Cold city boy escrita por slytherina


Capítulo 1
Oroboro




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Kim Myung Soo estava dirigindo seu SUV coreano em direção ao hotel onde sua companhia pretendia filmar um reality show, a fim de promover o novo álbum de sua velha banda depois de um longo hiato. O trânsito parado e a monotonia daquela manhã fizeram com que se distraísse e sua mente voltasse no tempo, e ele fosse de novo um trainee, esperando ser escolhido para compor uma nova banda de kpop. Havia um garoto em particular de quem não gostava, e sempre se estranhavam, só não chegando às vias de fato porque seriam sumariamente expulsos da seleção. Seu nome, Lee Sung Yeol. Grandes olhos, bochechudo, esquelético, um chorão. Quando começaram a apelidar uns aos outros, foi fácil chama-lo de "choding" (pirralho). Myungssoo foi mais rápido e se auto-intitulou "L". Um nome maneiro que remetia ao célebre personagem de mangá, embora não pudesse falar isso abertamente por problemas de direitos autorais.

Uma buzina mais insistente o tirou de seu devaneio e ele fez o SUV andar. Mais alguns minutos e chegou ao hotel. Tirou o tíquete de estacionamento para liberar a cancela, e rodou por mais alguns minutos até achar uma vaga. Acionou o alarme da chave e se dirigiu ao elevador. O pensamento voou novamente ao passado. Choding ria. Não conseguia parar de rir. Tanto é que se dobrava para proteger o estômago. E seu riso era contagioso. L não conseguia se controlar, e da mesma forma ria tanto que se sacudia. Também pudera. Algum dos gerentes da banda veio com a estapafúrdia idéia de que deveriam fingir serem namorados. Os fãs os shippavam juntos, o que era ridículo, mas fãs shippavam até escova de dentes com dentadura, então não estranharam tanto, mas eles dois? Mal haviam parado a animosidade para se comportarem com civilidade. E agora eram amigos, mas não namorados, ok? Vá lá, por um pouco de tempo poderiam fazer de conta. Teriam apenas que fazer corações com as mãos, né? Eles poderiam fazer isso. E andarem lado a lado, e sentarem juntos, e posarem juntos para fotos, e ficarem juntos no mesmo quarto de hotel.

O elevador subiu para a cobertura. Estava lotada. L teve dificuldade em reconhecer um rosto amigo. Não era idiota em achar que eram pessoas anônimas. Cada um daqueles estranhos era um técnico em alguma coisa, ou um jornalista convidado especialmente para cobrir o evento. A maioria estava ali a trabalho e seriam condescendentes com eles. A máquina de fazer dinheiro não media esforços em ver seu lucro quadruplicar. L encostou-se à parede e fechou os olhos. Quando foi que as coisas entre ele e Choding ficaram insanas? Talvez tenha sido quando foram na cabine de fotos. Choding achou que seria divertido tirarem fotos se beijando. Um monte de fotos de um único beijo. Ou talvez tenha sido quando estavam de férias na praia e L quase se afogou, o que levou a massagens para liberar água do pulmão e à famosa respiração boca à boca. Claro que eles se divertiam sozinhos longe dos outros. Principalmente de luta. Ou de cócegas. Geralmente na cama do quarto de hotel. Mas ... isso tudo era besteira. L tinha certeza disso. O momento em que as coisas entre eles fugiram ao controle foi um momento de pura bênção e contemplação. Durante uma noite na praia. O céu estava estrelado e a lua, cheia. Era tudo tão perfeito e belo que L chorou. E foi consolado.

— Myungssoo! Venha aqui! — o gerente chamou, tirando-o de seu torpor.

— Sim? Já estou indo.

Todos os integrantes da banda se alinharam para as fotos. Flashes espocaram. Em alguns minutos passaram para a sala de conferências. Responderam às perguntas de praxe e falaram o mesmo de sempre. Sorria. Acene. Não se mexa. Olhe para cá. Fizeram uma pausa e eles foram liberados por alguns minutos antes de nova sessão de fotos.

L se afastou novamente e procurou um canto escuro, onde não teria que fazer sala pra ninguém. Já tinha fama de ser frio e cruel. Menos mau. Não era obrigado a sorrir 24 horas por dia. Quando reclamavam explicava que estava compondo um personagem, o garoto frio da cidade grande, e por isso tinha que parecer distante. Virou o rosto e admirou um quadro estranho na parede. Era quase monocromático em tons de preto e cinza. Piscou. Passou a ouvir vozes de sua memória. Dois jovens rindo à toa de si mesmos, por descobrirem sua sexualidade. Em outra lembrança, ouviu a respiração ofegante e entrecortada de dois jovens prestes a atingirem o orgasmo. Sentiu o fogo tomando seu rosto. "Controle-se, L. Você está em local público, diante de câmeras e jornalistas." Disse a si mesmo. Sentiu o sangue frio assumir seu semblante e regozijou-se mais uma vez por ter aprendido técnica de atuação.

