Mil Anos - Fremione escrita por LeslieBlack, AmyMackenzie


Capítulo 1
Capítulo Único




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— Você é ridícula. Sabe disso, não é? — Fred gritou do jardim da senhora Weasley, fazendo minha mãe sorrir para nós. Ela já estava acostumada a nossa amizade louca, embora deixasse claro seu ponto de vista sobre nós.

— Então vai dizer que não gostou de acordar com a bexiga cheia de suco de laranja que eu fiz com todo carinho para você? — Perguntei com toda a desfaçatez. Apenas uma cerca branca na altura de sua cintura nos separava, e eu agradecia aos deuses por poder ver sua expressão indignada naquele momento.

— Não quando o suco foi jogado na minha cara!

— Hermione Granger, você não fez isso! — Mamãe parecia entretida regando as plantas do jardim, mas sua voz logo se juntou a nós, indicando que estava atenta a nossas brincadeiras… peculiares, para dizer o mínimo.

— Eu disse para vocês não me mudarem de quarto. É uma tentação muito grande ficar de frente para a janela de Fred sem aprontar algo com ele.

— Eu quem deveria aprontar aqui. Você está tentando roubar a minha reputação de encrenqueiro e isso eu não admito.

— Seu problema é com a fama de mau ou com suco livre de conservantes? Diga o que te incomoda e serei a primeira a ajudá-lo.

Vi o exato momento em que ele ficou mais vermelho que seus cabelos. Minha mãe ainda ria muito de nós dois, mas entrou em casa sem mais delongas para nos dar alguma privacidade.

— Eu gostaria de um pouco de paz, se não for pedir muito. — Um Weasley fingindo-se magoado comentou, mas seu teatro não durou muito já que o traidor em questão começou a sorrir como o bom cretino que era. — Sra. Granger, tente comprar uma filha nova. Essa daí veio com algum defeito. — Ele gritou sem um único resquício de vergonha na cara enquanto minha mãe respondia algo ininteligível pela distância em que já estávamos. Ainda assim revidei.

— Já que está aí dentro de casa, mamãe, pode por favor me trazer um suco de… — Virei para ele. — Então, agora você quer completar o café da manhã com qual sabor, Fredinho?

— Crianças, parem de brigar ou boto os dois de castigo. — Após alguns instantes mamãe falou colocando apenas a cabeça pela janela da cozinha. — Ah, querido… Ainda gosta de sapos de chocolate, certo? Ontem fui ao mercado e comprei alguns para você.

— Obrigado. Diferente da sua filha, a senhora é maravilhosa.

Ao contrário do que qualquer mãe faria, a minha sequer dignou-se a me olhar enquanto sorria para Fred como se ele tivesse dito a maior verdade do universo. Os dois se mereciam, e eu não pude suportar calada aquela injustiça.

— Ela é mesmo uma traidora, não? Aposto que aprendeu contigo.

— Não seja azeda, Granger. Ao menos alguém na família tem que agir como um bom ser humano. E eu ainda não esqueci a palhaçada de hoje cedo. Se queria me dar um banho era só dizer que eu não me oporia a ideia.

Revirar os olhos perante aquele sorriso cretino era pouco. Pus as mãos na cintura e dei um passo a frente, surpresa quando Fred pareceu  espantado com a nova aproximação. Era impossível ignorar seu comportamento estranho comigo ultimamente. Não esperei outras reações, embora. Éramos muito próximos e seria mentira dizer que sua mudança comigo nos últimos dias não tinha me afetado.

— Por que está me evitando, Frederick? — Cutuquei seu peito ao perguntar com certa chateação.

— Em primeiro lugar: Ai! — Respondeu se afastando como se eu tivesse o apunhalado com uma faca. Reprimi a vontade de rir de seu exagero. Não daria esse gostinho a ele. — Em segundo, não sei do que está falando.

Não precisaria conhecê-lo a vida toda para saber que era mentira. E eu odiava mentiras.

— Então tudo bem. Já que vai continuar com isso acho melhor voltar para casa.

— Espere, Mione. — Fred disse apressado ao segurar meu braço, impedindo que eu me afastasse ainda mais. — Você sabe que a temporada está exigindo demais do time. Os treinos estão cada vez piores.

— Isso nunca foi desculpa antes. Qual é, me fale o que está acontecendo. Nós somos ou não melhores amigos?

— Não sei, me diga você. Já que agora só quer saber sobre o Ronald.

Ainda confusa, ri. Não havia muito o que fazer naquela situação. O que Ron tinha a ver com aquilo, afinal?

— Eu sabia que seu irmão te irritava, mas não sabia que chegava a tanto. Por que não posso perguntar sobre ele?

Fred corou e em seguida desviou o olhar para minha mão, que sem que eu percebesse já repousava em seu peito como uma forma de carinho inocente. Imediatamente a retirei dali, pigarreando e o encarando ainda um pouco envergonhada. Ele, no entanto, lançou um daqueles seus sorrisos indecifráveis enquanto olhava diretamente em meus olhos. Mas em questão de segundos ali estava o Fred irritadinho novamente e sua resposta não tardou a vir.

