometesse alguma gafe ou de magoar minha irmã por não lembrar-me completamente dela.

Então escutei uma voz rouca do outro lado da linha e apenas o "alô" foi o bastante para a enxurrada de memórias que eu tive com a garota de cabelos castanhos avermelhados e olhos verdes, minha amiga, a pessoa mais desastrada que eu conheci na vida, e apesar de serem memórias antigas de tempos menos difíceis, quando ainda éramos pequenos, eu senti no calor de sua voz ao me chamar por meu apelido, que ela não me julgaria, ela estaria ali para me ajudar e eu soube, no meu coração, que minha irmã seria ainda mais presente para mim. Conversei com Bella por um tempo enquanto ela gritava para Edward e ele também falou comigo.

Meu melhor amigo, o garoto sério e dedicado, muito simpático e que esteve sempre comigo. Sempre. Sorri emocionado e conversei com ele também, a mesma animação, o mesmo amor destinado à Bella e, por fim, finalmente, escutei a voz de soprano da minha irmã, minha outra metade, minha gêmea.

Fala alguma coisa que só a gente sabe— ela chorou do outro lado da linha e eu ri.

Eu não sabia, não tinha certeza que apenas nós sabíamos daquilo, mas falei a primeira coisa que me veio à mente.

—Você fazia cocô na calça depois de assistirmos filmes de terror porque tinha medo de chegar ao banheiro e sempre comia besteiras demais, por isso eu nunca queria dormir com você, mas sempre dormia – falei e ela riu antes de eu escutar um soluço alto do outro lado da linha.

Você voltou para mim— ela chorou e eu também.

Porque era estranho e minha mente doía com lembranças que queriam me tomar.

Conversei com ela um bom tempo antes de ter que desligar e dei-me por satisfeito. Imaginei se Emmett estaria com eles, porque fiquei surpreso ao ver que ainda não eram nem sete horas da manhã ainda em Nova Iorque, então imaginei que todos morassem juntos, pensei se eu morava lá também.

O resto do dia passou rapidamente, entre consultas médicas e conversas com a parte jurídica do exército, eu não vi realmente como as coisas aconteceram, só lembro de acordar bem cedo no dia seguinte, uma paz estrangeira tomando-me quando percebi que estava bem e seguro.

Tomei um banho quente e vesti minha farda, sabia que teria uma conversa de retorno com o neurologista naquele dia, talvez seria dali que estava provindo toda a minha imediatez e ansiedade. Estava andando pela área externa da base militar quando outro soldado se aproximou de mim, cautelosamente.

—Soldado Hale? – ele perguntou.

Assenti.

—Aparentemente há uma visitante para o senhor na sala de espera do quartel, pediram para lhe avisar – ele falou e eu agradeci antes de apressar-me para lá, confuso com quem poderia ser.

E a cada passo que eu aproximava-me do local eu sentia a ansiedade crescer de forma quase desconcertante. Respirei fundo antes de entrar pela porta traseira.

—Bom que encontraram-te rapidamente, a jovem que lhe espera parece ansiosa – a mulher disse.

Franzi o cenho, mas concordei e então ela foi comigo para a parte da frente.

Foi quando eu a vi.

Lembro de sonhar e acordar com um par de olhos em mente, depois com um sorriso lindo e por dias – ou meses – eram as únicas coisas que eu lembrava-me, dos ditos olhos e o sorriso. E, conforme o tempo se passou no deserto, eu começava a viajar com aquilo, tentei e criei uma face para completar o conjunto dos dois e, tolamente, batizei o rosto em minha mente de “protótipo da mulher ideal”, tudo parecia perfeito naquela mulher e, insanamente, eu a via agora. Parada em minha frente. O anjo que conjurei nos meus momentos mais difíceis.

Tentei ser cordial, não queria a assustar, mas ela pareceu triste em me ver. Pensei se ela tinha se enganado, se eu não fosse a pessoa que ela esperava encontrar, mas então ela se apresentou.

—Alice Cullen, eu sou a irmã caçula de Edward – ela disse baixo, apertando a minha mão.

Irmã caçula de Edward.

