PDV Edward

— QUE PORRA É ESSA AQUI?

Abri os olhos assustado com o grito; o que logo me arrependi de fazer. Ainda os piscando contra a claridade e sem conseguir enxergar nada, coloquei a mão em minha cabeça, gemendo com a dor latejante que vinha dela; dor essa que foi substituída por outra: Meu nariz estava hiper sensível, impossibilitando qualquer movimento elaborado dos músculos do meu rosto.

— MERDA, BELLA, O QUE ACONTECEU AQUI? ALGUÉM INVADIU O APARTAMENTO? MEU DEUS TEM SANGUE PRA TODO O LADO! VOCÊ FOI ESPANCADA? A SUA CARA ESTÁ HORRÍVEL!

A mulher com voz estridente ainda berrava. Mas eu a conhecia...Espera ai, ela falou “Bella”? Eu tinha ouvido esse nome recentemente.

Finalmente, consegui abrir os olhos por completo. Eu estava deitado em um sofá apenas de cueca.

Meu Deus, me deram Boa noite Cinderela. Instintivamente, desci as mãos para meu abdômen. Respirei aliviado quando não senti nenhuma cicatriz em cima do meu fígado.

Meus olhos foram atraídos para o braço do sofá à minha frente, onde uma mulher virada de costas para mim, apenas de calcinha e sutiã rosa claro tapava a minha visão.

Bocejei.

Pera ai!

Uma mulher apenas de calcinha e sutiã? Engasguei silenciosamente no meio do meu bocejo, puxando mais ar que o necessário.

— Kate, tá tudo bem! Ninguém invadiu, essa bagunça toda...fui eu mesma. Me desculpe de verdade, eu caí em cima da mesa ontem e quebrei o vaso. Eu pago outro! Mas por favor, não me expulsa eu não quero ter que morar com meu irmão otaku...

A garota que estava na minha frente tagarelou enquanto remexia seu corpo nervosamente - E que corpo! Eu que não ia reclamar de uma visão daquelas, então só fiquei quieto assistindo a cena.

Está bem, eu também estava super assustado por não me lembrar de nada da noite anterior e não saber onde estava e o por quê de eu estar apenas de cueca e por não saber quem era aquele ser apenas de peças íntimas

— Bella...você vai ter que me explicar tudo isso. Detalhadamente.

— Tudo bem Kate, eu...

— Kate!? - Soltei aliviado e alto o suficiente para que me ouvissem, me relevando. Pelo menos a minha prima estava aqui para me ajudar.

Silêncio.

— Quem está aí? - Ouvi Kate perguntar mais baixo.

— Ah, então...- A garota deu um risinho nervoso - era sobre isso que eu ia falar primeiro...

— Isabella...- Kate começou, receosa.

— Sim?

— Essa é a voz do meu primo?

— Hãn...- Ela colocou as mãos na cintura, e balançou o corpo, variando seu peso da perna esquerda para a direita – É - Ela confessou e hesitante, se afastou para que Kate pudesse me ver.

— Hãn...e aí? - Acenei com um sorrisinho sem graça para a minha prima que estava estática na soleira da porta ainda aberta. Quando me viu, ela abriu a boca e arregalou os olhos; sua pose de brava, com os braços cruzados que ainda sustentava e suas mãos que agarravam com força as tiras do salto alto que estavam presos em seus pulsos, - provavelmente pela dor que causavam aos pés, mas ali naquela situação, qualquer pessoa teria a impressão de que ela tacaria os saltos na garota na primeira oportunidade que tivesse - agora não combinava em nada com sua a cara.

Seus olhos que ainda estavam com resquícios da sombra preta que usara na noite passada, foram de mim para a garota que agora estava de lado, olhando para o chão, seu cabelo castanho e ondulado cobriam seu rosto e iam até metade das suas costas.

— Eu não acredito!

A expressão de Kate mudou de chocada para absurdamente feliz em milésimos de segundos e agora ela pulava de animação.

