CAPÍTULO 4

Um salvador?

Depois que Sakura lavou os cabelos, ela voltou à sua sala enquanto a turma estava no intervalo. Ela respirou aliviada ao encontrar a sala vazia. Encostada na janela, a garota suspirou de olhos fechados, tentando dizer a si mesma que tudo ficaria bem, que logo o colégio perderia seu interesse nela e assim poderia voltar a ser invisível.

—Sakura-chan?

Sakura virou-se surpresa ao encontrar Karin parada atrás dela segurando uma carteira.

—Eu estava indo para aula de educação física, quando vi sua carteira perto da sala do zelador. Consegui trazê-la sem que ninguém visse. – Disse Karin tímida, com um olhar culpado.

—Obrigada, Karin. – Disse Sakura comovida. – Agora vá antes que alguém veja você conversando comigo.

—Sakura, eu... Me desculpe.

—Está tudo bem. – Disse Sakura com um sorriso. – Ficarei bem, não se preocupe, Karin-chan.

Karin lhe lançou um olhar culpado antes de sair da sala em silêncio. Sakura virou-se para janela novamente, repetindo mentalmente as palavras que dissera a Karin. Ficarei bem.

Me sinto bem melhor agora que posso ser eu mesma. Pensou apertando os punhos. Não aguentava mais ficar quieta diante de toda aquela injustiça calada.

—Agora não tem mais volta! Só posso contar comigo mesma.

~*~

Sakura havia sobrevivido ao primeiro dia daquele pesadelo, mas não tinha saído ilesa. Estava em seu quarto fazendo um curativo no joelho e nos cotovelos após tomar banho. Na saída da escola, alguém a empurrou de cima dos três degraus da porta principal, fazendo com que ela esfolasse o joelho e os cotovelos.

Ela não viu quem a empurrou, mas xingou a pessoa mesmo assim. Todos riram como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo. Isso nem foi tão ruim assim, o pior foi ver Uchiha Sasuke passando dentro de sua limusine preta olhando-a pela janela com um sorrisinho de satisfação, como se dissesse “é isso que você ganha por se meter em meu caminho”. Sakura sentiu vontade de matá-lo.

—Sakura, o jantar está pronto. – Tia Tsunade entrou de repente em seu quarto sem bater e Sakura não conseguiu cobrir-se a tempo. – O que aconteceu com você, garota?

Tsunade se aproximou ao ver os machucados dela. Sakura xingou em pensamento, pois não queria que os tios soubessem o que estava acontecendo na escola. Ela tinha certeza de que Tsunade iria fazer um escândalo.

—Quem fez isso com você? – perguntou sua tia apertando os punhos como se fosse bater na pessoa naquele instante.

—Não seja boba, tia. Ninguém fez nada. Eu caí na aula de educação física. – Sakura odiava mentir para sua tia, mas não teve escolha.

—Ah, foi isso então? – Tsunade suavizou a expressão. – Você por acaso tem duas pernas esquerdas, garota? Tome mais cuidado! Deixe-me ver.

Tsunade a ajudou enquanto lhe dava uma bronca e Sakura teve que segurar as lágrimas. Sua tia gostava de parecer durona, mas Sakura sabia que ela a amava. E isso tornava a mentira mais difícil ainda suportar.

~*~

Sakura teve o final de semana para se preparar mentalmente pelo que ainda estava por vir. Por isso na segunda-feira ela estava mais forte e mais preparada. Ao chegar na escola, tentaram lhe atirar ovos novamente, mas ela conseguiu se desviar.

Não levaram sua carteira da sala novamente, mas ela estava toda rabiscada com frases obscenas e palavrões, o que fez Sakura levar uma bronca do professor e ser obrigada a apagar e limpar tudo.

No intervalo, que era bem na hora do almoço, Sakura se arriscou a ir até o refeitório. Ela queria ir a um lugar afastado e isolado de todos, mas o único que ela conhecia era a saída de incêndio do último andar e esse já tinha dono. A última coisa que ela queria era dar de cara com Sabaku Gaara. Além disso não era permitido comer dentro da sala de aula, então ela não teve escolha senão ir para o refeitório.

Depois de pegar seu almoço no armário, ela seguiu na direção do refeitório com a cabeça erguida e os passos firmes.

Ela não foi atacada com ovos ou qualquer outra coisa, mas não conseguiu um lugar para se sentar. Não tinha nenhuma mesa vazia e quando se aproximava de um lugar vago, a pessoa do lado não permitia e dizia que havia alguém ali.

Depois de circular todo o refeitório e ser impedida de se sentar, Sakura jogou sua mochila no último lugar vago que encontrou. Um garoto sentado com seus amigos disse que ela não deveria sentar ali, mas Sakura o ignorou e bateu com força sua marmita na mesa. Ela encarou o garoto sem dizer uma palavra e com uma expressão dura.