— Eu só não entendo seu interesse súbito pelo meu irmão. Ronald é tão idiota que chego a me sentir particularmente ofendido por tê-lo na minha família de seres geniais. Além do mais, ele tem a profundidade emocional de uma colher de chá. Se eu fosse você, não arriscaria dar uma atenção maior do que o cabeça de bagre realmente merece. E nesse caso, acho que ele merece no mínimo um daqueles olhares de reprovação que você me lança quando estou brincando com alguém.

— Suas brincadeiras nem sempre são engraçadas, Fred. E eu prefiro pensar que não falava sério quando cogitou criar uma tal “bomba de bosta” com George enquanto falavam no outro dia. Isso não tem graça.

— Aquele porteiro nojento bem que merecia uma lição que envolvesse uma boa bomba de qualquer nojeira que encontrássemos.

— Ok, faça isso. Depois não reclame do meu olhar. Se eu pudesse, faria mais do que olhar para você. — As palavras apenas escaparam da minha boca, e o jeito confuso de Fred ao me encarar fez com que eu percebesse que falei demais. No mínimo, que falei algo que poderia ser interpretado de outro jeito. E céus, eu não queria isso. Por esse motivo aproveitei sua confusão para trazer o “assunto Ronald” de volta como se o deslize anterior nunca tivesse acontecido. — Mas você me falava de Ron antes de revelar seus planos nefastos contra pobres porteiros.

— Pobres porteiros, sei… — Murmurou.

— O que houve com ele para faltar tanto? Porque eu espero que não seja nada grave. Acha que Ronald estará no próximo treino?

— Não perca seu tempo com preocupações desnecessárias. Ele não passa de um irresponsável, mas já o ameacei e hoje ele vai com certeza.

— Entendo…

— Hey, por que você está com esse sorrisinho no rosto? Não me diga que está babando pelo otário do meu irmão.

— O quê? — Perguntei ainda sorrindo. — Não!

— Estou vendo o “não” estampado na sua cara, Granger. Estou vendo também…

Sua fala foi interrompida por minha mãe que saiu novamente para conferir suas flores, trazendo como prometido uma sacola com os sapos de chocolate que Fred tanto adorava. Ele a agradeceu e sorriu com gentileza, mas não com a animação de costume. Em seguida me encarou com certa resignação. No entanto, antes que algo mais pudesse ser dito mamãe avisou que precisaria de ajuda na cozinha. Meus olhos estampavam um claro pedido de desculpas enquanto despedia-me do melhor amigo mais possessivo que existia.

— Eu tenho que ir. O almoço, sabe?

— Almoço me lembra pessoas comendo, que me lembra o fato de você ser educada e chatinha até demais para o seu próprio bem. Já pensou se decide levar o Ronald para um lanche casual? Nossa, você sabe o quanto ele come. Seria um tremendo desperdício de tempo e dinheiro, hein… Claro que nem mesmo estou falando da vergonha que você certamente passaria. Imagine só as meninas do seu grupo de estudos te observando comer com um desesperado, esfomeado, tapado e...

— Fred. — Eu disse franzindo o cenho ao lembrar da cena tosca de ver Ron agarrando um frango como se ele pudesse a qualquer momento o enforcar. — Só cale a boca, está bem?

— Como um bom melhor amigo, é necessário te manter avisada e sã, não acha? Se bem que sanidade não é muito o seu forte.

— Nos vemos no treino, palhaço.

— Então você vai mesmo ao treino?

— Claro, Fredinho. — Respondi com um sorriso ladino e uma tremenda felicidade por vê-lo ainda mais irritado do que antes. — Tenha certeza que verei um lindo ruivo por lá.

Mamãe me chamou novamente enquanto entrava, então tivemos que nos despedir por ali. É claro que eu mesma não entendi o motivo de ter dito tal coisa, embora não me arrependesse nem um pouco. E as coisas não melhoraram quando cheguei na cozinha e me deparei com o sorriso sugestivo da minha mãe.

— Um “lindo ruivo”, Hermione Granger… Sei.

*****

UMA SEMANA DEPOIS:

Eu só queria que aquela droga de treino parasse em algum momento. Olívio Wood, o capitão do time, não parava de pegar no nosso pé como se não soubéssemos de fato a importância daquele jogo. Principalmente para os formandos como ele, que poderiam sair dali com uma bolsa importantíssima para a universidade. Além disso, havia as milhares de acusações de mamãe sobre mim e George, que até onde ela enxergava não melhoramos em nada nas notas. Minha doce progenitora não entendia que, para nós, passar era o importante. E que deveria nos dar os parabéns por passar arrastados. Afinal, era melhor do que não passar.

Além de toda a exaustão pelo falatório de mamãe, os surtos de Olívio, o cansaço dos treinos e a falta de vida social que estava tendo naqueles dias, ainda tinha ela. Claro, ela sempre estava envolvida no meu dia indiretamente, mas naquele momento isso não estava sendo nem um pouco confortável para mim.

Já fazia mais de uma semana que Hermione ia aos treinos nos horários de intervalo, sempre com uma amiga estranha que eu conhecia como Lilá. Mas o que de fato me incomodava não era vê-la ali. Na verdade, em outras circunstâncias isso seria um motivo de grande alívio e felicidade. Mas saber que Hermione estava lá para ver Ronald simplesmente me dava um sentimento de raiva repentino, misturado à enorme vontade de socar meu irmão babaca e irresponsável.