— Edward, você perdeu sua virgindade! Finalmente! Eu mal posso esperar para ver a cara do Jasper e da Rosalie quando souberem disso! E Bella, agora você faz parte da família! Eu já até consigo ver nossos natais juntas! Nossos filhos correndo juntos e nós sentadas perto da lareira apenas assistindo...eu sabia que seríamos como uma família! – Minha prima começou a tagarelar.

A garota, Bella, que eu estava começando a lembrar da noite anterior, pressionou a ponte de seu nariz e negou com a cabeça ainda baixa.

Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, então permaneci calado e de cueca, com medo de que qualquer movimento que fizesse, me deixaria mal na fita.

— Eca Edward, vai vestir sua calça! E vão limpar esses rostos cheios de sangue! Pelo jeito a noite foi muito boa, vocês destruíram minha casa e ainda sangraram...pensando bem, acho que essa última coisa não é muito boa; mas quem sou eu para julgar as atividades sexuais dos outros?

— Kate! – A tal Bella cortou minha prima e levantou o rosto, respirando fundo. Ela tinha uma mancha vermelha na bochecha que pareciam dedos, um galo enorme na testa e um corte visível em seu lábio inferior; parecia que tinha entrado em uma briga - Nós. Não. Transamos - Ela disse pausadamente.

— O quê!? - Eu e Kate perguntamos em uníssono, nossa voz saindo mais alta que o normal.

A garota morena olhou para mim assustada.

— Você não se lembra?

— E-eu só lembro de algumas coisas – Agora eu tentava cobrir minha cueca com uma pequena almofada do sofá, como se adiantasse.

Ela gemeu.

— Ótimo.

— Olha, eu duvido MUITO que vocês não tenham feito nada, mas vou fingir que acredito apenas para não deixar a Bella ainda mais sem graça.

— E eu?

— Como se eu me importasse com você sem graça, Edward. Eu já te vi comendo uma minhoca, temos intimidade suficiente para você me contar depois como foi a sua primeira vez. E eu vou querer saber cada detalhe.

— Eu ainda estou aqui! – Bella nos lembrou, ofendida.

— Sim, eu sei gata, e você fica um arraso de lingerie rosa – Kate piscou em sua direção, o que fez Bella se encolher na tentativa de cobrir seu corpo.

O sorriso malicioso de minha prima se desfez de repente.

— Estão sentindo esse cheiro? Meu deus, como não notei antes? Parece que um cervo morreu aqui dentro! - Ela cobriu o nariz com uma mão e tentou afastar o cheiro com a outra.

— Eu não sinto cheiro de nada - Dei de ombros, minha voz saindo rouquenha pelo ar que saía e entrava apenas da minha boca.

Bella fez uma careta, torcendo seus lábios.

— Deve ser o vômito do Jerem...Edward que limpei ontem;  ou pelo menos eu tentei limpar.

Ai, droga.

Até aquele momento eu ainda não tinha conseguido processar muita coisa, mas vomitar na frente de uma garota como aquela? Aquilo era o ápice do vexame, ainda pior do que acordar apenas de cueca na frente de duas mulheres - sendo uma delas, minha prima. Aquilo me fez despertar.

— Eu vomitei!? Por que não consigo lembrar disso? Aliás, por que eu não consigo lembrar de NADA? Por que eu estou no apartamento da minha prima, apenas de cueca e com uma garota que eu nem conheço direito apenas de calcinha e sutiã!? Por acaso eu também estou sem um dente!? - Eu gritei exasperado.

— Cara, isso não é "Se beber, não case". Relaxa, você só quebrou o nariz ontem e depois me chamou pra transar. Não é como se fosse a sua primeira ressaca!

— É a minha primeira ressaca! E porquê DIABOS ninguém me cobriu!? Eu estou quase pelado aqui!

— Edward, não surta.

