Dance Comigo escrita por Leonardo Alexandre


Capítulo 1
Capítulo Único - Sob a Luz da Lua


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores...
Bem-vindos a mais uma passeio pela minha mente louca e levemente interessante. Dessa vez nem tão louca assim.
Essa era pra ser uma one do desafio das princesas do grupo do Nyah! onde cada fic deveria ter 500 palavras, mas eu passei só um pouquinho. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
O que importa é a intenção, né? Espero que gostem.
Enfim, boa leitura...



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O luar atravessava os vidros das enormes janelas e as notas suaves do piano preenchiam o grande salão naquela noite gélida de outono. Uma mulher dedilhava as teclas com delicadeza, se sentindo distraída e finalmente sozinha após um longo mês de "afazeres importantes" tão chatos que beiravam o insuportável.

Porém esse sentimento não durou muito, pois uma voz conhecida soou às suas costas, séria e sensual sem a intenção de ser, como sempre.

— Algumas pessoas diriam que dormir é o mais apropriado a se fazer as duas e trinta e oito da madrugada, Princesa Evelyn.

As íris castanhas logo se voltaram para a mulher que andava em sua direção de maneira tão leve e natural que nem ao menos parecia usar o colete de ferro quase tão pesado quanto ela própria debaixo do uniforme azul marinho da guarda real, o cabelo preto estava preso num rabo de cavalo assim como a bainha da espada presa a cintura, mas o escudo prateado que costumava carregar consigo estava encostado na parede ao lado da janela por onde a jovem entrara.

— Não deveria estar aqui, General Liana. — Murmurou a Princesa, logo focando a atenção outra vez nas teclas.

— E você deveria, Alteza? — Questionou com um sorriso debochado ao passo que cruzava os braços e se apoiava com o quadril no piano.

Touché. — Replicou com um sorriso de canto, mas ainda concentrada na música.

Por alguns minutos a General ficou quieta apenas observando sua princesa. Os volumosos cachos cor de chocolate levemente bagunçados deixavam claro o quanto ela rolou na cama antes de descer para o grande salão, os olhos sempre com um brilho inocente agora pareciam tão... Vagos. A parte negra da pele reluzia a luz pálida da lua enquanto as manchas brancas de vitiligo começavam a ficar adoravelmente coradas por toda a intensidade com que as íris muito verdes a encaravam.

Depois de algum tempo, que pode ter sido curto ou longo demais e nenhuma delas saberia dizer ao certo, Liana foi até a vitrola, escolheu um disco e o colocou para tocar, fazendo com que uma melodia calma e agradável de violino se sobrepusesse a música que a Princesa improvisava no piano, então voltou para perto dela e fez uma leve reverência, estendendo a mão direita.

— Vossa Alteza me daria a honra dessa dança? — Pediu, sorrindo confiante.

— A honra é toda minha, General. — Evelyn respondeu, deixando-se ser guiada para o meio do salão.

— Por Deus, Evie! Você está tão tensa que até seria possível pregar um quadro na parede usando um músculo seu como martelo. — Constatou Liana segurando a cintura da Princesa para começar a conduzir a dança.

— É claro que estou tensa, sua estúpida. — Evelyn replicou, sentindo um enorme peso sair de suas costas por finalmente poder extravasar todo seu nervosismo com alguém sem medo de ser julgada. — Daqui algumas horas este salão vai estar cheio de estranhos e entre as dezenas de homens que vou conhecer estará meu futuro noivo. Minha família não fala de outra coisa há um mês, todos tão empolgados. E eu deveria estar também, é óbvio, mas o único desejo de meu âmago ultimamente tem sido que um buraco se abra no chão para que eu possa entrar e nunca mais sair.

— Porque está tão nervosa com isso? O casamento não é amanhã, que na verdade já é hoje. Você vai apenas conhecê-los. — Lembrou-a, em seguida empregando deboche na voz. — Queria eu ver meu futuro noivo pela primeira vez num grande baile feito especialmente para príncipes se apresentarem como pretendentes. É mais provável que eu o conheça todo sujo em campo em alguma batalha pelo reino ou em um bar fedorento do vilarejo, algo assim.

— Ah para. Você sabe que eu jamais te deixaria fazer escolhas de vida tão ruins. — Replicou com ar de diversão (pela primeira vez em um mês), porém o tom apreensivo logo estava de volta. — E se nenhum deles gostar de mim, Lia? Eu sou... Diferente. O que é só um termo um pouco mais elegante para dizer "esquisita".

