De volta para você escrita por Bhabie


Capítulo 20
Capítulo 19 - Falidos, derrotados e sem esperanças


Notas iniciais do capítulo

O nome desse capítulo descreve minha vida

EITA QUE HOJE TEM REVELAÇÃO. O QUE SERÁ HEIN?
Bora ler pra descobrir.

E aos leitores novos: Bem vindos a loucura!



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PDV Bella

Meu sossego durou exatamente quinze minutos, que foi o tempo que levou até eu dirigir de volta para casa, estacionar e abrir a porta da frente. Até Emmett aparecer.

— Que merda você fez comigo, Isabella!?

— Nem começa Emmett. Você não disse que queria um espião? Aí está!

— A PORRA DE UMA PERSONAL TRAINER PARA MIM!? EU JÁ ESTOU FODIDO COM A TANYA E VOCÊ AINDA DÁ UMA DESSAS? – Seu rosto pálido ficou vermelho com os gritos, suor começou a nascer em sua testa e Emmett respirou fundo para tentar se controlar. Eu assisti a toda birra de braços cruzados sem nenhum vestígio de pena – Minha vida agora é um inferno, ok? Tenho duas personal trainers que se odeiam por não concordar com os treinos uma da outra. Sabe o que isso quer dizer? Quer dizer que eu tenho que fazer o treino das duas para nenhuma delas ficar triste.

— Bom para você, agora vai emagrecer o dobro!

— Para de ser cínica, garota! – Ele apontou o dedo gordo em minha direção.

— Como se você não tivesse gostado de ter duas garotas gostosas aqui em casa, Emmett – Alice surgiu com uma tigela de cereais e a boca cheia.

Emmett ajeitou a postura e sorriu, olhando para longe.

— É, essa parte foi irada.

— Eca, nem tente nada com Tanya – Contorci meu rosto ao imaginar minha amiga e meu irmão juntos – E lembre-se que quanto à Rosalie você agora tem um trabalho.

O empurrei do caminho e segui para a sala, retirando meus sapatos e me deitando de costas no sofá confortável.

Emmett me seguiu e sentou aos meus pés.

— Isso não será problema, já descobri algo.

— O que? – Me sentei rapidamente, ansiosa pela notícia.

— Ouvi Rosalie ao telefone com Kate, ela estava pedindo para loira sequestradora vir buscá-la aqui porque está sem carro. Pelo quê eu pude ouvir dos xingamentos da loira personal, Kate não pode mais dirigir ou sair da cidade. O plano deu certo.

Senti como se mil quilos tivessem sido tirados dos meus ombros.

— ISSO! – Gritei pulando para abraçar Emmett – Você é o melhor advogado do mundo todo! Obrigada meu irmãozinho!

— Eca, Bella, sai de cima de mim, você tá fedendo! – Ele se esperneou enquanto eu o apertava.

— Cala a boca, não estou não, só quero comemorar com meu irmão mais lindo do mundo!

— Comemora depois do banho, imunda.

Dei uma fungada em minha roupa só para constar que Emmett tinha um pouco de razão. Talvez os equipamentos de segurança somados à adrenalina de meu corpo mais o clima quente do Arizona tivessem sido demais.

Gemi pensando nos minutos que passei com Edward em um carro todo fechado, apenas com o ar condicionado ligado.

— Droga – Resmunguei saindo de cima de Emmett.

— Ei Emm, já contou para ela que você já entrou na justiça para o pedido da guarda dos meninos? – Alice veio da cozinha, com outra tigela ainda mais cheia de cereais e se sentou na poltrona de couro, em cima de suas pernas, sem tirar os olhos do desenho animado que passava na televisão.

Me voltei para meu irmão com o olhos arregalados.

— Como!?

Ele grunhiu e tacou uma almofada em Alice, fazendo-a derrubar cereal por todos os lados. Ela o xingou alto, ainda de boca cheia.

— Imbecil, eu ia contar agora!

— Isso é sério? – Eu precisava ouvir Emmett enfatizando a veracidade da notícia.

— Sim, eu sou o cara – Ele se gabou passando a mão pelo cabelo preto e curto – Mas ainda vai demorar alguns poucos meses até o caso ganhar prioridade, demora um pouco até o juiz analisar todos os documentos que enviei. Katrina ainda tem de ser intimada e apresentar contraprovas, essas coisas.