— EU NÃO ESTOU SURTANDO - Sim, eu sei que estou surtando, mas não conseguia mais me controlar. Sentia medo pelas coisas que fiz na noite anterior, mas também sentia raiva de mim mesmo por sentir esse medo. Raiva por ser um tapado burro, raiva pela dor que agora sentia vindo do centro do meu rosto, por eu ter vomitado e por não ter transado com a Bella lingerire cor-de-rosa.

Nesse momento, Carlisle me chamaria de fraco. Eu até conseguia ouvir o eco de suas palavras.

"Você foi criado para ser melhor do que todos eles, Edward. Não seja fraco, não deixe que ninguém te veja como um fraco. E se você se acha um fraco, então nunca será tão bom quanto eu sou".

Eu discordava de algumas dessas coisas, mas Carlisle tinha razão, eu não poderia demonstrar mais tanta fraqueza.

As garotas trocaram um olhar em silêncio, esperando eu continuar.

Respirei fundo. Decidido, levantei-me do sofá, me desfazendo da almofada.

Avistei minha calça no chão e comecei a vesti-la sob os olhares das duas que agora estavam quietas.

— Onde vai? - Perguntou Kate quando cansou de esperar que eu dissesse algo.

— Para casa, ué.

— Deveria ir ao hospital, eu vou junto - Bella se prontificou.

— Assim? - Levantei uma sobrancelha na direção de seu corpo, não podendo conter um sorrisinho animado enquanto fechava o zíper da minha calça.

Ela percebeu o estado que ainda se encontrava e torceu o lábio inferior.

— Eu vou me trocar.

Saiu em disparada até um pequeno corredor e desapareceu.

Kate não perdeu tempo.

— Edward do céu! Como está se sentindo com seu primeiro porre? A Bella beija bem? Vocês usaram camisinha, né?

— Eu estou péssimo, só quero chorar de desespero. Como vocês conseguem fazer isso sempre?

Kate deu um risinho.

— Com o tempo você se acostuma com a crise existencial que fica depois.

— Credo - Peguei minha camisa suja de sangue de cima de uma poltrona e a vesti do avesso - dessa vez de propósito - para tentar esconder a grande mancha agora quase preta - E eu não sei se usei camisinha, não sei nem se transei com ela mesmo. Meu deus, se eu não tiver transado eu vou me matar, mas também queria pelo menos me lembrar da minha primeira vez, mas nunca vou me perdoar de não ter ficado com ela. Pega meu tênis ali, por favor?

Sentei no sofá e Kate se aproximou com meus calçados que estavam perto da entrada.

— Relaxa, você vai ter outra chance - Ela se jogou ao meu lado.

— Eu duvido, no primeiro dia que conheci a menina já até vomitei na frente dela. Quem garante que não fiz algo pior?

Terminei de calçar o tênis e me levantei.

— Vou passar no apartamento para me trocar e depois vou para algum hospital.

— Não vai esperar a Bella?

— Não, já incomodei muito a coitada. Diga a ela que eu peço desculpas por vomitar em tudo.

A verdade é que eu estava morrendo de vergonha para olhar na cara de Bella outra vez, e eu tinha certeza que depois de aparecer quase nua na minha frente, ela estava sentindo o mesmo. Isso explicaria a sua demora para retornar à sala.

Fui em direção a porta, passando os dedos pelos meus cabelos em uma tentativa falha de alinhá-los.

— Edward! Não vai nem tomar o café da manhã? Eu posso fazer algumas torradas e café e tem também...

— Tchau Kate.

Nem prestei atenção no que ela dizia, apenas queria sair daquele lugar o mais rápido possível. Atravessei a porta e o corredor a deixando para trás falando sozinha.

Quase corri pelas escadas e só quando cheguei até a rua que me dei conta de que não sabia onde estava.

Me virei de um lado para o outro, para tentar me encontrar.

— Droga!

Assim que fechei a porta do apartamento, Rosalie que estava na sala, surtou.

— Puta merda, o que aconteceu com você? JASPER CORRE AQUI VEM VER ISSO.