A voz dela parecia mesmo familiar e perguntei-me o porquê, de todas as pessoas, ela era a única que eu não me lembrava. Será que não éramos amigos? Tínhamos perdido o contato? Mas nenhum sentido eu encontrava naquilo. Eu me lembraria dela. Não lembraria?

—Perdoe-me – falei sem perceber e ela me olhou surpresa.

—Por quê? – ela indagou curiosa.

E aí o confuso foi eu. Não sabia porque eu tinha dito aquilo.

—Por não te reconhecer, acho que já faz tempo que não nos vemos – falei tolamente, ela saberia se era verdade.

Ela encolheu os ombros, abaixando a cabeça como se seus sapatos fossem a coisa mais interessante da sala, e eu não entendia as atitudes da mulher a minha frente.

—Está tudo bem, eu acho – ela sorriu de canto – Como você está? – perguntou.

—Bem, eu estou bem. Eu cheguei ontem aqui – contei.

Será que ela morava no país? Edward tinha pedido para ela vir checar se eu estava mesmo bem? Será que ela era amiga de Rose? Penso que sim, afinal, éramos vizinhos.

—Onde você estava? – ela perguntou, genuinamente curiosa.

Olhei para as cadeiras atrás dela e apontei sugestivamente. Ela sorriu e voltou a se sentar onde estava um momento mais cedo, quando eu a vi. Sentei ao lado dela e suspirei. Contei sobre a queda do meu avião e como Maria, Peter e eu conseguimos sair, então o que descobrimos sobre o que tinha acontecido: os destroços foram achados a Sudoeste da Argélia e nós, aparentemente, andamos mais para Sudeste, a parte menos populosa do país, literalmente desértica. Então alcançamos o Parque Nacional Tassili N'Ajjer.

—Os historiadores franceses nos levaram até seu hotel e Peter conseguiu contato com a base. Acho que isso aconteceu no começo da semana, passamos um tempinho no hospital antes de podermos vir para Suffolk – contei e ela assentiu devagar, pensativa.

—Estou muito feliz que você esteja bem – comentou por fim e eu sorri.

Um silêncio incômodo se instalou entre nós dois, então olhei para o relógio e levantei assustado em como o tempo passou rápido.

—Ó, peço desculpas novamente, mas tenho que ir, eu tenho uma consulta agora com o neurologista e-

—Se importa se eu te acompanhar? Rose está longe, mas eu estou aqui e gostaria de ir com você – ela falou parecendo perdida em pensamentos.

Eu assenti rapidamente, não doeria nada ficar com ela por mais um tempo, eu confiava nela. Não com a mente esquecida, mas com meu coração que pulsava calmamente desde que ela começou a conversar comigo.

Saímos juntos para o estacionamento depois de eu pegar meus documentos e ela dirigiu para onde eu mostrei no envelope dos exames que eu tinha em mãos.

—Nós somos amigos? – eu perguntei curioso.

Ela riu de uma forma diferente. Não era bem humorada, para ser sincero, soara mais como se ela sentisse alguma dor, mas seu rosto oferecia-me o amplo sorriso com que eu tinha sonhado por um tempo. Pensei o que Alice era em minha vida e esperei que ela fosse sincera e contasse.

—Algo assim – ela se conteve em dizer.

Eu decidi não perguntar mais, o resto do caminho foi feito por um silêncio mais confortável, mas ainda assim pesado entre nós dois. A única coisa que ouvíamos eram as músicas que o rádio tocava, baixo.

No hospital as coisas foram um pouco mais tensas.

Na sala do neurologista ele apontou que a concussão estava realmente bem curada, apesar de parecer um pouco inchada e ele me receitou um remédio para uso contínuo e pediu uma nova consulta assim que eu chegasse em Nova Iorque para ter certeza que tudo ficaria bem.

—Desculpe, doutor, mas e a memória dele? – Alice perguntou parecendo realmente incomodada.

—O que há de errado?

—Ele não se lembra das coisas – ela delatou.

Eu não tinha realmente contado a ninguém sobre aquilo ainda, eu vinha ganhando memórias pequenas em sonhos e achei que ver mais pessoas conhecidas pudesse me curar daquilo. Eu lembrei-me da minha base militar ao chegar em Suffolk.