Ele achava que por ser um dos mais novos jogadores do time tinha todo o direito de se exibir e mostrar suas qualidades para as meninas. E Hermione claramente era uma das que gostavam disso, já que durante todo o treino não parava de olhar para ele enquanto conversava com sua amiga. Sabendo disso eu sempre procurava chegar mais cedo e me esconder no vestiário para fugir de possíveis perguntas sobre Ronald, e nesse dia não foi diferente. Ou melhor, percebi que havia algo diferente quando George entrou com seu sorriso ladino e me encarou por alguns segundos, esperando que eu perguntasse o que ele queria. Clássico do George.

— O quê? — Perguntei sem de fato querer saber.

— Eu sei que herdei toda a inteligência na gestação, mas não se faça de desentendido. Você viu muito bem quem está lá fora.

— E daí? Não sei onde está a novidade nisso.

— Ah, por favor… A garota é linda e só está aqui para te ver. Acredite, eu tentei. Você é mesmo um sortudo por conseguir alguém tão especial.

— Tentou o quê, cara? — Questionei, um pouco confuso. George estava mesmo elogiando Hermione e dizendo que havia tentando sabe-se lá o quê com ela ou eu estava ficando louco? — Você comeu hoje? Está em seu juízo perfeito?

— Acho que juízo eu nunca tive. — Ele respondeu enquanto ria. — Ah, qual é, Fredinho… Vai dizer que você nunca prestou atenção no sorriso bonito dela, ou no jeito que ela fica toda tímida e graciosa quando você chega perto?

Eu não sabia exatamente o motivo daquelas perguntas e nem o porque do meu coração querer sair pela boca, mas tentei dar de ombros. Será que eu deixara óbvio algo sobre Hermione? Mas mesmo que sim, ela nunca havia demonstrado nada. Ou havia?

— Você realmente acha que ela está vindo aqui por minha causa? — Perguntei ainda inseguro e um tanto incrédulo, mas foi inevitável conter a expectativa que me acertou naquele momento.

— É claro. As amigas dela não falam sobre outra coisa nos corredores. Dizem que a garota vem ver um dos gêmeos e que está muito interessada. Eu juro que tentei me aproximar, mas ela não deu nem uma brecha.

— VOCÊ O QUÊ, GEORGE?  

— Ah, desculpa, mas a Angelina é uma gata! Não me culpe por tentar. E olhe, eu só tirei a dúvida. Se não sou eu que ela quer, só pode ser você. Então pare de fazer essa cara de idiota, você mancha minha reputação assim.

Desconfiei que a dita cara de idiota ainda estava ali. Porque não era possível assimilar as coisas tão rápido, eram muitas informações. Então Hermione não estava ali por mim, como eu temia desde que ela começou a se interessar por Ron. Embora a esperança que as coisas fossem diferentes tenha durado tão pouco, fez um grande estrago ao ir embora. Olhando pelo lado positivo, pelo menos não era dela que George deu em cima. E havia Angelina.

Angelina Johnson era mesmo linda, meu irmão tinha razão quanto a isso. E inteligente, engraçada, sem contar com seu claro conhecimento sobre esportes. Mas ela não era Hermione, e eu não abriria mão desse detalhe se pudesse escolher. O que era uma droga, já que eu era apaixonado pela minha melhor amiga, que por sua vez estava obcecada pelo idiota do meu irmão mais novo.

Minha cabeça estava um verdadeiro caos, então mesmo que por um segundo e totalmente contra a minha vontade, cheguei a imaginar um grande encontro de casais. Seria um desencontro de casais, na verdade. Ao menos para mim, que, segundo tudo indicava, não tinha sorte alguma. Eu estava tão ferrado…

— Angelina? — Falei devagar como que para ter ao menos uma certeza em meio a confusão. — Esse tempo todo você se referia a Angelina Johnson, a garota sobre a qual não parava de falar há alguns meses?

Notavelmente desconfortável, ele respondeu.

— Não vou negar que já me interessei por Angelina, mas isso não vem ao caso. É de você que ela gosta, Fred, então o que está fazendo que não vai até ela? Se aproxime, não tem nada a perder. — George sorriu para me encorajar.

Me aproximar. Sim, era uma boa ideia. Quer dizer, eu precisava seguir em frente e se estava tudo bem para meu gêmeo, também estava para mim. Eu sempre gostei de Hermione, não havia como negar isso. Desde a primeira brincadeira que fiz e ela revidou. Ela sempre revidava, era corajosa e tinha a mania adorável de colocar as mãos na cintura e arrebitar o nariz ao me dar uma bela lição de moral. Não importava que fôssemos apenas pirralhos, ela sempre teve o gênio forte. E droga, como eu sentia falta disso. Era maravilhoso deixá-la sem jeito ou irritada, e nós sempre fazíamos as pazes.

De início não acreditei quando ela começou a se interessar por tudo o que dizia respeito a Ronald, parecia repentino e estranho demais. Na minha cabeça Hermione pertencia a mim, mas ninguém mais concordava comigo. Para o meu bem estava na hora de pensar assim também.

— Tem mesmo certeza de que está tudo bem para você? — Perguntei ainda um pouco inseguro. Parte de mim queria que ele dissesse um grande e sonoro não, mas a sua risada de deboche e claro jeito de menino mostravam que no final das contas, um “rabo de saia” não valia seu estresse.