Meu irmão surgiu pelo corredor dos quartos e arregalou os olhos quando me viu.

— Edward, você entrou em uma briga!?

Suspirei, indo em direção ao sofá.

— Aposto que era mais de um! - Rosalie começou com as teorias.

— Qual foi o motivo? - Jasper cruzou os braços, aparentemente preocupado.

— Eu estava na boate com uma pessoa e...

— Não fala nada! Eu já saquei tudo! Irmãozinho, não vou deixar que te batam apenas por você ser gay! - Rose me interrompeu.

— O que? Não! Era uma garota!

— Uma garota te bateu por você ser gay!? - Agora foi a vez de Jasper soar indignado.

— EU NÃO SOU GAY PORRA!

— Ah...tudo bem. Jasper, você me deve 10 dólares.

— Droga, Edward, por que você não pode gostar de homens? – Jazz resmungou enquanto tirava uma nota do bolso de sua calça jeans preta e entregava para Rose, já com um sorriso e a mão estendida.

— Vocês apostaram a minha sexualidade!? - Olhei incrédulo para meus irmãos.

Eles deram de ombros e eu ignorei, meu dia já estava suficientemente péssimo para começar uma discussão.

— Como eu ia dizendo...- De último segundo, pensei que seria legal brincar com Rosalie e Jasper, então improvisei - Eu estava na boate com uma garota, e uns caras mexeram com a minha mina. Ai eu fiquei irado, tá compreendendo? Aí eu logo soquei ele e ele me socou de volta, mas não satisfeito, eu ainda apaguei o cara com uma chave de braço. Vocês tinham que ter me visto!

Terminei de relatar minha briga imaginária, com direito até a encenação dos golpes.

Eles me encaravam sem nenhuma expressão no rosto.

— Sua história tem vários furos. Você caiu, não foi?

— Droga, Jasper!

— Você mente muito mal - Ele negou com a cabeça enquanto falava e Rose revirou os olhos.

— E onde estava até agora?  São onze da manhã, a festa acabou as seis – Ela levantou uma sobrancelha sugestivamente.

Abri um meio sorriso.

— Com a amiga da Kate.

— Edward, você transou!? – Rosalie colocou as mãos no peito, emocionada.

— Caralho, você perdeu o cabaço, maninho? Eu nunca achei que viveria para ver isso. Parabéns por superar minhas expectativas.

Fechei os olhos esperando as reações exageradas passarem e foi minha vez de negar com a cabeça.

—Eu não transei com ela, apenas dormimos juntos.

Eles ficaram em silêncio me encarando com cara de nojo.

— Rose, devolve meus 10 dólares, tá na cara que ele ainda está meio confuso. Edward, tem certeza de que não é gay? Nem bissexual? Pode dizer, vamos te amar de qualquer jeito, a Rose já é sapatão mesmo...

— Eu sou bissexual, Jasper, só porque as garotas me preferem por ser a mais bonita fica aí com inveja – Ela o encarou com deboche e cruzou os braços.

— Nós somos gêmeos! Você é a minha versão mulher! Isso não tem sentido.

— Claro que tem, eu tenho uma coisa que você não tem...

— Estupidez? Egocentrismo? Herpes?

— Não meu querido, eu ia dizer: Conteúdo, um bom papo, uma beleza incrível, peitões, bunda maravilhosa e uma bu...

— Beleza, já que o interrogatório acabou eu vou tomar um banho para ir até o hospital, não quero começar as aulas com o nariz torto – Interrompi Rose e me levantei.

Eles finalmente se calaram e olharam para mim.

— Não vamos esquecer disso, depois vamos querer todos os detalhes – Minha irmã apontou um dedo para mim.

— Tudo bem, Esme – Debochei me virando para ir até meu quarto.

— Não me xingue assim! – Ralhou.

Tomei um banho, esfregando todo vestígio de sangue que encontrei pelo meu corpo.