O médico encarava-me, confuso, esperando algo de mim.

—Eu tenho curtas memórias sobre minha infância e então do meu período no exército – eu confessei.

—Deveria ter me dito isso mais cedo, senhor Hale – ele falou pensativo, voltando a analisar meus exames – Seu cérebro parece normal, mas talvez esse inchaço seja um pouco mais sério do que pensamos no início – ponderou – Eu não o poderei acompanhar, mas além de um novo neurologista em Nova Iorque, preciso que passe em um psiquiatra também, apenas para desencargo de consciência – o médico falou guardando o exame – Se for físico, o neurologista será um ponto chave, se for emocional, o psiquiatra – ele explicou.

Assenti, mais tranquilo porque sentia que, de uma forma ou outra, eu acabaria lembrando-me das coisas, tudo apontava para uma melhora eventual e, para mim, aquilo era o bastante.

Aparentemente apenas para mim.

—Espera, pode não ser físico? – Alice perguntou.

—É algo complexo senhorita...

—Cullen. Alice Cullen – ela falou.

—Bem, Alice, ele esteve sem cuidados por um período perigoso de tempo, ainda mais com a concussão que descobrimos, mas a mente humana ainda é um quebra-cabeças sem respostas lógicas ou preconcebidas, cada caso é singular e com Jasper não é diferente. Talvez o coma no qual ele se auto induziu no começo de tudo...

—Coma? – Alice indagou chocada, encarando-me quase acusatória.

—Bem, foi o melhor para ele, porque o cérebro pôde relaxar e descansar, os amigos cuidaram para mantê-lo hidratado e vivo. Fisicamente ele está, realmente, bem – o doutor falou e eu sorri, tranquilo.

Alice não parecia daquela forma. Ela se levantou quando o doutor entregou-me as receitas e encaminhamentos e eu despedi-me, agradecendo-o por tudo.

—Por que não me falou que você tinha estado em coma? – ela demandou assim que entramos em seu carro.

—Eu-

—E que ideia de merda é essa em esconder das pessoas a sua amnésia, ainda mais do seu médico? Isso é algo muito sério, Jasper – ela falou brava.

E eu comecei a ficar bravo também, porque ela estava forçando minha mente e uma dor de cabeça começou a incomodar-me.

—O que pensou? Em chegar em Nova Iorque e começar uma vida no escuro? Sabe ao menos quantos anos tinha em sua última memória? Eu estou chocada, você está sendo tão irresponsável. Bem, chocada mas não surpresa porque isso é tão você. Você pensa que pode simplesmente desligar o sentimento dos outros e correr atrás do que acha correto sem realmente pensar no que tudo pode acarretar – ela falava tudo em um fluxo de palavras que me desconcentrava e, nesse ponto, já dirigia pelas ruas – Eu falei. Eu te disse que era perigoso, tudo o que você estava colocando em risco e agora, olha o que aconteceu – ela falou parecendo nervosa, desesperada, preocupada, eu mesmo estava num furação de emoções e foi quando senti a minha cabeça latejar – Agora você não vai dizer nada? Gostaria que ao menos tentasse me explicar tudo isso, por que você está sendo tão egocêntrico e egoísta com tudo isso? Por que não me contou de cara que você não se lembra de muito-

—PORQUE EU NÃO TE CONHEÇO – gritei irritado com todas as cobranças que ela fazia e eu não entendia com que finalidade – Porque eu nunca a vi em minha vida. Tenho memória sobre Bella, Emm, Rose e até mesmo do seu irmão e dos seus pais. Conheço tia Renée e tio Charlie por associação e penso que se vir meus pais na rua eu correria para abraça-los, mas você é um vácuo sem memória, um espaço branco, uma lacuna a ser preenchida – confessei.

Então o carro parou abruptamente e Alice se curvou por sobre o volante do carro, chorando copiosamente.

Reparei que estávamos no canto da via e fiquei mais tranquilo ao ver que não causaríamos nenhum transtorno, mas voltando a olhar para ela a tranquilidade passou e eu senti apenas uma aflição e angústia que me machucavam o peito.

