O dragão maligno e o bando faminto e feliz estavam de volta na Tribo do Fogo depois de um bom tempo desde a última aparição deles por lá.

Era bom estar de volta e ver o progresso que Tae Jun havia feito por toda a Tribo, como tinha prometido à Yona que faria.

Apesar de o bando ter retornado à Tribo, dessa vez a ideia era apenas observar tudo em volta, sem interferir no trabalho de Tae Jun, aproveitando assim para rever os amigos que tinham feito quando estiveram por lá da última vez.

Já era noite quando cruzaram a fronteira, mas todos estavam com fome e nada dispostos a dormir acampados novamente, portanto se aventuraram pelo pequeno vilarejo que tinha por ali, à procura de comida e uma boa cama para passar o resto da noite.

No momento, eles eram um bando mais faminto do que feliz, disso até mesmo Ao, o pequeno esquilo, tinha certeza.

— Oh, hoje é o Dia das Meninas! — Yoon quem comentou o fato, olhando curioso em volta para todas as barracas dispostas no Festival que acontecia naquele simples vilarejo.

Apesar de ser um ambiente humilde, as pessoas fizeram questão de montar barracas e decorar as ruas para comemorar aquele dia que tinha tanta importância para todas as garotas que viviam ali.

— Dia das Meninas…? — Yona indagou surpresa.

Ela também olhava em volta, aos poucos adquirindo um ar nostálgico conforme fazia isso, vendo algumas crianças animadas passarem perto de seu grupo.

— Ah… Você ficava especialmente irritante nessa época, Yona-hime — Hak falou em tom provocativo, sorrindo de lado.

Yona fechou a cara imediatamente, virando-se para ele, contrariada.

— Hak!

Mas, apesar disso, ela não era capaz de discordar do homem. Não agora, depois de estar tão mudada.

Pensar no passado, e em como tudo era antes de sua vida tomar outro rumo, deixava-a não só nostálgica, mas pensativa sobre como ela costumava ser.

E, bem, Hak talvez tivesse razão naquilo. Ela sempre se importava muito com datas especiais, e o Dia das Meninas não era nada diferente.

[...]

Um ano atrás

O recente nomeado general da Tribo do Vento andava despreocupadamente pelo palácio do reino de Kouka depois de uma reunião com o Rei e seu avô.

Rei Il apenas queria conversar com ele como sempre fizera desde que o conhecera, reforçando para o jovem Hak o quanto confiava a vida de sua filha a ele.

Hak suspirou, contendo um bocejo.

Era apenas fim de tarde, mas ele já sonhava em se deitar em sua cama e descansar.

Mas o seu pensamento foi por água abaixo quando, enquanto caminhava, avistou ao longe a princesa com os olhos marejados e uma expressão emburrada. Aquele tipo de expressão que sempre fazia quando tentava — em vão — segurar o choro.

Ela era fofa daquele jeito. E sempre que o pensamento cruzava a mente de Hak, ele fazia de tudo para espantá-lo.

— O que foi agora? — ele perguntou ao longe para a princesa, parecendo soar desinteressado enquanto se aproximava dela. — Não consegue prender o cabelo?

Yona, notando sua presença, olhou irritada para ele, agora com as lágrimas descendo pelo seu rosto.

— Soo Won está atrasado, ele não vai poder vir tomar chá no Dia das Meninas comigo! — explicou, virando-se de costas para Hak, assim ele não veria mais seu rosto inchado.

Não queria dar mais motivo para o garoto zombar dela.

Hak, no entanto, olhou surpreso e até um pouco curioso agora. Ele se lembrava vagamente daquela data nos anos anteriores, sobre como Yona fazia vários tipos de preparativos diferentes e sempre chamava Soo Won para tomar chá com ela.

É claro, Hak geralmente costumava ir mesmo sem ser convidado, movido à curiosidade e pronto para brincar com a cara da garota de alguma forma.

Mas dessa vez ele não conseguiu fazer isso, suspirando de leve e aproximando-se ainda mais de Yona.

— Tsc, essa coisa estúpida é tão importante assim pra você? — perguntou, parando ao seu lado, observando-a.