— Já te disse que sim. Além do mais, tenho saído com mais meninas que você. — Ele ponderou, como se estivéssemos falando de uma troca justa. — Vou até desconsiderar a esquisitice de agora há pouco e fingir que realmente não sei de quem você estava falando quando ficou irritado com a possibilidade de eu ter dado em cima dela.

Pronto. E lá estava ele me decifrando novamente, como um bom e tosco irmão gêmeo.

— Não sei do que está falando!

— Está bem, Fred. Só não deixe que essa paixãozinha de adolescente tire sua liberdade de conhecer outras garotas.

Meu irmão concluiu um pouco mais sério, enquanto saía e me deixava sozinho com meus pensamentos. Apesar de tudo, eu sabia que George se preocupava com meus sentimentos. Estava na hora de eu me preocupar também.

*****

Finalmente o dia do jogo chegou, e a minha euforia era tamanha que eu já não sabia mais o que dizer. Naquela noite havia um plano perfeitamente traçado entre mim e Angelina, que se aproximou bastante desde o dia em que George me alertou sobre o interesse dela. Tantas coisas ali estavam em questão que não parecia apenas mais uma partida como as outras, e talvez não fosse mesmo.

Os dias anteriores haviam sido absolutamente estressantes, pois eu odiava ver Hermione se afastar cada vez mais, sempre me olhando com seus pequenos olhos julgadores. Principalmente quando Angelina estava perto. O que de certa forma eu não entendia, já que agora ela e sua amiga estranha andavam ainda mais grudadas em Ronald.

Minha impressão era que Hermione me esperava chegar dos treinos só para fechar as cortinas da sua janela, como se isso fosse uma forma de protesto. Mensagens e mais mensagens deixadas sem respostas, ligações não atendidas e mais uma infinidade de coisas que estavam me deixando maluco, pois era apenas mais uma prova de que ela estava me ignorando da pior forma possível. E eu? Estava pensando em sinceramente ligar o foda-se. A droga toda era que se tratava dela e eu já sabia que, por mais que quisesse, jamais deixaria de me importar.

Eu estava sentado na bancada do vestiário, trajado com meu uniforme e mexendo no aplicativo de mensagens sem realmente conversar com alguém, apenas para passar o tempo. E foi impossível não parar por um momento ali, naquela aba de conversas. Cara, eu era um idiota que não conseguia parar de olhar para a foto dela. E como se meus pensamentos fossem imã, ouvi o exato momento em que Hermione entrou no vestiário.

— Mas senhorita Granger, já lhe dissemos que você não pode entrar aqui. — O treinador repetiu pela milésima vez. Era nosso ritual, ela sempre dava um jeito de se esgueirar até o vestiário e enfrentar quem fosse para no final me desejar boa sorte. E funcionava. A chateação de momentos antes simplesmente desapareceu, sendo substituída pelo alívio ao perceber que ao menos disso ela não tinha aberto mão. Talvez ainda houvesse esperança.

— Eu já disse, não vou demorar. — Hermione respondeu. — Só preciso entregar um recado para Ronald Weasley.

— Ronald? — O treinador verbalizou minha dúvida. — Tem certeza que é o Weasley certo, senhorita?

— Mas é claro que sim. Que pergunta!

E antes que o treinador Rogers pudesse dizer mais alguma coisa ela entrou, como sempre parecendo um furacão. E droga, a cretina estava linda. O mundo era muito injusto.

Sem dizer sequer uma palavra, Hermione arrebitou aquele nariz como tantas outras vezes e me encarou por pelo menos meio segundo antes de passar direto e lançar um grande sorriso ao meu irmão.

Não sei exatamente o que aconteceu depois disso, pois mais uma vez o senhor Rogers estava falando com indignação.

— Senhorita Johnson, será que vocês podem parar de entrar aqui como se eu não estivesse as impedindo?

Diferente de Hermione, Angelina não respondeu. Apenas passou por ele e veio até mim em um abraço eufórico.

— Fred, que bom que já está aqui. — Ela disse, olhando em volta para se certificar de que não estavam prestando muita atenção em nós. — Vim desejar boa sorte e confirmar com você. Está tudo certo para hoje à noite, não é?

Antes que pudesse responder, no entanto, ouvi a voz de Hermione se sobressair.

— Então, Ron… Espero que hoje você seja brilhante, tanto quanto nos treinos. O recado está dado e pode ir atrás das arquibancadas nesse horário.

— O QUÊ? — Antes que eu pudesse me conter, soltei o grito de indignação. O que porra Hermione estava pretendendo?

— Ah, Frederick… Acredita que nem te notei aí? Mas é claro que isso não é problema, uma vez que você está muito bem acompanhado. Bom, rapazes, como eu não tenho muito o que fazer aqui, já vou indo. Boa sorte para todos vocês.

Eu só não conseguia acreditar. Precisei de toda a minha força e autocontrole para não avançar em Ronald, que naquele mesmo segundo encarava as costas de Hermione como um babaca tarado. Mas é claro que eu não mataria Ronald. Não ainda.

— Fred, está tudo bem? — Só então percebi que Angelina me encarava com certa apreensão no olhar.

— Está sim, tudo maravilhoso. Eu poderia explodir de felicidade bem nesse momento. Por que mesmo está perguntando isso?

