Vozes dos Ancestrais escrita por Fanny Tanlakian


Capítulo 3
Carvalho Branco


Notas iniciais do capítulo

Oie mais um capítulo!!
Boa leitura!!
Obrigado a quem comenta e acompanha :)



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Ela acordou com tudo girando sentia sua cabeça doer, estava na ponta quase caindo da cama. Levantou olhando a janela, não tinha mais nada lá. Abriu o vidro para averiguar melhor, mas tinha apenas folhas secas, encara o teto talvez teria algum sótão. Vai no banheiro lavando seu rosto com a água fria, depois trocou de roupa rapidamente. Na cozinha Sally comia ovos mexidos enquanto lia o jornal, quando a viu pegou um prato servindo Beatrice.

As duas comerem em silêncio até srta. Death chegar, com seus costumeiros trajes brancos. Observou ela encher o copo de café e depois se sentar ao seu lado.

— Você tem aula hoje?

— Sim, durante a tarde.

— Ótimo nós podemos então sairmos.

— Ah...... claro.

— Se forem ir mesmo vou dar uma lista para o mercado.

— Compras é tão chato, Bob ou Mário pode fazer isso não?

— Estão ocupados.

A enfermeira bufa contrariada mas depois sorri bebendo o líquido quente num só gole. Beatrice tinha comido pouco, praticamente não mexeu no prato, os ovos amarelos eram chamativos e o cheiro estava bom. Contudo esta somente pensava no que ouviu na noite anterior, a letra daquela música ainda persistia na sua mente.

— Irei ver minha avó - disse ela de repente.

— Talvez esteja dormindo - fala srta. Death olhando o relógio no pulso.

A mulher vai assim mesmo, sobe os degraus depressa e anda sem olhar para outro lugar que fosse o quarto no fim do corredor. Parou diante da porta, após alguns segundos ali resolve bater. Ninguém atende, lembra então o fato da senhora ser cadeirante e se sente idiota por estar esperando que ela atenda. Abre devagar entrando no cômodo nas pontas dos pés, a velha tinha acordado já, lia um livro de capa grossa vermelha.

— Ah, bom dia. Precisa de alguma coisa?

— Garota sente aqui.

Ela se acomodou onde foi instruída, a senhora mostrou algumas linhas escritas em latim.

— Vê essa árvore, é um carvalho branco, Quercus petraea. Tem mais de duzentos anos, ajudou muito nossos ancestrais. Os antigos sabiam reconhecer que essa planta foi dada pela Mãe Terra. As plantações eram férteis, alimentos tinha de sobra, todos eram saudáveis. Mas então, começaram a corromper suas almas. Quando alguns não entendiam tamanho poder da natureza queimavam aquelas que apenas tinham um dom especial.

— Está falando das bruxas?

— Mulheres poderosas andavam por essas terras menina. Ainda há muito ressentimento.

— Como assim?

A madame vira uma página mostrando agora outro texto onde tinha a gravura da árvore enorme porém seca, seus galhos retorcidos extensos pareciam formar garras.

— Tudo que é bom tem fim. Mãe Terra se zangou por tolos punirem suas filhas. Secou nossa preciosa fonte de bondade e caimos nesse abismo chamado sociedade.

— Caçadores, foram eles que julgavam bruxas.

— Nem tudo está nos livros menina, procure sempre saber a verdade.

— Ontem ouvi você gritar - diz ela tentando se lembrar - era ...... ah, povo de Calalunh eu sua rainha estou aqui, venham até mim. O que isso significa?

A outra franzi suas sobrancelhas desconhecendo aquilo, nesse instante Samantha entra com uma cara de entediada característica dela, sempre mascando algum chiclete. Ela levanta num susto, tudo esperava naquela casa.

— Srta. Death está aguardando você lá fora.

— Já vou, mas antes - falou se virando para sua avó - Poderia me emprestar esse livro?

— Garota ele é seu. Pertence sempre a primogênita O' Neil.

— Sério? Ah...... obrigada.

Beatrice guardou o presente na bolsa e depois desceu até onde a mulher estava na entrada.

As duas caminham observando aquela vizinhança, tudo era muito calmo, como o casarão ficava afastado das outras residências passavam por um trecho da floresta. Árvores grandiosas constituía uma mata fechada, algo a atraía naquele local. Parou diante do alto pinheiro, o vento faziam as folhas balançarem além de mexer nos seus cabelos.

Uma mulher vestida com roupas vermelhas aparece, esta se agacha e da boca saem cobras negras, conforme os ofídios saíam a vegetação em volta morria. Paralisada começa ir naquela direção, porém a enfermeira bate em seu ombro e ela sai da transe.

— Está tudo bem?

— Sim, eu...... por favor diga que também vê essas coisas?

— Essa floresta eram onde aconteciam os rituais, então acho que é normal ter visões esquisitas - disse a outra puxando.

— Minha avó me deu um livro escrito todo em latim. 

— Boa sorte na tradução - disse rindo.

