A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 34
O último e cruel desafio


Notas iniciais do capítulo

Oii gente! Demorei um pouquinho mas já voltei com outro capítulo!
Lembrando que o capítulo anterior tem duas partes, então se você chegou aqui sem ler a parte 2 do "O que é o amor", aconselho que volte para ler!
Espero que gostem, o capítulo está enorme!



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Edmundo Pevensie

— Voltem aqui seus malditos! - Os gritos de ódio e desespero de Cietriz ecoavam pelo castelo à medida que Lilian e eu corríamos.

Os passos dos guardas estavam cada vez mais perto. Apesar do elixir de Lúcia praticamente me trazido de volta à vida, fazia muito tempo que eu não comia ou bebia água, meu corpo ainda conservava certa fadiga de tudo o que passei antes daquele momento, sem falar Liliandil que praticamente exauriu suas forças ao quebrar o feitiço para sairmos da cela.

— Juro que pensei que ia ser mais fácil! - Exclamou a estrela para mim. Ela parou por um momento e virou a direção para outro corredor - Neriah conhece esse castelo com a palma da mão dela!

— O que exatamente ela disse? - Continuamos correndo, o fôlego faltando muitas vezes, fora que conversar também não estava ajudando. 

— Depois da cozinha, um corredor estreito à leste! - Respondeu.

Finalmente encontramos a cozinha, que graças ao bom Aslam estava vazia. Meus pés queimavam contra o chão, meu coração parecia querer explodir a qualquer momento. Se fôssemos pegos, seria o fim.

— Foram para a cozinha! - Ouvi a voz grave de um guarda a pequena distância de nós. Lilian e eu trocamos um olhar de desespero e tivemos que acelerar ainda mais.

Corremos por um corredor de largura intermediária à leste da cozinha e passei a vista rapidamente pelos corredores concorrentes para achar o que Neriah havia indicado. Estávamos tão apressados que passamos direto pelo maldito corredor.

Freei, os pés raspando no chão. Alcancei o pulso de Liliandil e voltamos alguns passos, entrando com tudo no corredor sem nem conferir se os guardas estavam ao nosso encalço.

— O que fazemos agora? - Minha voz saiu rasgando a garganta.

— Encontrar a entrada - Liliandil tateou a parede da parte mais estreita do corredor e eu fiquei de vigia, rezando para que os guardas passassem direto.

— Lilian, me perdoe por apressá-la, mas não temos tempo! - Implorei.

Ela pressionou com mais precisão as pedras na parede. Um grupo de guardas estranhos calormanos passaram correndo pelo corredor concorrente ao que estávamos. Mal tive tempo de sentir alívio, pois um deles voltou e gritou para os outros que estávamos ali.

— Lilian, por Aslam! - Estávamos encurralados. Fechei as mãos em punho para acertar o guarda assim que se aproximasse, até que um ruído de pedras se mexendo atingiu meus ouvidos e Liliandil me puxou para dentro da parede.

A passagem se fechou com a mesma rapidez que abriu e eu me assustei quando os guardas bateram contra a parede.

— Acha que eles vão conseguir abrir? - Indagou Liliandil, encostada na parede, ofegante.

— Não quero ficar aqui para descobrir.

Lilian fez menção de voltar a correr pela escuridão dentro da passagem secreta, mas eu segurei sua mão. Ela se virou para mim e eu a puxei para um abraço.

— Muito, muito obrigado por salvar minha vida - Voltei a agradecer - E saiba que eu darei a minha própria para protegê-la - Desfizemos o abraço - Apesar de saber que você sabe se defender muito bem.

Embora não conseguisse ver muito, Liliandil arfou e eu soube que ela sorria.

— Tem sido muito difícil, mas nós vamos conseguir - Encorajou ela - Aslam fará Nárnia triunfar no final.

Assenti resposta, todavia duvidava que ela tivesse visto. Voltamos a prosseguir, desta vez num ritmo mais leve, resguardados pela segurança da passagem.

As feiticeiras

Assim que se recuperou da dor nos olhos que a magia da garota que ajudou o rei Edmundo a fugir, Cietriz enviou mais guardas enfeitiçados para persegui-los. Quando não obteve retorno, voltou ao pátio onde seria feito o sacrifício.