— Ai meu Deus, isso é incrível, eu não sei o que dizer. Meu dia começou uma merda e agora está tudo fantástico!

— Por que começou uma merda? Algum de seus alunos jogou cocô em você?

— O que? Não Alice, eu já disse que crianças não se comportam como macacos, elas não jogam cocô umas nas outras.

— Elas se parecem com animais – Minha irmã fez cara de nojo e eu balancei a cabeça, incrédula.

— Desembucha, coisinha – Emmett me apressou.

— Hum, eu...aparentemente fui demitida – Sussurrei a última parte tão baixo que pareceu apenas parte de minha respiração.

— Hãn? – Alice e Emmett se curvaram em minha direção com os rostos confusos.

— Eu fui despedida! – Falei bem mais alto, como se fosse algo óbvio.

— Achei que fosse algo importante! – Emmett acusou.

— Ainda bem que somos ricos – Alice desdenhou do outro lado da sala e voltou sua atenção ao desenho.

— O que!? Porra, isso é importante, é meu trabalho! – Gritei assombrada pelo comportamento deles.

— Relaxa Bella, você é uma ótima professora de pestinhas, logo logo encontra outro emprego. Além do mais, o que a Alice falou é verdade: somos ricos! Isso será um ponto para nós para a guarda dos meninos.

— Kate também é rica – O lembrei.

Emmett juntou as sobrancelhas, contorceu o rosto e fez um gesto com mão, caçoando de minha fala.

— Nós somos mais.

Abri a boca para respondê-lo, mas fui interrompida pelo barulho da porta da frente batendo forte e uma Dolly entrando afobada na sala.

— O seu...no mercado...foi...vim...correndo – Dolly se apoiou nos joelhos, tentando recuperar a respiração.

— O que aconteceu, mulher? – Emmett tentou levantar para ir até ela, mas aparentemente estava atolado no sofá.

— Dolly, senta aqui. Alice vá pegar um copo de água para ela.

Fiz Dolly se sentar entre mim e Emmett. A mulher ofegava e suava, suas mãos enrolando na beirada de seu vestido florido, nervosamente.

Alice voltou correndo e lhe entregou a água. Dolly tomou metade antes de olhar para cada um de nós e disparar.

— Fui ao mercado fazer umas compras e na hora de pagar...bem, o cartão não passou.

Silêncio.

— Você tentou novamente? – Emm perguntou baixinho.

— Seis vezes.

— Tentou em mais de uma máquina?

— Em três.

— Tentou mais de um cartão?

— Tentei com três.

— Mas eles estavam bem limpos? As vezes eles ficam sujos e-

— EMMETT NÓS ESTAMOS FALIDOS, O QUE VOCÊ AINDA NÃO ENTENDEU?

Ele se encolheu com meu grito, mas não pela altura, e sim pelo o que eu dizia.

— Ai meu Deus – Alice fez cara de choro ao meu lado, Dolly continuava encarando a barra de seu vestido.

— Emmett, até pouco tempo atrás eu olhei o dinheiro na minha conta, você o usou? – Tentei manter a calma.

— É claro que eu usei, o dinheiro é meu!

— Mas você não tem noção, não sabe cuidar, por isso eu era a responsável! – Gritei.

— COMO EU PODERIA SABER QUE ELE IA ACABAR? NUNCA ACABOU!

— Com o que você gastou, Emmett?

— Nada...

— Emmett, com o que você gastou? – Rosnei entredentes.

— Doei um pouco para o Studio Ghibli* e emprestei um pouco pra um cliente meu...

— Que cliente? – Não sabia se queria ou não saber a resposta, mas mesmo assim perguntei.

— Um que tava sendo processado por estelionato.

Assenti lentamente.

— Eu vou te matar – Sibilei e avancei para cima dele, distribuindo tapas por todos os lugares descobertos de sua pele que eu encontrava.

— Ai, ai, aaaaai! Para Bella, por favor! Por fa-AI MEU OLHO MACHUCOU MEU OLHO! DOLLY ME AJUDA!