Ainda sentia tudo doer e estava morrendo de fome, mas não arriscaria almoçar em casa com Jasper e Rosalie em meu encalço.

Fui procurar uma roupa limpa e uma peça acabou chamando minha atenção. Peguei a camisa rosa que ganhara de Jasper no meu último aniversário, como uma forma de provocação aos nossos pais que não permitiam que seus filhos homens usassem aquela cor, e por isso estava nova.

— Eu acho que gosto de rosa agora – Pensei alto ao lembrar da lingerie rosa que a garota chamada Bella usava. Sorri torto e tenho certeza de que fiquei pelo menos 5 minutos com a camisa na mão, olhando a cor feito um idiota e me lembrando da cena de mais cedo.

— Temos que dormir no mesmo apartamento que você? Edward, você está parecendo aquela personagem do filme “A pele que habito”.

— Cala a boca, Rosalie. Você é horrível e nem por isso fico reclamando por ter que olhar pra sua cara.

— Quanto tempo vai ter que ficar com isso? – Jasper perguntou encarando meu mais novo apetrecho com o cenho franzido enquanto mastigava um pedaço de maçã.

Toquei meu curativo que cobria toda a extensão do meu nariz e um pouco das bochechas.

— Umas duas semanas, mas me recuso a ir para a aula com isso, vou tirar antes.

— Boa sorte, Mike Tyson...Ah não, espera, você brigou com o chão! – Jazz zombou.

— E ainda perdeu! – Rose entrou na dele e os dois começaram a gargalhar.

— Como é ótimo poder contar com meus irmãos – Resmunguei.

A campainha tocou e me levantei para atender enquanto os dois ainda riam do meu fracasso.

— Bella? – Aumentei a voz, surpreso de encontrá-la do outro lado da porta.

Ela deu um sorriso sem graça, seu corpo balançando de um lado para o outro, desconfortável.

Ela usava uma calça jeans e uma regata, seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo deixando à mostra uma protuberância avermelhada no começo de sua raiz, ao lado direito de seu rosto; seu lábio inferior inchado revelava um corte vertical bem no meio do contorno de sua boca, mas e estava melhor do que há algumas horas atrás.

— Oi, espero que não se importe, eu vim com a Kate e como a conheciam deixaram a gente passar sem precisar ligar antes. Eu só vim pedir desculpas por tudo, principalmente pela forma desleixada que te tratei hoje de manhã, eu deveria ter sido mais sensível.

Eu estava boquiaberto pela visita inesperada, não fazia idéia do que dizer.

—Hãn...

— Quem está ai, Mike Tyson? – Ouvi uma voz se aproximar por trás de mim e pela primeira vez, agradeci mentalmente a inconveniência dos meus irmãos por impedirem um show de gaguejo na frente de Bella.

— Oi...quem é você? – Jasper encostou na soleira da porta, ao meu lado e olhou Bella de cima a baixo com um meio sorriso malicioso.

Ela arqueou as sobrancelhas quando o viu e estendeu a mão.

— Sou Bella, amiga da Kate...

— A Amiga da Kate!? Maninho, foi ela que você pegou? – Jasper ignorou a mão estendida e Bella a recolheu, ele colocou os braços em volta de meus ombros e me chacoalhou – ROSE CORRE AQUI, VEM VER A MINA QUE O ED QUASE COMEU! – Ele gritou para dentro de casa.

Em menos de um segundo, Rose estava do meu outro lado.

— Gata. Parabéns Edward, bom gosto você tem.

Eu encarava o chão imaginando que poderia ter uma pá e cavar meu próprio túmulo ali mesmo.

Bella agora olhava assustada para os lados e se possível, estava mais desconfortável do que antes sob os olhares dos gêmeos que a analisavam por completo sem nenhuma discrição.

— Hãn...Bella, esses são meus irmãos, Jasper e Rosalie – Quebrei o silêncio constrangedor entre nós dois, pois os loiros ainda estavam entretidos com a garota.

— Muito prazer, espero não estar incomodando.

