A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 31
A batalha diante de nós


Notas iniciais do capítulo

Oii gente! Voltei com mais um capítulo! Não vou me estender muito por aqui, afinal como o capítulo está um pouco atrasado, suponho que queiram se debruçar sobre ele rápido!
Beijos! Boa leitura!



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Susana Pevensie

A confirmação das nossas suspeitas feita pela figura à nossa frente deixou Caspian e eu atônitos. Estávamos sem ação diante da rainha de Nárnia, que deveria estar morta segundo a lenda que o rei Naim contou.

Cisne Branco mantinha os lábios cerrados em um sorriso simpático, parecendo estar ciente de que precisávamos de alguns momentos para absorver o choque. Seus olhos azul-esverdeados percorreram o meu rosto, fixando-se na bochecha ferida e depois passou para a perna de Caspian.

— Eu posso reparar seus ferimentos - Pronunciou-se, a voz calma transmitia confiança - Talvez seja uma forma eficaz de ganhar sua confiança. - Ela ofereceu um sorriso amigável, a barganha sendo apenas uma brincadeira.

Soltei um riso breve.

— Perdoe-nos - Pedi - A jornada foi um pouco dura.

“Um pouco dura” era apelido. A jornada tinha sido terrível. Foi nós nos separarmos de Naim que fomos atacados e feridos, boa parte de nós mortos. O encontro com Aslam foi reconfortante, porém mais adversidades cercaram a mim e a Caspian no percurso. A avalanche quase tirou a minha vida, deixou Caspian desesperado e piorou seu ferimento da perna, que me preocupava muito. Fomos perseguidos no desfiladeiro, encurralados pelos calormanos estranhos, aparentemente enfeitiçados ou coisa pior; ficamos sem saída e tivemos que nos jogar ao rio furioso, quase nos afogando no processo.

Os pés descalços de Cisne Branco caminharam pelo calcário que ladeava o rio e foram até a margem. Ela fez um movimento com a mão direita, rotacionando o pulso sobre a água e parte dela saiu do rio, levitando.

Caspian conseguiu evitar o espanto apesar dos olhos castanhos estarem levemente arregalados, porém meu rosto era a retratação perfeita da perplexidade. Cisne Branco deu um riso de lado e trouxe a água em nossa direção, separando-a em dois feixes. O primeiro se dirigiu à perna de Caspian, que firmou os pés dentro das botas molhadas sobre o chão, temendo o que estava prestes a ocorrer.

O segundo veio em minha direção, fragmentando-se no ar em duas partes, uma que se concentrou no ferimento em meu rosto e a outra que flutuou até a lateral do meu corpo. Apesar da água do rio estar bastante gelada, a água sob o poder de Cisne Branco era morna, tal qual a água utilizada para limpar feridas. Senti a água colar em meu rosto como uma gelatina e movimentar-se circularmente, repuxando a pele ao redor do ferimento delicadamente. Não chegava a doer, porém era desconfortável, chegava a pinicar e contive minhas mãos para não coçar o rosto.

Em cerca de dois minutos, os ferimentos faziam parte apenas das nossas lembranças doloridas. Dirigi meu olhar a Caspian e à sua perna em seguida, a pele revelada através do corte na calça que eu alarguei para cuidar do ferimento. A pele estava limpa, livre de qualquer cicatriz. Suspirei aliviada.

— Muito obrigado - Caspian fez uma mesura e Cisne Branco o imitou como um “não há de que” - Como deve imaginar, estamos à procura da lança que vossa majestade utilizou para derrotar a serpente do deserto anos atrás.

Às vezes eu esquecia que Cisne Branco já fora rainha. Suas vestes simples, o comportamento gentil, quase ninfoide, era bastante diferente da pompa das vestes carregadas e das jóias requintadas às quais a monarquia naquele momento estavam familiarizadas.

