— Essa vai ser a sala do clube de vocês. – disse a mulher que vestia um terno. — Ela é uma sala dupla, então terão espaço para treinar em dias chuvosos.

— Incrível! – Julia entra toda alegre na sala.

— Não acredito que ela realmente conseguiu um lugar espaçoso para a gente usar. – disse Moe.

— Obrigada por aceitar coordenar nosso clube, professora Himiko. – disse Erika

Tsubasa Himiko, uma mulher alta de longos cabelos roxos que é professora de música do colégio. Ela havia sido designada para ser a coordenadora do clube das garotas e por isso estava mostrando a elas o local que a diretora havia cedido à elas.

— Não se preocupem com isso. – disse Tsubasa. — Levou bastante tempo para decidirem quem iria coordenar vocês, praticamente todos os professores com menos aulas estavam com muitos clubes ao seu cuidado. Como eu só cuidava do clube de arquearia e do clube de jornalismo, acharam que eu era a melhor opção.

— Desculpa pelo incomodo. – as três dizem.

— Já disse que é sem problemas. – ela sorri. — Agora deem uma limpada no lugar e decorem como quiserem, estarei na sala dos professores  se precisarem.

— Professora, espera um pouco. – Julia corre, puxa Erika e Moe, junta elas com a professora e coloca seu celular no modo câmera frontal. — Vamos tirar uma foto para registrar esse momento!

— Eh? O que?! Não! – a foto foi tirada sem o consentimento da professora. — Pode apagar essa foto agora!

— Enviar... – Tsubasa nota que foi ignorada. — O que disse, professora?

— Escute quando os mais velhos falarem com você! – Julia é acertada na cabeça pela prancheta de Tsubasa. — Para quem enviou essa foto?

— Ai... Mania chata de me baterem com a prancheta. – Julia reclama. — Eu enviei pra Kimiko-chan. Prometi a ela que mandaria mensagens sempre que algo novo sobre o clube acontecesse.

— Kimiko?

— Sim, Kimiko Akatsuki. – Moe responde. — Ela é nossa quarta membra. 

— Akatsuki, ah! – Tsubasa se lembra de quem é. — A garota que faltou na escola por sofrer bullying. Soube que as agressoras confessaram tudo, mas disseram que quando elas foram falar com a professora da turma da Akatsuki, elas estavam todas machucadas e assustadas.

— Eh? – Erika e Moe encaram Julia.

— Que foi? – Julia pergunta como se não soubesse de nada.

— Enfim, eu vou para a sala dos professores, me procurem se precisarem de algo. – Tsubasa sai da sala do clube.

— Ela já foi? – Moe pergunta.

— Sim! – Erika responde ao ir checar. — Certo, Julia-senpai pode se explicar agora.

— Se explicar? O que eu fiz?

— Quem mais além de nós que sabe sobre o caso da Kimiko e teria coragem de agredir alguém à ponto de fazer elas confessarem o que fizeram? – disse Moe.

— Ok... Fui eu. – Julia suspira. — Elas mereciam coisa pior.

— Julia-senpai, você precisa melhorar seu comportamento ou as coisas vão ficar feias para o nosso lado e sua imagem de idol escolar vai desmoronar. – disse Erika.

— Ta bom, eu não faço mais. – Julia diz. — Mas elas não vão contar pra ninguém que eu fiz isso.

— Senão o que? – Moe olha para Julia desconfiada.

— Senão eu mostro pra elas como a gente fazia em Detroit, só que pior... – Julia fala, enquanto força uma voz fofa.

— Senpai, sua delinquente. – disse Erika segurando riso.

— Ah! Isso não importa agora! – disse Julia. — Vamos limpar o lugar logo.

— Sim! – as duas dizem juntas.

...

Após receber a foto enviada por Julia. Kimiko sentiu que estava na hora de perder o seu medo de sair de casa, pois ela já havia conseguido sair do quarto graças as garotas e agora também fazia parte do clube, mesmo que nunca tenha ido para escola.

Ela então tira seu pijama e veste seu uniforme da escola, em seguida ela vai ao banheiro e lava seu rosto. Pegando sua mochila e descendo as escadas, ela para próxima a porta de sua casa.

— Eu vou conseguir... – Kimiko sussurrou. — Eu tenho que conseguir...

Ela dá um passo, mas para.

— Eu não sei se consigo... – seu corpo tremia. — Eu tenho que conseguir...

Ela dá mais dois passos. Já estava de frente para a porta, era só abrir e sair agora.

— Eu preciso... – ela estava ofegante, como se tivesse acabado de participar de uma corrida.  — Elas estão se esforçando... Preciso me esforçar também...

Kimiko ainda muito trêmula coloca sua mão sobre a maçaneta e com dificuldade, aos poucos ela vai abrindo a porta até que todo o lado de fora da sua casa ficasse visível. Porém ela não se sentia bem. Seu corpo pesava, estava com dificuldades de respirar e muito ansiosa. A garotinha queria dar um passo para fora, mas ela não conseguia.

