Guerra dos Mundos escrita por Lena


Capítulo 3
Recrutas


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem...



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Transcorreu-se dois meses e tudo que os novos recrutas faziam eram comer, dormir e se exercitar.

O dia começava com duas voltas ao redor de todo o acampamento. Depois, várias sessões de exercícios de força e agilidade. E o cansaço do dia era tão extenso que no final do dia, até mesmo a atividade de colocar comida na boca nos momentos das refeições parecia ser uma atividade extenuante demais para as suas energias.

E nos período da noite, os momentos poderiam ser ainda piores. Os seus horários de sonos eram interrompidos aleatoriamente, de forma que cada vez que uma sirene era escutada nos seus quartos, todos deveriam levantar e começarem a efetuar flexões, abdominais, socos e chutes no ar.

Com tudo isso, no final da primeira semana, todos pareciam mais mortos que vivos. A comida havia perdido o gosto há muito tempo e cada quantidade a mais de comida era encarada como a imposição de um dever cruel. Além disso, os instrutores continuavam os torturando repetidamente os chamando de fracos e sem valor.

Dessa forma, após duas semanas surgiu à primeira fatalidade. Um menino que não podia ter mais de quatorze anos morreu após uma sessão de corrida. Ele não tinha o físico exigido de um soldado e teve uma parada cardíaca.

Algumas das crianças ficaram chocadas com a visão de um corpo, mas outras, acostumadas as ruas sequer piscaram e continuaram a correr para efetuar o treinamento.

Inclusive, essas reações eram observadas de perto pelos instrutores.

Duas semanas depois desse incidente, começaram a aparecer às primeiras pessoas que perderam a cabeça. Uma menina simplesmente saiu pelos portões e nunca mais voltou. Outro dos recrutas anunciou na frente de todo o esquadrão que iria embora, porque não conseguia dormir o suficiente. Outro ficou maluco com a pressão.

E, dessa forma, os grupos foram pouco a pouco diminuindo de tamanho. As duas pessoas daquele esquadrão que ainda pareciam estar em perfeito estado mental, eram dois recrutas do Grupo Seis, Riot e Kylie.

Riot, não havia sido nenhuma surpresa. Ele avia sido treinado como soldado durante toda a vida. Os seus pais eram paroquianos de igrejas aliadas da Nação de Dominadores de Vento. E eles possuíam um costume antigo de mandarem seus filhos para o exercito como representantes da comunidade religiosa da Nação do Vento.

E Riot havia sido um dos escolhidos para representar a Igreja do seu condado. Ele era bem alimentado, forte e determinado. Além de tudo, ele havia um instinto nato de líder.

Possuía uma personalidade bastante sociável. Conseguia conversar com qualquer pessoa mesmo com os instrutores. Era bem educado, gentil, mas também bastante firme com os seus companheiros. Ele também tinha a capacidade de atrair as pessoas para o seu lado.

Qualquer um se aproximava dele para receber dicas sobre os exercícios mais difíceis, quando os instrutores não estavam olhando. Mas isso dificilmente passava despercebido pelos olhares atentos dos instrutores do acampamento.

E antes do término do segundo mês de treinamento, ele foi promovido à líder do seu grupo.

Kylie era um pouco diferente. A sua resistência física e força eram comparadas com a de Riot, o que era realmente estranho pela sua pequena estatura e pela sua história. Ela era apenas um gato selvagem das ruas, sem família, alianças ou capacidade, como ela podia ser tão primorosa fisicamente.

No entanto, não era isso o que mais atraia a atenção dos seus instrutores. Era a sua personalidade, sempre fria, séria e centrada.

Quando algum instrutor a observava fazer alguma atividade, ele a mandava fazer mais. Se a pediam para correr mais rápido, ela era a mais rápida. Se a pediam para pular mais alto, ela pulava o dobro. E tudo isso, sem qualquer reclamação ou cara feia.

Ela também apena parava o treinamento quando o instrutor intervisse ou quando estivesse a ponto de desmaiar.

Essa resistência fez que os instrutores a puxassem mais forte que qualquer um. E, dessa forma, no final de três meses, sequer Riot era páreo para ela.

E os dois começaram a se tornar uma dupla lendária de recrutas dentro do terceiro esquadrão. E os instrutores passaram a comentar que Riot era o soldado que todos queriam e Kylie era o soldado que todos precisavam.

