De volta para você escrita por Bhabie


Capítulo 18
Capítulo 17 - Precisa-se de (outra) Personal Trainer


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu mesma me dei férias de quase 3 meses e respondendo à pergunta que ninguém me fez: Sim, foram ótimas.

Aproveitem...ou não



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779555/chapter/18

PDV Kate

Duas semanas antes

 

O vento gelado se fazia presente e ainda mais forte quando finalmente levantei, no meio do cemitério descampado.

Meus joelhos doíam pelo tempo em que fiquei sobre eles rezando e chorando, mas eu não ligava para isso agora e nem para a terra em minha calça jeans.

A única coisa que importava para mim estava sob aquele chão.

Passei meus dedos levemente sobre a inscrição na pedra oval e cinza.

Eve Andrew Denali

✩Dezembro de 2011 - Maio de 2012

Afastando uma folha seca que o vento trouxe, depositei ali as rosas brancas que eu costumava levar para Eve no dia oito de todo mês, mas nesse abril foi diferente; sempre era diferente quando íamos nos mudar.

Eu a havia visitado há doze dias, mas hoje seria meu último dia no Alabama por um bom tempo, então antes que seguíssemos para o aeroporto, fiz dessa minha última parada.

Era sempre assim quando ela nos encontrava.

No começo tudo era mais fácil, não precisávamos fugir e mantínhamos residência fixa no Alabama, perto da casa dos meus pais e de tio Carlisle, o que ajudou Garrett a conseguir a simpatia dele, lhe rendendo um bom emprego na TelleCullen's.

Isabella nos visitava em todas as datas comemorativas e passava alguns dias de suas férias da faculdade com nós - até o momento em que isso acabou ficando sufocante.

Foi depois do aniversário de quatro anos dos meninos, eu acho, que notei a situação em que estava metida. Isabella me usava para cuidar de seus filhos - que a essa altura já me chamavam de mamãe - enquanto ia às festas da faculdade em outro país. Eu era um apoio que cuidava dos seus frutos indesejados até que eles estivessem grandes o bastante para não darem mais trabalho, então ela os tomaria de mim como quem toma uma peça de roupa que outra pessoa se recusa a devolver.

Então eu comecei a evitá-la.

Primeiro inventei visitas indesejadas de parentes e sempre fazia questão de colocar Edward no meio, pois sabia que ela não discutiria comigo e faria de tudo para não encontrá-lo; depois dizia que as cartas não chegavam, que havia sido roubada e seu número perdido, que não podia vê-la pois estava doente - até o dia em que eu e Garrett nos mudamos sem dizer para ninguém, para não deixarmos pistas.

Por algum tempo consegui viver em paz com minha família no interior de Rhode Island, sem mais cartas, visitas indesejadas, presentes exagerados de aniversários e natal, sem telefonemas todos os dias e sem mais ninguém tocando Noah e Dimitri e os chamando de filhos.

Mas depois de nove meses, recebi meus primos para uma temporada de praia; duas semanas depois disso, enquanto eu fazia compras em um movimentado mercado no centro da cidade, eu a vi.

Escondida entre as prateleiras, senti o pânico me invadindo há medida em que sorrateiramente eu a observava escolher calmamente as verduras. Corri para casa o mais rápido que podia; era época de férias então os meninos estavam em casa com Garrett; eu arrumei nossas malas desesperadamente, dando à Garrett apenas um nome como explicação, o quê ele entendeu perfeitamente, indo me ajudar a guardar as coisas no carro logo em seguida.

Ao passo em que nos afastávamos da casa em que vivemos momentos memoráveis, como os primeiros dentinhos dos meninos caindo e joelhos ralados por caírem quando estavam aprendendo a andar de bicicleta, eu finalmente parei para pensar se isso não era apenas uma coincidência. Talvez ela estivesse ali de férias ou visitando algum conhecido...Não, eu sabia que não era isso, só tinha uma explicação, eu senti isso em minhas entranhas, o desespero em perder meus filhos, de novo.

Eu sempre fazia questão em ir para o mais longe possível de onde estávamos antes. Garrett dizia que era loucura demais, mas nunca dei ouvidos a ele, mesmo ele também tendo perdido Eve, não era a mesma coisa, ele nunca saberia o quanto sofri por carregar um bebê morto de seis meses dentro de mim e não perderia mais ninguém.

Então vendemos a casa e nos mudamos para Califórnia, e depois para o Novo México e depois de volta para o Alabama quando consideramos seguro. Sempre atentos e sabendo que estávamos sendo caçados e vigiados.