Jadis a aguardava, o semblante impassível. Ela sabia que algo estava errado e pressentia que teria um acesso de raiva antes mesmo de entrar em batalha contra Nárnia. Possessa, Cietriz encontrou a feiticeira branca, seu vestido extravagante farfalhando tempestuoso contra o chão.

— Alguém encontrou uma forma de libertar Edmundo - Relatou - A garota usa magia.

— Ele conseguiu fugir, ferido como estava? - Jadis ergueu uma sobrancelha, sem acreditar na competência da cúmplice em manter o rei narniano preso.

— Ele não parecia ferido - Cietriz retrucou entredentes, quase espumando de raiva - A garota deve tê-lo curado.

— Ela é tão poderosa assim? Quem é ela? - Indagou.

— Não sei! - Explodiu Cietriz - O que interessa é que perdemos o infeliz para o sacrifício e não contaremos com a benção de Tash para a batalha!

— Não que eu precise da benção do seu deus inútil para vencer Pedro e seu exército de idiotas! - Jadis deu de ombros - O que me preocupa é que os irmãozinhos sempre dão um jeito de vencer seus inimigos e Edmundo livre e saudável não me agrada nem um pouco!

— E você acha que agrada a mim? - Cietriz ergueu o tom de voz - Acaso tenho um sorriso branco emoldurando o rosto?!

— Não me venha com gracinhas - Jadis já estava perdendo a paciência. - De toda forma, o castelo é nosso e eles não conseguirão se esconder por muito tempo. Fique no castelo para efetuar o tal sacrifício. De qualquer forma, é bom que uma de nós assegure a conquista de Anvard. Se sairmos para a batalha e deixarmos o castelo sem proteção, com certeza aqueles fedelhos usarão isso contra nós.

Cietriz massageou as têmporas. Ela não era do tipo que ficara para trás, como um plano B. Ela havia sido criada para a grandeza; o sacerdote Mardute a havia criado para ser rainha, para satisfazer seus sonhos de riqueza e poder e Cietriz obviamente tinha a própria ambição e sede de vingança do pai e da mulher dele, que escorraçaram sua mãe da Calormânia e a obrigaram a viver uma vida sem amor. Ela conquistava seus objetivos, ela fazia acontecer. Pelo que parecia, no entanto, teria que deixar a batalha nas mãos de Jadis; por mais que ela odiasse admitir, a feiticeira conhecia bem demais o inimigo e saberia como lidar com ele.

Jadis, por sua vez, ansiava por aquele momento. Já estava em seus planos trair Cietriz em algum momento. Ela odiou saber que Edmundo estava curado e livre, porém tinha que admitir que tal imprevisto caiu como uma luva. Ela jamais dividiria seu poder e sua glória, sua soberba e arrogância, seu orgulho não permitiam. Tendo Arquelândia sob seu comando pelo impiedoso inverno de sua magia, ela apenas destruiria Nárnia e voltaria com força total para Arquelândia, fazendo do país o seu império. Deixaria Cietriz imersa em suas crenças e pegaria toda a glória da derrota de Nárnia.

 

Caspian X

Susana e eu demoramos para absorver o choque diante da pessoa que acabara de se apresentar. Já tinha sido bastante estranho ter encontrado e com Cisne Branco fora da caverna e nada menos que Nihor aparece sem qualquer aviso?

Engoli em seco. Se o próprio príncipe calormano guardava a lança, com certeza o último desafio não seria fácil. Nihor perdeu a vida no confronto com Cietriz, ele e Cisne Branco! Eles não permitiam que a lança que os deu a vitória fosse parar em mãos erradas. Não permitiriam que Cietriz destruísse Nárnia porque um casal irresponsável que sequer sabe o que é amor de verdade tomou a lança.

— Entendo a surpresa de vocês - Ele falou num tom sereno - Cisne Branco foi condenada a guiar os amantes até a caverna para passar pelos desafios. E eu fui condenado a dirigir os amantes pelo último desafio e entregar a lança aos vitoriosos.

— Imagino que sua presença não foi solicitada muitas vezes - Indagou Susana, com um sorriso de canto.

— De certo que não - Ele ergueu uma sobrancelha, um sorriso brincando no rosto. Ele respirou fundo - Não sei se perceberam, porém todos os desafios que enfrentaram trouxeram à tona memórias do seu passado e do seu presente.

