Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Twenty One Pilots - Heathens



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Elizabeth Cooper

(música)

Hoje era o grande dia. Saltei da cama com o som do despertador ecoando pelo quarto. O sol estava quente e ao abrir a janela uma brisa fresca tocou minhas bochechas. Fitei a janela de Archie com as cortinas ainda fechadas. Talvez ele ainda estivesse dormindo, afinal chegamos de madrugada ontem, por sorte meu pai já estava dormindo acreditando que eu estava no drive-in assistindo a mais um filme com Verônica.

“Ei ruivo, acorda!!!!”

Mandei uma mensagem para me certificar de que ele não se atrasaria para a aula. Eu por outro lado já havia faltado dois dias seguidos, não queria correr o risco de comunicarem ao meu pai. Discrição agora era essencial.

Poucos segundos depois Archie abriu sua cortina se deparando comigo do outro lado. Ele sorriu com o rosto ainda amassado e inchado pelas poucas horas de sono. Retribui mordendo o lábio inferior.

“Quer uma carona p escola? ;D”

Sua atenção se voltou para o celular em sua mão. Ele contorceu o rosto.

“De moto?!”

“Pq não? Hj vai ser um dia de adrenalina...”

Dei de ombros e ele me olhou com repreensão. Depois suspirou e começou a escrever algo.

“Tá bom....... Vou comer algo e já desço....”

“Ok :p”

Em um instante já estava vestida e descendo escada a fora. Tratei de guardar a jaqueta na mochila, queria usá-la com orgulho hoje. Afinal, finalmente o veneno da serpente pulsava em minhas veias me fazendo sentir parte da gangue.

Na mesa, meu pai ainda colocava algumas torradas e uma geleia que minha mãe sempre comprava. Meu coração doeu quando ele sorriu gentilmente para mim. Eu por outro lado deixei de sorrir imediatamente e uma culpa profunda me tomou. Eu não poderia apenas conversar abertamente com ele? Ele me negaria tudo com todas as provas que eu tinha?

— Oi querida. – se sentou apontando para uma cadeira à sua frente – Como foi o filme?

— Ótimo como sempre. – forcei um sorriso me sentando a mesa.

Eu estava faminta, e o cheiro da geleia abria meu apetite. Comecei a comer três torradas com geleia que desciam com ajuda de um copo de leite. Ele me encarava com as mãos entrelaçadas próximo ao queixo.

— Sabe Elizabeth, você tem saído todas as noites, e ao contrário do que pensa eu sei o que anda fazendo... – engasguei cuspindo um amontoado de leite e torradas.

Busquei pelo ar e mais uma golada de leite me trouxe a vida novamente. Esperei que ele desse o decreto assustada.

— O Fred viu você e Jughead aqui umas noites atrás. – minha respiração voltou por um fio – E bom, eu sei que ele é filho do Xerife, mas aquela família não presta. – seu tom se tornou sombrio e eu tremi – Quero que fique longe deles. Entendeu?  

Assenti amedrontada, nunca o havia visto assim.

— Elizabeth, você tem certeza que entendeu? – ele repetiu com os olhos arregalados.

— Pai, - minha voz saiu baixa – qual o problema com os Jones? – contrai o cenho.

— Isso não é da sua conta. – ele deu uma golada do leite desviando o olhar e depois completou – Fique longe daquela gangue fedida também.

Encolhi. Ele acabaria com a gangue? O que ele faria comigo quando descobrisse que eu fazia parte da gangue?

Decidi colocar a prova.

— E como anda o jornal pai? – perguntei com naturalidade voltando a saborear as torradas.

Seu olhar se ergueu novamente e ele se ajeitou mais uma vez na cadeira.

— Muito bem. Quer passar por lá depois da aula ou vai estar ocupada demais com a sua amiga? – ele se manteve sério cerrando os olhos ao falar de Verônica como se duvidasse de todas as minhas desculpas anteriores.

Permaneci boquiaberta pensando em como responder. Essa noite seria a emboscada dos Ghoulies, que outra desculpa eu teria para dar.

— Sabe Betty, você não negou um envolvimento com o Jones. – ele mordeu uma torrada sem tirar os olhos de mim.

Sua expressão era fria e cruel. Me senti encurralada, como um rato pego pela sua presa. Minhas unhas já atravessavam a pele da palma da mão por baixo da mesa.