— Tenha calma, Fred. Só estou esperando a sua resposta.

E como se a ficha caísse, eu finalmente respirei fundo. Não podia tratar Angelina mal por culpa de Hermione. E se alguém merecia minha rispidez naquele momento, era ela. E Ronald… Ah, esse merecia pelo menos um tremendo murro no meio da cara de imbecil.

— Claro, Angie, pode ficar tranquila. E perdoe o meu estresse. É só tensão por causa do jogo, mas está tudo certo sim.

— Bom, então eu vou indo. Sorte, meninos.

Um pequeno coro de agradecimento foi ouvido, acompanhando os passos de Angelina que já se retirava. Dali em diante cada segundo parecia uma tortura, cada centésimo pareciam horas enquanto eu encarava Ronald e imaginava mil formas distintas de quebrar aquele nariz torto e sujo dele.

Quando finalmente entramos em campo eu fiz um trabalho excelente, bem como Olívio esperava, mas movido apenas pela força do ódio. E assim que o jogo mais longo de toda a minha vida acabou, eu não estava mais interessado em medalha, congratulações ou qualquer que fosse a situação. Meu foco era apenas um: Ronald.

Olhei atentamente para as arquibancadas, notando que Hermione já não estava mais onde sempre costumava ficar. E no meio de toda aquela euforia, pude notar também o idiota do meu irmão se afastando das pessoas com rapidez e só tive certeza de uma coisa naquele momento. Fosse o que fosse, Ronald não iria concluir seus malditos planos para aquela noite, muito menos iria chegar naquelas arquibancadas.

Com uma força de vontade ainda maior do que a habitual quando se tratava de bater em Ronald, fui me esquivando das dezenas de “parabéns!” e das mãos que queriam me cumprimentar. Tinha certeza que George sozinho daria conta de toda essa atenção. Na verdade, ele até gostaria dela.

A cada segundo que me aproximava de Ronald, minhas mãos pareciam coçar para dar ao ignobilzinho exatamente o que ele merecia. Antes que pudesse raciocinar, estava correndo atrás dele no corredor vazio dos armários e em um piscar de olhos eu já o estava agarrando pela camisa e lançando-o em um dos armários.

— Que merda…

— Onde exatamente você pensa que vai, Ronald? Está mesmo achando que vou deixá-lo fazer qualquer coisa com a Hermione? Sua cabeça acéfala é tão estúpida assim para realmente acreditar que eu deixaria isso acontecer?

— Do que está falando, Fred? Me larga, seu idiota.

Antes que eu pudesse realizar minha vontade de fazer o que quer que fosse, uma voz esganiçada reverberou por aquele ambiente quase vazio.

— AI, MEU DEUS! SOLTA MEU UON-UON AGORA, SEU BRUTAMONTES! — Meu cérebro pareceu congelar por um momento, mas finalmente tive a capacidade de olhar para o lado e reconhecer ali a amiga esquisita de Hermione.

— Meu Uon-Uon? Que história é essa? — Perguntei.

— Fred, você tem noção de que está me sufocando na frente da minha namorada? — Ronald perguntou exasperado, enquanto eu ainda segurava o colarinho de sua camisa.

— Namorada? Mas o quê? — E ali estava eu, ainda mais confuso do que achei ser possível..

— SOLTA, SOLTA, SOLTA… — A garota continuou gritando histérica e minha única alternativa foi soltar o suposto traidor.

— Cadê a Hermione, Ronald? Que palhaçada de namorada é essa agora?

— Não tem palhaçada nenhuma, garoto. O palhaço é você. — Respondeu a esganiçada Brown. — Hermione deve estar andando por aí ou sei lá. Como a boa amiga que é, cumpriu com o acordo de me ajudar a conhecer o Ron.

— É, cara — Ronald respondeu, enquanto me encarava com verdadeira indignação. — Eu e Lilá íamos, sabe… Dar um passo diferente na relação hoje. — Concluiu a última parte aos sussurros.

Minha cabeça pareceu dar um nó e rapidamente retornar ao lugar de costume. O alívio por saber que Hermione não estava interessada em Ronald misturado à esperança de ainda poder ter algo de diferente entre nós me deixou eufórico por um instante. Mas o ressentimento e vários outros sentimentos conflitantes me atingiram com toda a força ao constatar que mesmo sem ter interesse algum no meu irmão ela me ignorava, fingia não se importar comigo e fazia de tudo para me irritar. A situação toda estava me deixando ainda mais nervoso do que imaginei ser possível. O que exatamente ela queria, afinal?

— Onde está Hermione? — Foi tudo o que consegui dizer quando finalmente dei um espaço para que Ronald saísse do armário em que estava escorado momentos antes.

— E eu é que sei, cara? Esqueceu que estávamos jogando?

— Ela saiu das arquibancadas antes do jogo terminar. Assim que discutiu com a Angelina por sua causa, seu tosco. — Lilá respondeu como se sua vozinha irritante fosse causar o mínimo de mágoa em mim.

— Discutiu com a Angie por minha causa? Como assim?

— Eu não sei, garoto. Por que você não some daqui e vai procurá-la ao invés de nos atrapalhar?