Minha primeira reação foi franzir o cenho. Ao refletir, no entanto, logo tudo fez sentido. O meu primeiro desafio era uma memória da primeira vez que estive com Susana, quando buscava recuperar o trono de Telmar. O segundo era uma lembrança recente dos nossos conflitos a respeito das intrigas que Ahadash plantou entre nós.

— Sim, foi isso mesmo - Troquei um olhar com Susana ao falar e ela concordou, a dúvida ainda presente no rosto.

— Dessa vez, porém - Ele caminhou em nossa direção devagar enquanto falava, as botas pontudas calormanas fazendo ruído contra o piso úmido da caverna - Não será apenas a extração de aprendizados de memórias.

— No caso, será algo do futuro? - Indagou Susana, dando de ombros - Será algum tipo de previsão?

— Vocês tomarão uma decisão - Noticiou - Pautada no amor que sentem, se é que é real, vocês decidirão juntos como procederão diante do futuro que os aguarda. Não eu, mas a lança decidirá se sua decisão foi sincera e com base nela, se o amor de vocês é verdadeiro.

— Espere, então será uma simulação? - Perguntei a Nihor.

— Não exatamente - Retrucou.

— Então o que nos mostrará realmente vai acontecer? - Susana se preocupou, não sem razão.

— Vamos ao que interessa - Nihor a ignorou completamente, mas eu sequer tive tempo de protestar antes de tudo ao nosso redor voltar a escurecer.

 

Lúcia Pevensie

Nossos cavalos trotavam em um ritmo solene, depois que a euforia da largada no castelo se atenuou.

Pedro mantinha a expressão séria no rosto, provavelmente repassando nossa estratégia de batalha mentalmente. Ele notou o meu olhar e me ofereceu um sorriso singelo, sem mostrar os dentes, a tensão no olhar mais branda. Fiz uma mesura e ele voltou a olhar para frente.

Rilian por sua vez não olhava para nada específico ao seu redor. Ele tinha uma expressão tensa também, mas parecia mais assustado do que determinado. Ele não enfrentaria a batalha exatamente, mas para chegarmos até Anvard com certeza teríamos que lidar com alguns soldados de Ahadash.

— Nervoso? - Indaguei. Ele se sobressaltou e quase perdeu o equilíbrio na montaria.

Não pude conter um sorriso e Rilian acabou rindo também.

— Quando o ano começou, jamais imaginei que estaria num campo de batalha daqui a dois dias - Explicou - De certo também não imaginei que tentaria matar uma rainha de Nárnia e encontraria o próprio Aslam, mas mesmo assim!

— Ainda fico me perguntando porque ela manipulou você para matar Susana - Levantei a questão - Será que ela pretendia assassinar todos nós, um de cada vez?

— É uma possibilidade - Ergueu uma sobrancelha - Ela não tinha razão nenhuma para me ajudar a me vingar.

Um momento de silêncio.

— Você ainda odeia minha irmã, ou Caspian?

— A raiva que eu sentia dela eu transferi a Caspian em um primeiro momento, principalmente depois de me trancar no calabouço e me dar um soco - Confessou sem ressentimento - Depois senti raiva de Miraz, da minha mãe, de mim mesmo. Acho que estava apenas procurando um culpado para tudo de errado que minha vida tinha. Era fácil culpar alguém e não fazer nada, nem pelo meu irmão. - Ele suspirou - Eu sei que o meu julgamento ainda vai acontecer… mas eu prometo, Lúcia - Um arrepio percorreu pelas minhas costas. Apesar de não estar chorando, a voz de Rilian estava carregada de emoção. - Se eu não for condenado a morte, eu vou fazer tudo diferente. Eu vou cuidar do meu irmão e ser para ele o irmão que eu deveria ter sido desde sempre!

Sorri satisfeita.

— Eu estou muito orgulhosa de você - Elogiei - Sabe, eu via um pouco de Edmundo em você. Metendo os pés pelas mãos por rebeldia, sem aceitar ajuda de ninguém. E apesar de conseguir enxergar em seus olhos uma pequena fagulha de esperança - Ele sorriu - Você superou incrivelmente as minhas expectativas.

