Procura-se uma Pulga escrita por Sora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Parabéns Maninha, espero que goste da sua história.
Fiz com muito amor!! s2



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            – Shizu-chan! Venha logo me buscar... – ouviu-se o sussurro autoritário, seguido de uma pequena risada.

            O loiro abriu os olhos quase imediatamente, procurando com afinco o dono daquela voz. Aquele que deu voz ao ódio do homem mais forte de Ikebukuro. Contudo  talvez, somente talvez, para a sua felicidade, Izaya Orihara não estava em nenhum canto de seu quarto. Mesmo tendo constatado que o moreno não estava em nenhum lugar ali, procurou por mais uma vez, esperando encontrar os olhos castanho-avermelhados escondidos nas sombras do seu quarto, cujas janelas ainda enegreciam o cômodo; procurou pelos olhos que por vezes o arrepiaram, denotando pura malícia e astúcia. Assim, sentindo a frustração de não encontrado aquilo que procurava, Heiwajima deslizou os pés para fora da cama, pousando-os no chão frio.

            Pegou o cigarro apagado no cinzeiro sobre o criado-mudo ao lado da cama, levou-o aos lábios e acendeu-o com um isqueiro, sobre a mesma mobília. Sua mente, agora um pouco mais lúcida, voou para o estranho sonho que tivera durante a noite, ato que acabou por fazer saltar uma veia em sua testa. O guarda-costas havia sonhado com o seu pior inimigo, o que não era nem de longe, uma coisa boa, afinal, tudo em que Izaya Orihara estivesse metido fediam para Shizuo.

            Os minutos passaram enquanto o loiro lembrava de fragmentos do sonho com o moreno. Lojas de doces, saídas de mãos dadas, compras, cinema, dormir juntos... o loiro arqueou sobrancelha e olhou para o lado na cama. Por alguns segundos seu coração bateu mais forte, porém, tudo o que encontrou foram os lençóis e o espaço frio. Ele revirou os olhos e se repreendeu, negando com a cabeça. Não tinha porque se decepcionar, mas mesmo assim, sentiu uma fisgada em seu peito. O que não era, de fato, natural para o homem mais forte de Ikebukuro.

            Encaixou os pés nas pantufas brancas de coelho e arrastou os pés para o banheiro. Passou pela sala-corredor, sentindo o frio do pequeno apartamento. Talvez depois, pensasse em comprar um aquecedor. Entrou no banheiro esfregando os braços, pegou sua escova na portinha atrás do vidro e passou a escovar os dentes. Quando enxaguou seu rosto, notou que suas olheiras estavam ficando mais fundas, coisa que ele não tinha notado antes. O cabelo estava grande e com a raiz em sua cor original, um castanho mais escuro. Shizuo franziu as sobrancelhas estranhando o desleixo que ele nunca teve. Era como se anos tivessem se passado desde a última vez que deitara em sua cama, contudo, tudo, absolutamente tudo, em seu pequeno apartamento parecia exatamente igual, no mesmo lugar que sempre estiveram. Puxou as pontas claras de seu cabelo e quase ouviu seu irmão mais novo, Kasuka o repreendendo pelos fios grandes e desgrenhados.

            – Seu cabelo está grande, Shizuo... – comentou ele para si mesmo, olhando para o reflexo. Engoliu em seco notando outra coisa que não fazia. Não era do feitio do Heiwajima mais velho falar, muito menos conversar sozinho.

            Shizuo voltou para o quarto e abriu o guarda-roupas. Para a sua surpresa, não haviam apenas as roupas de barman, mas outras como casacos, camisas e até camisetas, que o loiro não costuma usar. Olhou-as, uma por uma, avaliando-as e notando que, todas eram do seu tamanho. Não tinha erro. Não se lembrava daquelas roupas, mas nada impedia de que Kasuka tivesse aparecido em seu apartamento e guardado novas roupas para o mais velho. Mesmo que esse pensamento não fizesse qualquer sentido, foi nisso que preferiu acreditar.