Assim foi nossa rotina a qualquer sinal que tínhamos sido encontrados, vivendo como criminosos sem podermos usar redes sociais como pessoas normais ou ir até eventos da minha família que eram o minimamente conhecidas.

Todos os momentos que poderíamos ter tido como uma família normal foram estragados por ela.

Dessa vez não foi diferente.

Quando recebi aquela mensagem cínica dela em meu instragram...foi como se tudo tivesse desabado.

Condenei a mim mesma por ter caído na tentação das redes sociais, mas eu não pude resistir, eu queria uma vida normal, ser uma mãe normal postando fotos dos seus filhos crescendo e de tudo o que eu acho bonito, mas eu não poderia ser.

Não poderia ser porque isso era sobre a segurança dos meus filhos e não sobre mim, então teria que deixar toda minha vaidade de lado para o bem deles.

Assim que respondi a mulher arrogante do outro lado do celular, nossa trama recomeçou. Venda de casa, compra de casa e de passagens para nosso próximos estado – o que foi a parte mais fácil pois já tínhamos um em mente, um lugar onde Carlisle abriria sua nova filial e precisaria de seus homens de confiança lá e Garrett era um deles -, explicações rasas e algumas falsas para nossos conhecidos para que não fossemos rastreados de novo, e a parte mais difícil que eu menos gostava: contar para os meninos e tirá-los da escola. Essa sempre era um sofrimento, eles choravam sobre seus amigos e professores e faziam escândalo, eram apenas duas crianças de sete anos querendo ser duas crianças de sete anos comuns.

As lágrimas agora não eram apenas devido à perda de minha filha, mas também à perda desses momentos. Eu sentia raiva, eu sentia rancor e ódio por Isabella ter tido a chance de ter tudo isso e desperdiçado.

Mas isso não era uma coisa que eu me permitia sentir quando estava nesse lugar. Respirei fundo e empurrei a raiva para o outro lado, eu a deixaria vir quando não estive com Eve ou Noah e Dimitri, eles não mereciam ver esse meu lado.

Apesar de ser primavera, o Alabama não parecia respeitar muito as estações que não fossem o inverno ou o outono, mas naquele momento, o arrepio que passou pelo meu corpo não era devido ao frio; mesmo assim, apertei o casaco com um pouco mais de força contra mim, inspirando profundamente e fechando os olhos a fim de aproveitar a sensação de que havia algo mais comigo do que uma simples pedra com inscrições.

Senti uma mão tocar gentilmente meu ombro e não precisei me virar para saber de quem se tratava.

— Temos que ir, amor.

Assenti enxugando as lágrimas, mas permaneci imóvel.

Garrett agachou, ficando na altura da sepultura, tocando o nome com as pontas dos dedos e suspirando pesadamente.

— Oi lindinha - Ele sussurrou para a pedra - Sua mãe e eu temos que fazer outra viagem, não sabemos quanto tempo vamos ficar sem te visitar.

Soltei um soluço observando a cena que quebraria o coração de qualquer um que o tivesse.

— Saiba que não vamos nos esquecer de você, nunca, mas temos que ir para proteger seus irmãos - Garrett afagou a pedra e assentiu, como se estivesse escutando atentamente por algo que estava apenas em sua mente - Sim lindinha, eu sei, eu sei. Prometo que faremos o possível para voltar o mais rápido possível, mas não precisa se preocupar...Sim, sim, seus irmãos ficarão bem...Isso é uma conversa para adultos, não posso dizer porquê.

Sem conseguir mais ver aquilo, me virei apressadamente para voltar ao carro, mas Garrett me alcançou antes que eu pudesse dar três passos.

— Meu amor, o quê foi? - Ele segurou meu rosto com firmeza para que eu olhasse em seus olhos, mas eu enxergava apenas uma imagem embaçada pelas lágrimas.

— Eu não aguento - A frase saiu como um guincho de dor - Eu não aguento ver você a tratando como se ela estivesse realmente aqui, como se ela estivesse falando com você. Isso só piora tudo!

Meu corpo tremia pelo choro, minha garganta se fechava e minha cabeça doía, mas a pior coisa naquele momento foi ver Garrett conversando com nossa filha morta.

— Eu...eu sempre faço isso quando você não está comigo, é o meu jeito de superar a falta que ela faz, eu não imaginava que te fazia mal - Ele afagou minha bochecha com seu dedão e depois de piscar diversas vezes, conseguir afastar as lágrimas e olhar diretamente no fundo dos seus olhos castanhos escuros, cheios de amor, acolhimento e de dor ao ver meu sofrimento.