— A cadeira, Bella, USA A CADEIRA! – Eu ouvi Alice gritando antes que sentisse um par de mãos segurando meus braços e me arrastando para longe da cara redonda e assustada de Emmett. Aquele porco.

— Isabella! Se contenha! Bater em seu irmão não vai adiantar nada!

— Eu não vou bater nele não, eu vou é matar ele!

— Isso também não ajuda!

— Ajuda sim, o seguro de vida dele é altíssimo! – Alice incentivou.

Dolly lançou a ela um olhar de fúria e voltou sua atenção a mim.

— Escuta aqui mocinha, é melhor você se acalmar ou eu vou algemar vocês dois até que se resolvam!

— Você tem uma algema? Para quê? – Alice franziu o cenho e depois seu rosto foi tomado pelo choque – Não! Você transar é tão errado! Dolly, você é uma senhora, não pode fazer essas coisas!

— Cala a boca, Alice, pelo amor de Deus! – Todos nós paramos com o grito de Dolly – Primeiro: Caso tenham esquecido, o pai de vocês era delegado, então não deveriam estar surpresos por termos algemas em casa. Agora todos prestem atenção aqui: Se eu ouvir mais um grito nessa casa eu pego minhas DUAS algemas que eu tenho guardadas e prendo os três. Só irei liberá-los daqui a três dias e esconderei as chaves. E aí, você duas preferem tomar banho com o Emmett ou ficarem sentindo o fedor dele por três dias?

— Ei! – Emmett fez cara de ofendido e revirei os olhos com força para aquela cara de idiota.

— Calado! Agora vamos nos sentar e debater com calma sobre o que vamos fazer.

Apenas com um olha, Dolly fez com que sentássemos. Eu e Alice sentamos no chão de frente para nosso irmão desgraçado e nossa babá.

— Muito bem, acho que a coisa mais importante de todas é que agora temos que vender essa casa.

— Ninguém vai querer esse ninho de cupim brega que o Emmett comprou.

Dolly me ignorou e prosseguiu.

— E temos que cortar despesas. Emmett, você terá que ir trabalhar todos os dias no horário certo. E Alice, arranje um emprego.

— O que!? Eu não sei fazer nada!

— Aprende.

— Tem outro problema: Eu fui demitida hoje, Dolly. Kate fez uma reclamação direta ao diretor Marcus.

— Que vaca! – Dolly xingou.

— Puta merda! Caralho, porra! – Emmett de repente soltou, levando as duas mãos a cabeça em sinal de desespero – Merda Bella, agora você TEM que ter um emprego, a guarda dos meninos nunca irá para você falida assim!

— Ótimo, agora estamos falidos, derrotados e sem esperanças!

— Alice! – Dolly a repreendeu.

— Merda - Toda felicidade de antes foi embora, eu queria chorar porque parecia que nenhuma felicidade era permanente em minha vida.

—Desculpe, Bella – Minha irmã me lançou um olhar de culpa, mas eu não conseguia responder que estava tudo bem, que afinal, ela estava certa.

— Tudo bem, vai dar tudo certo - Alice sussurrou com uma voz doce, colocando a mão em meu ombro. Eu sentia três pares de olhos carregados de pena sobre mim enquanto encarava um ponto qualquer do chão. Meu semblante deveria estar horrível, eu me sentia horrível.

— Eu vou tomar um banho – Anunciei em um fio de voz depois de minutos de desagradável silêncio, me levantando e indo até a escada sem olhar no rosto de nenhum deles.

Tirei todas as minhas roupas assim que cheguei em meu quarto e fui direto para o banheiro, ligando o chuveiro e deixando que as lágrimas quentes se misturassem com o suor e a água que caía.

Sempre que precisava pensar eu gostava de tomar banho. Era onde eu tinha minhas melhores ideias, onde minha mente se clareava.

Dessa vez não foi diferente.

Assim que a ideia surgiu, voltei a sentir um pingo de esperança. Poderia não dar certo, mas já estava mais do que na hora de tentar.

Desliguei o chuveiro, me enrolei de qualquer jeito na toalha e corri de volta ao quarto.

Antes de ter certeza do que faria, eu tinha de ver aquilo.

Abri o guarda roupa e remexi nas roupas de inverno, até encontrar o que procurava.

A Polaroid estava no mesmo lugar em que eu deixara antes.