O ambiente era enfadonho no que tinha de repetitivo. Se alguém lhe dissesse no passado que ser um artista se resumia a isso, teria pensado duas vezes antes de se inscrever como trainee.

— Myungssoo, hora das fotos. — o gerente falou.

L se despreendeu de seu lugar na parede e se dirigiu à sessão de fotos mais uma vez. Seus colegas tinham a mesma cara de enfado, mas se esforçavam para serem sorridentes e atenciosos. Alguns deles pareciam ter nascido de quina pra lua, tal era a facilidade em parecerem felizes e despreocupados o tempo todo. L achava que deviam sofrer de cãibras faciais.

— Myungssoo, sorria! Seus fãs querem ver suas covinhas. — um dos fotógrafos reclamou.

L deu então um meio sorriso, com direito a suas famigeradas covinhas darem o ar da graça. "Eu odeio isso." Pensou.

Mais uma pausa e L escapuliu para uma área perto do terraço. Ao menos o céu nublado serviu para protegê-lo do sol inclemente. Fechou os olhos e mais uma vez ouviu o sermão do gerente da banda: "Agora chega. Vocês estão indo longe demais. Não era pra ser de verdade. Parou. Vamos explicar às fãs que vocês romperam e não são mais namorados. Estão me entendendo? Não quero mais vê-los juntos. E isso é uma ordem. Se desobedecerem serão expulsos da banda."

L olhava para o teto, tentando ao máximo se controlar e aceitar o que o gerente estava dizendo, mas a sensação de injustiça era tamanha que tinha vontade de gritar. Choding tinha os olhos arregalados. Encarando fixamente o homem mau. L sabia que ele ansiava por um abraço amigo ou simplesmente um roçar de mãos, para garanti-lo de que não estava sozinho. Mas na atual circunstância não podiam mais se tocar. L desejou muito chutar o pau da barraca e dar um fim àquela prisão, mas sabia que esse era o ganha-pão de Choding e que ele sustentava a família. Ele nunca largaria a banda. Portanto só lhe restava manter o auto-controle e engolir sapo.

— Um milhão de wones pelos seus pensamentos. — uma voz suave e máscula se fez ouvir.

L reconheceria aquela voz em qualquer parte do mundo. Abriu os olhos para ver Choding diante de si. Não era mais o seu Choding de suas lembranças. Perdera as bochechas adoráveis e seus olhos não eram mais imensos. Agora, apenas comuns e cansados, como os de um trabalhador rural que passou muitos dias no sol. Mas o sorriso ainda era o mesmo e tinha ainda o poder de derreter seu coração.

— Meus pensamentos não estão à venda, e eu sempre poderia mentir. Não lhe parece uma idiotice? — L falou com um meio sorriso.

— Pelo que me lembro, você nunca mente, então, valeria a pena. Mas guarde seus pensamentos, não tenho tanto dinheiro.

— Fazia tempo que não te via. Disseram-me que se mudou para o interior.

— Oh, sim. Nada como voltar às raízes. E você? Ainda ocupado com garotas?

— É, eu tenho uma garota. Você deve conhecê-la, é uma atriz famosa. Fez uma novela bem popular há dois anos.

— Oh, você deve gostar muito dela. Eu também conheci minha cara-metade. Ela é do interior como eu, família tradicional e tudo. Pretendemos nos casar em alguns anos.

— Bom pra você.

— É.

O assunto morreu, embora continuassem a se olhar intensamente.

— Myungssoo-ah, você acha que se nós não tivéssemos entrado para a banda, nossos destinos seriam diferentes?

— Sem dúvida. Nunca teríamos nos conhecido.

Mais silêncio constrangedor e olhos que não queriam se afastar, como se se falassem volumes com olhares. L foi o primeiro a quebrar o encanto desviando o olhar, mas sua mão, inconscientemente ou talvez, pela primeira vez, totalmente consciente e senhor de seus atos, segurou a mão de Choding.

— Gostaria de te ver longe daqui. Depois dessa tour/reality show. Sem esses fotógrafos e curiosos.

— Ok. Que tal combinar um jantar depois do término da tour?

— K.

Então L soltou a mão do outro e se afastou lentamente, indo conversar com o líder da banda. Choding permaneceu sozinho por algum tempo e então foi conversar com o caçula do grupo.


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