—Desculpa.

—Pare de se desculpar – ela demandou – Todos os motivos pelo qual você está se desculpando são imbecis e irrelevantes, não me importo que tenha gritado comigo ou que não tenha me reconhecido de primeira porque nada mais importa, você sequer se lembra de mim, então... – a voz dela morreu, ela encarou-me com os olhos lindos afundados em lágrimas e eu quis chorar também.

Não segurei o soluço que irrompeu do meu peito.

—Eu não sei o porquê devo desculpar-me, mas estou me desculpando, tome isso como qualquer coisa que você queria tomar. Se for por eu não me lembrar de você, ou por alguma briga que tivemos no passado, ou por eu estar sendo um imbecil ingrato no momento, qualquer coisa, mas fala que me desculpa – supliquei.

Alice chorou mais ainda com aquilo e ficamos daquele jeito por um bom tempo. Os dois chorando alto e soluçando, tentando nos enxergar por entre as lágrimas que corriam livres em nossos rostos. Ela segurou forte minhas mãos e eu quis agradecer por ela estar ali, mas eu não queria mais dizer coisas que a magoassem, algo em mim quis dizer que eu sentia-me seguro com sua presença, mas mordi minha língua antes de a machucar mais.

—Está tudo bem, sim? – ela disse com a voz fraca – Você está vivo e eu também, nós vamos ficar bem – prometeu.

Assenti sem entender o que, de fato, aquilo significava.

Mas ela desafivelou seu cinto e se jogou em meus braços, em um abraço desconfortável por cima do câmbio do carro. Apesar da falta de jeito, devolvi o abraço e senti a paz retornar para dentro de mim. Sorri no abraço dela e as lágrimas secaram quase instantaneamente.

Estávamos vivos e ficaríamos bem.

.

|ALICE|

Passei os últimos três dias tentando ficar firme no que tinha garantido a Jasper. Ficaríamos bem. Então todas as manhãs eu acordava esperançosa sobre alguma memória sobre mim, mas tudo o que eu descobria era que as memórias dele o jogavam para momentos de lembranças onde eu não estava presente.

Como o dia em que ele e Edward venceram a pequena liga de baseball na escola e eu estava internada com crise de sinusite. Ou no aniversário de Emmett no paintball, que eu tive que ficar de fora por ser a menor de todos e minha mãe me deixou ajudar com a organização da festa.

Não haviam muitos momentos da nossa infância que não fossem memórias dos seis juntos, mas todas as coisas que Jasper lembrava eram excluindo-me de tudo.

Contei para Rosalie sobre a verdadeira condição do irmão dela e, junto com Bella, elas encontraram os melhores especialistas nos quais confiavam e Jasper já teria consulta com eles nos dias que seguiriam sua chegada a Nova Iorque.

Parei na frente da base militar rapidamente naquele domingo, não teria muito tempo para ficar e Jasper esperava-me do lado de fora, sentado no muro com um livro em mãos. Sorri para ele quando ele me percebeu e a mesma vontade enlouquecedora de beijá-lo com tudo o que eu tinha me assolou novamente e, como todos os dias, eu não o fiz, apenas andei até ele com calma.

—Bom, acho que é isso – falei e ele franziu o cenho – Lembra que eu te contei ontem que eu teria que voltar para a Itália? Meu curso ainda se estende por três semanas.

Ele parecia confuso e, mais um ponto baixo de tudo, é que às vezes ele esquecia de coisas que tinha feito recentemente. Não era muito alarmante, eram apenas coisas pontuais e não apenas relacionadas a mim.

—Nossa, parece estranho – ele confessou.

—O que?

—Deixar você ir embora – ele falou e meu coração se aqueceu no peito, sabendo que o meu sentimento era recíproco – Acho que não posso te fazer de motorista para sempre, não é? – brincou e eu ri.

Dei de ombros sem saber o que falar, então ele levantou e abraçou-me.

—Obrigado por tudo, você foi uma grande amiga. Eu vou sentir a sua falta – falou e eu sorri, abraçando-o para ainda mais perto de mim, tentando fundir seu peito no meu.