Assim que a encontrei, me acalmei, pegando-a com cuidado e a colocando no centro de minha cama. A observei atentamente de pé, ainda pingando.

Não sei quanto tempo fiquei ali parada olhando uma versão mais nova de mim e de Edward rindo, mas foi tempo suficiente para que eu tivesse certeza de minha decisão.

Eu sozinha, sem emprego, falida e solteira nunca conseguiria a guarda dos meninos mesmo se provasse que Noah e Dimitri eram meus filhos biológicos. Eu estava competindo com Kate que tinha o amor dos meus filhos desde que estes nasceram, estabilidade financeira e um bom casamento.  Eu teria de estar no mesmo nível.

Para me ajudar com isso, quem melhor do que o próprio pai dos meus filhos?

Eu recorreria a Edward. Mesmo que fosse um choque para ele no começo, sabia que me ajudaria. Afinal, hoje eu já havia plantado nele a semente do ódio direcionada à Kate.

Sorri com o pensamento de que assim como meu pai me ensinara, eu nunca dava um ponto sem nó.

Dessa vez, em vez que colocar a Polaroid de volta sob minhas roupas pesadas, a acomodei sobre a mesinha de cabeceira, uma lembrança sutil para que no dia seguinte, mesmo com medo, eu não desistisse de meu plano de contar toda a verdade a Edward.

Eu o queria de volta, assim como eu queria meus filhos de volta.

Eu teria os três.

 

PDV Edward

Era para ser meu dia de folga, mas assim que coloquei os pés na casa de Kate, me afundei nos números da filial para não pensar muito na conversa que tive com Bella no caminho de volta para casa.

Não deu muito certo, eu só pensava nisso. Então sem conseguir me concentrar por mais de dois minutos, fechei o notebook e devaneei, repassando o dia em minha mente.

De manhã eu só conseguia pensar em alguma maneira de me aproximar dela sem parecer um louco invasivo e desesperado, queria que fosse natural, como na primeira vez. Como não tinha o número dela e nem sabia onde ela morava, fui até o único local onde sabia que a encontraria: a escola, bem na hora da saída, para que pudéssemos ter mais tempo para conversar.

No fim não conversamos muito, o estande de tiro impossibilitava isso, mas falamos o suficiente para trazermos as feridas à tona. Uma parte de mim estava aliviado por finalmente ter as respostas para as perguntas que ecoavam em minha cabeça nos últimos sete anos, por outro lado, as respostas não eram suficientes, eram rasas.

Pensar que Kate, minha prima, minha confidente, fez parte da decisão de Bella em me deixar, não entrava em minha cabeça, não fazia sentido.

No carro, o que senti foi raiva misturada com mágoa, mas agora apenas o primeiro me restava.

Levantei fazendo barulho com a cadeira sendo arrastada atrás de mim. Com passos pesados, saí do escritório em direção ao quarto de Kate e Garrett, onde minha prima deveria estar, mas não encontrei ninguém.

Eu tinha dito para Bella que não falaria nada com Kate, mas como eu poderia acreditar cegamente nas informações dela? Não foi ela que um dia me deixou sem nem olhar para trás? Não fora Kate quem ficara ao meu lado o tempo todo? Eu precisava saber o lado de minha prima e por mais que minha cabeça já latejasse antecipadamente pela raiva contida, eu a ouviria e compararia as versões.

Noah e Dimitri estavam na sala jogando videogame e nem sequer olharam para mim o dia todo. Passei por eles e segui pelo corredor em direção a cozinha, mas parei ao ouvir uma conversa sussurrada.

—...você não pode sair! Como faremos?

— Vocês vão e eu fico aqui, logo logo vou poder sair da cidade de novo, isso não vai durar.

— Eu não vou te deixar sozinha aqui! O médico disse que-

— Garrett, está tudo bem! Eu vou ficar bem.

— Olha o que ela fez com você, ela é louca! Você não vai ficar bem! Eu não irei a lugar nenhum sem você e ponto final.

Silêncio, depois um suspiro vindo de Kate.

— Como faremos? – A voz feminina sussurrou.

— Como sempre fizemos, mas agora com mais cautela, Edward e Rosalie estão aqui agora, eles não podem desconfiar. Vou entrar em contato com nossos advogados, por enquanto ela não pode nos atingir. Vai ficar tudo bem, logo vamos embora daqui.