            Separou suas roupas de barman – que por sinal, haviam bem menos conjuntos do que estava lembrado – e pegou a sua toalha, se dirigindo para o banheiro. O loiro tirou as roupas e entrou para o box do banheiro, ligou o chuveiro e deixou que a água quente molhasse seu corpo e seus cabelos. Depois do banho tomado, Shizuo vestiu as suas roupas e trancou o apartamento. Enquanto saía para o ponto de encontro com Tom, pode ver o seu vizinho o encarando de maneira estranha. Como se o fato de estar vestido como barman em plena luz do dia fosse alguma surpresa. Não que os olhares daquela forma não lhe fossem familiares, por isso, não se irritou, tão pouco se perturbou com o olhar.

            Com seus usuais óculos escuros e o cigarro recém acendido nos lábios, ele caminhou para a pequena ponte onde se encontrava todos os dias que o cobrador, Tom. No meio do caminho, Shizuo topou com Kadota e o pessoal de sua van. Erika e Walker tinham os rostos enfiados em mangás, como sempre.

            – Oe Heiwjima-kun! – cumprimentou o de touca acenando para o loiro. Com um sorrisinho olhou as vestes do guarda-costas, como se fosse algo engraçado perguntou: - Vai à alguma festa fantasia? – o loiro franziu as sobrancelhas e negou com a cabeça.

            – Eu estou indo ver o Tom... temos trabalho! – respondeu, mas o velho amigo apenas arqueou a sobrancelha, olhou para Toguso, o dono da van e o outro apenas deu de ombros. Não esperou que eles conhecessem seu empregador e então e se despediu dos rapazes com um aceno, retomando seu caminho para a pequena ponte.

            Quando chegou, notou que estava quase quinze minutos adiantado. Sentou na pequena mureta da ponte e esperou pelo moreno. Permitiu-se pegar o celular, utensílio a qual nunca deu tanta importância, mas que Kasuka tinha insistido que tivesse um. E por pensar no Heiwajima mais novo, haviam duas novas mensagens de texto para ele. Abriu a primeira que dizia:

Como foi o aniversário no emprego? Recebeu um aumento por estar lá há dois anos? Me mande uma mensagem, irmão! Kasuka”

            Shizuo se perguntou se o irmão havia mandado a mensagem para a pessoa certa, já que o único emprego do mais velho era acompanhar Tom em suas cobranças, o que de certa forma, fariam dois anos ainda. Pensou então que, o irmão não sabia que estava trabalhando como guarda-costas, então faria sentido pensar que ainda trabalhava de barman. Partiu para a segunda mensagem:

Mamãe está nos convidando para comemorar o aniversário do papai. Eu confirmei sua presença, okay? Ela ficaria muito chateada se você não fosse esse ano novamente! Arrume uma roupa legal está bem? Kasuka”

                O loiro questionou a última mensagem. Shizuo não conversava com o pai haviam anos então não tinha porque aparecer no aniversário dele. Por dois segundos se questionou, imaginando se era mesmo o irmão que estava mandando aquelas mensagens de texto ou se era algum tipo de brincadeira do Heiwajima mais novo. Talvez ele tivesse perdido o celular e alguém estava fazendo brincadeiras, o que era igualmente ruim. Guardou o aparelho celular depois de olhar a hora. Estava na hora e não havia nenhum sinal de Tom, o que era estranho, por que o moreno nunca se atrasava. Mesmo que fosse se atrasar, Tom tinha o número do guarda-costas, teria pelo menos mandado uma mensagem avisando que iria se atrasar.

            Levantou e acendeu outro cigarro para afastar a adrenalina no sangue. Olhou para o céu limpo e azul de Ikebukuro. Não se lembrava de ter tido um ia tão limpo. Tampouco se lembrava a última vez que tivera tempo para ir ao meio da cidade e ficar olhando para o céu. Enquanto inspirava o ar, sentiu uma veia soltar de sua testa.

            – O quê você está fazendo na minha cidade, pulga? – questionou o loiro sentindo o cheiro de seu maior inimigo, Izaya Orihara. Era inexplicável, mas sempre que o informante pisava os pés em Ikebukuro, Shizuo reagia de forma instantânea, fosse com um arrepio na espinha, sentir o cheiro do moreno ou mesmo sentir o coração bater mais rápido. Era claro que o moreno dava nos nervos, por isso seu coração disparava. Era isso o que Shizuo falava a si mesmo, naquela manhã, quando pensou que o inimigo estaria na sua cama.