— Está falando da sacerdotisa Cietriz, não é? - Indagou ela, chegando-se a nós com passos calmos. A gentileza em seu rosto foi apaziguada para dar lugar a um semblante mais sério, seus olhos verdes assumiram a ferocidade de uma rainha que luta por seu povo, de uma amante que luta pelo amor de seu amado.

— Ela mesma - Respondi - O rei Naim de Arquelândia nos contou o que sabia de sua história com ela e com o príncipe Nihor. - Tive a impressão de ver os olhos dela cintilarem com a menção ao príncipe calormano - Cietriz condenou Nárnia a uma seca terrível e trouxe a Feiticeira Branca de volta. Estamos na iminência de uma nova guerra e precisamos da lança para livrar os narnianos da morte certa.

— Eu sabia que esse dia chegaria - Ela piscou, fitando o chão, o calcário sob os nossos pés - Minha alma está presa a esse lugar desde o dia em que nós três morremos. A lança não está o meu poder, exatamente.

Caspian e eu compartilhamos o olhar desolado. Como assim a lança não estava com ela?

— Então a lança não está aqui? - Caspian indagou. 

— Está, está sim - Assegurou e meus ombros caíram de alívio - Porém não posso simplesmente dá-la a vocês.

— E o que precisamos fazer para conseguir a lança? - Caspian voltou a questionar - Não estou entendendo o que quer dizer.

— A lança está envolta por uma magia de proteção, é o que chamo de selo - Explicou - O fato de eu ter embebido a lança por magia só foi possível pela força do amor que existia entre mim e Nihor. - A última parte foi dita por ela com tristeza. Ela devia sentir muita falta dele e sequer conseguiu encontrá-lo no país de Aslam desde que se foram - Para retirar a lança do selo, apenas um amor tão forte quanto será capaz de fazê-lo.

— Por isso, Aslam nos enviou - Constatei, encontrando o olhar de Caspian.

— A lança testará vocês - Cisne Branco continuou - Se Aslam os enviou aqui, deve ser porque acredita no amor de vocês. Não conheço sua história, não sou onisciente, mas se isso for verdade, a lança acreditará também.

Cisne Branco fez um sinal com a mão, pedindo que a acompanhássemos. Ela passou a caminhar pela margem do rio, guiando o caminho. Caspian ofereceu sua mão para mim e um olhar intenso, um que somente ele era capaz de transmitir. Peguei sua mão e passamos a caminhar atrás da antiga rainha de Nárnia. Não deixei de notar, entretanto, o reflexo de Cisne Branco que ainda perdurava sobre as águas do rio, que se ela não tivesse se ausentado dele.

 

Pedro Pevensie

Chegou o momento de marcharmos para a Arquelândia. Antes de receber a lamentável notícia da morte da sua esposa, Glenstorm já havia providenciado que os soldados estivessem organizados em seus batalhões, que estivessem treinados e bem armados. A questão da organização era uma tradição mais telmarina que narniana, já os narnianos costumavam lutar de modo mais livre, porém ainda assim era mais adequado para o nosso plano tático.

Eu já havia vestido a malha quando Lúcia entrou no quarto. Colocava as ombreiras quando ela se aproximou para me ajudar, afivelando as peças de metal pelas alças de couro.

Ela mesma já estava vestida. Usava uma malha de aço com mangas justas ao corpo, uma espécie de camisa de linho por baixo para lhe conferir conforto. Usava uma saia verde escura de tecido grosso, porém não tão pesado e o tronco estava coberto por uma peça de metal e couro para proteger os órgãos vitais. O coldre repousava em sua cintura, o par de adagas que ela adotara como estilo de luta bem repousadas nele; o bolso do elixir estava vazio, pois o recipiente estava com Liliandil, que fora salvar Edmundo.

— Sabe o que eu penso disso - Adverti. Ela sabia do que eu estava falando.

— Já fui uma rainha guerreira um dia, lembra? - Seu tom não era grosseiro ou provocativo. Ela argumentava calmamente - Liderei  nossas tropas ao lado de Edmundo quando Rabadash invadiu Arquelândia.