No final de três meses, o Grupo Seis estava sentado em uma mesa do refeitório aproveitando a comida que aprenderam a odiar. Ninguém mais ligava para o sabor, apenas colocavam na boca ignorando completamente o familiar gosto dos temperos.

Aquela tarefa tornou-se apenas nutrição.

— Parece que o ranking vai sair hoje, preocupados? – Val perguntou com o sorriso no rosto.

O seu corpo meio gordinho havia se transformado muito no decorrer desses três meses e ela havia se tornado mais forte e alta. Ela era a mais alta entre todos do grupo.

— Qual é a preocupação? – Raven perguntou mal humorado como sempre. – Todos nós completamos os exercícios e entramos no peso que eles querem. Não tem como não nos classificarmos.

— Essa pergunta não foi para você, ser médio. Eu estou falando com os nossos gênios aqui. – Val apontou para Kylie e Riot que estavam calmamente engoliam o seu almoço. – Não estão curiosos para saber qual de vocês dois vai ficar em primeiro?

— Riot é o nosso líder. Deve ser ele. – Carmise respondeu olhando furtivamente para Riot que continuava a comer.

— Kylie, com certeza. – ele respondeu.

Kylie nada disse. Ela dificilmente consideraria algo tão trivial. Aquelas classificações não valiam nada quando eles fossem apenas recrutas, as notas sequer serviam para conseguir melhor refeição. Então, para que se preocupar?

— Bom, Kylie, como sempre está sem palavras hoje. – Sonny sorriu bem humorado. – Fizemos um bolão para saber quem vai ganhar o primeiro lugar no Ranking. Não se menospreze Riot, até ontem você tinha mais apostas ao seu favor.

— Isso não é importante. A posição de quem está em primeiro é a mesma de quem esta em último. Esses três meses foram apenas para nos deixar em condicionamento para o verdadeiro treinamento. – Mike era o oposto do seu irmão. Fechado e muito inteligente, até mesmo um pouco covarde. – Isso que deveria assustar vocês!

— Eu como essa comida todo dia nada mais me assusta. – Sonny respondeu o irmão secamente.

Um grupo de instrutores passou pela porta do refeitório. Era a primeira vez que eles faziam isso desde o primeiro dia. Geralmente, todas as instruções eram dadas no ginásio ou campo de treinamento ao lado da floresta. Mas dessa vez alí estavam eles.

— Quanto tempo, meus pequenos. Vocês aproveitaram o período de recesso de vocês? – ninguém respondeu. O rosto dele que antes parecia sério, nesse momento era apenas sádico. – Muito de vocês ainda estão aqui. Não sei se o treino foi duro o suficiente.

O que absolutamente não era verdade. O esquadrão havia sido formado por cento e duas pessoas, formando dezessete grupos. Hoje havia apenas 68 recrutas. Os grupos dentro do esquadrão foram sendo extintos ou tornando-se de apenas um membro, o que aumentava a taxa de desistência.

A pressão psicológica de não possuir nenhum companheiro com quem contar, não havia sido uma hipótese esperada pelos recrutas, mas havia sido a mais determinante.

Além de tudo isso, havia as pessoas que simplesmente se feriam ou eram mortas.  

— Não importa. – ele clamou. – Os que passaram, passaram e vendo como vocês estão gordinhos, o treino deve ter tido algum efeito. – ele pegou um papel que outro instrutor segurava. – Quem é Ross e Pardal? – ele perguntou.

E Riot e Kylie levantaram-se, prestando continência ao Instrutor Backer. Nenhum dos dois foi permitido sentar após a saudação e Backer apenas os observou cuidadosamente.

— Me falaram tão bem de vocês dois que eu estava esperando coisa melhor.

Riot ficou vermelho e as pessoas começaram a dar risadinhas da situação constrangedora. O instrutor Becker não sorriu, ele estava muito ocupado olhando as reações daqueles dois recrutas. Riot pareceu constrangido com a situação, afinal ele ainda era um adolescente, mas Kylie não esboçou qualquer expressão que não fosse completo tédio.