            Tragou o cigarro e jogou a fumaça para o céu cinzento de outono, logo começou a caminhar. A agência para qual trabalhava Tom ficava na mesma direção que o cheiro impregnado em seu nariz. Caminhou devagar e em determinado momento do caminho, sentiu-se em uma encruzilhada. O cheiro vinha de um lado e o caminho para a agencia era outro.

            – Harasho! Shizuo! Venha comer umas lulas, por conta da casa! – Simon, entregou-lhe um cupom do restaurante para qual trabalhava e Shizuo apenas pegou-o educadamente.

            – Obrigado Simon. Você viu o Izaya por aqui? – o russo apenas franziu a testa e negou com a cabeça.

            – Quem é Izaya, Shizuo? Um amigo seu? – o russo sorriu, o que pareceu um pouco assustador, mas foi muito bem-intencionado, estendendo outro cupom para o loiro. – Aqui, traga esse amigo com você!

            – Muito engraçado! Eu vou enviar aquele maldito para um caixão, isso sim! – cuspiu enquanto dava as costas para o maior.

            – Shizuo não use a violência!!! – argumentou o moreno. O homem mais forte de Ikebukuro apenas levantou a mão, como se pedissem para encerrar o assunto, o que para ele, estava mesmo encerrado. Acabou tomando o caminho para a agencia primeiro. Conhecendo o informante, ele não iria embora de sua cidade até que ele mesmo fosse expulsá-lo.

            A caminho da agência, acabou encontrando o seu empregador e ele estava acompanhado de outro homem, um rapaz forte que parecia ser o guarda-costas dele. A primeira impressão era que Tom o tinha trocado, mas achava muito difícil que isso acontecesse. Como o próprio cobrador havia dito, as dívidas começaram a ser pagas quando Shizuo Heiwajima, a besta feroz de Ikebukuro, começou a cobrar dividas junto. Tom e o rapaz andavam juntos e calmamente, conversando, vindo em sua direção. A expressão que o cobrador fez era engraçada e Shizuo sabia que aquilo significava que o devedor anterior não lhe dera esperanças para pagar a dívida. Quando estavam mais perto, Shizuo resolveu fazer contato.

            – Io, Tom! – saudou o velho amigo que sorriu e lhe acenou de volta.

            – Shizuo, que bom vê-lo à luz do dia... – e tanto Tom quanto o seu guarda-costas riram. – Esse é o Koujuro, ele me ajuda com as cobranças... sabe como é, ter que cobrar tanta gente, muitos não gostam muito de serem cobrados... – começou o amigo, mas Shizuo JÁ sabia aquilo. Fora a mesma coisa que dissera a ele pouco antes de lhe oferecer o trabalho como segurança e guarda-costas do amigo. – E bem, é inusitado ver você andando por aí com as roupas do trabalho, vai começar a pegar dois turnos? – Shizuo arqueou a sobrancelha e olhou com confusão para o amigo.

            – Como assim? – questionou.

            – Ah! – Koujuro bateu a mão na outra – Você é o barman daquele bar na avenida principal, não é? Agora me lembrei de você! Suas bebidas são excelentes!

            – Ele mesmo! – confirmou Tom. – Shizuo é realmente muito bom no que faz. Fico até orgulhoso, por que quando estávamos no fundamental, muitos valentões vinham enfrentar ele.

            – E você me dava vários conselhos... – completou o loiro. Mas tudo em sua cabeça era uma confusão. Shizuo podia jurar que trabalhava com o amigo.

            – Isso aí, espero que continue longe de confusões, Shizuo-kun. Boa sorte com o trabalho! – Tom disse enquanto acenava e retomava seu caminho com Koujuro, o guarda-costas. – Nos vemos por aí, Shizuo.

            O barman olhou o amigo sair andando, com as mãos nos bolsos da calça, como sempre fazia quando estava feliz. Tentou se lembrar de que dia em que estava e em qual ano. Só podia estar louco. Como poderia num dia estar trabalhando com alguém, e no dia seguinte estar fazendo dois anos em um emprego completamente diferente?

            E era exatamente isso que precisa provar, não apenas a si mesmo, mas também a todos. Ele não era um barman!

                        ~~ X ~~

            Shizuo descobriu que era um barman.