O garoto se levantou com seus amigos e foram embora levando suas bandejas. Sakura circulou seus olhos pelo refeitório sentindo-se vitoriosa e se sentou, enquanto os outros a encaravam.

No andar de cima do refeitório, onde era reservado apenas para o C4, Uchiha Sasuke observava tudo. Sakura havia se sentado bem em seu campo de visão abaixo do parapeito.

—Essa garota é durona. – Comentou Naruto que também havia assistido à cena. – Outra garota teria saído do refeitório chorando, mas ela expulsou os meninos daquela mesa.

O loiro riu e olhou para o amigo. Sasuke estava sério, os olhos estreitos na direção de Sakura que almoçava despreocupadamente.

Gaara, tomado pela curiosidade, tirou sua atenção do livro em suas mãos e desviou os olhos para saber de quem Naruto estava falando.

—Durona? – Desdenhou Sasuke. – Vamos ver por quanto tempo mais ela aguenta.

~*~

Todas as segundas-feiras, Sakura tinha treinamento de natação. Ela queria entrar para a equipe do colégio, por isso treinava toda a semana depois da aula para se preparar para o teste no próximo mês.

Naquela tarde ela demorou mais que de costume treinando sua velocidade e respiração. Por isso, quando chegou ao vestiário ele estava vazio.

Sakura estava em frente ao seu armário pronta para retirar o maiô, quando sentiu alguém se aproximar por trás dela.

Ela sentiu um frio na espinha ao encontrar, não um, mas quatro garotos parados há poucos passos dela. Sakura se cobriu rapidamente com a toalha que tinha nas mãos.

—O que vocês querem? – Ela perguntou com a voz um pouco trêmula, o medo crescendo em seu interior.

—Viemos aqui para fazer você desistir de uma vez e sair da escola.  – Respondeu o garoto que estava mais perto e Sakura o reconheceu de mais cedo. Era o mesmo grupinho que ela expulsou da mesa do refeitório.

Ele se aproximou de repente, esticando seus braços para pegá-la, mas Sakura foi mais rápida e deu um soco nele. Isso lhe deu tempo para tentar escapar. Sakura gritou e correu entre os armários do vestiário deserto.

—Essa vadia quebrou o meu nariz! Peguem ela!

Sakura correu e escorregou pelo caminho, devido aos pés estarem descalços e molhados. Os três garotos que a seguiram, conseguiram alcançá-la perto da porta da academia que ficava no final do vestiário, do outro lado da saída.

—Me soltem!

Sakura tentou se soltar, esperneando e batendo os braços, mas os três garotos conseguiram imobilizá-la. Eles entraram com ela na academia escura e Sakura em pânico gritou o mais alto que podia.

Deitada no chão frio, imobilizada pelos braços e pernas, Sakura viu o quarto garoto, aquele que levou um soco e tinha o nariz sangrando, se sentar em cima dela.

Ele cobriu-lhe a boca com a mão e sorriu maliciosamente.

—Que bom que está de maiô. Vai facilitar nosso trabalho. – Os garotos riram e Sakura gritou novamente tentando se soltar.

—O que vocês estão fazendo? – Perguntou uma voz na escuridão.

Os garotos congelaram e ficaram em silêncio procurando o estranho que era a única testemunha do que estavam fazendo e perceberam um movimento não muito longe deles.

Em um aparelho de ginástica há poucos metros, Sabaku Gaara estava deitado com os braços atrás da cabeça. Ele se levantou e se sentou, olhando para os garotos.

—Gaara-sama?! – Perguntaram os quatro ao mesmo tempo com olhos arregalados.

Sakura levou os olhos ao ruivo e não pôde ler sua expressão por causa da pouca luz na academia. Ele olhava de volta para ela e o que Sakura só podia pensar eram nas palavras dele no outro dia: Não me interessa.

Oh, Kami! Estou ferrada! Pensou Sakura aflita.

—O Uchiha-sama nos pediu para... – Começou a dizer o garoto que estava sobre Sakura lhe cobrindo a boca.

—Soltem ela.  – Disse Gaara firme.

—Mas nós...

—Soltem ela. Agora!  – Gaara ficou de pé, o que intimidou os garotos para fazerem imediatamente o que ele tinha ordenado.

Eles a soltaram, se levantaram e correram para fora da academia, enquanto Sakura se sentava lentamente sentindo seu rosto molhado pelas lágrimas que nem tinha percebido derramar.

 Gaara estava de pé na sua frente sem olhar para ela.

—A tia da limpeza está limpando as escadas de emergência. E eu achando que tinha encontrado um lugar calmo.  – Disse ele sacudindo levemente a cabeça.

Sakura começou a chorar sem poder se controlar. Mas era um choro de alívio.

—Obrigada. – Disse ela soluçando.

Gaara soltou um suspiro e olhou para ela.

—Não me entenda mal. Só não gosto desse tipo de coisa. – O ruivo virou-se e foi embora sem dizer mais nada.