— Não, não está incomodando em nada – Rose mordeu o lábio, segurando um sorriso.

— Bom, isso está ficando mais estranho do que o recomendado. Você quer, hãn...sabe...

— Ir dar uma volta? Eu acho ótimo – Ela falou rápido balançando a cabeça várias vezes em concordância.

— É, ótimo.

Me virei para encarar meus irmãos com o olhar mais feio que consegui fazer.

— Vocês não vão entrar? Eu acho que ouvi o telefone tocar.

Eles nem desviram o olhar de Bella.

— Deixa de ser mal educado, Edward, apenas queremos conhecer a menina que quase tirou a virgindade do nosso maninho. Ei, nos desculpe por ele não conseguir chegar até lá, desconfiamos que ele seja...

— Jasper! Se você não calar a boca e entrar agora, eu vou publicar aquela foto sua apenas de samba canção no Orkut; e Rosalie, eu vou mandar um email para Esme e Carlisle com uma foto sua fumando. Agora dêem o fora.

Eu nem acreditei quando terminei de falar, finalmente coloquei meus irmãos em seus lugares. Nunca havia falado assim com eles antes pois por ser o mais novo, eu que sempre era o esculachado.

— Você consegue ser tão insuportavelmente chato quando quer, argh! Tchauzinho linda, foi muito bom te conhecer – Rosalie abriu um sorriso enorme e acenou parecendo uma miss enquanto entrava.

— Aê, cuida bem do meu irmão, ele é delicado – Jasper deu uma piscadinha em direção à morena antes de se virar e correr para fofocar com Rose.

Bati a porta atrás de mim, ainda olhando para o chão, sem coragem para encarar a garota a minha frente.

— Bom, podemos ir a um parque que tem aqui perto – Ela sugeriu. Levantei meus olhos e notei seu rosto todo corado, parecendo que havia acabado de correr uma maratona, ela intercalava seus olhares entre o chão e as paredes enquanto falava. Eu não devia estar muito diferente.

— Eu acho ótimo.

Entramos no elevador e seguimos em silêncio até a rua.

— Se você não se importa, eu mandei uma mensagem dizendo para a Kate ir para casa. Achei que seria ainda mais desconfortável tê-la aqui e já passamos vergonha demais hoje – Ela se explicou indicando o celular em sua mão.

— Não, tudo bem. Você fez bem.

Caminhamos lado a lado, com as mãos nos bolsos para fingir casualidade.

— É a minha vez de pedir desculpas pelos meus irmãos, eles são uns idiotas quando se esforçam.

Ela soltou um risinho.

— Eu sei bem como é, às vezes meu irmão mais velho solta algumas pérolas sem querer.

— Você tem apenas um irmão?

— Não, tenho uma mais nova. 15 anos, Alice. O mais velho é o Emmett com 20 anos.

— A filha do meio, hum? – Ela fez uma careta descontraída com a frase e eu ri – Bom, sou o caçula, sofro bullying desde que nasci.

— Eu imagino, deve ser horrível ser o único irmão que não é loiro, pobrezinho.

Gargalhei alto, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam ao nosso lado.

— Pior que você acertou, me chamavam de adotado por conta disso. Até disseram uma vez que eu fui abandonado por Et’s em uma caçamba de lixo.

— O que? Por que crianças são tão ruins? – Ela riu e balançou a cabeça, ainda olhando para frente, a acompanhei na risada e ficamos alguns segundos em um silêncio agora mais leve.

— Então, você me desculpa?

Ela me olhou de lado, com um sorriso travesso em seus lábios.

— Só se você me desculpar também.

— Você limpou meu vômito! Eu que tenho que me desculpar duas vezes! Mas já que a senhorita só irá me perdoar sob essa condição então sim, eu lhe desculpo.

— Eu não sabia que havia limpado o vômito de um lorde.

— Eu sei ser um cavalheiro quando quero – Dei uma piscadinha em sua direção e a encontrei me olhando com um meio sorriso. Desviei o olhar rapidamente antes que ficasse vermelho.