E foi isso que eu fiz. Sem pensar nas consequências dos meus atos e no que falaria ou faria quando a encontrasse, fui para o único lugar onde eu sabia que Hermione estaria naquele momento. O nosso lugar, onde sempre íamos quando queríamos passar um momento a sós desabafando sobre os problemas da vida, tirando fotos como amigos ou simplesmente ficando ali sentados, sem falar absolutamente nada um para o outro até que explodíamos em gargalhadas desconexas e nos abraçávamos, só então voltando para casa. E mais uma vez, a raiva de saber que ela estava me afastando por nada tomou conta de mim.

Em questão de minutos eu já estava na praça que era caminho de casa, e não foi surpresa quando a encontrei ali. Meu corpo inteiro paralisou com sua visão. Os longos e ondulados cabelos castanhos refletiam na pouca luz do luar, a blusa do time — que percebi ser uma dada por mim — estava amarrada em sua cintura, a calça jeans favorita que não escondia em nada a perfeição de suas pernas mesmo enquanto ela estava sentada… Tudo tão Hermione que me revoltava um pouco o fato do meu coração disparar loucamente toda vez que eu a via, independente se estivéssemos brigados ou não.

E eu quase a perdoei naquele momento, sobretudo quando notei que ela enxugava o rosto. Mas como eu disse, era apenas um quase. Porque ainda que sentada no pequeno banco de concreto, Hermione tomou uma postura rígida assim que me viu. Ela assumiu sua posição de briga, com seu nariz arrebitado, suas mãos na cintura e o enorme bico que fazia segundos antes de termos uma briga feia.

*****

Eu não ficaria chateada por causa dele, decidi. Se Fred queria agir como um idiota por semanas e depois esconder seus motivos de mim, estava tudo bem. Eu era apenas a droga da melhor amiga. Mas ao mesmo tempo em que tentava me convencer disso, uma outra voz, essa ligeiramente mais agressiva, me dizia que ele poderia ir para o inferno se achava que tinha permissão de me tratar daquele jeito. E tudo só piorou quando o maldito traidor começou a andar com outra garota sem ter sequer a decência de conversar comigo a respeito. Mas eu ainda tentava agir como uma pessoa ajuizada que não faz escândalo por esse tipo de coisa.

É claro que não deu certo. Foi inevitável me sentir incomodada, mas para não esganá-lo resolvi focar no que prometi fazer algumas semanas atrás: ajudar Lilá a se aproximar de Ronald. Em tese era fácil. Por mais que seus pais fossem extremamente contra a ideia que ela namorasse, não a proibiam de sair com as amigas. Aos olhos dos Brown, garotas eram inofensivas. Bom, eu não estava sendo exatamente inofensiva ao ajudar Lilá a arranjar um namorado, mas eles não precisavam saber disso. E foi bom para ambos os lados, já que aconselhar Ronald, descobrir se ele estava interessado na minha amiga e coisas assim me distraíam do meu problema ruivo.

Como se não bastasse o fato do meu melhor amigo estar estranho comigo há algum tempo, de uma hora para outra ele passou a ser visto constantemente na companhia de Angelina Johnson. Se me perguntassem o que achava dela antes de toda essa história eu diria simplesmente que a garota parecia ser legal. Ela era estudiosa e dedicada aos esportes, os meninos até a achavam bonita. Não seria alguém que me incomodaria em uma outra situação, mas talvez fosse porque eu não prestasse muita atenção nela antes disso.

O fato é que até a voz da garota começou a me irritar, e ninguém podia me julgar por após quase meia hora ouvindo sua voz esganiçada gritando incentivos para Fred eu tivesse perdido o controle. Acho que fui bastante resistente, até. Gentilmente — ou talvez nem tanto — pedi que ela por favor calasse o caralho da boca para eu poder assistir ao jogo em paz. Acho que ela não gostou. Foi a sensação que tive quando Angelina quis saber qual o meu problema e porque eu não a deixava torcer como todos estavam fazendo. Eu até diria que a briga parou por aí, mas mamãe não criou uma filha tão comportada quanto ela gostaria.

Consegui que a Johnson mudasse de lugar e ficasse emburrada em um canto, é verdade, mas ainda assim não me senti como uma vencedora. No fim, aquilo apenas não importava. Uma birra qualquer não me devolveria facilmente a paz de espírito. Porque eu sabia, Fred a tinha nas mãos. E a jogaria fora com todo o desdém ao se encontrar com Angelina naquela noite.

No fim eu acabaria com meus livros enquanto Ron e Lilá se agarrariam escondidos. Assim como Fred e Angelina, muito provavelmente. Era ridícula aquela vontade absurda de jogar uma caixa de chocolate dentro de um pote de sorvete, sendo que eu nem estava na TPM. E tudo por culpa dele, é claro.

Como uma tentativa desesperada de não trucidá-los, resolvi sair antes do jogo terminar. Mas é claro que minha sorte era tamanha que lá estava Frederick parado na minha frente. Apenas ergui o olhar para ele, incapaz de dizer algo sem denunciar como estava magoada e prestes a matá-lo. Percebi que ele também estava pronto para a briga quando notei seus lábios contraídos e o rosto corado.

— Oi. — Disse baixo, fazendo duas letras parecerem o pior dos xingamentos.