— Nada vai trazê-la de volta, Garrett - Balancei a cabeça, fechando os olhos - Eu tirei Eve de nós, eu tirei Eve de você...

— Não! - Garrett me interrompeu bruscamente - Katrina, isso não foi culpa sua, você sabe disso, já tivemos essa conversa antes!

Continuei a negar.

— Olhe para mim! Olhe para mim, meu amor - Abri meus olhos e encontrei sua feição preocupada - Kate...você não sabia. Tudo bem, meu amor.

Voltei a apertar meus olhos, não gostando de encarar Garrett naquele momento.

— Merda de diabetes.

Senti Garrett beijar minha testa e eu me aloquei em seus braços. Ficamos naquela posição por alguns minutos, nós dois abraçados, eu com o rosto grudado em seu peito e seu nariz enterrado em meus cabelos enquanto afagava calmamente minhas costas, em frente ao túmulo de nossa filha.

— Está na hora, o vôo sai daqui à uma hora e meia, precisamos chegar antes – Ele sussurrou, mas não me afastou.

Concordei com um aceno e o soltei, voltando minha atenção ao motivo pelo qual estávamos aqui, dando alguns poucos passos de volta à pedra oval e me agachando.

— Eu te amo – Sussurrei beijando minha mão e a levando até o nome de Eve, sem saber quando teria a oportunidade de fazer isso novamente.

De volta a nossa realidade, passamos na casa dos meus pais para buscarmos os meninos e nos despedirmos.

— A vovó e o vovô são muito chatos, eles nos fazem ficar estudando porque falam que o tio Carlisle fazia isso com o Ed, a Rose e o Jazz e eles foram pra uma faculdade boa, então temos que ser que nem eles – Noah resmungou do banco de trás do carro, depois de acenarmos para meus pais pela janela.

— Deus me livre vocês serem como o Jasper – Garrett murmurou sem tirar os olhos da estrada e eu dei um risinho.

— Tudo bem, agora vocês irão tirar umas férias deles – Disse olhando por cima do meu ombro encontrando um Noah emburrado no banco de trás.

O drama deles já havia passado e tudo que lhes restavam era a aceitação, sabendo que a decisão já estava tomada.

— Para onde vamos mesmo? Eu esqueci o nome do lugar – Dimitri perguntou sem desviar os olhos de seu videogame portátil.

— Phoenix – Respondi voltando a olhar para frente e dando um suspiro – Arizona. É lá que vamos nos refazer.

E dessa vez sem mais bolas foras, redes sociais ou visitas de parentes. Finalmente viveríamos nossas vidas tranquilamente sem Isabella nos perturbando.

 

PDV Bella

Presente

 

Emmett colocou com um baque, todo o bolo de papelada e pastas sobre a mesa à minha frente.

— Isso é tudo o que temos como provas a seu favor.

Assenti sem mudar a expressão, apenas continuando a encarar os papéis.

— Tivemos uma pequena conversa no instagram dela, vou te mandar os prints para você poder acrescentá-los.

Emmett levantou uma sobrancelha.

— Não sabia sobre isso.

— Ninguém sabia, não queria elevar as expectativas de ninguém novamente.

— Bella, é para isso que pagamos Felix, você não precisa fazer o trabalho dele. Tenho certeza que ele sabia sobre essa conta dela, mas não fez alarde algum apenas para conseguir chegar até Katrina sorrateiramente e deixá-la sem saída, você pode ter estragado todo o plano dele apenas para poder usar um pouco de arrogância com Kate.

Ri sem humor para sua fala sem noção.

— Eu só estou cansada de ficar sentada esperando que alguém encontre meus filhos por mim, isso é ridículo, eu não consigo viver assim, ninguém consegue. Todos os dias eu esperava por alguma ligação de Felix para mais atualizações, mas adivinhe só: eu me sinto uma incompetente e uma porcaria de mãe assim.

Bufei. Não que eu já não fosse uma porcaria de mãe.

Emmett suspirou e alcançou minha mão por cima da mesa.

— Eu sei que você já espera por isso há muito tempo, mas agora estamos perto de Katrina então temos que cercá-la para que ela não fuja mais uma vez com os meninos e para isso acontecer é preciso paciência, Bella.