As risadas diminuíram, mas não quebraram a tensão, e após alguns segundo de completo escrutínio, o instrutor quebrou o contato visual com a menina. E sorriu novamente de forma quase imperceptível. Ele reconheceu o aço naquela menina. E pensou que tinha um bom soldado em suas mãos.

— O que foi aquilo? – perguntou Carmise quando todos estavam saindo para voltar para a quadra. Na parte da tarde, eles faziam treinos especiais de braços e pernas para conseguir sustentar o esforço das dobras de elementos.

— O que? – Kylie entrou no ginásio e Carmise veio logo atrás dela.

— O instrutor ficou te encarando e você agiu muito estranha. Não acho que você deveria agir assim como ele, ele pode te expulsar...

— Acredito que você esta mais estranha que eu. – Kylie interrompeu, enquanto voltava-se para observar os olhos da sua amiga. – Se você não quiser que descubram a sua queda pelo Pardal é melhor você esconder isso melhor. Você está parecendo suave demais para um soldado, Carmise.

E então entrou no vestuário, deixando a sua chocada amiga do lado de fora.

O resto do dia, Carmise não lhe dirigiu a palavra novamente. Ela pediu para fazer os exercícios com Val e Kylie preferiu fazer sozinha. O treino de mão era fácil, consistia em puxar peso, esmagar pedras de barro e arremessar coisas. Já o de perna era uma sequência penosa de agachamentos, chutes e equilíbrio em cordas que segundo os instrutores serviam para treinar a agilidade das pernas.

Kylie terminou os exercícios de braço e foi para os de perna. Nenhum instrutor estava por perto, apenas Riot que organizava alguns colchonetes no armário.

— Pode me ajudar aqui, Kylie? – ele perguntou assim que a viu e ela o ajudou a colocar os colchonetes nos lugares. – Aconteceu algo entre você e Carmise? – ele perguntou.

— Não.

Ela terminou de empilhar os equipamentos e se dirigiu para a fita elástica para treinar equilíbrio. Riot a acompanhou para fazer o mesmo exercício, geralmente os alunos dividiam as fitas, mas ela queria treinar sozinha por um tempo antes dos outros conseguirem terminar de fazer os exercícios de mão. Ela não queria Riot alí.

— Eu acho que algo aconteceu, é perceptível no rosto dela, então como líder...

— Ela gosta de você. – Kylie disse, enquanto pulava na fita elástica sem cair no chão. – Você deveria impedi-la. Como líder e tal...

Riot nada disso, apenas a olhou abismado. Garotas não costumavam falar assim com ele, a sua timidez geralmente não deixava. Mas, ele sempre se impressionava com a forma direta como aquela criança se dirigia a ele, o intimidado.

No início da convivência deles, ele achava que havia encontrado com a pessoa mais fria e egoísta que já havia cruzado o seu caminho. E hoje, após três meses de treinos horríveis, com os seus companheiros sabendo todos os seus segredos, medos e ambições, ele tinha certeza que esse era o caso.

— Você não deveria me dizer isso, ela é sua amiga, Kylie. Você deveria guardar segredo sobre os sentimentos dela.

Kylie o olhou de cima da fita elástica e ele se sentiu pequeno sob o escrutínio daqueles olhos perolados. Ela tinha os olhos mais bonitos que ele já havia visto. Pareciam selvagens demais para uma criança tão pequena.

— Você sabe que ela gosta de você e por mais que você goste da atenção que ela te dá, isso não é certo. O esforço dela está diminuindo e você esta a prejudicando, enquanto ela deveria estar totalmente focada.

Kylie pulou mais uma vez na fita, ágil e equilibrada. Ninguém conseguia fazer isso que ela fazia. Por isso, ela dificilmente precisava que os instrutores a inspecionassem.

— Eu não sou responsável pelo sentimento que outras pessoas nutrem por mim.

Kylie sorriu ironicamente. Nunca um sorriso completo. – Ela tem quatorze anos você tem quase dezesseis, eu poderia muito bem dizer para os instrutores que você está a seduzindo e isso não pegaria bem para você como líder e tal... – ela ameaçou, enquanto mantinha o sorriso. – E eu sei o quanto você gosta da sua posição.

Ela pulou da fita elástica em um mortal perfeito e foi embora e ele não sabia se ficava deslumbrava ou com raiva.


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Notas finais do capítulo

Comentem se gostarem e acompanhem a história.



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