            Ele tinha seu emprego de volta, não o com Tom, mas sim o anterior, sobre ser um bartender. Descobriu também que haviam muitas pessoas – algumas das quais ele nunca se lembraria – que o conheciam por esse mesmo emprego, a qual aparentemente estava fazendo dois anos. Depois de quase trinta minutos conversando com o seu patrão, o dono do bar, descobriu que o ex-guarda-costas trazia novos clientes com suas bebidas diferentes e exóticas, misturando várias outras coisas e criando copos que nunca foram vistos em outros lugares, que não naquele lugar, que, graças ao homem mais forte de Ikebukuro, era agora um ponto de encontro, e que, ele, Heiwajima Shizuo, era a estrela do lugar.

            Não que fosse algo ruim, mas aquilo era completamente novo para o loiro. Sua vida parecia estranhamente ajeitada, mas, ao mesmo tempo, desajustada, como se Shizuo estivesse vivendo a vida de outra pessoa.

            Caminhou pela avenida e ouviu o relinchar de um cavalo, o que não deveria ser tão comum assim, numa das ruas principais da cidade. Contudo, não ficou surpreso quando Celty passou por ele, com suas roupas escuras, a moto negra e o capacete amarelo com orelhas de gatinho. Todos os cidadãos olharem com incredibilidade. Parecia que a entregadora ainda era conhecida como uma lenda urbana em Ikebukuro, o que mais uma vez fez Shizuo questionar em que ano ele estava vivendo.

            Quase havia esquecido o cheiro que estava impregnado em cada esquina que virava. Decidiu por fim, segui-lo, e finalmente expulsar Izaya Orihara de sua cidade.

            Enquanto caminhava, encontrou Shinra, o velho amigo do fundamental, e ele não estava sozinho, Celty Sturlson, a motoqueira sem cabeça estava ao seu lado, ainda montada em sua moto negra. Os dois estavam conversando e o rapaz parecia explicar algo a ela. O loiro pegou algumas partes da fala de Shinra enquanto se aproximava.

            – Oe, Shinra, Celty... – cumprimentou e ambos pararam o que estavam fazendo para olhar o recém-chegado.

            – Shizuo-kun, que surpresa vê-lo à luz do dia... – comentou Shinra, usando a mesma piada que Tom fez minutos antes. – O que faz por aqui uma hora dessas?

            – Na verdade, eu estava à procura de Tom, mas acabei de descobrir que eu trabalho num bar! – riu meio sem jeito enquanto coçava os cabelos da nuca. – E bem, agora eu estou indo expulsar o Izaya de Ikebukuro. Eu sinto o cheiro daquela pulga por todo lugar, como se ele andasse pulando por aí... – só essa breve menção fez a veia na testa saltar e os maxilares ficarem mais rígidos.

            Celty e o noivo se olharam. No minuto seguinte a Dullahan começou a digitar em seu palmtop.

“Ehr... Quem é Izaya, Shizuo?”

            O loiro ficou um pouco decepcionado. Não havia como ninguém lembrar da praga que assolava a cidade, sempre armando confusão. Não havia como NINGUÉM, além dele mesmo, se lembrar de Izaya Orihara.

            – Você não se lembra da pulga? – questionou o homem mais forte de Ikebukuro. Celty negou com o capacete. O loiro se virou para o amigo que, para a sua surpresa, também negou com a cabeça. – Vocês realmente não lembram do Izaya!?

            – Heeeh... Shizuo-kun, está tendo um caso de amigo imaginário? Achei que isso fosse apenas com crianças, Shizuo-kun...

            Celty tornou a escrever em seu palmtop.

“Shizuo, você está bem?”

            O Heiwajima mais velho não sabia como explicar para a amiga que, ele, e apenas ele, se lembrava do pior inimigo, Izaya Orihara.

            Ao invés de responder a amiga, o barman apenas saiu correndo, deixando seu cigarro cair enquanto se dirigia para a Academia Raijin, onde o informante mais perigoso de Tóquio tinha feito o ensino médio. Não que soubesse em qual turma o moreno havia se formado, mas haviam se graduado no mesmo ano, o que já era alguma pista para busca.