— Pai... – minha voz saiu chorosa apesar de parecer resoluta.

A campainha tocou seguida de batidas na porta.

— Betty! Nós vamos nos atrasar. – a voz de Archie era como música para meus ouvidos.

Fechei os olhos aliviada alcançando a alça da mochila com a ponta dos dedos. Assim que me levantei meu pai completou.

— Nós vamos terminar essa conversa mais tarde querida. – eu o fitei antes de abrir a porta – Talvez demore um pouco mais no jornal, mas vou trazer pizza e quero conversar com você.

Assenti sem dizer nada saindo porta a fora. Com certeza conversaríamos, porém ao invés de pizzas teríamos algemas e sirenes policiais.

Archie me esperava do lado de fora apreensivo. Enquanto tentava olhar por cima do meu ombro.

— Tá tudo bem? Eu dei uma olhada na janela da cozinha e vi que você tava meio desconfortável com seu pai. – ele desceu as escadas me acompanhando até onde a moto estava.

Dei um longo suspiro antes de montar e dar a partida lhe entregando o capacete.

— Tá tudo ótimo. – dei a partida sem fazer contato visual.

Ele subiu na garupa rebaixando a moto com seu peso. Éramos amigos sem cerimonias. Archie envolveu minha cintura com seus braços e eu logo arranquei com a moto. Pilotar agora era algo natural e agora que estava perdida em pensamentos só havia percebido a rapidez com que estava andando quando tive que reduzir para entrar no estacionamento. Archie não apertava minha cintura com receio, mas suas pernas relaxaram quando eu comecei a parar a moto do lado das outras, ao meu lado reconheci a moto de Jughead, ele também devia ter acabado de chegar.

— Você realmente mudou com isso tudo. – Archie desceu da moto retirando o capacete para me entregar. O encaixei no guidom e desci também.

— Eu ainda sou a mesma pessoa Arch... – retirei a jaqueta serpente da bolsa lançando-a sob os ombros – É a mesma Betty, só que mais corajosa agora. – dei de ombros.

— E quanto ao Jughead? – Archie percebeu a moto dele do lado da minha.

Engoli em seco e comecei a caminhar rumo a escada da escola.

— O que tem o Jughead? – olhei ao redor, havia uma movimentação anormal de alunos. Alguns carregavam caixas e sacolas.

Archie subiu as escadas em pulos percebendo o mesmo que eu.

— Se você é a mesma Betty, ainda me conta dos seus rolos com garotos.

O encarei tentando conter um sorriso fingindo perplexidade.

— Eu não tenho um rolo com Jughead.

— Ah não? – ele sorriu triunfante – Então o que sua moto fazia no trailer dele?

Ao entrarmos no corredor o fluxo de alunos era ainda mais intenso e uma faixa de fora a fora justificava tudo:

“Baile Anual de Primavera”

— Eu emprestei para ele porque... – Archie tombou a cabeça para o lado fazendo uma expressão debochada. Suspirei desistindo de justificar, ele me conhecia bem demais – Tá bom, o que você quer saber exatamente?

Ele riu por fim e eu parei no meu armário fingindo pegar algo.

— Você gosta dele? – ele encostou o ombro no armário ao lado me encarando.

Pensei por um segundo. Jughead era irritante, ignorante e controlador quase o tempo todo e mesmo assim eu sentia falta de tê-lo por perto. Tirando suas manias estranhas de me provocar ou me ofender eu gostava de tudo nele, seu calor, seu cheiro, até seu jeito de me olhar. Era um conjunto de atrativos que só funcionava em mim.

— Acho que sim. – conclui fitando o interior do armário.

Archie fez um bico concordando.

— Legal. – ele cruzou os braços olhando ao redor.

— Não vai me dar lição de moral? – estranhei.

— De que?

— Dizer que ele é um serpente, um motoqueiro e que não é bom o suficiente pra mim.

— Betty, na verdade não tem ninguém nessa cidade que seja bom o suficiente pra você, mas se vocês se gostam e ele está disposto a te proteger então eu sou a favor. – deu de ombros.

— Se gostam? – comprimi os lábios – Ele te disse alguma coisa? – Archie passou a mão pelos cabelos sem me olhar – Vocês passaram o dia juntos ontem?

— Betty, eu acho melhor vocês conversarem. – ele se endireitou fazendo menção de me deixar falando sozinha.