Kate fungou, aparentemente estava chorando. Não ouvi mais nada, então dei meia volta ainda atordoado pelo conteúdo da conversa e silenciosamente voltei para a sala, me sentando no sofá e olhando para o jogo agressivo que os meninos jogavam, sem de fato prestar atenção.

Mas que porra? O que eu e Rose não poderíamos saber? E porque havia um médico envolvido nisso? Por que Kate não poderia sair da cidade? Eu sabia que a pessoa que eles estavam falando provavelmente era Bella, e isso completava minha teoria de que algo faltava, algo que nenhum dos lados queria me dizer. Um frio subiu pela minha espinha, uma sensação ruim,

— Que cara de merda é essa, Edward? – Saltei com a voz estridente de Rosalie, que estava encostada no batente da porta da sala, me observando com uma cara de nojo.

— Nada...

— “Nada”, hur-dur, eu sou o Edward, sou muito estranho, eu sento extremamente reto, com as mãozinhas no colo e fico olhando para o nada durante horas – Ela fez uma careta, com as bordas dos lábios voltadas para baixo e engrossou a voz.

— Que mau humor é esse? Seu cigarro estava estragado? – Devolvi sem me deixar abalar, na verdade, relaxei a postura, me recostando no sofá.

— Culpa do meu cliente novo. O cara é um saco.

— Deixa eu adivinhar: ele te cantou?

— Me ofereceu carona depois que me ouviu pedindo para Kate ir me buscar. Essa multa é um saco também.

— Que multa?

— Ah, Kate não pode dirigir ou sair da cidade, ela tomou uma multa feia. Eu tive que vir de táxi e mandar o gordão ir se ferrar.

— Super profissional – Comentei, mas minha mente estava longe. Ao menos isso explicava porque Kate não poderia sair de Phoenix.

— Que se dane, ele que me demita se quiser, já tem outra personal mesmo. Para quê me contratou então? Eu gosto de ser exclusiva! “Oh não, porque Tanya não me manda fazer isso, Tanya é mais legal do que você” que se foda então, coma a Tanya!

— Tanya?

— É, a personal piranha! Acredita que o tempo todo ela ficou me desafiando? “Ei Rose, em Dartmouth eles ensinavam o básico? Não parece!” – Ela fez uma voz arrastada e fina - Argh, nojenta!

— A mãe fala muito essa palavra – Dimitri comentou de repente sem desviar os olhos da televisão.

— Qual palavra?

— “Piranha” – Ele disse como se comentasse sobre o clima.

Rosalie tentou segurar, mas gargalhou descontroladamente do outro lado da sala. Eu encarei a criança, horrorizado.

— Rosalie, Dimitri! – Eu olhava para os dois desesperados, sem saber com qual eu brigava primeiro – I-Isso não tá certo, Rosalie você não pode rir dessas coisas!

A risada dela só ficou mais intensa com isso e ela se apoiou no batente da porta para não cair. Olhei para Dimitri e ele permanecia concentrado em seu jogo.

— Dimitri isso não pode!

— O que?

— Falar essas coisas!

— O que eu disse de mais?

— “Piranha”!

— Você acabou de dizer!

— Eu posso!

— Por que?

— Porque eu sou adulto!

— Que se dane!

— Que porra é essa garoto? Fala direito comigo!

Dimitri resmungou algo inaudível.

— Olha para mim, Dimitri!

— Eu to jogando!

— Pausa.

— Jogo online não tem pausa!

— Dimitri, olha para mim agora!

— Calma, já tá acabando!

— Dimitri Taylor Andrew Denali, ou você olha para mim ou eu vou desligar essa televisão da tomada.

Ele choramingou alto e entregou o controle para Noah, que parecia um viciado louco vidrado no televisor.

— Toma, joga por mim.

Ele se virou para me encarar com um bico enorme formado e um olhar desafiador.

— Que foi?

— Que atitude é essa? Pode tratar as pessoas assim, Dimitri?

O garoto bufou e sua pose de durão se desmanchou.

— Desculpa, tio Ed – Ele murmurou e meu coração derreteu.