— Akutagawa-senpai... Moriko-senpai... Kurogane-senpai... – Kimiko estava com medo. O mundo a sua frente era sombrio e assustador, ela sentia como pudesse ser devorada há qualquer momento. — Eu preciso chegar...

— Kimi? – Ruiko surge na entrada da casa. — O que está fazendo?

— Mamãe... Eu preciso...

— Ei, não se esforce demais. – a mãe da garota ia começar a ser aproximar, mas ela foi impedida pela filha que pediu para que parasse fazendo um gesto com a mão.

— Eu preciso... Me esforçar... – Kimiko estava quase sentido falta de ar. — Senão... Nunca... Poderei... Ser... Como... Elas...

Kimiko fechou os olhos, cerrou os punhos e tentou respirar fundo. Ela pôs na sua cabeça a imagem das três garotas que lhe inspiraram a tentar ser mais forte e assim conseguiu controlar sua respiração um pouco. Em seguida, ela pôs um de seus pés para fora e então correu em direção à sua mãe e a abraçou.

— Mamãe? É você? – Kimiko pergunta ofegante.

— Sim! – Ruiko emocionada abraça a filha. — Parabéns Kimi, você conseguiu sair de casa!

— Eu consegui? – ela olha ao seu redor. – Eu... Eu consegui!

— Você foi muito forte. – Ruiko a abraça novamente. — Ei, quer dar um passeio? Vamos ver o quanto você consegue ir longe.

— Sim! - Kimiko sorri emocionada.

...

Após passarem a tarde limpando e organizando a nova sala do clube, elas começam a ir para casa assim que o último sinal do colégio toca, que indicava o término das atividades do clube. Cansadas por praticamente passarem o dia limpando.

— Acabou que a gente nem fez nada. – disse Julia desanimada.

— Bem, mesmo que a sala já estivesse limpa... – disse Moe.

— Não íamos ter o que fazer de qualquer forma. – Erika completa.

— Verdade. – Julia concorda. — Devíamos pensar em fazer alguma apresentação nova. Em outro lugar dessa vez.

— Mas aonde poderíamos fazer? – Moe começa a pensar.

— Não faço a menor ideia. – disse Erika incomodada. — Talvez a Kimiko-chan possa ter alguma ideia.

— Verdade. Vou perguntar a ela. – Julia pega seu celular, mas nota que havia duas mensagens de Kimiko. — Ei, venham ver isso!

— O que? – as duas se aproximam da líder.

Uma das mensagens que Kimiko enviou estava com uma imagem anexada. A imagem se tratava dela com sua mãe em um parquinho, enquanto tomava sorvete e a mensagem dizia: “Akutagawa-senpai, eu consegui ser forte para sair de casa, e como recompensa, a mamãe comprou sorvete para mim.”

— Que fofa, parece uma criancinha. – Julia diz toda abobada.

— Será que ela superou o medo dela? – Erika pergunta. — Digo, se ela conseguiu sair, será que consegue vira escola?

— Acredito que sim, mas como ela está com a mãe dela, me pergunto se ela pode vir sozinha. – disse Moe.

— Acho que não, vejam. – disse Julia.

A segunda mensagem que Kimiko havia mandado dizia o seguinte: “Akutagawa-senpai, eu vou para a escola amanhã, mas não sei se consigo ir sozinha. Teria como você vir me buscar? Minha mãe não pode me acompanhar, pois ela vai acabar se atrasando para o trabalho.”

— Entendo... – disse Erika.

— Vai demorar para ela se acostumar a andar sozinha de novo. – disse Moe.

— Que tal se a gente buscar ela juntas? – Julia pergunta. — Não é muito longe daqui, é só eu e a Erika sairmos um pouco mais cedo de casa e como você mora por aqui também fica fácil para você, não é Moe?

— Bem, sim. – Moe responde.

— Então vamos todas juntas? – Erika pergunta.

— Sim! – Julia e Moe concordam.

— Vou falar para ela. – Julia digita em seu celular e envia a mensagem. — Pronto!

— Como ela mora a dez minutos do colégio, acho melhor se a gente se encontrar lá por volta de umas 7h15, que tal? – disse Erika. — Estou consideramos que nós moramos  há 20min de trem daqui.

— Não vejo problemas. – disse Moe. — Eu normalmente saio essa hora de casa, acho que dez minutos mais cedo não vai ser muito problemático.

— Eu... vou me esforçar pela Kimiko-chan... – disse Julia.

— Senpai, é melhor não se atrasar. – disse Erika.

— Não se esqueça que por pouco você não chegou depois da professora. – disse Moe.

— É o fuso horário... – disse Julia.

— Apenas prometa que não vai se atrasar. – as duas começam a encarar Julia muito próximas ao seu rosto.

— Olha, vocês são muito bonitas para se aproximarem demais do rosto de alguém. – Julia disse e isso acabou deixando as garotas coradas. Ela aproveita e sai correndo do colégio. — Vazei!

— Ah! Volte aqui! – Moe gritou.

— Senpai, isso foi trapaça! – Erika gritou.

E dessa vez o dia do trio termina de forma diferente, com Julia fazendo as duas de bobas e sendo perseguida por elas no final, coisa que normalmente aconteceria ao contrário.