— Não. – segurei seu braço – Eu contei o que você pediu, agora é sua vez.

Ele estalou a língua no céu da boca revirando os olhos.

— Só tava curioso.

— Ah eu também tô. – acenei com a cabeça empolgada – Vai, fala.

Archie balançou a cabeça em negativa.

— Eu só acho que é uma coisa que você deveria ouvir dele. Parece injusto que eu conte.

— Ele não vai me dizer nada, tudo o que ele faz é me deixar confusa.

— Quem te deixa confusa? – uma voz grave se fez ao nosso lado e meu coração palpitou ao reconhecer seu dono.

Minha atenção se voltou a Jughead que parecia tão desconcertado quanto eu, ao seu lado Verônica balançava pequenos bilhetes sorridente para Archie. Ele laçou sua cintura a puxando para um selinho.

— Que é isso Ronnie? – sorriu entre os lábios dela.

— Nós estávamos comprando as entradas para o baile. – ela fechou os olhos ao receber outro beijo, nessa vez no topo dos cabelos.

— Nós quem? – ele encarou Jughead com uma expressão divertida – Não vai me dizer que resolveu participar esse ano. – sorriu.

— Se a gente sobreviver a hoje eu pretendo ter todas as experiências normais possíveis. – Jughead arqueou as sobrancelhas enquanto falava.

O sinal badalou ao que pareceu ser um pouco mais tarde do que de costume.

— Vamos Ronnie? – Archie disse ao pé do seu ouvido enquanto a puxava pela cintura corredor a fora.

Maldito, queria propositalmente me deixar sozinha com Jughead. Fechei a porta do armário devagar e joguei a alça da mochila sob o ombro. Estar sozinha com ele causava uma combustão confusa que eu não conseguia explicar. Até seu cheiro era inebriante.

— Química né? – ele quebrou o silêncio analisando meu rosto.

— O que? – por um momento pensei que ele pudesse ter lido meus pensamentos.

— Agora nós temos aula de química. – deu um sorriso torto.

Encarei seus lábios me lembrando da noite anterior, onde em um ápice de adrenalina os havia selado sem me importar com mais nada. Minha resposta não saiu, então só acenei com a cabeça concordando. Química...

— Então vamos? – ele disse por fim quando o corredor começou a se esvaziar.

Ao entrar na sala percebi que Sweet Pea já esperava na cadeira ao meu lado. Da mesma forma Fangs esperava por Jughead. Ambos nos entreolhamos com lamento por nos separar.

— Até mais. – sussurrei.

Ele apenas respondeu com um aceno de cabeça indo até o seu lugar ao lado de Fangs que lhe cumprimentou com um soco no ombro. Sweet Pea por outro lado parecia cabisbaixo e revezava olhares entre mim e Jughead.

Quando me sentei ao seu lado um suspiro escapou e ele forçou um sorriso que ainda assim parecida triste.

— Oi fada. – sussurrou.

— Tá tudo bem com você? – sussurrei de volta. Eu sabia que não estava.

Ele contorceu o rosto e fitou a frente da sala. Depois pareceu pensar e se voltou para mim novamente.

— Tem um tempo depois dessa aula?

— Claro. – respondi convicta. Sweet Pea não era um melhor amigo como Archie, Verônica ou como Kevin, mas sempre senti que caso precise dele ele estaria lá para mim e eu queria estar lá para ele também caso precisasse.

O professor passou pelas fileiras distribuindo folhas de papel. Levei a mão à testa lamentando. Era a maior prova do semestre e eu simplesmente havia me esquecido ou me preocupado com outras coisas.

— Desculpa Pea, eu sinceramente não estudei nada. – a nossa prova chegou até a mesa e contava com mais de cinco folhas. Contorci os lábios analisando as páginas.

— Tudo bem fada, eu estudei a madrugada toda. – ele ergueu um canto da boca orgulhoso– Eu sei pelo o que você tá passando e não queria que tirasse uma nota ruim.

Ele puxou a prova para si começando a preenche-la. Apoiei a ponta do queixo sob os cotovelos e o observei.

— Não seja modesto, você também quer tirar uma boa nota. – tentei diverti-lo.

Seu rosto continuou sério e ele pareceu afetado somente ao me encarar e perceber como estávamos próximos. Seus olhos foram até meus lábios e me senti incomodada repentinamente.