—Eu te vejo em três semanas, em Nova Iorque – jurei e ele sorriu animado.

—Mesmo?

—Claro, é o fim do meu intercâmbio e sua irmã provavelmente me decapitaria se eu perdesse o primeiro aniversário do filho dela – falei sorridente.

Jasper se separou de mim, o sorriso semelhante ao meu.

—Não acredito que ela é mãe de um ser humano dessa idade já – ele disse e eu ri.

—E é uma ótima mãe, você vai ver – falei para manter o clima leve.

Mas a verdade é que eu queria implorar para ele se esforçar nas terapias, para me deixar voltar para a mente dele, para me deixar entrar de novo em seu coração, para que não preenchesse o espaço que era meu, que não esquecesse que ele tinha jurado me amar para sempre e se casar comigo o quanto antes fosse possível.

—Vou julgar por mim mesmo, e eu sou sincero – ele disse brincalhão.

—E como.

Nos despedimos de novo, mais um abraço, mais uma vontade suprimida de fundir seus lábios nos meus, mas consegui e saí de lá viva, ou ao menos tão viva quanto eu poderia estar.

Na Itália eu voltei a focar toda a minha concentração e energia nas coisas que eu tinha que fazer. Concluí o curso com honras e méritos, ajudei meus amigos nos últimos preparativos para a festa de lançamento do EP – a qual eu não estaria presente, mas não me importava.

E foquei muito mais força e energia em não querer saber sobre Jasper, não enquanto eu não pudesse realmente lidar com aquilo. Finalmente uma luz sobre as ações de Edward no ano retrasado quando Bella determinou o fim dos dois. Eu achava que era dor de cotovelo ou algo assim, qualquer coisa próxima do orgulho ferido, mas agora eu entendia que era, genuinamente, a inabilidade de ter forças para lidar com o enfoque em coisas que não lhe deixariam margem para controle. Quem eu seria se apenas me importasse sobre o que Jasper pensava, fazia ou se ele se lembrava ou não de mim?

Uma surtada. Era quem eu seria.

Então vivi minhas três últimas semanas na Itália como eu vivi os últimos seis meses. Meus amigos aprenderam rápido sobre não citar Jasper, em fato, eu achava que Lucca e Marco tinham deixado todos a par da situação completa, então não fiquei incomodada com nenhum questionamento que me magoasse.

Finalmente, em meu último fim de semana ali eu o passei todo na casa de dona Claire e senhor Lorenzo, me despedindo e tendo certeza de mostrar toda a gratidão e amor que eu sentia pelos dois.

Na noite que precedeu a minha partida de Pizzighettone, sentada no quarto de solteira de tia Renée, escutei batidas tímidas na porta.

—Entre – pedi delicadamente.

Dona Claire colocou a cabeça para dentro do quarto com um sorriso tímido no rosto.

—Algum problema, vovó? – indaguei e ela negou rapidamente com a cabeça.

Entrando com um travesseiro no braço.

—Apenas lhe trouxe mais travesseiros, sabe que Bella adora dormir cheia deles – ela sorriu e eu assenti.

Um para a cabeça, um para abraçar, um para o meio das pernas. Eu dormi por meses com a estranha e antes daquilo a conheci por toda a vida, eu sabia dos tiques estranhos de Isabella.

—Obrigada – resolvi deixar as reclamações sobre a neta dela, para a neta dela.

Dona Claire colocou o travesseiro perto de mim e se sentou na ponta da cama, séria, pensativa. Ela queria dizer-me algo e eu comecei a ficar ansiosa com o que aquilo seria.

—Há algo a incomodando? – pedi com receio.

—Na verdade, eu gostaria de conversar um pouco com você. Apesar de tudo o que conquistou nesse país que eu amo, penso que não é nada nem perto do que você realmente esperava conquistar, principalmente com a volta de alguém tão especial – ela disse astutamente.

Eu entendi o que ela queria dizer.

—Vovô Lorenzo me contou sobre a consulta dele, realmente sem novidades ruim para nós, certo? – perguntei desviando do que ela disse.

Ela percebeu e sorriu de canto.

