나는 볼 수 없던 이야기

Se havia uma coisa na qual Edward indubitavelmente bom, era ler pessoas. Ele as lia e a interpretava tão rapidamente que não demorava a se entendiar e procurar um novo passatempo.

Mas então, ele a conheceu. 

Hae-Ra. 

Uma imigrante fugindo do seu país de origem, hospedada em sua casa, a vista dos seus olhos.

Hae-Ra não fazia perguntas, ainda que não os vissem se alimentar em nenhum momento. Hae-Ra não sorria, apenas curvava-se educadamente sempre que passava por ele e Carlisle. Hae-Ra não questionava o fato de ambos estarem acordados antes da primeira luz da manhã. Hae-Ra não questionou quando o viu entrar pela porta da frente coberto de sangue. 

— Não a perturbe. — Pediu Carlisle gentilmente quando apresentou Hae-Ra a ele. O inglês soando estranho aos ouvidos da garota diminuta. — Hae-Ra é a filha de um velho amigo, está sob minha proteção. — O vampiro continuou, desta vez de forma que a garota pudesse entender. 

— Olá. — Ela curvou-se educadamente. — Me chamo  Mi Hae-Ra, farei o meu melhor para não ser um incômodo. — Ela assentiu solenemente e Edward estreitou os olhos.

Carlisle sorriu, pousando a mão sobre o ombro da garota e ela sorriu — ainda que, Edward notou, desconcertada pelo gesto.

— Este é meu filho, Edward. Ele será um bom amigo para você, Hae-Ra. 

Ela curiosamente o olhou e em seguida, após uma avaliação, sorriu. E Edward soube, diante daquele pequeno sorriso, que Hae-Ra seria alguém muito importante em sua vida. 

Nos dias que se passaram, manteve-se o mais distante da garota, mas todos os dias admirava suas vestes coloridas e diferentes. Mais tarde, aprendeu que os vestidos chamavam-se hambooks, muito diferentes dos vestidos volumosos e decotados que as damas usavam naquele lado do mundo. 

Um dia, movido pela curiosidade, sentou-se ao lado dela e perguntou-lhe sobre a sua história. E Edward nunca imaginou que uma garota tão jovem pudesse ter passado por tantas tragédias, o que o compadeceu profundamente. O inglês de Hae-Ra era consideravelmente ruim e o coreano de Edward também não era dos melhores, no entanto, deram o máximo de si para se entenderem.

Não demorou a se tornarem amigos. Edward, que havia perdido toda a sua vida, se viu compartilhando sua dor e seus pesares com a garota pequena, que também havia perdido toda a sua vida.

Noite após noite observaram as estrelas enquanto ouviam os animais sorrateando sobre a escuridão da floresta. Dia após dia, trocavam sorrisos e saudações amistosas.

Até que um dia, enfim, um beijo. 

— Eu te amo. — Ela sussurrou em coreano e aquilo soou como um canto aos ouvidos de Edward. — Mas você não deve me amar. — Os olhos de Hae-Ra encheram-se de lágrimas quando ela o olhou mais uma vez. Ela o olhou como ninguém antes olhou e ninguém depois olharia.

E Edward soube.

A notícia que arrancou seus pés do chão e o tirou de sua própria mente. Hae-Ra estava morrendo e Carlisle, ainda que médico, nada podia fazer para salvá-la. Uma doença que não havia cura, uma morte lenta e dolorosa para qual a Hae-Ra já havia se preparado quando partiu, mas que lamentava profundamente desde que havia conhecido o estrangeiro de cabelos e olhos dourados.

A vida era uma coisa muito injusta e ela havia aprendido isso das piores formas, mas ele via que Hae- Ra estava contente. Ela sorria para ele e o acariciava com o amor mais puro que já viu, dizia que havia tido o suficiente, muito mais do que esperava e morreria em paz se este fosse o seu destino.

— Não vá. Eu posso salvá-la. — Edward pediu desesperadamente. — Carlisle pode.

— Edward. — Ela balançou a cabeça negativamente, os dedos delicados e frágeis fazendo um breve carinho em seu rosto. — Este é o fim desta vida para mim. Mas não é o fim para você. — Então ela sorriu e Edward não ficou surpreso por ela saber. — Espere por mim. Não vou me esquecer de você e vou procurá-lo. Espere por mim. Você acredita que voltarei?

Edward não acreditava, mas naquele momento, apenas assentiu em concordância. Não havia nada que pudesse fazer e ainda que sentisse mágoa, entendia que Hae-Ra tinha uma crença diferente da sua. Não podia tirar dela mais direitos do que já foram tirados.

Naquele ano, Edward enterrou o seu primeiro amor. Guardou-o a sete chaves no fundo da sua mente. Nunca mais lembrou do seu sorriso ou dos seus olhos. Nunca mais pensou na gentileza do seu toque ou dos fios que caíam sobre seus ombros sempre que ele a flagrava sem os pentes dourados.

Edward nunca mais pensou em Hae-Ra. Ele nunca mais a amou. 

Até aquele dia. 

Trezentos anos depois.

Em um parque temático no Canadá recheado de estudantes coreanos, estava Hae-Ra. Usava jeans e camiseta, os cabelos presos em um rabo de cavalo e nas mãos um celular onde fazia uma pose para foto.

A garota ao seu lado deu uma risadinha e apontou para onde Edward estava observando-a.

Ali parado, chocado e impressionado. Era ela. 

Sua Hae-Ra. 

Então ela o viu, em seguida sorriu com os olhos cheios de lágrimas e caminhou em sua direção como quem caminha com segurança até quem ama. 

— Hae-Ra. — Ele sussurrou ao alcançá-la e foi surpreendido pelos braços pequenos ao redor do seu pescoço.

— Edward! — Ela exclamou abrindo um sorriso ainda maior. — Foi um longo tempo, não é?

Ele sorriu, finalmente sentindo seu coração completo mais uma vez. — Sim, um longo, longo tempo. 

—  À propósito. — Ela sorriu abertamente. — Agora sou Kang Sa-Rah. — Pontuou lentamente com o dedo em riste, como quem mostra cada silaba. — E eu o chamarei de Oppa. 

Edward riu, voltando a abraçá-la. 

— Senti saudades.

— Estou aqui agora. E não pretendo partir.