                        ~~ X ~~

            Depois de passar quase duas horas correndo até a Academia Raijin e mais uma hora procurando pelo rosto do inimigo em anuários escolares, se irritou quando percebeu que estava apenas perdendo tempo. Não havia nenhum sinal de Izaya. Nenhuma marca que conectava o moreno ao mundo que conhecia. Nenhum vestígio de que seu pior inimigo um dia tenha sido alguém real.

            Socou forte a mesa da biblioteca e a mesma cedeu sobre a força da besta selvagem de Ikebukuro, levando vários anuários e uma luminária ao chão. Ele olhou e respirou fundo. Recolheu os livros e a luminária e caminhou até a mulher da biblioteca, que estava espantada com a força do loiro. O segurança ao lado já pegava o cassetete e se aproximava de Shizuo, até que ele tirou do bolso traseiro a sua carteira e tirou de lá duas notas que seriam mais do que o suficiente pelo estrago da mesa e da luminária. Ele se curvou e pediu desculpas pelo transtorno, e então saiu.

            A escola não tinha nenhum resíduo de existência do informante, o que frustrara qualquer possibilidade de Shizuo conseguir explicar o porquê de somente ele se lembrar do seu pior inimigo. Era como se o dono dos olhos castanho-avermelhados estivesse aprontando alguma coisa, ou que tivesse sumido do mapa de uma vez, fazendo uma lavagem cerebral em toda a cidade. Nada daquilo fazia sentido, mas Shizuo estava desesperado para conseguir uma resposta.

            Decidiu então voltar para a casa e fazer uma busca mais aprofundada com o recurso da internet. Com certeza alguém saberia onde a pulga estaria. Não tinha como tudo o que ele viveu ser apenas obra da sua imaginação.

            Quando chegou em casa, tirou suas roupas e se jogou na cama, tentando abafar seus próprios pensamentos com o travesseiro. Mas eles não saíam de lá. Ficavam latejando em sua cabeça o nome. Tudo o que haviam em sua mente era o nome de Izaya Orihara.

            – Vou acabar com isso! Alguém na internet deve conhecer a pulga... Afinal, todo mundo conhece um informante...

            Digitou por algumas horas em caixas de busca na internet, mas suas buscas não davam qualquer indicio de que encontraria a resposta que procurava. Nada sobre Izaya Orihara na internet. Ninguém além de Shizuo conhecia o informante mais perigoso e ardiloso que Tóquio já recebeu.

            – Não pode ser coisa da minha cabeça... não pode!!! – murmurou para si mesmo. Não tinha como ser. – Alguém deve conhecer... – Foi então que o loiro se lembrou do chat de grupo sobre a gangue que dominava toda Ikebukuro: Os Dollars.

            Pegou seu celular e procurou o aplicativo de conversas. Não que ele usasse com frequência ou que mandasse mensagens no fórum da gangue, mas também era bom para ficar atento ao que os outros diziam sobre sua má reputação como besta incontrolável de Ikebukuro. Contudo, quando entrou no aplicativo de mensagens, onde costumavam aparecer as mensagens do grupo dos Dollars, tudo o que encontrou foi alguns outros grupos, como o do trabalho, onde outros funcionários fofocavam sobre um cliente ou outro, ou avisavam que não iriam comparecer o trabalho por motivo de doença. O homem mais forte de Ikebukuro ficou irado e jogou o celular contra a parede. Deitou na cama e mais uma vez tampou sua cabeça com o travesseiro, esperando abafar os pensamentos.

            Talvez aquela fosse a sua chance. A chance que precisava para testar uma vida sem o estresse chamado Izaya Orihara. Pensou então que aquela oportunidade poderia ter sido dada a ele pelos deuses, como forma de misericórdia por todo o seu sofrimento que a maldita pulga havia lhe causado.

Com calma, Shizuo continuou na mesma linha de raciocínio, imaginando se esse era o motivo da qual ninguém se lembrava de Izaya, o motivo para qual falava normalmente com seu pai, o motivo por qual os Dollars não existiam. Tudo era obra de Izaya, e num mundo onde o informante não existia, tudo estava como deveria ser novamente. Shizuo trabalhava como barman, tinha uma boa relação com sua família. Heiwajima Shizuo podia desfrutar de uma vida normal. O ex-guarda-costas estava enfim, livre do seu pior inimigo, mas, por que seu peito doía tanto?