— Oi? Que porra de oi o quê, Hermione! Será que pode me explicar o que diabos está fazendo há semanas? Por que não atende o celular ou responde uma simples mensagem? E qual o seu problema em entrar e fazer aquela cena desnecessária no vestiário hoje? Como se não bastasse, brigou com a Angie sem mais nem menos! Qual o próximo passo agora? Rasgar dinheiro, jogar suas roupas pela janela ou sair gritando pela rua? A que nível sua histeria chegou?

Ah, não… Ele não havia dito isso...

— O que disse, querido? Porque não me lembro de ter comprado ingresso para esse show que você está dando. A propósito, já devo aplaudir? — Perguntei com falsa calma e um sorriso que deveria parecer no mínimo psicopata. A farsa durou segundos antes que eu me levantasse do banco em que estava sentada, fazendo-o recuar alguns passos pelo susto. Ótimo! — O que porra você disse, Fred Weasley?

— Não se faça de doida, Hermione. Eu não saio daqui até saber o que está acontecendo.

— Ah, mas eu deveria explicar com detalhes o que você pode fazer com essa exigência, Fredinho! Acontece não te devo satisfações. E você agiu como o pior dos birutas primeiro, então não ache que tem direito de vir aqui me cobrar algo. Eu sumi? Ótimo, agora você conhece a sensação. E quem liga para suas malditas mensagens, afinal? — Perguntei completamente fora de controle. — Nada como uma mensagem seca de bom dia para combinar com o jeito que estava me tratando. Não reclame por eu decidir fazer o mesmo.

— Eu não te entendo, Hermione. O que exatamente queria que eu fizesse? Faltasse aos treinos, pulasse o cercado da sua casa, invadisse seu quarto? Talvez eu devesse incendiar aquela maldita cortina que você fazia questão de fechar assim que eu dava o menor sinal de que estava entrando no quarto. Não, já sei, tive uma ideia melhor… Quem sabe seu real desejo fosse que eu lesse seus pensamentos e adivinhasse que você estava servindo de Cupido para meu irmão, e não que estava gostando daquele babaca. Sabe o quanto me preocupei com essa possibilidade?

— E o que Ronald tem a ver, se na verdade você agia estranho antes disso tudo? E quando me evitou de novo, só que dessa vez passando a respirar Angelina Johnson? O Sr. Bússola Moral tem algo a dizer sobre isso? Porque eu estou farta, Fred!

— Do que você está falando agora? A Angie…

— Para o inferno você e sua querida Angie, pelos deuses. — Deixei o ciúme levar de vez minha compostura. — Sua boca vai cair se disser o nome completo da fulana, por um acaso?

— Espera aí, Hermione Jean Granger. Eu só a vi obsessiva dessa forma uma vez na vida, e foi quando…

— Foi quando o quê, Fred? Será que você ainda não se tocou que desde que começou a andar com essa garota eu tenho evitado até mesmo cruzar seu caminho por que algo me incomoda? Não parou para pensar que mesmo sem responder suas malditas mensagens, nunca excluí você dos meus contatos? Será que até hoje você não parou para prestar atenção que sempre que eu fecho aquela droga de cortina fico ali parada por minutos, esperando o mínimo de reação da sua parte? Nem que seja uma atitude idiota como uma pedra jogada na minha janela, mas você não está nem aí! Só para e pensa, Frederick Weasley. Ou melhor, não pensa em nada não. Você não deveria estar com a sua querida Angie agora?

— Seu nível de sarcasmo está muito alto para alguém da sua estatura, Granger. E para a sua informação, saberia onde ela está agora se não estivesse tão estranha ultimamente, já que sou um idiota por não conseguir esconder nada de você. Se não fosse uma cabeça dura, com certeza saberia que a Angie na verdade está interessada em George e que agendei um encontro às escuras para eles hoje. Mas eu entendo que estivesse mais ocupada escondendo coisas de mim.

— Por que está tão ressentido, inferno? Não fale como se fosse um santo, quando sabemos que estava fazendo exatamente a mesma coisa que eu!

— Você me deixou pensar que… Que você e Ronald… Droga, eu não gosto nem de pensar nisso.

Transtornado, Fred passou a mão pelos cabelos e deu meia volta, ficando de costas para mim. Antes que se virasse, embora, pude ver o exato momento em que ele fechou os olhos, mas isso não diminuiu em nada a tristeza que notei em seu rosto. Eu o conhecia o suficiente para saber que seu pesar não era só por estarmos discutindo. Sua respiração estava ofegante, e por um momento eu quis pausar aquela briga para ir até ele e o abraçar, jurando que faria a dor ir embora. Porque doía em mim também, e era certo como a tragédia em um livro de Nicholas Sparks, tudo melhorava quando estávamos nos braços um do outro.

Seria tão bom se conseguíssemos consertar as coisas com facilidade. O que fiz, em vez disso, foi perguntar algo que já me incomodava há um bom tempo. Mesmo que isso tivesse um grande potencial de deixar a situação ainda pior.

— Essa hipótese te incomoda tanto assim?

E então lá estávamos nós, a poucos passos de distância um do outro e sem entender onde aquela discussão nos levaria, mas incapazes de ignorar o que sentíamos já que precisávamos esclarecer a confusão que nossas vidas se tornaram. Meu coração se apertava dentro do peito, a raiva me deixava cada vez mais imprudente e óbvia, mas nada daquilo importava. Eu só queria saber o que o fez me deixar de lado daquela maneira e me tratar de forma estranha por tanto tempo.