—Ele está bem, saudável, ficaremos bem até quando estivermos que ficar – falou certa.

—Acho que a senhora está certa – disse simplesmente, engolindo o bolo que se formou em minha garganta pela frase dela ser tão semelhante a que eu disse para Jasper.

—Querida, eu entendo que não queira conversar sobre isso. Apenas tive a impressão de que, talvez, você ainda não tenha se dado a oportunidade de realmente falar sobre isso com alguém e, em meu singelo ponto de vista, penso que é algo importante para que possa chegar forte contra todas as lutas que você ainda terá que lutar uma vez que voltar para casa. Precisa desabafar, contar sobre seus sentimentos e pensamentos que não teria coragem para assumir para as pessoas que também o conhecem – ela falava sabiamente e eu encarava minhas unhas – Não sou sua parente de sangue, mas me sinto ligada a você, por alma. Meus netos a amam como uma verdadeira irmã e eu a amo como uma neta. Não lhe julgarei nem os pensamentos mais estranhos ou até egoístas, mas também confio que cada um tem seu próprio tempo. Só queria que você soubesse que pode conversar comigo, quando quer que se sinta confortável para isto. Tudo bem? – ela perguntou em seu tom tranquilo e eu levantei meu olhar para seu rosto que me lançava um sorriso suave, então assenti.

Ela se levantou e veio para perto de mim, depositando um beijo em minha testa, acariciando meu cabelo levemente e desejando-me uma boa noite de sonhos. Não foi até ela abrir a porta que a ansiedade me tomou e eu comecei a despejar tudo o que eu vinha guardando por semanas.

—Parece-me estranho que depois de tantas provações ainda tenhamos essa para passar, quase como se fosse injusto, entende? – falei rapidamente, e ela fechou a porta, voltando para perto de mim – Penso em tudo o que fiz pela vida e tento equivaler meus pecados com toda a dor que vem me acompanhando no peito pelos últimos meses e, eu me sinto culpada. Porque ele esteve em coma enquanto eu o culpava por me deixar para trás, por não cumprir as promessas que ele tinha me feito sobre voltar e nos casarmos e, então, enquanto ele lutava diariamente por sua sobrevivência sem nem saber que ele tinha coisas para as quais lutar, eu estava me envolvendo com outra pessoa – falei culpada, abaixei a cabeça com vergonha – A senhora pensa que esse foi o meu pecado? É por isso que ele não se lembra de mim, não é? Eu não fui fiel e sequer penso que tenha sido dentro da lealdade meu envolvimento com Lucca e, mesmo agora, depois de tudo, precisei ainda mais do apoio dele, me escorei ainda mais em todo o amor que ele me dispôs enquanto o dono de todo o meu amor está em outro continente e eu nem tenho ideia do que ele sabe sobre mim no momento – confessei e foi como se, instantaneamente, o peso tivesse sido tirado do meu peito.

—Por que acha que merece algum tipo de castigo, minha pequena? Porque tentou sobreviver longe dele? Porque ousou rir e sorrir enquanto ele estava longe? – ela indagou retoricamente, mas era exatamente por aquilo, então assenti – Não seja tola, minha querida, não é culpável nada disso o que fez, você precisava se manter inteira e fez o seu melhor com o que tinha disponível. Nunca perdeu a fé nele e em vocês, nunca deixou de acreditar na vida dele mesmo quando tudo apontou o contrário e até mesmo lutar contra os seus sogros você lutou para não aceitar no que não acreditou – ela disse – Isso vale de algo, Alice, você é forte e lutou com todas as suas forças por ele.

—Até que seis meses atrás eu decidi que não conseguia mais e eu o deixei a sua própria sorte – chorei.

—Não, até que seis meses atrás você resolveu voltar a viver e não mais apenas sobreviver. Você deixou que as ações dele repercutissem as reações necessárias, que ele aprendesse o que quer que tinha que aprender longe de casa e de vocês para, finalmente, de uma vez por todas, ele voltar inteiro – Claire disse e eu ri sem humor.

—Inteiro, mas sem memórias – reclamei.

Ela não tinha o que dizer quanto a aquilo, então me abraçou apertado e eu chorei em seu colo.