                        ~~ X ~~

            Passaram-se semanas e mesmo vivendo aquela vida, Shizuo não conseguia se acostumar. Tudo era exatamente como pensava que era, como se tudo aquilo fosse apenas um sonho, como se toda a realidade fosse controlada por ele, ou melhor, feita para ele. O barman sentia falta de alguma coisa em sua vida, e jamais ousaria dizer que era saudade, mas não tinha outra palavra que descrevia tão bem um sentimento. Talvez apenas talvez, Heiwajima Shizuo estivesse com saudade da antiga vida, a vida a qual Izaya Orihara estragara com sua língua ácida e seu jeito ardiloso.

            Aquele terça-feira, cinza e propícia a chuva, ele saiu, segurando um guarda-chuva transparente, trajando seu usual uniforme e seus óculos escuros, com um cigarro pendendo dos lábios finos, à procura do seu pior inimigo.

            Podia mesmo parecer teimosia, mas o loiro ignorara por dias o cheiro de Izaya enquanto levava uma vida completamente normal e monótona, monótona até demais, principalmente para o homem mais temido de Ikebukuro, isso é, se ainda fosse possível chama-o assim.

            Apesar do que pareceu, o cheiro de Izaya levou o loiro até a estação de Ikebukuro, o que podia significar que o informante nunca estivera em cidade, desde a primeira vez que o havia sentido. Pegou o trem sentido Shinjuku, o que era apenas uma intuição. Sentou-se numa das janelas e esperou que o transporte fizesse o percurso. Encostou na janela, olhando o cenário, estação após estação e nem percebeu quando caiu no sono.

            Em seu sonho, Shizuo andava de mãos dadas com Izaya, ambos sorriram como se nunca tivessem a intenção de matar um ao outro. Não sabia se estava falando algo, mas a expressão no rosto do moreno mudou e seus olhos, agora semicerrados fuzilaram o loiro. De repente, o maior pegou o informante no colo e o colocou no ombro, levantando-o do chão e andando, como se nada estivesse acontecendo. Sentiu levemente as batidas de Izaya em suas costas, provavelmente com os protestos para que ele o largasse. Mas não tinha quaisquer ameaças no toque de Izaya. Não, muito pelo contrário, ele parecia mais zombeteiro, como se... como se os dois fossem tão íntimos...

            — Senhor, o seu bilhete te permite vir até Shinjuku! O senhor vai descer? Esse trem retornará para Ikebukuro...

            O barman piscou, ainda grogue e assentiu. Pegou o guarda-chuvas e se levantou para desembarcar do trem. Quando saiu da estação de Shinjuku, percebeu que, aos poucos, a neve caía. Abriu o guarda-chuva e começou a caminhar, guiado pelo cheiro de questionável pior inimigo.

            Caminhou por quase duas horas, até chegar em uma escadaria a sua direita. Estava claro que tantos degraus levariam o barman à um templo, mas se era de lá que o perfume do moreno vinha, era exatamente para onde vinha.

Depois de subir todos os degraus, Shizuo tomou uma golfada de ar, parado em meio as árvores, com neve que caía e ficava presa nos diversos galhos. A sua frente um templo se levantava, se provando muito mais quente do que aquelas árvores geladas. O vento gelado se fez forte e levou o guarda-chuva de suas mãos, ao mesmo tempo que a neve começava a cair mais rapidamente. Correu para o templo, justamente para não ficar na possível nevasca, mesmo não sabendo exatamente onde estava. Não conhecia o templo, mas agradeceu aos deuses por ele estar com as portas destrancadas. Não havia luz alguma no ambiente, exceto a que entrava da porta que o loiro acabara de abrir; também não havia nenhum sinal de vida por pelo menos alguns anos no lugar, já que o assoalho do templo estava repleto de poeira e seu teto baixo encontrava-se cheio de teias de aranhas. Contudo, apesar de não haver sinal nenhum de vida naquele lugar, tinha um cheiro forte do moreno a qual estava procurando com tanto afinco.  Olhou em volta e uma outra porta se abriu lentamente. Desta vez, uma escadaria que o levaria para o andar de cima do templo, iluminado por velas rosas e roxas.