— O que aconteceu, Dimi? – Perguntei agora com a voz suave.

— Ele tá bravo porque não foi pra escola hoje! Ele ta com saudade da namorada dele.

— De novo isso? Que namorada?

— A professora Isa – Noah riu e Dimitri ficou vermelho.

— Não é isso! É que ela é a única adulta que joga videogame comigo, ela me ouviu explicar a habilidade de todos os personagens do free fire sem reclamar. Hoje eu ia ensinar ela a jogar, mas a mãe disse que a gente não ia ir hoje.

— Isa? – Rosalie riu – Eu vou ter que dar parabéns a essa professora por aguentar vocês dois, seus pestinhas!

Meu corpo todo ficou tenso, Rosalie ainda não sabia que Isabella era a professora dos meninos. Sua raiva por tudo o que Bella fez comigo era tão grande que decidi ocultar esse fato, afinal, ela agora era a ex-professora deles, havia sido despedida esta manhã. Por um momento me perguntei se Kate estava envolvida nisso também.

— Hum, tenho certeza que você vai poder ensiná-la a jogar outro dia, mas isso não justifica falar essas coisas feias – Apontei um dedo para ele, tentando manter minha pose ainda que desconcertado pelo modo como ele se referiu a Bella.

— Tudo bem, tio Ed. Desculpa – Dimi abaixou os olhos, envergonhado.

— Pode voltar a jogar agora – Ele assentiu e pegou seu controle de volta.

— Você leva jeito com criança – Rose comentou e a olhei desconfiado – O quê? Eu não estou te zoando, é sério. Você é meio desajeitado, mas faz um bom trabalho.

Abri a boca para responder, mas uma voz atrás de mim falou antes que eu tivesse a chance.

— Sim, ele leva jeito – Kate concordou. Ela estava parada de braços cruzados na soleira que divida a sala com o corredor para a cozinha, Garrett atrás dela me fuzilava com os olhos.

— Mas ainda tem muito a aprender – Ele completou indo se sentar ao lado dos garotos, quase um sinal possessivo – Um dia, quando tiver seus próprios filhos, vai saber lidar melhor com situações assim.

Ele enfatizou a palavra “próprios” e seu tom era um amigável passivo-agressivo, o que me deixou confuso. Garrett nunca havia falado comigo assim antes e me senti intimidado.

— Hãn, é, quem sabe – Sorri sem graça.

De repente, a sala estava com um clima pesado e desejei qualquer desculpa para sair o mais rápido possível.

Felizmente Deus pareceu ouvir meu apelo, pois meu celular chamou em meu bolso.

— Deve ser Carlisle, licença – Saí do ambiente apressadamente e peguei o celular, vendo que um número desconhecido me ligava.

— Alô?

— Edward? Hãn, aqui é a Bella— Uma voz suave e hesitante soou do outro lado da linha.

Meu coração errou uma batida.

— Hum, oi.

— Oi! Você me deu seu número, lembra?

— Sim, sim. Eu só não esperava que você ligasse – Confessei.

— Bem, eu sei que estávamos juntos até umas horas atrás, mas preciso falar com você. É meio urgente, você pode sair agora?

— Sair? Claro, onde quer me encontrar?

— Pode ser na minha casa? Precisa ser em um lugar fechado, só nós estaremos aqui, todos saíram— Bella falava muito rápido.

— Tudo bem, ótimo.

— Legal, vou te mandar a localização. Deixarei a porta da frente destrancada. Até mais, Edward.

— Até.

O telefone ficou mudo no segundo seguinte.

Isso estava muito estranho, por que ela gostaria de me ver de novo depois de umas horas trás, quando eu fui um bebê chorão em seu carro? Pessoas normais deixariam a poeira disso abaixar, não insistiriam em outra conversa no mesmo dia. Mas eu sabia que algo acontecia; Bella, Kate, Garrett, a demissão, a briga, a multa, o médico, a véspera de natal de sete anos atrás, tudo isso estava interligado, mas eu não fazia ideia de como montar esse quebra cabeça, Eu sentia que todos ao meu redor sabiam de algo, menos eu, e eu já estava cansado disso.

Rezei para o que quer que fosse urgente que Bella quisesse falar comigo, fosse sobre as peças que faltavam para desvendar esse mistério. Caso não fosse, eu a pressionaria.

