Filha da Tormenta. escrita por Khaleesi


Capítulo 2
O Norte se Lembra.




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Ela lembrava de como se sentiu naquele dia. Como sentiu a esperança crescente no seu peito, a euforia que aquecia seu corpo. Faltava pouco para chegar até lá e já podia sentir os braços da mãe ao seu redor, e a risada do irmão, podia até mesmo escutar a sua voz chamando-a pelo apelido que sempre odiara, mas que sentia saudades de escutar. "Arya cara de cavalo!", escutou-o dizer em seus ouvidos mesmo sem estar presente. 

Lembrava-se do homem alto e carrancudo que a conduzia até lá. O Perdigueiro. Não o odiava, mas tampouco o amava. Com o tempo passou a suportar a presença do homem, e ele também cuidava dela. Chegava a ser engraçado, um homem daquele porte, com todo aquele linguajar sujo cuidando de uma criança que há muito estava longe da família. 

"Eu só estou fazendo isso pelo dinheiro, soube que Lady Catelyn está pagando uma boa grana por quem levar até ela suas filhas.", podia ouvir o homem falando. Sorriu momentaneamente. Ele era bom, de um jeito estupidamente bruto. Mas era esse o jeito dele, e ela se acostumara de qualquer forma, que chegava até a sentir falta. 

Será que ainda estava vivo? Se perguntou muito isso durante tanto tempo, mas não tinha tanta certeza assim. Lembrou de como deixou-o à beira da morte depois de toda a esperança ter sido arrancada de si, de como a euforia se transformou em dor, em horror, em ódio. 

Quando finalmente alcançaram as Gêmeas era tarde demais. Sua família tinha sido toda morta cruelmente durante o famoso Casamento Vermelho. Lembra-se do grito que nasceu e morreu em sua garganta quando viu seu irmão morto, e a cabeça de seu lobo no lugar da sua, costurada e de como aqueles malditos soldados brindavam aquilo. "O Rei Lobo", eles gritavam e riam alto. Lembra de ter seus olhos tampados pelo bruto homem que a levou até ali, e que também a tirou dali, daquele horror todo.

E então não havia mais motivos para continuar ali, o Perdigueiro até tentou levá-la para sua tia Lysa, mas para quê? Nada mais fazia sentido. Até que ele foi ferido, e tornou-se enfermo demais. E ela o deixou ali, sozinho, quase morto. Foi embora para um lugar onde aquelas pessoas nunca a encontrariam, foi embora para encontrar um velho amigo. Jaqen H'ghar. 

Mas agora, anos depois, estava de volta ali. Aprendeu muitas coisas com Jaqen, e era muito grata por tudo, mas a garota era Arya Stark, de Winterfell, e ela tinha que voltar para casa, tinha que matar todos aqueles que fizeram mal à sua família. Precisava vingá-los. E iria.

*** 

Estar de frente às Gêmeas depois de tanto tempo foi mais fácil do que pensou. Ela imaginava que seus passos falhariam e ela não iria conseguir. Mas estar ali a fez lembrar de algo que provavelmente permaneceria na sua mente para o resto de sua vida. E então o sentimento da raiva subiu ao peito, e ela seguiu em frente. 

Tinha roubado algumas das faces da Casa do Preto e Branco* e assim podia se disfarçar e entrar nos castelos de Walder Frey e poder realizar a sua vingança. 

Arya não demorou muito a conseguir entrar no castelo, com a identidade de uma jovem chamada Jeyne, ela logo estava fazendo parte das cozinheiras de Walder Frey. Observou por um tempo aquele velho, seus filhos, netos e até mesmo sua esposa, uma garota tão nova e amedrontada. Não tardou muito a perceber um encanto maior por dois de seus muitos filhos, Lothar e Walder Negro.

Não demorou muita para que ela os matasse, esperou o retorno deles e seduziu-os antes de cortar-lhes a garganta. Depois de mortos, ela cortou os dedos deles, algumas partes mais carnudas e pôs-se a cozinhar. Fez uma torta para o velho Frey, que naquela noite mais do que em especial, resolveu pedir-lhe uma refeição enquanto esperava o retorno dos filhos que já deveriam ter chego, que ela levou de bom grado.