— Você era mais velha - Retruquei, ocultando um sorriso. Quando contestados, uma faísca percorria os olhos de todos nós, irmãos Pevensie. Éramos teimosos, o gênio forte fora herdado por todos os irmãos e com Lúcia não era diferente.

— Tinha a sua idade quando lutou contra Jadis na primeira batalha do Beruna - Ela ergueu a sobrancelha, os olhos azuis, redondos e expressivos desafiando-me para mais um argumento.

— Sabe que apenas me preocupo, não é? - Estava cansado de discutir e sabia que Lúcia faria pouco caso das minhas objeções naquele momento. Iria para o campo de batalha de qualquer forma. - Penso que Edmundo e Susana já estão correndo perigo suficiente, Lu. Não gostaria de vê-la em risco também.

— Você assumiu cedo demais o posto de líder da família - Comentou. Ela se dirigiu a cama rapidamente, onde eu tinha deixado as braçadeiras - Antes mesmo dos nossos pais morrerem.

— O que quer dizer? - Sabia que ela não tinha mudado de assunto, mas ainda estava confuso quanto ao rumo da conversa.

— Está na hora de nos ver como iguais, Pedro - Fitou meus olhos com intensidade - Sempre vamos respeitar você como o irmão mais velho, não tenha dúvidas disso nunca! Contudo, você precisa entender que Susana, Edmundo e eu somos capazes de nos defender sozinhos. Precisamos ser. - Fez uma pausa e vi lágrimas se acumulando nas beiradas dos seus olhos - Permita que eu lute ao lado no campo de batalha. 

Lúcia não estava exatamente pedindo permissão; ela iria com o sem a minha aprovação, afinal Aslam a incumbiu a ajudar Rilian a chegar até Cietriz para reconhecê-la e matá-la. Ela queria que eu concordasse, apenas. Que fosse para o campo de batalha com a minha bênção. Que nós fôssemos em concordância, em sincronia. Que estivéssemos lá um pelo outro.

— Quando conversamos no restaurante, nunca pensamos que estaríamos que logo estaríamos prestes a lutar por Nárnia mais uma vez - Puxei a lembrança e ela sorriu, o aperto dos olhos deixando uma lágrima cair - Será uma honra lutar ao seu lado, rainha destemida.

— Você nunca perde a mania dos títulos, não é? - Caçoou e me puxou para um abraço. Beijei o topo da cabeça dela, da minha irmã caçula que já não era tão pequena assim.

Hiandra

Os servos do castelo, os conselheiros do rei, todos os amigos de Nárnia estavam aguardando o rei Pedro, a rainha Lúcia, o general Glenstorm e o jovem Rilian se apresentarem no pátio para se despedir.

Aslam estava sentado ao chão, se é que posso dizer isso. Ele se apoiava nas patas traseiras, deixando as dianteiras esticadas, a cauda majestosa enrolada ao redor do corpo, na postura elegante digna de um felino. Sua juba brilhava ao sol alto do verão de Nárnia, o dourado cintilando cada vez que a brisa suave a fazia balançar.

Quando o rei Pedro apontou na entrada do castelo, após ter decido as escadas com a irmã Lúcia, meu coração disparou, se é que era possível que estivesse ainda mais acelerado. Entreabri os lábios, sentindo os olhos mais molhados.

Eu havia ficado magoada com sua desconfiança, era inútil mentir sobre isso. Meus sentimentos foram apaziguados quando ele me pediu perdão nas masmorras, porém era inevitável pensar que ele poderia ter confiado em mim desde o princípio. Fora sem dúvida uma tremenda decepção.

Fui acostumada a ter meus sonhos apagados da memória, afogados em desesperança, tornando práticos todos os aspectos da vida. Fui convencida de que merecia cada desgraça que acontecia na minha vida, cada abuso sofrido por ser bastarda, por ser bonita, por ser talentosa demais, por ser... eu.