—As coisas são o que devem ser, Alice. Há um motivo do porquê ele esqueceu-se de tudo, talvez fosse a força que ele necessitava para sobreviver ao exército e, agora, com os cuidados necessários ele voltará a sua vida e ficará bem, assim como você ficou. Ninguém é co-dependente de ninguém, querida, e nenhum amor é tão simples assim, infelizmente. Ou felizmente, não sei – ela sorriu de canto – Você descobriu que pode ser feliz em singular, que poderia até mesmo achar um novo par, um que talvez fosse mais simples e calmo, mas você escolheu Jasper. No final de tudo, com todas as dificuldades e os tropeções que você ainda levarão, ele é a sua escolha, querida, e deve lutar com todas as suas forças por suas escolhas na vida, sempre. Porque apesar de ninguém ser insubstituível, todo mundo é único também e nós reconhecemos quando nossa alma encontra nosso lar – ela disse e eu sorri, emocionada – Foi o que Isabella aludiu quando foi embora, sabia? Eu sabia que o problema não era ela estar na Itália, ou qualquer condição na qual se encontrava, era ela estar sem Edward, seu lar, e isso, Alice, ninguém deveria tirar da gente.

E aquela foi a conversa que eu precisei para ir firme atrás do que eu realmente queria. De quem eu realmente queria.

Em Milão, nós passamos minha última noite ficando mais doidos que o Batman, gargalhamos, conversamos, cantamos, dançamos e eu me despedi com todo o amor do meu coração daquela cidade que foi minha casa por todo o tempo em que me mantiveram longe do meu lar.

Dormi por quatro horas antes de acordar destruída para ir para o aeroporto.

Estava na casa de Lucca e Bobby, os dois já de pé com o café da manhã posto para podermos seguir para o aeroporto e, daquela vez, Bobby não se importou em pagar vinte reais no estacionamento.

Percebi que foi boa coisa eu ter me despedido de todos os outros bêbada demais para me importar em chorar e gritar o quanto os amava, inclusive me vi desejando que Lucca e Bobby estivessem no comboio daquilo, mas aceitei que não estavam quando percebi que tinha que entrar no portão do embarque porque logo o check-in seria finalizado.

—Certo, então é isso – Bobby sorriu – Cuide-se, beba bastante água e sempre cheque o tom do seu xixi para ter certeza que está hidratada o suficiente para passar pelo dia – ele falou tolamente, me fazendo rir – Saiba que sempre tem um ombro amigo na Itália e que estarei de braços abertos para te receber quando precisar fugir de Bella e Edward que, ugh, não sei como você faz para viver junto todos os dias do ano.

Gargalhei do meu amigo, tomando-o em um abraço.

—Eu amo você, Bobbylóide, obrigada por ser meu motorista privado, companheiro de casa ideal, palhaço particular e melhor amigo do mundinho todo – falei o apertando e ele riu, abraçando-me da mesma forma – Eu também sempre estarei a uma ligação de distância e prometo que voltarei para te deixar bonito em futuras sessões fotográficas, mas também deixo a porta da minha casa aberta para qualquer momento que você quiser conhecer a cidade que nunca dorme – sorri e ele comemorou.

—Finalmente, depois de seis meses eu fui convidado. Caralho, Lili, como você é difícil ein, porra – reclamou e eu revirei os olhos – Eu te amo, lindinha, espero que nos vejamos logo. Faça uma boa viagem, se cuide e avisa quando chegar sã e salva – falou e eu assenti sorrindo, voltando a abraçar meu amigo.

Então virei para Lucca que segurava minha mala de mão e sorriu quando viu que eu o encarava.

Mia piccola fata, amore per la mia vita— ele murmurou e eu sorri de canto.

—Sua pequena fada sim, mas amor da sua vida não porque tem muita mulher querendo essa posição – brinquei e ele riu.

Abraçada a Lucca eu senti meu coração cheio de amor, todo o amor que ele dispôs altruisticamente para mim por meses a fio, mesmo quando eu não o devolvi na mesma intensidade o sentimento tão puro que ele nutria por mim.

