Caged escrita por Wyvern


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, esta é a minha primeira fanfic, então, se houver algo de errado ou de amador, não liguem, estou tentando melhorar.



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            Dor.

            Era apenas isso que ele sentia.

            Era a isso que sua existência tinha se resumido.

 

            Podia ouvir as risadas estridentes acima, várias vozes que zombavam dele, ou que apenas clamavam por mais. Não levantou o rosto do chão de tábuas sujas, que levantava uma nuvem de poeira em seus olhos a cada arquejo. Cada parte de seu corpo doía e parecia queimar nos pontos onde as manchas vermelhas começavam a se tornar hematomas arroxeados.

 

            Eu não mereço isso.

 

            Os monstros que o rodeavam não pareciam ligar se ele merecia ou não aquilo. Ele pertencia aos demônios, e tinha que suportar isso. Era apenas um objeto no qual eles podiam descarregar sua raiva e frustração e depois largar de volta em algum canto. Não precisavam se preocupar, ele estava preso a esses demônios, e eles jamais o libertariam. Não enquanto seu sofrimento os entretece.

 

            Pressionou o rosto pálido e marcado contra a madeira, os cabelos escuros, levemente cacheados, caindo sobre a sujeira e os olhos, daquele tom de azul ora claro como um cristal de gelo, ora escuro como uma nuvem de tempestade, firmemente fechados. Estava tentando evitar que aquela onda de desespero o inundasse. Mas fracassou.

 

            Eu pertenço aos demônios. Para sempre.

 

            Sua respiração foi ficando cada vez mais rasa e funda, até que se transformar em soluços baixos. Mesmo com os olhos fechados, lágrimas quentes escorreram por seu rosto, caindo na poeira quase secular abaixo. Queria poder abraçar os ombros e se encolher contra a parede as suas costas, apertando o peito até que aquele vazio eterno o deixasse. Mas seu corpo não reagia.

 

            Os demônios repentinamente ficaram em silêncio.

            Para logo depois explodirem em gargalhadas cruéis.

 

            - Chore o quanto quiser, anjinho. – disse aquela voz fria e tão conhecida. – Seu Deus não vai salvá-lo.

 

            O pior era que ele sabia que era verdade.

            Deus o abandonara a mercê dos demônios.

            Por quê?

 

            Desistiu de tentar conter os soluços. De que adiantava? Já tinha apanhado, não tinha nada a perder. Mas isso só serviu para piorar sua situação. Ouviu um som de irritação, um resmungo ou até um rosnado, antes do golpe. Sentiu a bota afundar entre suas costelas com uma força inumana, causada pela raiva. Alguma coisa se partiu naquele ponto, ou talvez várias, sua ponta óssea rasgando sua carne e pele, projetando-se para fora. Seu ganido de dor foi interrompido quando uma grande quantidade de sangue subiu por sua garganta, sendo cuspida no chão.

 

            Seu corpo tremia, mas de dor, e não de frio, afinal, era uma tarde quente de verão. Sangue escorria por seu queixo fino e pelo rasgo em sua camisa. Tinha quebrado três costelas, no mínimo, mas apenas uma havia tido fratura exposta. Ele podia suportar isso. E, mesmo que não pudesse, Azazel o obrigaria a suportar.

 

            Não ousou abrir os olhos, mas os demônios se calaram mais uma vez, sem desatar a rir depois. Era um silêncio tenso. Então simplesmente sumiram, deixando o ar pesado e parado, como se nunca tivessem existido. Alguma coisa os espantara, mas o que? Então a resposta lhe veio.

 

            O som de um punho batendo na porta.

 

            Azazel rapidamente surgiu à frente da porta, passando as mãos sobre as roupas um pouco amarrotadas. Apesar da eterna expressão de um arrogante sarcasmo, o demônio parecia tão surpreso quanto ele antes ao som. Obviamente desconfiado, não abriu a porta, apenas esticou o pescoço grosso para olhar através do olho mágico, a única coisa recente naquela porta antiga. Menos de um segundo depois, bufou com raiva e marchou de volta para onde ele estava caído.

 

            Discerniu apenas uma palavra, dita em tom baixo e irritado.

            Humanos.

 

            Levantou um pouco os olhos, sem saber o que esperar de Azazel. O demônio também não parecia saber o que fazer, mas ambos sabiam que era melhor para ele fingir ser um humano normal a ficar matando pessoas por xeretarem naquela casa. Claro que um garoto ferido e sangrando no meio da sala não fazia parte da noção dos humanos de “normal”. Os dois pareciam ter chegado a essa conclusão ao mesmo tempo.

 

            Azazel abaixou-se, segurando seus dois pulsos com apenas uma das grandes mãos, e antes que ele pudesse lhe lançar um olhar interrogativo, levantou novamente e seguiu rapidamente pelo corredor. Seu peito parecia prestes a se rasgar ao ter o corpo esticado e sendo arrastado pelo chão, mas mordeu o lábio e nada disse. Qualquer coisa que irritasse o demônio o machucaria mais tarde. Se bem que nunca testara aquela teoria.

 

            E agora com certeza não era uma boa hora.

 

            O corredor era longo, mas pelo menos fora percorrido às pressas, e logo chegaram ao fim dele. Havia apenas uma parede recortada com uma janela firmemente fechada a frente, e uma porta em cada parede dos lados. Ele sabia, mesmo sem que lhe tivessem dito isso, que a porta da esquerda fora usada com depósito para os corpos de humanos que Azazel outrora matava para se divertir. Antes de possuir o anjo.

 

            O demônio abriu a outra porta, a da direita, que dava para uma pequena sala quadrangular, sem janela alguma. A lâmpada que pendia em fios precários estava quebrada fazia anos, fazendo com que a única claridade fosse a que entrava por alguns furos em uma das paredes. Não havia janelas, tampouco móveis. Azazel apertou com mais força seus pulsos magros, fazendo ali mais um hematoma para sua coleção, antes de jogá-lo com força para dentro da sala. A camada de cinco centímetros de poeira amorteceu sua queda, e ele rapidamente ergueu o rosto e dobrou os cotovelos, ignorando outra forte fisgada de dor.

 

- Eu não quero ouvir nada enquanto um mortal estiver aqui. – ordenou Azazel, sua voz grave ecoando pela pequena sala. – Depois eu cuidarei de você, ainda não acabamos.

 

            E, sem esperar resposta, bateu a porta com força. Ele ainda pôde ouvir seus passos pesados rumando para a porta de entrada, fingindo que era um humano que precisava andar para ir a algum lugar. Deixou o rosto cair de novo, com um suspiro profundo. Seu único consolo era que pelo menos conseguira alguns minutos de paz, sozinho no escuro, em vez de rodeado por demônios sádicos.

 

            Duas grandes formas se aproximaram, saindo de suas costas e rasgando com suavidade sua já destruída camisa, e lentamente se fecharam a sua volta. Suas asas, antes de um cinza pálido, quase prateado, estavam enegrecidas, mas suas penas ainda eram macias ao tocar sua pele. Sua expressão suavizou um pouco. Aquela era a única parte de sua natureza divina que Azazel jamais poderia tirar dele.

 

            A parte que fazia Gabriel lembrar-se de que ainda era um anjo.

 


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