Ver Emmett tão maduro e sendo o lado consciente era raro, eu sabia que meu irmão era protetor quando o assunto era eu, Alice e Dolly e receber o apoio dele nesse momento era crucial para que eu não enlouquecesse. Eu sabia que ele assumia uma postura paterna dentro de casa quando as coisas apertavam, eu via muito de Charlie nele, desde o jeito como tratava os namorados meus e de Alice até em como franzia o cenho e colocava as mãos na cintura quando estava tentando decidir algo; isso me fazia melancólica, mas era bom.

Apertei sua mão, assentindo para sua fala. Seria difícil ter Kate tão perto mas não poder fazer nada contra ela, por enquanto.

— Tudo bem, tentarei me controlar. O quê você tem aí pra mim? – Indiquei os papéis com o queixo.

— Fotos suas grávida, com os meninos no hospital e em todas as datas comemorativas até 2016, que foi quando a loira doida sumiu, prints de conversas e ameaças dela e suas também porque ninguém é de ferro, fotos dela com os meninos nos outros estados, relatos e testemunho de todos que te viram grávida, incluindo eu, Dolly e Alice e seu documento falso com o nome de Katrina...Nossa não sei como você topou isso, é uma loucura.

— Caramba, é muita coisa – Levantei as sobrancelhas surpresa – Você fez um ótimo trabalho. Isso basta, não é?

Emmett torceu a boca o que me deixou preocupada de imediato.

— Ela tem todos os documentos que dizem que ela é a responsável legal pelos meninos então isso será um pouco mais difícil do que parece. Tecnicamente...ela realmente é a mãe deles e você é tipo uma stalker que não os deixa em paz, eu vou ter que trabalhar duro para quando isso for a julgamento, ela não te processe por invasão de privacidade e propriedade. Tipo, se isso for comprovado você seria marcada, todos ao seu redor receberiam um comunicado dizendo que você tem um parafuso a menos e cara, isso não é nenhum pouco legal.

Arregalei meus olhos.

— Emmett, nosso pai não ralou a vida toda para te mandar para uma faculdade boa à toa então honre esse diploma e não deixe sua irmãzinha ser taxada como perseguidora maluca! – Chacoalhei seus ombros desesperada.

— Ta bom, ta bom, me solta!

Larguei seus ombros e me arrumei em minha cadeira, ao mesmo temo em que me lembrava de um detalhe.

— Emmett, ela me disse que se mudaria o mais rápido possível, eu posso perdê-la de vista de novo. Como vamos fazer sobre isso!?

— Acontece, mocinha, que eu já esperava isso e eu tenho dois fatores surpresa. Primeiro: Para se mudar é preciso dinheiro e para ter dinheiro para ir para outra casa, é preciso vender a antiga casa porque ninguém em sã consciência, mesmo sendo rico, pagaria dois impostos, então talvez eu tenha espalhado um boato bem feito sobre assassinatos, sequestros, roubos e serial killers nas redondezas do bairro dela – Ele cruzou os braços dando um sorrisinho presunçoso de lado.

— O quê? Quando fez isso?

— Assim que ligou para Dolly avisando que ia até a casa de Kate e mandou o endereço para ela com medo de ser morta lá dentro.

— Isso não é verdade, eu não estava com medo, foi apenas uma informação...que eu dei sem pedirem...por segurança – O imitei cruzando os braços e Emmett me deu um olhar que claramente dizia “Sei...”— Tá, que seja, como o senhor espertinho fez isso?

— Eu tava louco para que você me perguntasse isso! – Ele se remexeu batendo sua grande barriga na mesa e a movendo um pouco enquanto caçava desajeitado o celular no bolso de trás.

Ele clicou em algumas coisas até abrir um grande sorriso para a tela e a virar em minha direção.

Peguei o celular de sua mão e comecei a ler o pequeno texto postado no facebook, em um grupo de moradores local.

“Hoje faz exatamente 55 anos do massacre do Arizona! Por muito tempo isso foi escondido da mídia e poucas pessoas sabem, mas há cinco décadas atrás, perto do condomínio Sienna, conhecido pelo alto padrão, foram encontrados catorze corpos dilacerados. Na época, as famílias das vítimas tentaram dar várias entrevistas, mas todos os canais de televisão negaram. Muitos dizem que foi pelo medo que sentiam do filho do dono do condomínio, um influente homem, já que ele era o principal suspeito e todas as vítimas eram moradores do local. Alguns anos depois, quando o suspeito morreu de overdose na casa que mantinha nesse mesmo condomínio, foram encontrados algumas partes de corpos em sua geladeira, mas não se sabe a quem pertenciam. Veja as fotos:”

Rolei para baixo me deparando com várias tripas, corpos em decomposição e pernas congeladas.

