Renesmee.

— O que posso fazer para que mude de ideia? – minha mãe perguntou entrando no quarto.

Eu tirei meu olhar da mochila encima da cama para encara-la, mas ela não me olhava. Soube que estaria chorando se fosse possível. Então sentei ao lado da mochila, enquanto Bella terminava de enfiar minhas roupas na mesma, apressadamente.

— Nós lutamos por anos pra te manter longe deles, Renesmee. E mesmo assim você nunca esqueceu. Seus sonhos, lembra? – ela tocou em meu ponto fraco – Como vai se sentir estando cara à cara com Aro novamente?

Dei de ombros.

— Eu não tenho escolha, mãe – sussurrei com a voz baixa.

Os outros estavam longe e conversavam entre si, provavelmente não deveria ter ninguém bisbilhotando a nossa conversa. Não tive medo de ser sincera.

— O que está dizendo? Você tem sim! – ela parou de mexer na mochila, encarando a parede vazia logo atrás de mim, em uma tentativa de se manter calma – Não faça isso com a sua mãe.

— Você não vai enfartar – ri fraco, tentando brincar com ela. Mas o olhar apreensivo que recebi em resposta me fez perceber que talvez não fosse boa hora para piadinhas— Eu prometo tentar me manter viva.

Parecia que cada palavra que saia da minha boca a deixava ainda mais desesperada.

Houve um suspiro pesado de sua parte e em seguida suas mãos frias seguraram o meu rosto, fazendo-me encara-la.

— Eu morreria sem você. Não faça nada imprudente... – ela soluçou, desviando o olhar do meu, e quando suas mãos ousaram sair do meu rosto, eu as prendi, entrelaçando os nossos dedos – Não me olho com esses olhos.

Beijei a palma de suas mãos, as afastando do meu rosto.

— Obrigada por deixar com que eu escreva a minha própria história – sorri – Você e o Papai já enfrentaram os Volturi outras vezes e conseguiram sobreviver... Aro precisa me dar algum credito.

Ela assentiu a contragosto.

— Não deixe que Jacob se mate.

Um calafrio passou por minha espinha só de imaginar.

— Eu não vou. Prometo.

— E... – outro soluço – Volte pra mim, Renesmee.

Fiquei em pé em um pulo, abraçando minha mãe com toda a força que havia dentro do meu corpo. Sem que eu pudesse perceber, meus olhos marejaram.

Eu não podia negar dizer o quão nervosa estava. Não havia outra coisa no mundo que me fazia tremer mais do que a ideia de novamente ter que encarar os Volturi. E aqui estava eu... arrumando as malas para uma passagem de ida a Volterra. Tentei afastar o medo dos meus pensamentos. Tia precisava de nós. Leah precisava de Benjamin. Jacob precisava de Leah. E eu incontestavelmente precisava do Black ao meu lado até o ultimo segundo de minha vida. Realmente não havia outra opção.

Tirei a pequena correntinha do meu pescoço. Era uma das lembranças mais vivas dentro da minha memória. A noite anterior ao confronto com os vampiros Italianos Bella me presenteou com a joia. Eu tinha certeza que ela sabe o quanto era importante para mim. Em uma velocidade fora do comum parei em suas costas, colocando a corrente em seu pescoço.

Me mantive forte. Não podia deixar que as lagrimas escapassem bem na frente dela.

— Mais do que a minha própria vida, mãe – sorri forçadamente – Cuide dela em quanto estou fora.

— Não vai demorar – disse, parecendo uma autoafirmação, pois eu não podia garantir isso – Eu amo você, mais do que a minha própria vida.

Novamente ela me puxou para o seu abraço apertado.

— Jacob e Leah já devem ter voltado – me afastei, dando um ultimo beijo em seu rosto – É melhor eu ir.

— Cuide-se!

— Eu prometo.

Puxei a mochila para as minhas costas e sai do quarto apressadamente. Como eu havia imaginado Leah e Jacob já haviam retornado de suas respectivas casas, então estávamos prontos pra ir. Todos estavam na sala. Menos Isabella que continuou no andar de cima, provavelmente era melhor que ficasse por lá ou eu não poderia me controlar em segurar o choro. Vários olhares desolados me encaravam. Alguns deles pediam que eu ficasse... outros simplesmente pediam que eu ficasse bem.

Encarei meus próprios pés ao descer os últimos degraus.

Era tarde demais pra desistir.

— Não é uma despedida – murmurei apertando a alça da minha mochila, ainda sem olhá-los – Nos vemos em alguns dias.

A única pessoa da qual tive coragem de encarar foi Jacob Black, mas me arrependi no mesmo momento. Seus olhos claramente gritavam para que eu ficasse. Caminhei em passos rápidos, ficando ao lado de seu corpo e unindo nossas mãos, mesmo que ele não tivesse qualquer reação. Era a minha forma de lembrar o motivo por qual eu partiria.

Edward foi o único que não permitiu que eu me afastasse sem me agarrar pelos ombros. Mas também não disse nada. Percebi que a sala ficou vazia em poucos segundos. Erámos Jacob, meu pai e eu.

Através do meu toque tentei lhe mostrar que ficaria bem.

— Eu estou contando com isso – murmurou, beijando os meus cabelos – Confio em você, Jacob.

Afastei meu rosto de seu peito para encará-lo, mas ele não tirou os olhos do lobo.

— Não faz isso – pedi – Se algo acontecer...

— Não vai – Jacob me cortou – Não vou deixar que nada de ruim aconteça.

— Eu sei – o leitor de mentes respondeu.

Eu queria pedir para que se algo acontecesse eles deixassem toda e qualquer rivalidade de lado. Tinham que ficar bem. Por Bella. Por mim.

Edward me repreendeu com o olhar, por meus pensamentos.

— Prometa.

Ele negou com a cabeça e eu suspirei frustrada.

— Volte – ordenou – Eu amo você, querida.

— Eu também te amo, Pai.

Estiquei-me na ponta dos pés para beijar seu rosto, antes de me afastar com Jake para o lado de fora da casa. Onde iriamos até o aeroporto e de lá voaríamos ao encontro dos Volturi.

— Você ainda pode desistir – Jacob sussurrou tão baixo que duvidei que os outros, que estavam nos encarando na calçada de casa pudessem ouvir – Por favor, Ness. Desista!

Neguei, encostando minha mão no seu rosto.

Como eu poderia, Jacob? Não há nada mais importante do que você pra mim!

Ele suspirou e consegui sentir automaticamente que estava um pouco mais calmo quando afastou minha mão de seu rosto delicadamente. Jacob assentiu para si mesmo e fez sinal com a cabeça para que eu entrasse no carro. Leah já me esperava no banco de trás e Benjamin acenou para o restante dos Cullen antes de entrar no banco do passageiro. O Black fechou a porta quando eu entrei e eu virei meu rosto para Leah que sorriu fraquinho. Sentia-me incapaz de encarar quem quer que fosse da minha família.

Jacob deu partida no carro e só então eu permiti que as lagrimas transbordassem por meus olhos.

Senti o afago da Clearwater no meu braço, mas ela não podia saber que eu chorava, porque fingi concentrar-me em qualquer coisa na estrada que fizesse com que Jacob não pudesse ver meu rosto através do espelho retrovisor. Por um momento levantei o olhar para encara-la.

Leah sabia segurar a onda, mas seus olhos transbordavam tanto medo quanto os meus.

No fim das contas erámos extremamente parecidas.