            Subiu as escadas sem hesitar, sempre olhando para cima, até então se encontrar numa sala que também se assemelhava à um quarto. Haviam tatames em um canto, um kotatsu com mais algumas velas roxas e rosas acesas, com a chama tremulando apesar de não haver qualquer brisa no quarto. O cheiro era de cerejeira, mas também havia outro cheiro, um cheiro mais doce e que reconheceria em qualquer lugar de Ikebukuro. O mesmo cheiro que o levou a crer que estivera vivendo uma farsa nas últimas semanas. O doce perfume de Izaya Orihara.

            Correu os olhos por todo o cômodo, mas não havia nenhum vestígio de Izaya ou qualquer outra pessoa. Shizuo estava começando a perder as esperanças. Foi quando em suas costas, ouviu uma risada. Virou-se bruscamente e não viu nada, tornando a ouvir a risada em suas costas. Desta vez, quando se virou, encontrou alguém no quarto, sentado no kotatsu e tomando chá.

            – Ora ora, se não é o próprio Heiwajima Shizuo... – mencionou o ser sentado com a xícara de chá na mão.

            O barman teve quase certeza de que se tratava de um homem. Tinha cabelos longos e brancos como a neve, exceto pelas pontas, estas eram carmesins, como sangue. Seus olhos eram dourados, como brilho do ouro. Usava vestes de templo, brancas com fitas vermelhas e detalhes pretos. Ele depositou a xícara no kotatsu, e ao lado do pequeno copo tinha um ramo de cerejeira, a qual ele pegou, com um sorriso e apontou para o loiro.

            – Venha até aqui criança, eu não vou te machucar, sente-se e tome um chá comigo...

            Agora que o homem mais forte de Ikebukuro, isso era, se a alcunha ainda pertencesse a ele, caminhou até o homem e sentou com ele no kotatsu, percebeu detalhes que antes não havia reparado. Duas orelhas sobressaiam do alto de sua cabeça, como orelhas de gato, ou maiores. Notou então que eram orelhas de raposa, justamente pela cauda que ele balançava em suas costas.

            – O que te trás a mim, minha criança? – questionou o Kitsune.

            – Eu... eu estou procurando uma pessoa..., mas talvez eu não esteja no lugar certo... eu não sei se ele viria para um templo...

            – Não precisa de tanta timidez comigo, garoto. – O homem-raposa deu um sorrisinho que mais parecia um chiado. – Eu, Fuyuki, conheço muito bem um homem angustiado por amor... Quem é esse quem você tem procurado, Shizuo?

            – O nome dele é Izaya Orihara...

            Shizuo viu a expressão do Kitsune mudar com a menção do nome do informante. Ele não queria problemas com uma entidade sobrenatural, conhecia muito bem o poder e Celty, sua amiga Dullahan.

            – Me desculpe... – começou o loiro, mas foi logo cortado pelo dono do templo. Fuyuki levantou o galho de cerejeira.

            – Tem razão, você está no lugar errado. Nunca mais mencione esse nome. – Uma luz brilhou nos olhos do barman.

            – Então você conhece o Izaya? – perguntou e o senhor do templo, que negou com a cabeça. – Pode me ajudar a encontrá-lo?

            – Não, nunca ouvi falar. Mas esse nome carrega desgraça. Tudo em que se envolve traz má sorte! E sugiro que messe suas palavras, criança. Não disse que faço favores a ninguém...

            – Por semanas eu só tenho pensado nele, senhor Fuyuki. Eu não quero parecer estranho, mas eu sinto saudades do Pulga. Eu sei tudo o que esse nome representa, mas é como se agora que não sinto a presença dele, falta algo aos meus dias. Sinto que falta uma parte de mim. E é exatamente isso que o Pulga é para mim, Fuyuki-no-Kami-Sama, Izaya Orihara é parte de mim, e eu não posso sobreviver num mundo onde ele não exista!

            Depois de declarar tudo isso, Shizuo Heiwajima parou e pensou no que havia acabado de dizer. Não era nenhum absurdo, ao contrário do que teria pensado semanas antes. O barman por alguns minutos pensou em sua posição, em frente ao Fuyuki, admitindo a falta que sentia do seu pior inimigo. Shizuo sem Izaya era como a luz sem sombras, como lámen sem macarrão. Izaya era uma parte essencial de si, cuja qual não podia viver sem.

            Fuyuki por sua vez, desfez a expressão de repulsa e sorriu.