— Argh! Que nojo que nojo que nojo! Que horror Emmett! Onde conseguiu essas fotos? – Devolvi o celular para ele, ainda com uma careta de repulsa.

— Peguei de casos antigos na internet, é bem fácil fazer as pessoas acreditarem nessas coisas, só foi preciso fotos em preto e branco e uma data bem longe. Isso já tem milhares de curtidas e também postei no twitter. As pessoas já estão comentando e talvez eu tenha criado mais três contas de senhoras diferentes para que comentassem na publicação dizendo que se lembram do caso, tudo para deixar a coisa mais real. E adivinhe só: As outras pessoas estão dizendo que lembram também! Histeria coletiva*, minha querida, nunca falha. Vai demorar um tempinho até descobrirem que é mentira.

— Genial. E qual é o segundo fator surpresa?

— Bom, eu consegui por Felix todas as informações sobre Kate, como todo o histórico de vida dela, documentos pessoais e placa de carro, e eu tenho um grande amigo na prefeitura; acontece que ele me devia um favorzão então eu e mais três advogados a investigamos durante horas à procura de algum deslize em alguma lei que ela tenha cometido...e encontramos.

— Não brinca! O que ela fez?

— Bom, ontem enquanto fugia de você, ela passou em um farol vermelho e estava três quilômetros acima do limite permitido. Isso normalmente não daria em nada além de uma pequena multa, mas...- Ele prolongou a última palavra dando um toque de suspense – Comprovamos através de testemunhas que tinham duas crianças no carro, além de termos pego uma foto tirada pelo radar no exato momento e cara, aqui eles levam segurança infantil muito a sério.

— Então isso quer dizer que...

— Que Katrina não pode sair do estado ou da cidade até ter a audiência que acontecerá daqui a...- Ele revirou algumas folhas até encontrar a informação – um mês, tempo suficiente para metermos outro processo nela, mas duvido que desse ela escape com fiança.

Soltei todo o ar que não tinha notado que prendia, eu me sentia mais leve do que não me sentia há anos, não conseguia nem acreditar que isso finalmente estava caminhando para o fim.

Levei minhas mãos até minha boca, ainda sem conseguir esboçar nenhuma reação direito. Senti meus olhos ficarem cada vez mais sensíveis até as lágrimas que eu prendia, impossibilitando que caíssem, atrapalhassem minha visão.

— Ah não Bella, não chora por favor, vai dar tudo certo – Emmett tentou me tranquilizar com a voz meio desesperada.

— Não é isso – As palavras saíram estranguladas – É que pela primeira vez eu sinto que isso vai dar certo, eu sei que não posso elevar minhas expectativas, mas eu não posso evitar – Meu tom diminuiu gradativamente até eu terminar a frase com um fio de voz, engasgada.

Eu tinha consciência de que parecia talvez um pouco patética, abanando meu rosto para secar as lágrimas ainda acumuladas em meus olhos e mostrando para Emmett que aquilo não era nada, apenas uma súbita emoção.

Ele me assistia preocupado de sua cadeira, mas eu conseguia enxergar um brilho nele -, meu irmão estava tão eufórico quanto eu, mas naquele momento ele havia assumido sua postura profissional.

Emmett abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido pelo barulho da porta da frente que se abriu com força.

— Chegueeeeei família!

Eu e Emmett trocamos um olhar confuso.

— Ah não, não pode ser – Ele gemeu.

— Ah, pode ser sim irmãozinho – Alice cantarolou aparecendo na porta da sala de jantar.

— ALICE!- Gritei e corri em sua direção, a esmagando contra mim.

Ela retribuiu de bom grado meu abraço, nos balançando de um lado para o outro.

— Ok, já chega, eu te amo, mas não quero ficar a vida toda espremida com a cara nos seus peitos – Ela se afastou delicadamente.

Eu ri eufórica, não via Alice há meses por conta da sua faculdade no Texas e não esperava vê-la antes do fim do semestre.

— Caramba, você diminuiu? – Eu a medi tentando me lembrar se aquela era sua altura correta.

Alice batia em meus ombros, eu e Emmett sempre brincávamos sobre a sua altura, o que a fazia correr atrás de nós como um duende bravo. Estranhei a roupa que ela usava, eram diferentes das fotos que havíamos recebido dela há poucas semanas. Ela usava uma enorme argola com fitas coloridas amarradas por toda sua extensão, um cropped branco com a palavra “sugar” em roxo neon, uma apertada saia que ia até o meio de suas coxas que provavelmente seria conjunto do cropped e uma estranha jaqueta transparente que não parecia aquecer em nada e que talvez fosse de plástico.