E eu conhecia Fred. Ele era um doce, sempre disposto a colocar um sorriso no rosto de quem fosse até quando estava com problemas. Angústia alguma era páreo para ele, e não havia nada no mundo capaz de deixá-lo realmente chateado. Até aquele momento.

— Mais do que deveria, na verdade. — Ele respondeu ao me encarar.

Quando Fred se virou para mim novamente, o arrependimento me tomou. Sua expressão de absoluta tristeza me fez enxergar mais do que eu queria, pois ter esperança era perigoso. Mas por mais teimosa que eu fosse, a ficha finalmente caiu. De repente vi todo um sentido para suas mudanças repentinas de humor quando o nome de Ronald era citado ou quando eu fazia qualquer alusão a ele. O desencorajamento até mesmo para sair e tomar um lanche com o garoto que era meu vizinho praticamente a vida toda tornou as coisas tão óbvias que por um segundo eu quis me bater por não ter percebido logo as reais intenções de Fred.

Mas como eu poderia ver alguma coisa do tipo, já que quando não estava ocupada demais tentando bancar o Cupido, estava cega de ciúmes do meu amado melhor amigo com Angelina? De repente eu quis fazer minha dancinha da vitória e me agarrar no pescoço de Fred, rindo feito louca. Pelos céus, eu só queria não estar errada e ter entendido tudo errado, caso contrário a decepção acabaria comigo.

— Você realmente pensou que eu estava gostando do Ron? — Disse, tentando conter a risada nervosa que queria explodir da minha boca quando notei seu constrangimento.

— Não me olhe como se eu fosse um cão de três cabeças. Você também pensou que eu estava interessado na Angelina.

— É sério que por causa da minha suposta traição você passou a sair com a Johnson e ficou ainda mais estranho? — Perguntei já sabendo a resposta, felizmente confirmando minhas teorias. Céus, como éramos burros.

— É por aí.

— Em resumo, somos dois idiotas. — Concluí mais uma vez querendo rir, dessa vez de alívio e tantos outros sentimentos que nem mesmo sabia descrever.

— Mas somos idiotas que são melhores amigos, não é? — Fred perguntou receoso, seus olhos brilhando com uma intensidade inexplicável enquanto por simples reflexo ele usava o dedo indicador para colocar um pequeno cacho atrás da minha orelha.

— Fred, eu acho que não podemos mais ser amigos.

— Mione, não faz assim! Você sabe que eu…

— É, eu sei. Mas amigos não fazem o que eu estou com vontade de fazer, bem agora.

— Como assim? O que você quer dizer com… Oh!

Vi o exato instante em que a ficha de Fred caiu. Talvez meu sorriso travesso e esperançoso mirando fixamente seus lábios, os lábios que eu finalmente poderia provar, o tenha ajudado a chegar naquela conclusão. Porque sim, eu gostava de Fred. Não como amigos gostavam, pois minha vontade era de morar em seu abraço, descobrir o gosto de seu beijo, andar com ele de mãos dadas pela rua e chamá-lo de idiota com todo o amor do mundo, como namorados faziam. Pois eu o amava tanto que “amigos” era uma palavra pequena demais, muito rasa para expressar o que aquele garoto fazia comigo. Estranhamente, “melhores amigos” parecia me limitar ainda mais.

Sim, eu queria ser sua amiga. Mas não só a amiga. Queria significar para aquele bocó tudo o que ele representava para mim antes mesmo de saber que o sentimento era recíproco. Eu o queria, e não me conformaria com menos do que tanto desejava depois de tudo o que passamos.

Pelo que pude entender, muitos desencontros foram necessários para que nos encontrássemos devidamente… Mesmo que daquele jeito torto, com informações cruciais jogadas na cara um do outro, com as benditas confissões sendo feitas do jeito errado, já que estávamos furiosos e querendo causar danos.

Mil anos se passaram desde que o garotinho dos vizinhos, aquele que desde o começo foi o meu favorito, pegou minha mão com todo o cuidado e entrelaçou nossos dedos. Nossa história passou diante dos meus olhos enquanto os de Fred me encaravam com devoção, sem desviar a atenção por um só segundo. Todas as brigas, brincadeiras, momentos de parceria… Tudo contribuiu para nos levar até ali. E naquele instante eu não titubearia em repetir os últimos mil anos, pois eu tinha certeza que poderiam se passar mais mil, eu o amaria do mesmo jeito e ele seria para sempre meu.

— Esse seria um excelente momento para você ler minha mente e finalmente me dar o que eu quero. — Disse baixinho, encarando o olhar terno do meu amigo de infância.

— Seu pedido é uma ordem, Hermione Granger. Minha Hermione.

E assim aconteceu. Poderia dizer que foi uma eternidade de sensações ou um turbilhão de emoções, mas a única coisa que eu conseguia realmente assimilar naquele momento eram os lábios macios e carinhosos de Fred, reivindicando os meus de formas que me tocavam sem explicação alguma. Nós poderíamos não conhecer o amor direito, ser completamente cheios de defeitos, mas sim, nós nos amávamos. E a última coisa que pude notar, foi o nosso imenso sorriso no intervalo dos vários beijos que trocamos.


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