Ele riu com meu tom de voz, era perceptível que estava realmente feliz.

 

Susana Pevensie

Quando a luz voltou, Caspian e eu estávamos juntos. Senti-me mais aliviada ao tê-lo ao meu lado, segurando minha mão.

O cenário ao nosso redor era o que eu imaginava ser o quarto dele no castelo, o mais suntuoso aposento, digno do rei que ele era. Estava escuro, a luz da lua entrava pela janela e tudo estava calmo.

Havia duas pessoas deitadas na cama, cobertas pelas mantas e apenas uma vela acesa na mesa de cabeceira.

Foi quando uma das pessoas na cama começou a se mexer e a grunhir, incomodada com algo.

Franzi o cenho para Caspian, que também não estava entendendo nada.

De repente, a pessoa sentou-se na cama e arquejou de dor. Era eu.

A pessoa ao seu lado - Caspian - acordou em um rompante, preocupado. A Susana da cena jogou os cobertores para longe e visualizou horrorizada a poça de sangue em que estava sentada e o vermelho que tomava conta de sua camisola.

Meus lábios se entreabriram e a cena ficou muda, com Caspian tentando acalmar-me enquanto chamava ajuda e eu chorando de dor e desespero. Eu devia estar grávida.

Pude ver a aliança na mão de Caspian enquanto ele afastava os meus cabelos do rosto. Sua barba estava mais espessa do que atualmente, então eu supunha que realmente nós estávamos no futuro.

Caspian apertou a minha mão, tão afetado quanto eu diante daquela cena. Pude ver a Susana da cama murmurando um "de novo não, de novo não". Não era o primeiro filho que eu perdia.

A cena se apagou e tudo ficou escuro durante poucos segundos.

 

Caspian X

Apertei a mão de Susana diante da cena desesperadora à qual tínhamos assistido. Era possível sentir a minha própria angústia e fiquei me perguntando se Susana conseguia sentir o próprio desespero que transparecia em seu rosto na cama.

A próxima cena se passava na sala do conselho. Os lordes estavam dispostos em seus lugares e meus ombros tensos já esperavam as críticas e cobranças que viriam.

Sentimos muito pela sua perda, milorde— Caça Trufas expressou suas condolências.

É realmente lamentável— Trumpkin se solidarizou

Se me permite perguntar, majestade— Maximus pediu - Acredito que é uma preocupação de todos. Os anos se passaram e a rainha Susana ainda não pôde agraciá-lo com filho. Quem poderá assumir o trono caso o senhor, que Aslam o livre, não esteja mais entre nós?

Olhei para mim mesmo naquela sala. Eu realmente estava mais velho. As linhas se expressão já se pronunciavam na resta e ao redor dos olhos, alguns cabelos brancos já se misturavam aos castanho escuros e meus dedos cruzados na frente do corpo já começavam a enrugar.

Aslam me agraciará com um filho quando for o tempo propício, milorde— Retruquei - Mas se caso essa informação acalme o coração de vocês, meu primo Rilian é o parente mais próximo e será o meu sucessor.

Milorde, por favor— Maximus objetou - De certo que lorde Rilian mudou bastante nos últimos anos, mas ele não tem preparo algum para ser rei!

E então o burburinho na sala e as discussões começaram. A cena era bastante semelhante às cobranças feitas acerca do meu casamento, mas em pior magnitude.

Foi a vez de Susana apertar a minha mão, porém acredito que ela o tenha feito por reflexo, sem perceber. Seus lábios estavam entreabertos e ela olhava assustada para a cena.

Comprimi os lábios. Era isso que nos esperava quando nos casássemos? Era esse o futuro que teríamos? Susana sofrendo ano após ano a dor de perder filhos ainda no ventre e eu tendo que suportar cada comentário insensível sobre a sucessão do trono?

 

Susana Pevensie

A cena anterior partiu meu coração. Caspian mesmo casado, mesmo tendo feito a vontade dos conselheiros para assegurar o trono de Nárnia ainda sofria com falta de filhos. Era nítida a dor que eu sentia ao perder mais um bebê. Minha face de desolação não saía um só segundo da minha mente; além da dor física, o sofrimento do coração devia estar consumindo cada célula do meu corpo. A esperança destruída, o sonho de dar um filho a Caspian completamente arruinado.