Levantei uma sobrancelha em sua direção, a questionando silenciosamente sobre suas novas roupas.

— Não, não diminui; e respondendo à sua pergunta silenciosa: é, eu mudei de novo – ela encolheu os ombros.

— E o que você é agora? – Perguntei desconfiada.

— Não é o que eu sou agora, Isabella, é o que eu sempre fui - Não pude evitar revirar meus olhos para sua fala brega, mas ela me ignorou – Recentemente eu fui a uma festa LGBTQ+ na faculdade e me descobri...

— Se descobriu?

— Sim, me descobri como salvadora dessa minoria tão oprimida socialmente e decidi que de agora em diante lutarei para eles viverem em paz.

— E vai fazer isso sozinha? – Apertei meus lábios reprimindo um riso.

— Isso! Já comecei vendendo meu ingresso que você comprou para mim para o show do GOT7 e doei o dinheiro para um gay.

— O quê!? Aquilo foi muito caro! – Respirei fundo para conter minha vontade de dar um tapa na cara da minha irmã - Alice, acho que não é bem assim que funciona...eles não precisam de uma salvadora, ainda mais uma que, você sabe, que não faz parte da comunidade.

— Eu faço parte da comunidade!

— Alice, eu quis dizer que você é hétero, não representa a comunidade LGBT.

— Deixa Isabella, deixa. Vim o caminho todo do aeroporto até aqui tentando colocar nessa cabeça de vento o mínimo de conhecimento sobre o assunto, mas a doidinha aí se recusa a ver que está equivocada! – Dolly entrou na sala de jantar lançando olhares mortais para Alice e jogou a chave no carro sobre a mesa, se sentando ao meu lado de braços cruzados.

— E aí baixinha insuportável, não vai me dar oi não? – Emmett se pronunciou parecendo ofendido.

Alice fingiu um suspiro, mas logo sorriu e correu para abraçar Emmett.

— Caramba, você emagreceu! Está com quanto agora? Cento de oitenta quilos?

— É, Tânia está me ajudando muito – Emmett...corou levemente?

Alice levantou uma sobrancelha maliciosamente e nosso irmão sacudiu a cabeça como se quisesse espantar algum pensamento, ele limpou a garganta e mudou de assunto.

— Mas então, o que faz aqui tão cedo?

— Fiquei sabendo o que rolou com a furacão.

— Furacão?

— É, sabe, Katrina*, destruir tudo por onde passa, separar famílias, essas coisas que a Kate e o furacão têm em comum – Alice explicou como se fosse óbvio.

— Como eu nunca pensei nisso antes? Genial – Murmurei para eu mesma.

— Enfim, Dolly me ligou contando de tudo e eu não poderia deixar de vir, você sabe que temos tanto ódio dela quanto você então assim que soube comprei as passagens e combinei com Dolly dela ir me buscar no aeroporto porque eu ainda estou sem carteira por causa daquela historinha besta de que eu invadi um parquinho; aliás, vocês têm que me deixar mais por dentro das coisas! Ainda bem que Dolly é fofoqueira.

— Mas e sua faculdade? – Lancei antes que Alice recuperasse o fôlego e voltasse a tagarelar.

— Tranquei! Só volto quando isso estiver resolvido e eu poder abraçar meus sobrinhos!

— Alice você está no último semestre!

— Fica tranquila, ok? Agora temos que focar em como vamos matar a Kate, depois vocês me esculacham!

— Não vamos matá-la, Alice! – Dolly a repreendeu.

— Mas que droga! Eu assisti todas as temporadas de Dexter e Bates Motel para nada!? Pensem bem, eu sei como fazer parecer natural.

— Cala a boca, otária, antes de vocês chegarem fazendo barulho eu e Isabella estávamos agindo feito adultos – Emmett cuspiu e Alice contorceu a cara e mexeu a boca o imitando, mas ficou quieta.

— Como estávamos dizendo: Katrina não poderá ir muito longe por algum tempo, mas temos que tomar cuidado, pois não sabemos que estratégias ela usará. Sabemos que ela tem a família Cullen a apoiando e duvido que Carlisle Cullen irá querer uma polemica nas costas de sua sobrinha que é casada com um de seus maiores funcionários. Existe muita coisa em jogo aqui, é claro que o principal para nós são Noah e Dimitri, mas se isso vazar de alguma forma irá virar um espetáculo e tudo que precisamos no momento são de holofotes e a ira de Carlisle sobre nós. Cara, eu sou rico, mas Carlisle...- Emmett não completou a frase.