— Em cima dos nossos quartos tem alguma coisa?

— Acho que um sótão bem empoeirado.

— Ontem vi um cadáver na minha janela e hoje tinha sumido, não sei como mas acho que pode ter despencado e estar nas redondezas da casa.

— Se tiver procuramos depois ou Bob já deve ter encontrado.

— Você fala isso com tranquilidade.

— Aquele casarão está ali desde que os imigrantes ingleses vieram para cá, mortos não deve faltar naquelas terras.

Entraram no pequeno mercado em silêncio, a enfermeira indicava assunto encerrado. O recepcionista fazia a caixa registradora de bateria enquanto ouvia sua música no headfone azul escuro. Elas andaram vendo os enlatados nas prateleiras, Beatrice pegou uma embalagem de molho de tomate, a morena estava mais preocupada em achar algo no refrigerador.

Ela sente seu celular vibrar no bolso, atende ouvindo a voz da mãe.

— Oi, desculpa não ter ligado antes - falou atendendo.

Com tudo que houve até esqueci de dar notícias para minha família, pensou.

— Fiquei preocupada minha filha, como foi a viagem?

— Ah.... bem.

— E sua avó?

— Ela é...... peculiar.

— Porque diz isso?

— Tudo nesse lugar, hã..... é diferente.

— Bea talvez esteja apenas estranhando, mas qualquer coisa nos comunique.

— Sim. Ah o pai está em casa?

— Não querida ele trabalha nesse horário.

— Verdade, claro.

— Está bem mesmo?

— Não se preocupe comigo.

Desliga o celular vendo srta. Death se aproximar segurando vários pacotes de muitas coisas diferentes jogando tudo na cesta. Olha para a lista revendo cada item quando finaliza da um suspiro satisfeita. Se encaminham para o caixa, aguardaram na pequena fila, a psicóloga enxerga seu reflexo no vidro da máquina de doces. Passa as mãos nos cabelos levemente enrolados, notava encaradas disfarçadas na direção da mulher ao lado, via malícia nos olhos dos homens que fitavam os vários atributos da enfermeira.

— Eai Jake!

— Olá srta. Death, como está a Samantha?

— Não se acha muito velho para ela?

— O que?! Eu sou um adolescente ainda viu!

— Tá com cara que acabou de sair das fraldas mesmo.

— Ué agora me acha nov..... ah oi.

— O-oi.

— Esqueci de apresentar, é a neta da madame.

— Caramba aquela vel....., digo senhora tem família?

— Sim, teve três filhos na verdade e um deles é meu pai.

— Seja bem vinda então.

— Obrigada.

Pagam e vão embora, Beatrice já voltava para casa mas a outra puxa ela no lado contrário. As duas vão na direção de um parque grande onde tinha várias pessoas fazendo caminhada e algumas crianças brincando. A enfermeira para numa enorme árvore um pouco afastada cercada por inúmeros campos de flores. Sentam na raiz da planta apoiadas no tronco bem espesso.

— Aqui é bem bonito.

— Sempre venho aqui.

— Sabe aquelas coisas durante a noite todos ouvem né?

— Sim.

— E não se assustam?

— Bea se seguir as regras não precisa temer, eu as fiz para isso.

— Foi você?!

— São pequenas instruções de sobrevivência. Tem outras na verdade mas aquelas serve para ficar vivo.

— Entendi.

Srta. Death enrolava os dedos nos cabelos longos, se virou para ela seus olhos castanhos brilhavam.

— Desde quando se mudou para lá?

— Faz alguns anos, assim que Ellen foi embora.

— Quem é essa?

— A irmã da Samantha.

— Que tipo de coisas já viu naquela casa?

— Muitas. Por exemplo, toda manhã a geleia na geladeira sempre está vazia por mais que eu troque.

— Está me zoando?

— Não, é sério - diz se segurando entretanto depois explode numa risada.

A mulher levanta puxando Beatrice, após isso correm entre as flores, as cores passavam rápidas pareciam um enorme arco-íris. Srta. Death passa a não na cintura da psicóloga e começam a dançar lentamente, dão rodopios dando sorrisos. Sentiam o sol tocar em suas peles causando uma leve cócegas.

Ela tropeça na morena e caem como se estivessem embriagadas, ao lado uma da outra observavam a vastidão de formas florais.

— Você é maluca sabia - exprimiu a psicologa gargalhando.

— Eu sei.

— Minha aula! - fala se levantando repentinamente.

— Relaxa não deve estar na hora - diz próxima dela a ponto de sentir sua respiração.

— Preciso ir - expressou agitada.

 

Iria embora porém fica abismada olhando o chão perto da árvore, várias cobras mortas com os corpos abertos, estavam espalhadas na grama e escrito na casca em vermelho ''Viva à Calalunh!''. Uma multidão formava ao redor, moscas andavam pelas carnes mal cheirosas,  a enfermeira chega ao seu lado enojada.

Dessa vez é real, todos estão vendo..... porque isso me persegue?, pensava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)



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