— Se é nisso que acredita, Princesa, é a minha vez de chamá-la de estúpida. Mas com todo o respeito para que Vossa Alteza não mande me punir. — Liana respondeu sorrindo. — Evie, ser diferente é o que te torna especial. Você é lindíssima, assim como muitas outras princesas o são. Entretanto, a sua beleza é única, ela te destaca. E até mesmo os príncipes cegos se interessariam por você. Em cinco minutos de prosa dá para saber que além de todos os encantos físicos, você é inteligente, divertida, espontânea e adorável. Irresistível.

Outra vez, as manchas brancas de Evelyn tornaram-se róseas e os cantos de seus lábios se ergueram timidamente. Em geral ela sabia muito bem como reagir a elogios, afinal ser princesa fazia com que recebesse muitos, mas os de Liana sempre a deixavam sem graça, pois pareciam, de alguma forma, mais sinceros que de qualquer outra pessoa no mundo.

— Certo, vamos presumir que você tem razão e eu sou irresistível. — Disse enquanto girava o corpo por debaixo do braço da General. — E se eu não gostar de nenhum deles? São príncipes. Podem ser todos engomadinhos, metidos e enfadonhos como meu tio Avan ou patologicamente egocêntricos como minha prima Sierra.

— Se não gostar deles, foque nos convidados do baile fora da realeza. — Respondeu dando de ombros. — Você não vai assumir o trono até que o Rei se aposente e quatro dos seus irmãos morram. Tenho certeza que, depois de algumas semanas tediosas de sermões monótonos e bem longos, sua família aceitaria que você se casasse com um lord ou um general. Se me tirar como padrão, já pode ter certeza que generais são lindos e deveras interessantes.

— Não sei como minha amizade com uma moça prepotente como você já dura tantos anos, todavia obrigada pelas risadas, eu estava realmente precisando. — Evelyn debochou balançando a cabeça em negativa, porém outro medo lhe veio a mente e apagou seu sorriso. — Mas, Lia… E se eu ainda não estiver pronta para me casar?

— Então não case. — Liana replicou com uma simplicidade que não cabia nessa escolha.

— Haha, muito engraçado. Meus pais, também conhecidos como O Rei e A Rainha, ficariam loucos e transformariam minha vida em um martírio sem fim.

— É sério. Eu poderia te ajudar a fugir. — A General sugeriu com um sorriso travesso, o qual a Princesa conhecia desde a infância. — Poderíamos viver em uma vila perto de algum campo. Eu planto e colho algo com esses braços fortes e você vende com seu sorriso angelical que nem o próprio Diabo resistiria. Ou quem sabe viver em um circo sempre com o pé na estrada. Eu tenho a engenhosidade para criar truques de mágica e você seria a linda assistente que distrai o público com movimentos graciosos. Eu te ensinaria a beber e se divertir sem toda a etiqueta enfadonha de princesinha e você me impediria de arrumar briga com bêbados e acabar levando uma facada, espadada ou coisa pior.

Por um instante, Evelyn se permitiu ver uma vida assim refletida naquelas lindas íris muito verdes e brilhantes, como esmeraldas recém polidas. Então se forçou a rir e voltar a realidade.

— Até parece. Você jamais faria isso, General Liana Honderwall.

— O Rei é um bom homem, mas a minha eterna lealdade pertence a essa Princesa. — Liana respondeu com um olhar assustadoramente sério, mas logo suavizou a expressão e tornou a usar seu tom de deboche. — Ou Vossa Alteza poderia apenas parar de ser tão fresca e simplesmente conhecer os pretendentes no seu baile chique e chato.

— Não seria você se não arrumasse um jeito de estragar a beleza do momento, não é Lia? — A Princesa replicou revirando as íris castanhas, porém sorrindo.

— Perdoe-me, Princesa. Como você tantas vezes já fez questão de enfatizar, eu sou uma estúpida. — Ela respondeu com uma gargalhada muito gostosa de se ouvir. — Quer saber? Agora você não está fugindo nem conhecendo príncipes ou ouvindo discursos reais repetitivos. Apenas respire fundo e... Dance comigo. Sob a luz da lua.

Evelyn não disse mais nada, só se permitiu deitar a cabeça no ombro da General, fechar os olhos e inspirar profundamente, mesmo não achando que isso funcionaria dessa vez. Porém logo estava de fato com a mente limpa, apenas sentindo a música as embalar.

Ela não sabia como Liana sempre conseguia deixá-la assim, tão em paz. Mas não imaginava sua vida sem aquela estúpida adorável.

(...)

Evelyn viu quando a General entrou no salão, trajando um deslumbrante vestido azul claro que fazia uma harmonia perfeita com sua pele negra, o cabelo estava penteado em um elegante coque com algumas mechas soltas ao lado do rosto cuja maquiagem leve disfarçava o quanto era queimado de sol. Ela estava diferente do convencional, exceto pela altura, o que denunciava sua teimosia em continuar usando suas botas ao invés de um sapato com salto alto, como o Rei havia “recomendado”, por baixo do tecido longo.