— Claro que é! — Yona exclamou, sem acreditar no que Hak tinha falado. — É uma tradição, se eu não fizer, pode trazer má sorte e eu ficarei sem casar pra sempre!

Ela pensou que Hak daria uma bela gargalhada com isso e a chamaria de encalhada pelo resto da vida, então até fechou os olhos, preparando-se para o que viria, arrependendo-se de ter contado para ele sobre a importância do Dia das Meninas.

Mas quando o silêncio foi tudo o que veio nos segundos seguintes, a garota abriu os olhos temerosa.

Hak ainda estava ao seu lado, mas não a encarava mais, olhando para o enorme jardim tradicional japonês em frente a eles.

— Tudo bem então — ele murmurou, e Yona o encarou confusa.

— O quê?

— Tudo bem, eu tomo o chá no lugar do Soo Won-sama — explicou em voz baixa. — Se isso é tão importante pra você, eu faço no lugar dele.

Yona piscou umas duas vezes antes de finalmente cair a ficha do que o amigo tinha dito, surpresa demais com o fato.

— S-sério?! — exclamou, abrindo então um enorme sorriso, de repente empolgada demais e sem conseguir se conter.

Ela nem deu tempo para Hak falar mais nada, pegando em sua mão e arrastando-o apressadamente até a sala em que estavam dispostas todas as suas bonecas de porcelana, ordenando aos empregados do castelo que preparassem imediatamente o chá para ser servido.

Durante todo o evento envolvendo apenas Hak e a Princesa, ele não soltou um comentário provocativo, ainda que vez ou outra Yona temesse isso, lançando olhares desconfiados para ele.

Mas Hak era assim mesmo, apesar de tudo. Ele tinha seus momentos em que falava sério e estava ali para ajudá-la, especialmente quando Soo Won não estava por perto para isso.

E aquele foi o último Dia das Meninas que ambos tinham passado no castelo.

Curiosamente, foi o mais memorável de todos tanto para Yona quanto para Hak.

[...]

E agora, lembrando-se disso, Hak esteve ao seu lado até mesmo naquela época,  fazendo-lhe companhia sempre, em seu modo discreto e às vezes provocativo de ser.

Ela não tinha parado para pensar sobre isso antes.

Yona ergueu o rosto, olhando para o homem alto ao seu lado. Ele estava distraído agora, observando Yoon explicar para Ki Ja e Shin Ah sobre o significado daquele Festival do Dia das Meninas.

Yona sorriu.

Ainda que tivessem encontrado amigos no meio do caminho, ele não saía do lado dela, e ela não podia se sentir mais grata por isso.

— Yona-hime, algum problema? — A garota nem percebeu que Hak tinha notado seus olhares em direção a ele.

Ela sentiu o rosto esquentar, virando-se para frente rapidamente, tentando disfarçar o constrangimento.

— N-não é nada! — respondeu atrapalhada.

— O nome disso é amor, Yona querida — Jae Ha falou, e Yona franziu o cenho, sem entender.

Ela até pretendia perguntar o que ele quis dizer, no entanto viu Hak se virar para o amigo e começar uma discussão que a fez ficar ainda mais confusa.

Suspirou, decidindo deixar de lado, voltando a sua atenção para o Festival que ainda acontecia a sua volta.

Grande parte da importância que ela nutria pelo Dia das Meninas se perdeu com todos os acontecimentos em sua vida. Em vez de se preocupar agora com as tradições e o que deveria fazer naquele dia, Yona decidiu apenas aproveitar o momento junto com os Dragões, Yoon e, principalmente, Hak.

Estando com eles, ela não precisava de mais nada.

— Olha, Senhorita, ali tem bolinho doce de arroz! — Zeno exclamou, apontando para uma barraca não muito distante deles.

O cheiro que exalava da comida típica do Festival chegou até o bando e fez vários estômagos roncarem devido a isso.

Certo, talvez os costumes do Dia das Meninas tivessem perdido a força para Yona e nunca foram tão importantes para nenhum dos outros amigos, mas, naquele momento, todos concordavam que o Festival deveria ser apreciado. Especialmente a sua comida.