— Isso eu notei, ontem mesmo bêbado, você foi um fofo.

Franzi o cenho, agora preocupado.

— O que realmente aconteceu ontem?

Ela deu de ombros, parecendo indiferente.

— Apenas dançamos e cantamos muito, então teve uma hora que fomos procurar a Kate e acabamos caindo e...Bom, aconteceu isso com seu nariz, mas na hora você nem pareceu se importar. Depois a Kate nos largou de novo e você me chamou para ir para casa e eu aceitei, mas como eu já disse, não rolou nada fora os beijos.

— Uau – Foi apenas o que consegui dizer enquanto processava as informações.

— É, – Ela riu mais uma vez – foi uma noite e tanto. Fazia tempo que não me divertia assim.

Viramos uma esquina e eu já podia ver a entrada do parque a alguns metros, no fim da rua.

— Então quer dizer que eu que te chamei para...- Engoli em seco – transar?

Ela concordou com a cabeça e deu um sorriso refreado, suas mãos enterradas nos bolsos da calça jeans clara enquanto caminhava olhando para o chão.

Eu realmente não acreditava que tinha feito aquilo. Para alguém que na noite anterior havia saído de casa com a camisa ao contrário e tinha sido alvo de piadas de um grupo de garotas, estava surpreso de que no fim tinha ficado com uma garota. E que garota!

Pelo canto do olho, a observei; seu rabo de cavalo castanho sendo balançado pelo vento, seu olhar estava voltado para o chão, mas me lembro de ter me perdido um pouco no verde de seus olhos assim abri a porta para ela e também no bar, na noite anterior; suas bochechas naturalmente rosadas tinham o mesmo tom de seus finos lábios.

— Não me lembro da gente ter se beijado – Digo ainda olhando sua boca. “Será que você pode me mostrar como foi?” pensei, mas não disse.

— Normal, eu também não me lembraria se não fosse forte para bebidas.

Ela não notou minha indireta super bem disfarçada de comentário casual.

— Ah sim...- Eu era um covarde mesmo, aquela era a minha deixa e eu deixei a conversa morrer.

Adentramos o parque lotado de pessoas querendo aproveitar cada vestígio de sol que o fraco verão de New Hamphire nos proporcionava. As crianças estavam correndo por todos os lados jogando futebol, soltando bolhas de sabão ou brincando com água enquanto os casais namoravam em seus lençóis estendidos na grama verde.

Alguns pirralhos que brincavam perto de nós apontaram em minha direção e riram.

— Droga de nariz, crianças chatas do inferno – Resmunguei saindo de perto dos pestinhas.

Bella riu e eu até esqueci que estava bravo quando ouvi o som de sua risada.

— Como foi que arrumaram seu nariz? Porque ontem você mesmo quis dar um jeito nele e acabou quebrando duas vezes.

— O quê? Eu sou um idiota mesmo, só pode. Como você me aguentou? Certeza que fui pior que uma criança.

— Um pouco.

— Bom, o lado bom é que eu não fui TÃO idiota assim e acertei o jeito que se conserta um nariz, o médico colocou ele de volta no lugar e tenho que admitir que devo ter ficado roxo de tanto segurar meu grito – Confessei.

— Pelo menos você foi ao hospital, ontem você se recusou a ir quando eu insisti, disse que já estava acostumado, mas mesmo assim fiquei preocupada. Ainda está doendo?

Parei de andar.

— Você queria me levar ao hospital?

Ela parou de frente para mim.

— Sim, claro que sim. Depois que eu vi que era sério eu fiquei preocupada. Por quê? – Perguntou confusa.