Pedro havia me mostrado o contrário. Em Nárnia, eu conseguiria viver em paz, livre para ser eu mesma. O leão não se importaria com a minha origem, desde que eu lutasse pelo lado certo. O rei magnífico, como ele gostava de ser lembrado, porém, foi justamente aquele que por um momento, fez cair por terra toda a minha esperança.

Não o vi chegando.

— Espero que tenhamos a oportunidade de conversar melhor depois que a batalha terminar - Disse ao se aproximar, tomando o cuidado de falar de nossos assuntos pessoas em um tom de voz discreto - Mas não posso partir sem te pedir perdão por tê-la julgado tão mal.

— Você já fez isso - Falei sem jeito.

— Mas não fiz o suficiente para que me perdoe - Ergui os olhos para ele, finalmente. Seus olhos cristalinos eram dignos de serem comparados aos belíssimos mares orientais que banhavam o território narniano, dos quais eu apenas ouvira histórias. - E eu preciso, Hiandra. Preciso que me perdoe... porque se eu morrer...

Meu reflexo foi erguer a mão para calar seus lábios, porém me contive no meio do caminho, recolhendo a mão.

— Não diga uma coisa dessas - Implorei num sussurro - Pode ser que eu ainda guarde lembranças ruins das suas palavras... Mas não estou com raiva de você. E nenhum ressentimento me faria não desejar que você volte com vida. Céus, eu preciso que você volte com vida.

As lágrimas rolaram quentes, percorrendo um caminho sinuoso até o fim das minhas bochechas.

— Eu amo você - Ele tocou a lateral da minha bochecha, deixando o metal da armadura que cobria seus dedos deslizar por ela, como se ele tentasse memorizar cada centímetro da minha pele - E eu vou voltar para resolvermos isso.

— E eu estarei esperando - Prometi, beijando a palma de sua mão.

Ele aproximou seu rosto do meu devagar, seus olhos azuis deixaram de acompanhar os meus e se detiveram em meus lábios. Eu poderia contemplar aqueles olhos o resto dos meus dias. 

O beijo foi casto, afinal estávamos em público, porém isso não foi impedimento para que transmitíssemos todos os nossos sentimentos e desejos através dele. Um calor diferente me preencheu, não o calor do deserto que faz suar, que é desconfortável; um calor que conforta a alma, que nos faz sentir em casa.

Lúcia Pevensie

Gael trouxe meu cavalo pessoalmente e me emocionei ao ver minha amiga. Por todas as turbulências que estávamos passando, mal tive tempo para aproveitar sua companhia.

Rilian tomou o seu cavalo ao meu lado e trocamos um olhar encorajador. Ele sabia o que precisava fazer. Estava bastante concentrado nisso, em manter viva a memória da voz que quase o fez matar Susana. Dessa vez, a dona daquela voz é que teria sua vida findada.

— Será que eu vou conseguir? - A insegurança era notável não só em seu olhar, mas na postura de seus olhos, a forma que suas mãos tremiam. Rilian lamentava o fato de ter estado bêbado no momento em que Cietriz falou com ele.

— Tenho certeza que sim - Assegurei. - E a propósito, sequer tive tempo de te agradecer por ter salvo a minha vida.

— Você também salvou a minha, então acho que estamos quites - Deu de ombros.

Sorri. Estava realmente feliz em ver Rilian no caminho certo. Vê-lo lutando por Nárnia era um desfecho que eu queria muito ver, porém que tinha minhas dúvidas de que aconteceria realmente.

Pedro montou em seu cavalo e eu icei o meu para me colocar ao seu lado esquerdo. Glenstorm tomou posição ao seu lado direito; o centauro se recusou a ficar para trás, mesmo com a dor da perda de Windren tão recente. Ele já tinha certa idade, apesar do porte físico e da aparência no geral mascararem isso. Sabia que o momento do luto chegaria e precisava retardá-lo para guiar Nárnia a vitória. A princesa Neriah se colocou ao lado do general e Rilian tomou seu lugar ao meu.

