Albáfica de Peixes.

Ele sentiu o corpo doer. As lágrimas inundavam os seus olhos, sem qualquer piedade ou pudor. Nunca passou por sua mente que, em um momento como aqueles, choraria, mas, agora, isso pouco importava. Talvez aquela fosse a primeira vez na vida que sentisse algo além de solidão. Por um milésimo de segundo, sentiu-se assustado. Era um sentimento tão novo, tão diferente do que estava acostumado.

Quando a primeira lágrima escorreu, ele compreendeu, não precisava ter medo. Na verdade, ficou aliviado ao sentir as lágrimas gélidas escorrerem pelo seu rosto. Albáfica havia cumprido a sua missão, e não estava sozinho. Ele nunca esteve sozinho.

Albáfica de Peixes. O metido. O venenoso. O intocável. Ele nunca quis nenhum daqueles títulos e, honestamente, nunca sequer mereceu nenhum deles. Não era digno, ao menos não quando possuía um coração tão bondoso. Era injusto, quase cruel. No entanto, aquilo já não tinha mais relevância, não ligava mais para os apelidos ou rótulos, porque não estava sozinho.

A Guerra Santa fazia sentido, havia um propósito maior por detrás de tudo, e ele sabia que não lhe restava muito tempo, mas também sabia que aquela seria última vez que teria medo de si mesmo. O cavaleiro riu, sentindo o vento contra o seu rosto por uma última vez, as pétalas avermelhadas estavam espalhadas ao seu redor, o aroma adocicado enchendo-lhe os pulmões. Ah, o aroma doce das rosas. Ele nunca foi tão agradável, ainda que tivesse o acompanhado durante anos.

“Não se aproximem de mim!”

Era a última vez que gritaria aquelas palavras que tanto lhe torturavam. Palavras maldosas que o assombraram a cada segundo de vida. Naquele momento, com as pétalas das rosas delicadamente flutuando ao seu redor, ele finalmente percebeu que não as odiava. Na verdade, aquela, de fato, foi a primeira vez que as amou.

Estava tudo bem, não precisava ter medo de partir, porque sabia que havia cumprido sua missão. Salvou o seu povo, protegeu o santuário, lutou como um bravo cavaleiro de Atena e finalmente sentiu que honrou a sua armadura de ouro. De repente, não tinha mais medo de todo aquele veneno que escorria por suas veias.

Tudo fez sentido.

Nos seus minutos restantes, Albáfica ficou feliz por estar em boa companhia. Sentiu-se aliviado, a ponto de deixar um sorriso singelo transparecer em seus lábios, ainda que sentisse uma dor insana.

As rosas, de fato, nunca o deixaram de lado. Nem mesmo no seu último suspiro. E foi assim durante toda a sua vida.