Em tantos anos de vida, o detetive Danny Williams nunca pensou que um bando de garotas líderes de torcida iriam lhe deixar tão exausto. Talvez tanto quanto um dia de trabalho ao lado de Steve McGarrett. Danny estava em Los Angeles, acompanhando sua filha em uma competição. Pensou que seria um tempo agradável com ela e aproveitaria bem a folga, mas foi tudo o contrário. Teve que agir como babá de Gracie e das outras meninas por todo um dia. Não sabia que era possível ficar tão cansado com um trabalho aparentemente tão simples.

Eram 22h, e Danny estava pronto para dormir; de banho tomado, deitado só de cueca na cama de um ótimo hotel. Queria deixar todo o cansaço pra trás, e nada poderia impedi-lo.

Nada, a não ser seu telefone tocando. Bufou irritado, pronto para rejeitar a ligação, mas desistiu disso ao ver o nome de Steve no identificador de chamadas.

— Eu já ia dormir. — Danny bocejou e sorriu.

— Por que não rejeitou a chamada, então? — A voz marcante do parceiro falou de forma divertida.

— Você ficaria ligando até eu atender.

— Você me conhece tão bem.

Danny sempre recebia ligações de Steve quando estava fora do Havaí. Havia virado rotineiro ouvir histórias dos casos que não participou, de uma visão muito egocêntrica e desagradável. Dessa vez, Mcgarrett contou sobre uma fuga envolvendo Lou Grover e sua família, e um passado inesperado do policial. Aquele caso parecia ter sido difícil de resolver, mas Steve falava como se tudo fosse muito simples. Achar a localização de Lou foi “extremamente comum”, assim como descobrir o paradeiro de um assassino procurando por vingança foi “super óbvio”. Pilotar um helicóptero sem saber exatamente onde estava foi “como os treinamentos da marinha”, e o tiroteio no cais foi “nada além do usual”.

— Você é um animal — comentou Danny após ouvir o amigo falar. — Sabia disso, né? Um animal.

— Acho que você não entendeu, Danno — falou firme. — Eu acabei com o maior problema do nosso companheiro.

— Ok, isso eu sei, Steven. Mas não muda o fato de que você é um animal indestrutível.

— E você só sabe criticar. — Steve se fez de ofendido. — A esposa do Lou se mostrou aliviada só de ouvir o meu nome.

Danny se calou de repente, imaginando a cena. Não duvidava disso, pois Steve significava muito na vida das pessoas daquele estado. Ele havia se tornado um símbolo por conta de seu sucesso e comprometimento com o povo. Admirava isso nele, mais do que qualquer coisa. Vivia dizendo que ele atraía o perigo e não media as consequências de suas ações, e que um dia iria morrer por conta dele, mas... sabia que acima de tudo, Steve era um protetor. Tudo o que ele faz, é pensando na segurança das pessoas. Além disso, estava vivo até hoje, mesmo depois de ter passado por situações terríveis.

Danny se abria mais quando conversava com Steve pelo telefone. Se sentia mais confortável para falar coisas boas sobre o Comandante, afinal ele não estaria lhe encarando com uma cara de deboche e superioridade, como de costume.

—  Você é incrível, Steve — disse quase num sussurro, sem nenhum pingo de ironia na fala.

— O que aconteceu com o "animal"?

— Falo sério. Quero dizer, o que você é o 5-0 fizeram hoje foi incrível. Você faz as pessoas se sentirem seguras, apesar de não acontecer o mesmo comigo.

Os dois riram, e Danny se sentiu mais a vontade. Resolveu dizer o que sentia, jurando nunca mais repetir isso.

— É por isso que eu confio tanto em você. Depois de tudo o que passamos, e do jeito que protegeu todos... e a mim. Você traz esperança.

— Eu já te disse, Danno. Sou seu apoio, certo? — Steve parecia tão feliz do outro lado da linha que Danny achou que estava falando com outra pessoa.

— Eu sei. É por isso que te amo, babe.

Daniel respirou fundo. Já disse aquilo várias vezes, mas naquele momento, sentiu um pouco de vergonha. Talvez por que seu tom saíra baixo demais, e sincero demais, e completamente diferente. Seu coração acelerou e, por medo, o detetive disse um “boa noite” com afobação e finalizou a ligação. Sabia que havia agido feito idiota, mas não importava. Era melhor do que continuar expondo seus sentimentos.

*

Sentado em sua poltrona confortável, Steve Mcgarrett sorria largo, imaginando como Danny estava naquele momento. Gostava mais dele quando ele agia sincero, até demais... Pegou o celular e digitou uma mensagem, retribuindo os sentimentos antes que perdesse a coragem.

"Também te amo, Danno".