— Guie os exércitos contra os calormanos - Aslam orientou Pedro - Será difícil derrotá-los, mas mantenha-se firme e confiante. Susana e Caspian trarão a lança. Quando eu apontar nas colinas, Rilian e Lúcia devem seguir ao castelo. Sejam fortes e corajosos, não temam e não desanimem. Estou com todos vocês.

— Por Nárnia e por Aslam! - Pedro bradou e seu cavalo se apoiou nas patas de trás, relinchando.

Pedro começou a cavalgar, sendo ovacionado pelos guardas que ficariam no castelo, pelos civis, pelos servos, por todos que ficariam. Seguimos logo atrás deles, prontos para a batalha que se aproximava a cada segundo.

 

Caspian X

Era um alívio não precisar mais caminhar mancando, sentindo a perna repuxar de dor com o esforço do exercício. Sem dúvidas a cura oferecida a nós por Cisne Branco nos proporcionaria um retorno mais ágil quando pegássemos a lança.

— Tem ideia de que tipo de prova nos aguarda? - Perguntei a Cisne enquanto a seguíamos. Àquela altura do rio, os caminhos ficavam mais estreitos e o calcário se transformava em pedras maiores e rochas, semelhantes às encontradas à beira do Rio Veloz em Nárnia.

— Para falar a verdade, não foram muitos os forasteiros que buscaram pela lança nos últimos séculos - Explicou ela, de costas para nós - Alguns reis arquelandeses foram ambiciosos para comprovar sua existência, mas seus cavaleiros não tiveram sucesso ao tentar roubá-la. Foram reprovados no teste e quando tentaram forçar o selo, ele os destruiu.

Susana arregalou os olhos levemente, a surpresa e o medo tomando conta de nós. Que bom que pelo menos fomos avisados do terrível fim que nos espera caso tentássemos tirar a lança do selo à força.

— Como só utilizei a lança uma vez, não tive muito contato com ela desde que selou-se sozinha - Era reconfortante e frustrante ao mesmo tempo saber que Cisne realmente não tinha como facilitar as coisas para nós. Não gostaria de pensar que ela só estava sendo maldosa, mesmo sabendo nas nossas intenções de destruir Cietriz, porém teria sido um alento receber a lança de suas mãos rapidamente. - O teste provavelmente irá querer comprovar a veracidade de suas intenções com a lança e do amor que existe entre vocês: o quanto estão dispostos a sacrificar para ficarem juntos, ou para alcançar a felicidade um do outro, mesmo que não seja ao seu lado.

Era pesaroso pensar na possibilidade que a felicidade de Susana não fosse ao meu lado. Era inconcebível, na verdade. Ela mesma dissera o quanto as coisas eram difíceis em seu mundo, o quanto ela e seus irmãos viviam vazios naquela realidade. Seu lugar era ao meu lado, tinha certeza disso.

— Cietriz, assim como eu, se tornou uma entidade, feita das areias do deserto - Cisne continuou explicando. Ao mencionar o nome da rival, havia mais lamento que rancor em seu tom; ela certamente não queria que as coisas tivessem chegado ao ponto que chegaram: Nihor, ela e Cietriz pagando com a própria vida por amor e vingança. - A propriedade da lança é a água, que vence os poderes de seca e destruição da serpente do deserto. Ela não será derrotada com uma espada qualquer.

Chegamos a uma curva no caminho e percebi que o rio se alargava adiante, ao passo que seguíamos para a esquerda e encontramos a entrada de uma gruta nas rochas. A água do rio entrava rasa na gruta, inundando o solo, deixando apenas uma trilha vacilante de rochas soltas para caminharmos.

— Não quero parecer egoísta - Cisne finalmente virou-se para nós, fazendo-nos parar de andar - Porém me agraciaria muito se libertassem a lança. Não sabem quanto tempo anseio em encontrar Nihor no país de Aslam. E sei que Nárnia precisa que Cietriz seja derrotada de uma vez por todas. Sejam sinceros em seu teste. Procurem fazer escolhas altruístas, porém somente se for de coração. Se não passarem no teste, deixem a lança no lugar. Não quero ter que recolher seus corpos - Ela falou a última parte com sarcasmo e expirei com riso.

