POV do John

Vi meus olhos azuis refletidos no espelho, uma onda de verdade me tomou: Lilian me era pertencente, pouco ligava para o resto, porque no momento, ela havia sido roubada de mim, mas se aquele garoto ruivo achava poder segurar sua mão (não muito limpa devo citar) na dela e a levar voando (oh Deus, que não estou delirando? Espero que não) para algum lugar na escuridão do céu, ele estava terrivelmente enganado, eu traria de volta o que me era pertencente, custe o que fosse.

Minha mente vagava me opções.

Contar a Sra. Darling?

Não, obrigado, gostaria de continuar dono de Lilian.Lavei minha cara com pressa, sem me importar muito, minha mente vagando em outras opções, e então a ideia me veio em mente: ir atrás de Lilian e a traze-la de volta para mim.

Mas... como?Ate onde havia visto pela fresta da porta do quarto dela, ambos saiam pela janela e voavam dentre o céu quase preto (ô sim, isso me faz desconfiar sobre minha sanidade, como já falei, estou apenas reforçando), e, por enquanto eu não via maneiras de seguir aos dois.

Mas as palavras dela ecoavam em minha mente “Eu disse que não te pertencia”, eu provaria o contrario.

Escutei o barulho da tranca da janela se abrindo.

- Lilian? - Escutei minha própria voz sussurrar, e parecer um grito baixo no silencio mortal do quarto.

Imediatamente pensei se Lilian houvera criado um pingo de sanidade e voltado a sua casa, mas a voz grave que me respondeu certamente não a pertencia.

- Não. - A voz disse, e eu, com curiosidade andei em direção a porta aberta de minha então suite.  - James Gancho, melhor, Capitão Gancho, o pirata mais temido de todos os mares, aquele que até o diabo teme e... - Olhei para a sombra gorducha ao seu lado. - Pode por favor prestar atenção em mim e não no Smee? Eu acredeço, hunf.

Forçei meus olhos no escuro, tentando me acustumar a escuridão mais forte que se ausentava por todo o quarto, havia esquecido da vela acesa no banheiro, deixando assim que a luz viesse de trás de mim.

Mas mesmo com dificuldade consegui distinguir duas formas dentre toda a escuridão, ambas distintas, uma delas era alta, a cabeça parecia moldada por um chapéu como de pirata, imaginei brevemente suas roupas e seu cabelo, dando um... ar maléfico á ele.

A outra forma era mais baixa, gorda, provavelmente flácida e rosada, não usava um chapéu de pirata (Capitão, como o outro se intitula), mas uma forma se apoiava em seu ombro... virei minha cabeça de lado, forcando mais os olhos para reconhecer aquela forma dentre tantos outros animais voadores que eu conhecerá ao longo dos anos.

Me parecia um papagaio.

- Olá. - Falei lhe arrancando uma pequena risadinha divertida.

- Vamos lá, você não precisa ser o garoto que sua mãe te obriga - Deu grande ênfase a ultima palavra. - a ser.

Tive vontade de soca-lo, mas algo no meu interior me mandava esperar, ansiando por algo que nem eu mesmo era capaz de saber.

- Então okay, me diga, o que quer? Ou veio simplesmente atrapalhar meu sono? - Sorri sarcasticamente, como sentia falta de fazer.

Ele sorriu de volta, do mesmo modo.

- Ora, ora, deixe me lhe propor uma pequena coisa garoto.

- Fale. - Respondi me virando para o banheiro, afim de pegar a vela, e ter comigo um pouco de luz.

- Vire-se para mim garoto! Tenha o mínimo de respeito em olhar para seu futuro Capitão! - Agora ele queria que eu fosse educado?

Deus, ainda quero soca-lo.

- Você quer ou não que eu seja educado? - Não me virei, apenas peguei a vela e protegi sua chama, me voltando para onde ele estava.

- Apenas comigo, já que possivelmente serei seu Capitão, e como você é tão novo e não deve saber florear uma espada, seu Mentor. - Ele deu os ombros, sorrindo como se me subestimasse.

