Havia um pequeno espelho na cômoda, guardado na gaveta e afundado entre suéteres e camisas, um dos poucos espelhos que restou na casa dos Brown. Lilá Brown estava assombrada com a sua presença, era quase como se pressentisse sua presença, como se o ouvisse chamando por ela. Assustador, eu sei.

Já houve uma época que você sempre encontraria um espelho na bolsa da garota Brown, ou em suas mãos, sempre tão perto como se fosse um membro da própria garota. Houve uma época que um espelho gigante cobria quase toda a parede do seu quarto. Houve uma época em que ela parava para se observar em qualquer reflexo. Isso foi há anos, agora, ela fugia da própria aparência.

Desde que acordou no hospital semanas – ou seriam meses? –depois da guerra, ela não ousou se olhar no espelho. Ela sabia o que veria, e tinha certeza absoluta que não gostaria. Na verdade, ela sabia que odiaria ver seu próprio reflexo. Ela não estava pronta para ver no que se transformou. Ela tinha um vislumbre no olhar de cada pessoa que vinha lhe ver (medibruxos, seus pais e colegas de Hogwatrs), cada um trazia o mesmo olhar pesaroso e triste, Lilá sabia que não era mais aquela garota bonita.

E você se lembra de como ela era bonita? Merlin, Lilá era uma das garotas mais bonitas que já passou por Hogwatrs. Pele de porcelana, cabelos loiros e brilhosos, olhos castanhos brilhantes, nariz pequeno e lábios delicados. Ela era uma verdadeira boneca, que hoje, estava quebrada.

Ela sentia, quando passava a ponta dos dedos pelo rosto, cicatrizes que iam de uma ponta a outra, grossas e finas, tamanhos variados, cobrindo o que um dia já foi um belo rosto.  Ela também as carregava em seus braços, seu pescoço era o mais prejudicado, e um pouco do resto do corpo. Aquelas marcas, agora mais claras, gravadas em sua pele perfeita.

A magia tinha ajudado, mas havia coisas que nem ela podia reparar; A beleza de Lilá se foi.  Seus pais pareciam chorar toda vez que olhavam no que sua filha tinha se transformado, seus amigos pareciam ter medo da sua aparência, e garotos não conseguiam manter contato visual –tão diferente de antigamente quando eles não desviavam os olhos dela.

E para uma garota que sempre esbanjou sua beleza, que sempre viveu por ela e que dependia dela, as cicatrizes era sua tortura eterna. Enquanto se escondia no quarto, protegida por grossas paredes de olhares pesarosos, Lilá ainda conseguia sentir-se ameaçada. O pequeno objeto, aquilo que podia mostrar sua real –e para sempre –aparência ainda lhe amedrontava e ela não estava pronta para isso.

Lilá Brown, por hora, viveria na ilusão que ainda era uma boneca bonita.