— Acredite, não podemos nem pensar em morrer a esta altura - Susana assegurou - Faremos o que estiver ao nosso alcance para libertar você dessa prisão, Cisne Branco.

— Façam o possível para salvar Nárnia - Pediu - E eu terei recebido minha recompensa.

— Obrigado - Agradeci - Por ter nos curado e por ter nos guiado até aqui.

Ela fez uma mesura e Susana e eu achamos por bem lhe fazer uma reverência honrosa. Cisne Branco era uma rainha de Nárnia, uma rainha valorosa, que merecia ter paz.

Susana respirou fundo ao meu lado e nos entreolhamos antes de caminhar em direção à gruta, seguindo pela trilha de rochas acima do rio. A luz vinda de fora tornava-se cada vez mais distante à medida que avançávamos e a gruta parecia cada vez mais escura, úmida e fria.

 

Edmundo Pevensie

Aproveitei cada segundo do meu momento com Liliandil na cela. Passei todo aquele tempo desde que chegamos a Nárnia temendo que ela não sentisse o mesmo por mim, que estivesse apaixonada por Caspian, ou que simplesmente nunca fosse capaz de gostar de mim.

Foi quando nos damos conta que sequer sabíamos quanto tempo se passou.

— Preciso nos tirar daqui - Ela declarou.

Liliandil prontamente se colocou de pé e eu a acompanhei. Ela fez um movimento com a mão em direção à maçaneta da cela, que ficava apenas do lado de fora. Sua expressão demonstrava a força com a qual tentava romper os cadeados e a espécie de feitiço que envolvia a minha cela.

Até que ela se cansou e seu braço caiu ao lado do corpo.

— Não consigo abrir - Constatou ofegante - Pareceu tão fácil entrar, só precisei forçar a passagem um pouco, mas por alguma razão não consigo fazer o mesmo agora.

— Não dá para tentar de novo? - Sugeri - Eu não quero exaurir suas forças, você já se arriscou demais por mim, mas não estou muito a fim de virar sacrifício calormano.

Ela sorriu de lábios cerrados.

— Posso tentar sair sozinha, ver se o problema sou eu, ou não sei... - Deu de ombros - Não podemos esperar que venham levá-lo para o pátio, é arriscado demais.

Foi minha vez de dar de ombros.

— Me sinto novo em folha para um combate - Falei convencido - Vai ser uma bela vingança dar uns socos nos calormanos desgraçados que me trouxeram para cá. Sem falar que a Feiticeira Branca merece uma lição.

— Sabe que não pode vencê-la com força bruta - Advertiu e eu meneei com a cabeça.

— É, tem razão - Coloquei as mãos na cintura - Mas ela vai ter o que merece quando Aslam chegar.

Liliandil voltou a se concentrar na porta a sua frente e passou a brilhar tanto que ofuscou minha visão, quase me deixando cego. Quando consegui ver alguma coisa, ela havia assumido a forma de estrela e flutuava em direção à parede que nos prendia. A esfera luminosa tentou forçar uma passagem contra ela, porém não parecia surtir efeito. A luz pareceu oscilar como uma miragem no deserto e tive a impressão de que a parede tremeu, porém nada além disso.

Liliandil voltou à forma humana e me virou-se para mim, cansada e frustrada.

— O que vamos fazer? - Indagou, o peito subindo e descendo devido ao esforço.

Não tinha uma resposta para aquilo. E o nosso tempo estava se esgotando.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram?
Achei legal trazer um diálogo desse tipo entre o Pedro e a Lúcia, já que os outros irmãos estão longe. Eles precisam se manter unidos, afinal!
Susana e Caspian estão prestes a enfrentar o último desafio e o Ed e a Lilian estão em apuros dentro da cela! O que acham que vai acontecer?



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