Um arrepio correu por minha espinha ao me recordar daquele homem. Eu nunca o conheci pessoalmente, apenas por pesquisas na internet e relatos macabros que Edward contava para mim sobre sua infância e adolescência. Eu certamente não queria meus filhos com pessoas como ele e sua esposa.

E essa foi uma das causas de eu ter ido embora.

— E o que você sugere que façamos? – A voz de Dolly me despertou de meu breve devaneio.

— Não comentem com ninguém sobre o caso, ninguém mesmo. Duvido que Katrina vá comentar com alguém sobre isso, então estou tranquilo quanto à parte dela.

— Certo, ninguém abrirá a boca – Prometi lançando um olhar de aviso à Alice que assentiu rapidamente.

— Outra coisa...isso é mais arriscado mas serial essencial, mas...

— Mas o quê, Emmett? Diz logo! – O apressei nervosa.

— ...mas não sei se você irá topar – Ele completou.

Indiquei para que ele continuasse e Emmett suspirou pesadamente antes de continuar.

— Precisamos de informações de dentro: Quais advogados ela contratará, qual o próximo lugar que pretende se mudar e essas coisas. Então Bella, você terá que se aproximar de Edward para conseguir isso.

— O QUÊ?

— Eu sei que é loucura, mas pense que estaríamos muitos passos à frente dela!

— Não Emmett, não – Balancei e cabeça.

— Bella, por favor me ouça: Isso faria toda a diferença, nós seríamos invencíveis com isso! – Ele juntou as mãos na frente de seu rosto, praticamente implorando.

— Eu não o usarei desse jeito! Seria egocêntrico e desonesto!

— Bella...

— Vocês concordam com isso!? – Me virei abruptamente para Alice e Dolly que nos assistiam em silêncio.

Dolly franziu o cenho e os lábios ao mesmo tempo antes de começar a falar.

— Querida, pense há quanto tempo você está esperando para recuperar seus meninos, talvez nunca tenha essa chance de novo...

— Não! – Praticamente gritei e encarei minha irmã – Alice? O que acha sobre isso?

Ela engoliu em seco.

— Acho que essa é uma ótima ideia e que daria certo.

— Mas que droga! – Bati meu punho fortemente contra a mesa.

Encarei todos ali com raiva. Eles estavam com a cabeça baixa encarando seus colos, mas sabia que podiam sentir meu duro olhar.

— Vocês não entendem! Eu não posso fazer isso! – Minha voz saiu desafinada devido à carga de emoções.

— Bella...

— Não! – Cortei Dolly – Olha, eu fui péssima, uma pessoas horrível com ele e não quero que ele passe por algo iguais de novo. Edward é uma pessoa boa e não merece ser usado! Aquelas crianças, que são meus filhos, seus bisnetos e sobrinhos, são filhos de Edward tanto quanto são meus! Há oito anos eu fui cuzona o bastante para dar a luz à estas crianças sem ter a capacidade de o informar. E um dia eu pretendo fazer isso e se eu for fazer isso, eu irei fazer essa porra direito!

— Ninguém está pedindo para enganá-lo! Apenas se reaproxime e consiga algumas informações! – Alice levantou a voz.

— Não, não pode ser assim! Porra, ele trata os próprios filhos como se fossem seus sobrinhos! Ele interage com eles, brinca com eles e não sabe da porra da verdade! Conseguem imaginar isso!? Ele vive uma mentira e nem mesmo sabe disso! – Funguei e tomei fôlego para continuar – Eu tirei isso dele, a chance de viver isso como um pai, e se eu recomeçar uma relação com ele por uma mentira...eu não me perdoaria.

Fechei os olhos quando terminei, sentindo novamente aquela vontade de chorar.

A sala estava totalmente em silêncio, com todos ainda encarando seus colos e mãos.

— Eu sou responsável por isso, por favor não o metam na história – Quebrei o silêncio e todos ergueram os rostos para me olharem e acenarem. Notei que Dolly tinha rastros de lágrimas por suas bochechas, mas não me permiti encarar por muito tempo, me levantando de meu assento logo em seguida – Eu vou ir deitar, terminamos de resolver os detalhes depois. Boa noite.

Segui para a saída da sala de jantar, mas antes que pudesse passar pela porta, parei.

— E...obrigada a todos, por estarem aqui por mim me ajudando. Emm, você fez um ótimo trabalho – Ele me lançou um meio sorriso cansado – Allie, Dolly, eu sei que poderiam estar fazendo outras coisas agora então...obrigada.