Caspian me puxou para mais perto dele e só então percebi o quanto fiquei afetada e o quanto disso deveria estar se refletindo no meu rosto. Não era possível que fosse esse o futuro que minha permanência em Nárnia me reservava.

A última cena era um velório. Senti as pernas tremerem ao ver Caspian dentro do caixão de madeira cara, uma Susana mais velha e sem filhos chorando sobre seu corpo sem vida.

O clima era de uma tristeza sem fim. Narnianos e telmarinos, nobres e plebeus, animais e criaturas chorando a perda de seu rei, o rei que unificou os povos e trouxe paz depois de 1300 de puro sofrimento.

O lamento era contínuo até que um Glenstorm assustado galopou até a rainha, os cabelos grisalhos voando com o vento.

Minha rainha— Se apresentou o general - Estamos sendo atacados.

Agora?— Perguntei, a voz embargada, tentando compreender o que o centauro me dizia apesar da minha dor.

Sim, pelo norte— Explicou - São criaturas horrendas, do tipo que nunca se viu! Vêm liderados por uma mulher estranha de vestido verde, provavelmente a feiticeira que de quem se ouviu boatos tempos atrás.

Lidere as tropas, Glenstorm— Implorei ao general - Eu não tenho forças para ir ao campo de batalha assim.

Mas senhora, sem o rei os soldados se sentem perdidos, se nem a senhora for…

Faça o que eu estou pedindo— A voz voltou a embargar, os olhos se fechando em lágrimas. - Salve Nárnia de ser devastada no dia da morte de seu rei. A sua rainha só vai atrapalhar se seguir para a guerra nesse estado.

— Por Aslam - Murmurou Caspian ao meu lado.

A cena se apagou novamente. Eu estava esperando algo pior a seguir quando voltamos à gruta, diante do pedestal e de Nihor.

— Nunca cheguei tão longe com um casal antes - Murmurou Nihor, parecendo chocado com o que todos vimos - Não esperava que o futuro de vocês fosse tão ruim.

— Espere, isso vai… isso vai acontecer mesmo? - Questionei, dando a volta no pedestal para me aproximar do príncipe calormano.

— Já expliquei como funciona, rainha Susana - Era a primeira vez que ele se dirigia nós usando exatamente os nossos nomes.

— Bem, e o que quer que respondamos diante de tudo o que nos mostrou? - Caspian indagou ressentido - Que lição quer que tiremos de todo esse sofrimento?

— Quero que me respondam: diante desse futuro que os espera, ainda decidem permanecer juntos? - Senti um peso cair sobre as minhas costas, o estômago nauseado - Acreditam que o seu amor vale tanto a pena que sacrificariam o futuro de Nárnia, a qual vocês dizem que vieram salvar?

Senti os lábios tremerem, os olhos ameaçando chorar. Nihor recuou alguns passos e Caspian se aproximou de mim.

— Susana, meu amor… - Ele pegou minhas mãos e eu ergui o rosto para ele, os olhos derramando as primeiras lágrimas.

— Não era isso que eu sonhei pra gente - Sentia meu peito apertar a cada vez que as lembranças das cenas que vimos se misturavam na minha cabeça - Se seguirmos adiante com isso, tudo o que você conquistou vai ser jogado no lixo!

— Susana, é claro que eu quero ter filhos, ainda mais se for com você, mas eu não deixaria de…

— E Nárnia, Caspian? - Interrompi - Se Nárnia for à ruína por causa da nossa decisão egoísta, que tipo de governantes seríamos nós?

 

Caspian X

Pisquei um par de vezes. Afastei-me de Susana por um momento e baixei a cabeça, pensando em tudo o que estava acontecendo. As imagens eram realmente perturbadoras. Sequer podia me imaginar suportando todo aquele sofrimento, parecia que não teria forças para isso.

Eu me sentia encurralado. Sabia que não seria feliz com nenhuma outra mulher, por mais bondosa, gentil e corajosa que fosse. Liliandil era tudo isso, mas não era Susana e eu sequer podia culpá-la por isso. Mas será que a decisão de permanecermos juntos realmente nos traria a felicidade que queríamos? E será que Nárnia seria feliz e próspera em consequência disso?