Mesmo tendo um vasto conhecimento com ossos quebrados e hospitais, nunca ninguém havia se preocupado comigo a esse nível, normalmente eu apenas mostrava a fratura ou machucado aos meus pais e dependendo da gravidade, eles me levavam ao médico, mas sempre sem nenhuma palavra de consolação ou de repressão – pelo menos não nesses casos que não envolviam aprendizado acadêmico que contaria em alguma nota minha -. Nunca queriam saber o que havia acontecido. Eles apenas cumpriam suas obrigações básicas de pais, em silêncio.

— Nada não, apenas achei fofa a sua atitude.

Dei um sorriso torto tentando disfarçar o tamanho da minha alegria, mas não acho que funcionou.

Ela encolheu os ombros.

— Apenas o básico, qualquer um faria isso.

Sim, aquilo era apenas o básico, mas nunca ninguém havia feito algo assim por mim.

Voltamos a andar por um caminho de terra, adentrando cada vez mais o parque. Estava bom caminhar com Bella.

Finalmente, achamos um banco de madeira e nos sentamos, a nossa quietude sendo bem-vinda enquanto admirávamos a vista de um lago logo à frente.

Ficamos mais algum tempo assim, alternando entre silêncio, histórias de quando éramos crianças e risadas.

— Eu não acredito que você comeu mesmo uma minhoca! – Ela colocou uma mão em sua testa, chocada.

— Foi um desafio da Kate! Nunca aceite desafios daquela mulher, ela é maluca.

Agora estávamos virados no banco, um de frente para o outro.

—Maluco é você por ter quebrado todos aqueles dedos de propósito!

— Isso não é algo que eu me orgulhe, está bem? Apenas aceito meu passado.

— Quando foi a última vez que você fez isso?

— Hum...sete meses atrás – Disse depois que pensei por alguns segundos.

— Sete meses? Achei que já havia anos que não fazia isso! – Ela soou surpresa.

— Foi necessário – Baixei meus olhos e fingi brincar com a costura da calça, não gostava de prolongar aquela conversa.

— Como assim?

— Outro dia eu explico melhor, é uma longa história e temos que voltar, já está escurecendo – Apontei o céu arroxeado com a cabeça.

—Eu nem notei – Ela sussurrou olhando para o horizonte.

— Nem eu – Murmurei de volta enquanto a admirava sob a penumbra; seus cabelos agora soltos pareciam pretos e sua pele refletia os últimos raios de sol que agora se escondia entre as árvores.

Desviei meu olhar rapidamente quando ela se virou para mim.

— Vamos?

— Vamos – Concordei – Eu te levo até em casa.

Ainda jogamos um pouco de conversa fora pelo caminho até chegarmos na frente do prédio dela.

— Eu adorei passar essa tarde com você, foi bem bacana, fazia tempo que eu não sorria tanto.

— Eu gosto do seu sorriso – Soltei sem pensar.

Bella arqueou uma sobrancelha e deu um meio sorriso.

— Eu também gosto do seu sorriso – Ela mordeu o lábio inferior, desviando minha atenção mais uma vez para sua boca.

“Eu que queria estar mordendo...”, chacoalhei minha cabeça discretamente para tentar me livrar desses pensamentos.

— Bom, já que gostou de hoje então acho melhor você se acostumar logo com a minha presença. Hoje foi você que me levou para sair, mas nas próximas vezes eu que vou te levar.

— Próximas vezes?

— É claro, preciso arrumar um jeito de compensar toda a bagunça que fiz ontem e esses machucados também – Pus a mão na lateral de seu rosto, o dedão quase tocando o corte em seus lábios.

Ela pareceu aturdida com o ato e notei que aquela foi a primeira vez que nos tocamos sóbrios e desde ontem a noite.

— Eu vou entrar – Ela disse meio sem jeito.

Cedo demais, retirei minha mão.

— Tudo bem, boa noite Bella.

— Boa noite Edward – Ela andou até a porta do prédio e me afastei, indo embora.

— Edward? – Me virei rapidamente para encontrá-la ainda na calçada, me olhando.

— Sim?

— Gostei da sua camisa.

Sorri um sorriso brilhante.

—É, agora rosa é minha cor favorita.