Preparei um palavrão na ponta da língua (?) quase me torturando para não usa-lo.

- Não me importa, fale me sobre sua proposta. - Respirei pela boca, tentando retomar meu controle.

- Você sabe onde Lilian esta? - Pisquei, tentando enxergar truques nos olhos azuis gelo frios dele, mas não tinha nada do tipo.

- Não, ela apenas saiu - excitei em falar no que tinha visto, com medo de ser chamado de louco, mas na verdade, pouco me importava. - voando pela janela com o garoto ruivo em direção ao céu. 

Ele roubou-a de mim, pensei em completar. 

- Oh sim, ele levou a filha de Wendy para ver se conseguia uma substituta. - Sua gargalhada soou pelo quarto. - Eu - Indicou com o gancho que lhe substituía a mão para o próprio peito, com orgulho. - sei onde eles estão, melhor ainda, eu posso te levar para trazer Lilian de volta. Afinal, ele roubou-a de você certo? 

Aquele cara lia mentes?

Foi isso que se passou em minha mente antes de que a curiosidade e o desejo a tomassem.

Eu poderia trazer a minha Lilian de volta a sua casa, e ainda poderia me vingar do estranho garoto ruivo que a levara.

Oh sim, não me esquecendo de que poderia usar meu amado sarcasmo com quem e onde eu quisesse.

Alem de aprender como florear uma espada corretamente, minha infância me deu apenas um pequena base que não me deixava lutar corretamente.

Tentador.

Mas eu sabia que tudo tinha um preço, e obviamente Capitão Gancho, queria algo em troca de me levar para... algum lugar. 

- E o que eu tenho de fazer para ir com você atrás de Lilian? - Perguntei inseguro.

- Apenas jurar que se manterá ao meu lado, você terá um prazo para trazer Lilian de volta, se não conseguir, ela ficará na Terra do Nunca, e você voltará, sem choro.

- Tudo bem. - Concordei sem pensar, andando na diração do meu armario, abrindo o atrás de roupas que não fossem o meu pijama, mas quando comecei a procura-las, uma muda de roupa caiu em meu ombro. - O que...?

Capitão revirou os olhos, e eu olhei melhor a calça no meu ombro, era uma calça preta mais justa do que o normal,  e um sobretudo tambem preto.

- Quanto calça nos sapatos garoto? - O gorducho se pronunciou.

- 7. (N/N: 7 é igual ao tamanho 38 masculino na Inglaterra.) - Respondi indo para o banheiro. - Porqu...?  AAAI! - Nem tive tempo de pergunta-lo do porque da pergunta quando um par de botas de amarrar atingiu minha cabeça.

- Mais cuidado Smee, ele é nossa passagem para vocês sabe o que. - Gancho falava.

- Desculpe Capitão. - Smee falou, com escarno na voz.

A curiosidade entupia meus poros, mas a ignorei, deixando-a para mais tarde, pois as perguntas que tinha para ele eram do tipo desrespeitosas que me fariam limpar o convés durante anos a fio.

Peguei no armario apenas uma camisa branca com três amaras na cola e fui para o banheiro, colocando-as.

Saindo do banheiro e encontrei Gancho olhando os brinquedos de Michal espalhados pelo quarto, enquanto murmurava sobre esperar que aqueles brinquedos não fossem meus.

- Tenho cara de quem brinca com tudo isso? - Perguntei indo até a janela fechada pelas cortinas tremulas.

- Na verdade, olhando bem, não. - Gancho sorriu, bagunçando mais meus cabelo com a mão.

Idiota. 

- Pronto para ir recuperar sua querida Lilian? - Ele perguntou puxando de leve a cortina, mostrando a prancha apoida em minha janela.

PRANCHA? 

- Si-sim. - Pela primeira vez eu estiverá indeciso, será que era certo fazer isso? 

Bem, tudo era possivel, porque não dar uma chance ao impossivel? 

Ele abrira as cortinas inteiramente, revelando o navio pirata, Jolly Roger, que parecia flutuar no céu londrino, bem ao lado  de minha janela. 

O impossivel pareceu, pela primeira vez, certo para mim.