Seus sorrisos fracos eram o espelho do de Emmett.

— Boa noite – murmurei e dessa vez, todos responderam.

 

Estava sendo uma noite inquietante, nem sequer passou pela minha cabeça a possibilidade de dormir.

Minha mente estava à mil criando centenas de situações, umas realistas e outras que destoavam da realidade. Criei cenários onde Kate fugia de novo, onde eu simplesmente pegava meu filhos e ia embora com eles e onde tudo dava certo.

Imaginei como seria minha vida depois de tudo ter finalmente dado certo e outros...bem, outros onde tudo dava errado. Normalmente as características irreais estavam nesses, eu costumava exagerar quando era pessimista.

Fiz planos focando nas fantasias boas. Eles incluíam viagens divertidas, contar histórias para dormir, jogar videogames, ensiná-los as canções que meu pai cantava para mim e passeios em família...o que me levou a lembrar que faltava alguém em meus sonhos.

“Lembrar” não era bem a palavra, eu o estava afastando de tudo isso por outra razão: Isso me assustava, enfrentá-lo e contar a verdade me assustava tanto que apenas de pensar na possibilidade senti meu estômago revirar dolorosamente.

É claro que quando isso acontecesse – e se acontecesse -, eu não esperava que retomássemos nossos sentimentos e nos tornássemos uma família feliz; sete anos se passaram, nenhum de nós éramos mais os dois adolescentes calouros que foram se envolvendo por meses até nos apaixonarmos e por mais que doesse – e muito, a dor no meu peito se igualava com a da barriga, mas de uma certa forma, eu preferia mil vezes minhas tripas se contorcendo de ansiedade dentro de mim -, eu tinha que colocar minha máscara de adulta emocionalmente bem resolvida e encarar a situação.

Nada nunca voltaria a ser como antes, eu sabia, mas diria a verdade para Edward e daria à ele a chance de reconhecer Noah e Dimitri como seus filhos, mesmo que algo como visitas apenas aos finais de semana. Eu queria meus filhos, mas não poderia prometer um pai, e isso era cruel. Eu os tiraria de Garrett para dar-lhes algo incerto.

Sacudi minha cabeça. Isso eu resolveria depois, bem depois. Primeiro tinha que conseguir meus meninos de volta.

Passei mais duas horas inquieta, até uma luz se acender em minha mente.

Aquilo não resolveria minha ansiedade, mas resolveria a questão de Emmett quanto a um informante.

Pesquisei o nome que queria no Google e logo diversas notícias e fotos apareceram. Procurei um pouco mais até que encontrei suas redes sociais e contato.

Sorrindo, ocultei minha foto, salvei seu número profissional e mandei uma mensagem.

“Boa noite, meu nome é Emmett McCarty e eu soube do seu trabalho através de indicação de uma amiga do Alabama. Acontece que fiquei sabendo que está aqui no Arizona e eu preciso urgentemente de uma personal trainer devido minhas condições. A senhorita estaria disponível?”

Ri com o sobrenome inventado que dei ao meu irmão, mantendo a piada interna do “Mc Emmett”. Bloqueei a tela sabendo que por estar muito tarde, ela não responderia, mas assim que o coloquei sobre a estante, ele vibrou. O peguei apressadamente.

“Boa noite senhor Emmett. Fico feliz em saber sobre a indicação, mas agora infelizmente, estou procurando por algo mais concentro e que me dê uma maior estabilidade financeira. Sinto muito.”

Droga. Teria de apelar e Emmett ficaria uma fera comigo.

Tem certeza? Por ser um homem muito grande eu pagaria o triplo do valor usual”

A resposta veio com um piscar de olhos.

Eu aceito!”

Sorrindo tanto quanto podia, marquei com ela o horário e dia que poderia vir fazer a minha avaliação – no caso, a avaliação de Emmett.

Eu não poderia e nem queria enganar Edward, mas eu não hesitaria em fazer isso com Rosalie.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Histeria coletiva é um surto onde as pessoas começam a apresentar os mesmos sintomas histéricos ao mesmo tempo, podendo lembrar-se de fatos que não ocorreram realmente, mas que depois de noticiados, se espalha causando pânico.

*O Furacão Katrina atingiu Nova Orleans (EUA) em 2005, causando 1836 mortes. Ele atingiu a categoria 3 e foi um dos três furacões mais mortíferos do mundo.

Próximo capítulo tem vários K's de interação Beward. Fiquem ligados.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "De volta para você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.