— Na verdade isso não importa para mim. – fez um bico e voltou sua atenção para a prova.

No decorrer dela ele realmente sabia responder com firmeza cada questão e por mais que eu quisesse argumentar em alguma ficava na dúvida. Fomos os primeiros a acabar e esperamos até o tempo de sigilo para sair da sala. Assim que o sinal tocou uma voz estridente surgiu nos alto falantes dos corredores e das salas.

“Oi aluninhos e aluninhas – Cheryl falava docemente— como todos vocês sabem este ano estou responsável pelo nosso querido baile de primavera. Pois bem, como não quero nada meia boca como nos anos anteriores preciso do espaço da escola livre. Me agradeçam muito ou me odeiem bastante, tanto faz, mas vocês estão liberados, então saiam logo da escola. Beijinhos!”

— É isso. – Sweet Pea disse se levantando.

— Ei, - segurei seu antebraço contraindo o cenho – nós ainda vamos conversar. Certo?

Ele engoliu em seco assentindo. E depois fez um sinal de cabeça apontando para a saída da sala.

Caminhamos lado a lado em silêncio até o exterior da escola, onde nossas motos estavam. Eu podia sentir seu pesar e apesar de querer perguntar mil coisas preferi que ele começasse a conversa, do jeito dele e no tempo dele. Ao observar ao redor que todos saiam da escola e preenchiam o estacionamento o puxei pela mão até um ponto mais afastado onde ninguém interferisse.

— Aqui não – ele pareceu confuso e expliquei – muito cheio.

— É. – passou a mão pelos cabelos os bagunçando.

— Você sabe que pode me contar qualquer coisa. – disse quando paramos atrás de uma árvore.

Ele assentiu me olhando.

— Eu sei, só lamento não poder estar aqui no momento em que você mais vai precisar de mim. – sua voz saiu rouca.

— Como assim?

Ele desviou seu olhar para a rua onde carros deixavam a escola. 

— Eu tô indo embora da cidade. Não posso estar aqui essa noite e não sei quando vou poder voltar. – esperou que eu dissesse algo e então continuou – Você não me perguntou porque aceitei trabalhar para os Ghoulies...

— Porque eu confio em você! – o cortei – Eu tenho certeza que você precisava de dinheiro para um bom motivo.

Suas sobrancelhas se contraíram e ele esboçou raiva pela primeira vez. Ele fechou os olhos com força apertando a mandíbula. Sua angustia me atingiu e fiquei nervosa também. Quando ele abriu os olhos novamente lágrimas se formavam ali.

— Meu avô estava internado alguns dias atrás e... Bom, ele tem a aposentadoria de ex-militar que o mantinha no hospital, o que não cobria o enterro. – sua voz era fria e sem dor.

— Porque você não me contou isso? Ou contou a alguém... Sei lá, a gente dava um jeito. – gesticulei desesperada.

— Meu avô era um Ghoulie fada, os Serpentes podem ser mais cruéis do que você imagina e ainda assim eu sou leal a eles. Ou pelo menos tento ser. – deu de ombros – De qualquer forma não posso estar aqui com tudo isso acontecendo.

— E quanto a escola, quanto ao pessoal, não vai dizer nada a eles? – contestei.

— Eu nunca tive futuro nenhum na escola. Quanto aos outros, acho que vão deduzir o que aconteceu. – ele mordeu os lábios – Só achei que você precisasse de satisfações e acredite eu queria muito ficar.

— Também queria que você ficasse... – engoli em seco – Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? – tentei pensar.

Ele também pensou por um momento e fez um aceno com a cabeça como se concordasse com ele mesmo. Em seguida segurou meu rosto unindo nossos lábios e me soltando em seguida.

— Eu não podia ir embora sem que você soubesse que sempre fui apaixonado por você fada. – o olhei estática, ele suspirou e me deu um beijo na testa – Não vou deixar de pensar em você por nem um segundo. – encostou sua testa na minha.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele me deu as costas caminhando em direção às motos. A moto de Jughead já não estava lá e eu me senti aliviada por ele não ter visto isso. Apesar da confusão que Sweet Pea havia feito em minha cabeça eu não precisaria pensar nisso agora que ele estaria longe.

O foco era total na noite de hoje.


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Notas finais do capítulo

Bom meus amores, desculpe a demora de sempre!! Não deixem de comentar.



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