            – Nenhum casal pode fazer tantas juras de amor, enfrentar a adversidade e ter a felicidade eterna sem a aprovação do deus do amor! – anunciou o Kitsune, claramente falando de si mesmo, com a mão no peito e a expressão orgulhosa – Por isso, Izaya Orihara veio me procurar para ter a minha benção para o relacionamento de vocês... – comentou e Shizuo arqueou a sobrancelha.

            – O Pulga veio te procurar? – questionou com a sobrancelha arqueada. Fuyuki apenas assentiu, confiante. – Mas por que ele faria isso?

            – Você tem cera demais nos ouvidos, garoto? – repreendeu o deus – Eu acabei de dizer, nenhum casal passa por tanta coisa e recebe a benção sem a minha provação. – Proclamou mais uma vez. – Somente um amor puro e verdadeiro faria você se lembrar de Izaya, e ainda mais, saber que o mundo sem ele é um mundo errôneo. Receio que não tenha sido nada fácil admitir novamente os teus sentimentos pelo seu namorado, ou não?

            Shizuo pensou em todas aquelas palavras. Então percebeu que, os sonhos que tinha com Izaya não eram apenas sonhos, mas sim, memórias que havia construído com seu não tão odiado pior inimigo.

            – Bom seja como for, garanto que agora está tudo da forma como você deve conhecer! – riu Fuyuki, fazendo um leque aparecer magicamente em sua mão e escondendo parte do sorrisinho. – Você encontrará Izaya em sua casa!

            O loiro se curvou para o Kitsune e saiu em retirada, descendo as escadas o mais rápido que pode. Passou pela saída do templo, cujo as portas bateram com um baque surdo e logo não havia mais a impotente construção, apenas árvores e mais árvores, carregadas com neve recém caída. O barman desceu a outra escadaria, que dava para a rua e até trombou com algumas pessoas. Desculpou-se enquanto se levantava para correr novamente, agora para a estação de Shinjuku.

            Os trens estavam andando devagar por conta das ameaças instáveis que eram as tempestades de neve, mas a perna de Shizuo Heiwajima batia ansiosa contra o chão, contando os segundos para que chegasse logo, de uma vez, em Ikebukuro.

            Quando o trem chegou, já estava na porta, ansioso, esperando que as portas abrissem para que ele corresse em disparada para os braços daquele que dera nome ao seu amor. Shizuo correu, passando por Tom, que andava sozinho e lhe chamou. Passou por Simon, que entregava cupons de desconto. Passou por Shinra e Celty, conversando em um beco. Passou por Kadota, Toguso e a dupla de otakus. Correu tanto que sua camisa estava encharcada de suor.

            Nas escadas do prédio onde morava, foi onde desacelerou. Subiu as escadas e caminhou até a porta do seu apartamento. Girou a chave e abriu a porta de madeira com um rangido. Foi como se tudo o que tivesse passado nas ultimas semanas nunca tivesse acontecido.

            Izaya Orihara estava com sua camisa, claramente muito grande para o corpo enxuto e magro do menor. Os olhos castanho-avermelhados brilharam, enquanto ele secava o cabelo e andava descalço pelo apartamento frio. O sorriso no rosto do informante mais perigoso que Tóquio conheceu se alargou, afiado como suas lâminas.

            – Oe, Shizu-chan, você demorou para me buscar... Quase pensei que morreria nas mãos daquela maldita raposa... – Shizuo Heiwajima nada disse. Caminhou até o moreno e o abraçou. Izaya o olhou, desta vez desarmados de seus habituais companheiros, sarcasmo e malícia. Alguns segundos bastaram até que os lábios finos do loiro encontrassem o caminho para os lábios do moreno. Permitiu-se demorar alguns minutos no beijo, sentindo novamente o seu amado pior inimigo.

            – Você me assustou, pulga! Quase espalhei cartazes por aí... – comentou enquanto aninhava o menor ao seu peito.

            – Ah é? E o que você escreveria nesse cartaz estupido, Shizu-chan? Namorado desaparecido? – Izaya estava novamente com seu sarcasmo, sorrindo para o loiro. Shizuo riu, coisa que não fazia há semanas.

            – Não, Izaya, seu maldito... Eu teria escrito, “Procura-se Uma Pulga!”


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Notas finais do capítulo

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