Eu falaria com Kate depois, quando já tivesse todas as informações. Afinal, era óbvio que ela não queria que eu descobrisse e desconversaria e ocultaria tudo o que pudesse. Não havia mais tempo para esses joguinhos.

Subi correndo para trocar de roupa, colocando algo casual para sair no calor do Arizona e voltei para a sala.

— Onde vai? – Rose me mediu.

— Ir caminhar um pouco, ainda não conheço a cidade direito – Peguei as chaves do carro e sai pela porta da frente, sentindo os olhares de Kate e Garrett queimarem minhas costas.

Enquanto dirigia até o endereço que Bella me mandara, criei várias teorias do que poderia ser, uma mais absurda do que a outra. O pressentimento ruim que tive antes, voltou ainda mais forte e tremi em antecipação.

Estacionei na frente do casarão antigo que parecia ser no século XVIII e entrei pela porta encostada.

— Bella? – Chamei com a voz trêmula, entrando devagar e com cuidado na casa.

— Estou indo! – Ela gritou do que parecia ser o andar de cima – Pode se sentar!

Olhei em volta e encontrei um sofá de couro, me sentei lá ereto enquanto esperava. Minhas mãos suavam como a de um adolescente em seu primeiro encontro, o que era irônico, já que me primeiro encontro fora com a mulher de vestido branco que agora descia as escadas e vinha em minha direção. A mulher que mesmo depois de sete anos, ainda tinha minha atenção total.

— Oi de novo – Ela deu um sorriso amarelo e se sentou ao meu lado, com o corpo virado para mim. Repeti sua pose.

— Hum, oi.

Ela acenou com a cabeça e desviou o olhar para outro canto enquanto mordia os lábios, parecendo nervosa. Ela trouxe uma almofada para seu colo e agora brincava com as franjas dela.

— E então...? – A incentivei.

Bella fechou os olhos, respirando fundo e quando os abriu de volta, olhava em meus olhos.

— Eu preciso te falar algo muito, muito sério – Seu semblante era um misto de desespero e súplica, por um momento isso me preocupou, meu estômago se revirou e meu coração se apertou. Inconscientemente, me curvei para mais perto dela.

— Você pode me dizer qualquer coisa.

— Isso não vai ser fácil, Edward. Primeiro eu quero que saiba que tudo o que fiz até agora, foi para proteger as maiores vítimas dessa história toda. Duas pessoas inocentes.

— Nós? – Arrisquei.

Ela balançou a cabeça, negando.

— Quer dizer, você também é uma vítima, mas estou falando de mais duas pessoas.

— Diga logo!

— Por favor, eu preciso que você entenda. Eu sei que será um impacto muito grande, mas por favor, tente manter a mente limpa.

— Bella, eu estou ficando nervoso.

Ela pressionou seus lábios um no outro até formarem uma linha branca, meu rosto estava contorcido de angústia.

— Edward, naquela véspera de natal, no dia em que fui embora...eu não fui embora sozinha, não fui embora apenas pelo o que te disse no carro, aquilo foi sim um dos motivos somados ao motivo principal, mas há mais.

— Você fugiu com alguém? – Não consegui disfarçar a mágoa em minha voz.

— Não! Isso não.

— Então o que?

Bella alcançou minha mão, me surpreendendo. Até o momento, nenhum dos avanços era dela, ela sempre parecia se esquivar de mim. Ao mesmo tempo em que esse nosso primeiro contato me relaxou, também senti medo. Se ela precisava me confortar, então algo ruim estava por vir. Apertei sua mão macia na minha, a incentivando a continuar, um gesto que dizia que não importa o que fosse, eu estaria ali.

Com a mão livre, ela apontou para uma tatuagem em seu ombro desnudo. Era uma frase escrita em francês, com finos traços em letras cursivas.

— Isso significa “Mais do que minha própria vida”. É mais do que uma tatuagem para mim, eu fiz para as pessoas mais importantes da minha vida – Ela respirou fundo e continuou - Naquela noite, quando eu cheguei no apartamento que dividia com Kate, eu...eu descobri que estava grávida. E então, tudo desmoronou, tudo aconteceu tão rápido a partir disso...