Assim que entregou, ele exigiu que ela chamasse seus dois filhos idiotas, os mesmos que ela havia matado. 

— Traga-me aqueles dois idiotas, estou esperando eles tem muito tempo. Odeio esperar - bradou com a boca cheia de torta.

— Eles já estão aqui, meu Lorde - ela disse de maneira dócil.

— Onde? Por acaso você está vendo eles aqui? Eu não estou sua vadia imprestável!

— Mas eles já estão aqui, meu Lorde. - O velho olhou, impaciente, e ela tornou a falar enquanto apontava para a torta. — Eles já estão aqui, meu Lorde. Aqui. 

O homem a olhou assustado, quando percebeu um dedo em sua torta. O rosto incrédulo dele vendo os restos dos filhos foi algo impagável. E quando ele tentou chamar alguém, ela segurou-o com firmeza, e retirou o seu rosto. 

— Você provavelmente nunca se lembrará de mim, mas eu me lembro do senhor. Lembro do que fez à minha família. Matou a todos bem aqui, neste salão, onde também irá morrer. E enquanto morre, a última coisa que verá é um rosto Stark olhando você até que a vida saia por completo de seu corpo.

E então cortou-lhe a garganta.

*** 

Depois de limpar toda a sujeira, livrou-se do corpo gordo e flácido daquele ser desprezível, não sem antes tirá-lhe a face fora para que pudesse usá-lo, pois ainda faltava uma única parte de sua vingança, e não poderia parecer que ele já estava morto, não. Ela ainda precisava dele. 

E então, disfarçada de Walder Frey, Arya convocou todos os seus soldados para um banquete. Ordenou às criadas que tudo estivesse pronto antes do anoitecer do dia seguinte. Queria os melhores vinhos para servir aqueles homens. E então, como Walder ela se deitou e deleitou-se em uma boa noite de sono.

***

No outro dia a casa estava cheia, e todos os filhos e soldados de Walder Frey estavam postos naquele grande salão. Estavam animados, podia ouvir pelo burburinho que fazia ali. Logo estava sentado de frente a eles, e pediu que fosse servido o banquete. Às empregadas estavam a posto, só esperando para que o vinho fosse servido quando lhes fosse mandado. 

Quando todos terminaram de comer, ela bateu nas taças e o som ecoou pelo salão e todos se calaram.

— Sei que estão se perguntando o porquê de estarem todos aqui novamente, afinal, tivemos recentemente um banquete e não é do meu feitio dar dois banquetes assim, um seguido de outro. Desde quando o velho Walder é tão bondoso assim, não? - algumas risadas ecoaram pelo salão. — Bem, eu tenho que comemorar com minha família e soldados a morte de nossos inimigos e ao nosso sucesso, e agora que o inverno chegou até nós, a casa Frey, quero propor um brinde! 

As criadas logo entraram na sala e serviram todos os homens contentes, e ela pacientemente esperou até que cada taça ali estivesse cheia. 

— Um vinho da melhor safra deste ano. Um vinho digno para heróis! - Bradou e todos gritaram concordando, e logo bebendo da sua taça, fazendo com que cada homem ali bebesse. — Eu tenho orgulho de vocês, minha família, meus soldados. As pessoas que me ajudaram a exterminar os Starks no Casamento Vermelho.- Todos comemoraram.

— Sim, homens corajosos. Que mataram uma mulher grávida, cortaram a garganta de uma mãe, mataram seus convidados depois de recebê-los em sua casa, de dividir com eles a sua comida. Mas... Vocês falharam, e não mataram todos os Starks, não, não... E esse foi um erro terrível! Deviam ter exterminado todos. Pois se sobrar um lobo vivo sequer, as ovelhas nunca estarão seguras.

E assim, todos os homens começaram a tossir, e a cair com as mãos em suas gargantas. Os venenos podem ser potentes, afinal. E logo todos estavam mortos. A garota ao seu lado olhava aquilo assustada.

— Não se preocupe, querida- disse ela retirando o rosto de Walder Frey e revelando-se.— Eles não farão mais mal a nenhuma de vocês. E se alguém perguntas, diga que o norte se lembra.

 

 


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Notas finais do capítulo

Para quem não se recorda, a Casa do Preto e Branco é o templo dos homens sem rosto, onde a Arya teve todo o seu treinamento.



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