As imagens com teor profético mostradas por Nihor diziam que não. Que seríamos acometidos por golpes seguidos de golpes em nosso relacionamento, as tentativas falhas de formar uma família e a constante insatisfação que rondava nossos conselheiros e súditos.

Era fácil não se importar com a opinião dos outros quando não se é rei. Infelizmente minhas decisões matrimoniais não afetavam apenas a mim e por mais que eu amasse governar Nárnia e servir aos povos que me colocaram no trono, não podia dizer que gostava de ser tão cobrado em relação a esses assuntos.

— Caspian? - A voz embargada de Susana me chamou. Ao voltar meu olhar para ela, percebi que meus olhos estavam marejados de lágrimas de desespero e confusão. Eu não soube o que dizer.

Foi quando uma lembrança me arrebatou. Depois do nosso encontro com Aslam na frente da caverna em que passamos a noite, Susana mencionou ter pensado em perguntar a Aslam se poderia permanecer em Nárnia.

—  [...] Aslam me fez sentir tanta paz quanto a isso! Acho que pela primeira vez eu não senti dúvidas!

Eu recordava a forma que Aslam olhou no fundo de seus olhos. O azul límpido dos olhos de Susana se perderam no dourado dos olhos do leão, como se enxergassem o infinito lá dentro. Ela desistiu de pedir por garantias, simplesmente acreditou.

Aslam nunca nos enganou. Nunca garantiu nada que não tenha acontecido.

Pisquei de novo, as lágrimas se dissipando dos meus olhos.

— Isso tudo é mentira, não é? - Indaguei a Nihor. Susana endireitou a postura diante da acusação.

— Perdão, mas não sou eu quem mostra o que vocês precisam ver - Nihor se defendeu - A magia da lança embutida na poção da taça é que produz o teste.

— Eu não disse que a culpa disso era sua - Corrigi, cada vez mais convicto do que estava acontecendo ali.

— Caspian, no que está pensando? - Susana se aproximou, as sobrancelhas unidas.

— Susana, você disse que Aslam lhe transmitiu uma tremenda paz quando pensou em perguntar sobre a sua permanência em Nárnia - Expliquei - Quando você e seus irmãos decidiram voltar para casa da última vez, o que você sentiu?

Ela parou para pensar por um momento.

— Apesar de ter ficado triste, eu sabia que era a decisão acertada no momento. - Ergueu os olhos para mim - Apesar da tristeza, eu estava em paz com aquela decisão.

— Se esse for o futuro que aguarda Nárnia depois da sua morte, eu sei que seria a melhor decisão. Mas também sei que jamais serei feliz no meu mundo outra vez depois da morte dos meus pais.

Nihor se inquietou.

— Se vocês já tomaram uma decisão, falem logo!

— Não posso decidir sobre uma coisa que nem é verdade! - Retruquei. - E mesmo se for, se Susana tiver dificuldades em ter um filho, se Nárnia estiver à beira de um ataque, eu sei que Aslam nos guiará à vitória!

— Você queria uma decisão, Nihor? - Susana disse - Nós decidimos confiar em Aslam. Receber a paz que ele nos ofereceu. Você vai nos dar aquela lança porque a derrota da feiticeira branca e da serpente do deserto tem uma importância que transcende o que Caspian e eu sentimos. E se Aslam próprio conhece os nossos sentimentos, não precisamos prová-lo a mais ninguém!

O rosto do príncipe calormano estava impassível. Ele não sorriu orgulhoso como fizeram o Caspian e a Susana que nos guiaram pelos desafios. Seus lábios se comprimiam e seu semblante se contraiu, sério. Eu não estava gostando nada daquilo.

Toquei o cabo da espada, pronto para sacar a Rhindon caso ele tentasse nos atacar. Foi quando ele baixou a cabeça e mostrou a lança, como se estivesse dando permissão à contragosto para que a pegássemos.

A ponta da lança brilhou diante de nós, uma luz azul esverdeada cintilando e se espalhando pelo cabo. Permiti-me arfar de alívio.


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Notas finais do capítulo

E ai, gente? O que acharam?
Por que o Nihor estava tão irritado? Será que ele não quer que Caspian e Susana levem a lança? Que motivos ele teria?
Vejo vocês nos comentários, não esqueçam de comentar!



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