Lágrimas começaram a se acumular em seus olhos e ela fez uma pausa, esperando que eu dissesse algo.

Nada saiu.

Eu esperava qualquer coisa, qualquer coisa. Menos isso.

Poderia ser uma piada de mau gosto, não poderia? Considerei isso, mas assim que lágrimas silenciosas caíram pelo rosto de Bella, eu sabia que era verdade.

Depois de um minuto ou dois, notei que não respirava e me forcei a puxar o ar de volta para meus pulmões. De repente minha boca estava meio seca e meu estômago afundou.

— Era meu? – Foi a primeira pergunta estúpida em que pensei. Eu tinha que ouvir tudo nos mínimos detalhes.

Ela assentiu, ainda me observando sob seus cílios espessos e molhados.

Larguei sua mão que agora me apertava mais forte e passei os dedos pelo meu cabelo, desesperado, percebendo que eu agora tremia.

Minha respiração não era ritmada e puxei o ar entre os dentes antes de fazer a pergunta mais importante de todas.

— Vo-você...o que você fez? Você...

Não consegui terminar a frase, já pensando no pior, sem nem conseguir imaginar o destino do meu filho.

Meu filho.

— Não! Quer dizer, isso passou pela minha cabeça, mas nunca considerei de verdade. Na verdade, houve uma grande comoção das pessoas ao meu redor para eu mantivesse a gravidez.

— Então...

Não sabia mais o que perguntar. O que eu deveria saber primeiro? Onde estava? O nome? O sexo?

— Correu tudo bem durante a minha gravidez, eu voltei para casa e Dolly e Alice cuidaram de mim – Ela me assegurou – O nascimento também foi tudo bem, um pouco antes da hora, mas tudo bem.

Assenti diversas vezes, ainda atordoado. Meus olhos disparando por todos os lados, como se procurassem algo.

— Onde...

— Onde está? – Ela completou minha pergunta.

Assenti novamente, sem conseguir elaborar alguma frase completa.

— É sobre isso que eu quero falar, essa é a pior parte.

Havia mais? Há pior parte do que esconder isso de mim por anos?

Neguei com a cabeça.

— Não sei se quero saber. Por que está me contando agora? Por que bem agora? Porra Bella isso...isso é cruel. Você não tinha esse direito! – Minha voz subiu duas oitava conforme eu falava, gesticulando desesperado.

Meu corpo todo suava, toda a decoração em madeira da casa de repente tornou o ambiente ainda mais quente que o comum, os movimentos me deixavam tonto, tudo era um borrão.

— Edward, eu sei, mas, por favor, me ouça primeiro! Eu preciso de sua ajuda!

— Precisa de minha ajuda!? Para que agora!? Que inferno, o que mais você quer?

Ela soluçou baixinho, mas não liguei. Não nesse momento em que minha mente estava enevoada. Não sabia exatamente o que se estava se passava comigo, quais emoções estavam no controle. Tudo era confuso e incerto.

Levantei do sofá, não conseguia mais ficar parado então me movi de um lado ao outro pela sala, minhas mãos ainda arrancando meus cabelos, meu couro cabeludo latejava.

— Edward, eles foram tirados de mim...

— ELES? – Gritei sem conseguir me conter.

— Lembra que eu disse que havia duas vítimas nessa história? Então...eu tive dois...

Finalmente a olhei, meio enojado com toda aquela história e com Isabella por ter escondido isso de mim. Logo de mim.

Ela estava encolhida no sofá, abraçando seus joelhos, o rosto vermelho lavado em lágrimas me fitando apreensivamente, esperando meu próximo movimento.

— Isso é absurdo – Foi a única coisa que lhe disse.

— Edward-

— Onde estão? – A cortei rispidamente.

Isabella hesitou.

— ONDE ESTÃO? – Gritei quando não obtive resposta.

Ela se encolheu com meu tom.

— Você já os conhece – Isabella fungou.

— Como? – Perguntei pensando ter ouvido errado.

— Edward, eles estão com Kate. Seus primos são seus filhos. Dimitri e Noah são seus filhos.


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Notas finais do capítulo

Studio Ghibli*: É um estúdio japonês famoso no mundo todo por produzir animes.

FOGO NO PARQUINHOOOO

Bom, até semana que vem rsss



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