—Faça uma boa viagem, pequena, e se cuide de fato – ele disse baixo – Leve a sério todas as recomendações sérias que Bobby a fez, sim?

Assenti e ele beijou minha cabeça por bastante tempo.

—Nada nessa vida é eterno, Alice, não nossas dores nem nossas vitórias, mas a gente escolhe para que daremos a ênfase, então lute com toda a força e determinação que você me mostrou por seu amor, não deixe que uma condição ou infortúnio da vida dite o que acontecerá – ele falou sabiamente e eu senti meus olhos encherem de lágrimas – Eu tenho que te agradecer por me mostrar que eu sou capaz de amar tanto assim uma pessoa, correrei atrás desse sentimento e não aceitarei menos que isso. Eu amo você, com todo o coração que você me tomou – ele jurou e eu chorei.

Neguei-me a ir embora sem falar para Lucca tudo o que ele representava para mim, então depois de respirações fundas e engolidas secas, eu finalmente encontrei minha voz, e me separei dele apenas o bastante para enxergar seu rosto.

—Você foi uma fagulha de luz em uma escuridão cegante. Você merece as coisas mais lindas do mundo porque a sua pureza não existe, Lu, você me entregou tudo o que tinha porque podia o fazer, mesmo que eu não tivesse nada para retornar e, por todo o tempo em que foi meu amigorado— falei brincando com o termo que inventamos – você esteve disposto emocionalmente para mim de maneira que às vezes me deixava desconcertada, mas eu te juro com toda a verdade que há em mim, que eu te dei tudo o que eu tinha para te dar também. Todo o amor que eu tinha eu te ofereci, e eu sei que não foi equivalente ao seu, mas foi tão completo quanto – falei baixinho, minha voz falhando, mas ele sorriu singelamente, balançando a cabeça devagar.

—Foi o bastante para mim – jurou e eu reparei que ele estava emocionando, me fazendo chorar – Espero que ache tudo o que procura piccolina, eu a amo muito – ele disse e voltou a me abraçar.

—Eu te amo, Lu. Obrigada por me ensinar que a gente pode amar mais de uma pessoa nessa vida – sussurrei.

Separamo-nos e, pela última vez na minha vida, deixei meu lábio encostar contra o de outro homem que não Jasper. Nunca deixamos a língua se envolver em nossos beijos e, daquela vez, não foi diferente. Nossos lábios permaneceram parados um no outro enquanto chorávamos em apenas um respiro.

Separamo-nos compartilhando um sorriso choroso, então alcancei minha mala antes de abraçar ele e Bobby novamente de uma vez só.

—Se cuidem vocês, e parem de ser tão prostitutos, o amor monogâmico é lindo – brinquei e os dois riram, abraçando-me de volta.

Por fim entrei no portão de embarque pensando que era melhor não olhar para trás.

Nova Iorque era uma incógnita enorme em minha mente. E por mais que o medo de tudo o que me esperava quase me paralisasse, continuei caminhando firme para tudo o que eu ainda tinha que enfrentar e decidi que o faria de peito aberto. Se fosse para cair, eu o faria confiante de como fazer para me reerguer.


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Notas finais do capítulo

ALICE TÁ DE VOLTA A NY E O JAZZ TAMBÉM, ufa, parece que passei mil anos escrevendo os dois separados e foi difícil para um caraleo, mas por fim, sobrevivemos, todos nós, e ficaremos bem ;)

O que acharam da mente confusinha de Jazz? Toda a coisa médica e de Jasper sendo encontrado foram suposições, eu não tenho certeza que é assim que as coisas funcionam, mas para propositos ficticios, achei que foi tudo okay.
Alice forte até o fim, sei que nem todo mundo gosta dela com o Lucca, mas eu amo os dois, sério. Se não fosse Alisper... hahahaha

No próximo capítulo a gente vai dar uma diminuída na carga emocional do casal em evidência e voltar um pouco para os outros dois já que É ANIVERSÁRIO DE UM ANO DO HENRIIIIII.

Estou muito ansiosa pra saber o que vocês acharam desse capítulo e o que esperam do próximo.

Estarei no twitter enquanto não volto: @porgiovannad

Até jajá



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