Os olhos muito verdes esquadrinharam o salão até que encontraram o sorriso angelical da Princesa que já caminhava em sua direção.

— Boa noite, Honderwall. — Disse Evelyn no tom elegante ensaiado para a ocasião.

— Boa noite, Vossa Alteza. — Liana respondeu fazendo uma profunda reverência, logo em seguida baixando a voz. — Eu odeio ter que usar essas roupas e ficar forçando sorrisinhos para estranhos. Você poderia tentar outra vez convencer o Rei a me deixar vir como General. Sei que ele gosta de ter pessoal do exército disfarçado entre os civis por precaução, o que é uma decisão inteligente, mas não precisa ser eu.

— Não ficaria bem uma princesa de cochichos pelos cantos com uma "mulher machona" da guarda e você sabe que eu não ia perder a chance de falar mal de algumas roupas no seu ouvido, já que você é a única próxima a mim que não me responderia "modos, Evelyn". — Ela replicou no mesmo tom, sorrindo. — Ninguém te mandou me oferecer a sua maçã quando éramos crianças, agora vai ter que aturar minha amizade pelo resto da vida.

— Foi Vossa Alteza que fugiu do quarto para brincar no pátio com as outras crianças. — A General replicou lembrando-se daquela tarde. — Só por ser linda acha que eu deveria adivinhar que era uma princesa?

— Estúpida. — Evelyn respondeu torcendo para não estar corada. — Pode parar de fingir que não gosta de ficar por aqui, Lia. Você sabe que ama devorar tudo o que vê pela frente nesses bailes sem ter que manter a compostura de general séria.

— Isso tinha que ter alguma vantagem, não é? — Murmurou dando de ombros. — Com sua licença, Vossa Alteza, quero ver o que tem para comer.

A Princesa riu e negou com a cabeça antes de dizer. — E eu vou voltar e continuar dançando com os príncipes fulanos e ciclanos. Quando a Sierra chegar eu te encontro para zombarmos do vestido bufante e o cabelo exagerado que ela certamente estará usando.

— Vou adorar. — Liana sorriu debochada e fez outra reverência para poder se retirar.

Evelyn retornou para junto de seu pai e ele a apresentou a um homem com cabelos ruivos e compridos, olhos cinzentos e nariz longo. Ela odiou dançar com esse príncipe, ele era alto demais e a fazia sentir estranha por não conseguir olhá-lo nos olhos enquanto conversavam. Esperar o fim da música foi quase um martírio.

Depois de beber um copo de uma bebida azulada que ela sequer sabia o que era, a Princesa respirou fundo e permitiu que o Rei lhe apresentasse mais um pretendente, esse com os lados da cabeça raspados e o restante do cabelo, da mesma cor que o cavanhaque preto esquisito, estava preso em um rabo de cavalo longo, seus olhos tinham a cor do mel e a boca era quase uma linha de tão fina, ao contrários das sobrancelhas cujo uma era cortada ao meio por um cicatriz rústica. Ele era tão alto quanto o príncipe anterior, todavia era bem mais largo e muito musculoso, mas estranhamente tinha uma barriguinha proeminente.

A música parecia não acabar nunca e Evelyn já estava se cansando de olhar para cima, então deitou sua cabeça no peitoral daquele corpanzil enorme, talvez passando a errada impressão de que estava gostando de estar com ele. Esse movimento fez com que pudesse ver Liana perto da mesa de comidas e, como o esperado, ela estava com as bochechas estufadas como um esquilo.

A General já a estava observando, então logo percebeu as íris castanhas sobre si e largou o pratinho que tinha nas mãos para erguer ambos os polegares, tentando sorrir em apoio mesmo de boca cheia, sem mostrar os dentes é claro.

Evelyn comprimiu os lábios para não rir. Aquela era uma das cenas mais fofas que já vira na vida. Olhando para a General, só conseguia pensar que seria muito melhor estar dançando com ela, cujo corpo se encaixava tão bem no seu. Além de que ela tinha um cheiro incrivelmente bom. Não que o príncipe cheirasse mal, mas… Não era Lia.

Então lentamente o sorriso de Evelyn se desfez conforme ela entendia o motivo de estar tão nervosa quanto aos pretendentes. Não podia fazer uma escolha, pois seu coração já havia feito há muitos anos.

E ela estava muito encrencada.


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Notas finais do capítulo

É isso, gente. Espero que vocês também tenha shippado Livie loucamente como eu, afinal elas tem tanta química que um pouquinho mais causava uma explosão. Kkkkkkkkkkkkk
xoxo
Atenciosamente, Leonardo A. Guedes.



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