After Dark escrita por saturn


Capítulo 2
Inumanos, Cientistas e Aranhas




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"I come from scientists and atheists and white men who kill God
They make technology high quality complex physiological
Experiments and sacrilege in the name of public good
They taught me everything, just like a daddy should" *

Peter cantarolava aquela mesma música há alguns minutos, perdido em meio de milhares de papéis, livros, cadernos e arquivos que vinha tentando colocar em ordem já havia algum tempo. O sol lá fora, que mal tinha aparecido na hora em que ele se levantou, já brilhava forte e lançava seus raios por entre as cortinas entreabertas de seu quarto. Suas costas doíam por estar em uma posição desconfortável há muito tempo, mas ele ignorava a dor e finalizava sua organização. Após mais algum tempo, finalmente terminou de colocar tudo em ordem e esticou os braços acima de sua cabeça, sentindo suas costas estralarem.

Não dormira bem na noite anterior, mas, para ser justo, ele costumava ter mais pesadelos do que o normal durante aquela época do ano. Suspirou e pegou seu telefone de cima da cama quando ouviu o mesmo tocar, sabendo quem seria. Internamente, desejava que não precisasse lidar com aquele tipo de conversa, mas ignorar seria pior e a última coisa que ele queria era piorar as coisas. Ele já não havia ferrado com tudo o suficiente?

— Oi, tia May. Come stai? (Como você está?)

— Oi, bambino. Sto bene, e tu? (Estou bem, e você?)

— Bene anche, grazie. (Bem também, obrigado)

— Ah querido, não precisa mentir para mim. Eu sei que é uma época difícil para você.

— E eu sei que é difícil para você também, zia. (tia) – Peter suspirou e passou a mão pelos cabelos oleosos – Eu só... sinto saudades dele.

— Eu também, bambino. E sei que onde quer que ele esteja ele também sente nossa falta. – ele não viu, mas sabia que May estava com aquele mesmo sorriso triste de quando ela mencionava seu tio – Eu te mandei algumas coisinhas pelo correio, acho que deve chegar hoje.

— Que coisas?

— Coisas de seu tio, que ele gostaria que você tivesse.

— Eu... obrigado, May. – ele sentiu seus olhos arderem em lágrimas não derramadas – Queria poder estar aí com você.

— Eu sei bambino, eu sei. Queria poder estar ai com você também. Mas talvez seja bom. Pelo menos desse jeito nós não alimentamos as tristezas um do outro, certo? – ela riu nasalada e ele sentiu um aperto no coração – Mas eu estou feliz que você esteja ai, vivendo seu sonho. Seguindo em frente.

— Não consigo seguir em frente se você não seguir em frente.

— Não precisa ter medo de me deixar para trás. – um som de alarme tocando pode ser ouvido pelo telefone, seguido por um suspiro da Parker mais velha – Eu preciso ir, querido. Cuide-se bem e não faça nada estúpido, ok?

— Eu não faço esse tipo de coisa. – ele disse em falsa indignação – Fica tranquila, May. Eu vou tomar cuidado, juro. Eu te amo, viu?

— Eu também te amo, bambino. Abençoado seja.

— Abençoado seja. – ele suspirou – May?

— Sim?

— Me desculpe.

Fez-se silencio do outro lado da linha.

— Eu nunca te culpei, Peter. Então só... tente se perdoar, ok?

— Ok. – e com esse último sussurro, a ligação acabou.

Apoiando a cabeça entre as mãos, ele deixou as lágrimas que vinha suprimindo finalmente escorrem. Aquela sempre era uma época difícil para os dois últimos Parker, principalmente se levado em conta que eles estavam a tantos quilômetros de distância. Embora May fizesse garantias de que talvez as coisas fossem mais fáceis caso eles estivessem distantes, ele sabia que ela só tinha dito aquilo como forma de confortá-lo. Não era justo que ela, que nem tinha quarenta anos ainda, tivesse que cuidar e se preocupar com ele. Ela deveria estar se divertindo e vivendo a vida ao lado de seu marido, que Peter tirou dela em sua arrogância e egoísmo.

Peter Benjamin Parker, nascido de cientistas, ateístas, aventureiros, bruxaria e séculos de dificuldades e de histórias de deuses impiedosos e de protestantes raivosos e de revolucionários sentia aquela mesma raiva crescente desde que podia se lembrar. Ele foi criado por um casal cheio de opiniões sobre o mundo em que viviam, que o levavam para protestos desde que ele completara dez anos e que não tinham medo de ensina-lo sobre as partes feias do mundo – não que ele precisasse. Ele cresceu no lado feio do Queens, onde o vizinho da direita era alcoólatra e batia na esposa e o da esquerda era um policial corrupto que prendia pessoas injustamente, pessoas cujo o único crime era não serem brancos o suficiente.

Então sim, ao contrário do que o Sr. Stark – o irritava que o homem agisse como se fosse algum tipo de figura parental para ele. Peter já tinha dois deles e, por mais que tivesse criado certo tipo de carinho pelo Star, ainda possuía muito rancor e raiva de pessoas como ele e como a maioria dos outros vingadores – e o resto da equipe pensasse, ele não era nenhum tipo de bebê inocente e ignorante em relação aos problemas do mundo. Aos doze ele gritou na cara de um policial que todos eles são bastardos e aos catorze ele socou um cara que tentou assediar MJ até que o mesmo se tornasse apenas uma pilha sangrenta no chão. Ele saia nas ruas usando um capuz preto, lutando contra todos aqueles que utilizavam de suas forças para tirar vantagens dos mais fracos.

Foi quando tudo aconteceu. Em um momento ele estava aprendendo a dar socos com o Demolidor e no outro, ao voltar para casa, deu de cara com tio Ben, que tinha aquela mesma expressão cansada e compreensiva que parecia o perseguir nos meses anteriores a sua morte. ('Eu entendo sua raiva, Peter. Entendo sua revolta. É um mundo de merda e quando se tem poderes como os seus, as responsabilidades são consequências. É importe que você lute pelo o que acredita, que você se importe com as pessoas e que tente fazer algo. Mas nem sempre a violência é a solução. Confie em mim, eu bem que queria poder socar caras como Thomas Malthus e Norman Osborn, mas do que isso adiantaria? A revolução começa de maneira silenciosa, filho)

O tiro disparado pela arma do assaltante que os interceptou duas quadras depois, perto demais da casa deles, não foi silencioso. Nem seus gritos, ou as sirenes, ou a polícia, ou os gritos de May. Nada mais foi silencioso na vida de Peter, nada além de sua própria raiva, que passou de explosão de calor para uma chama fria que ficava constantemente abaixo de sua pele. Se as pessoas fossem cores, ele seria de um azul radioativo como os líquidos das seringas daquelas pessoas a quem ele se submeteu como boneco de teste um ano antes do ocorrido. (Ele pensou que, se a ciência pudesse encontrar uma forma de melhorarem seu sistema imunológico, de o tornar mais forte, significaria que todos poderiam ter acesso a tais milagres. Ele acha difícil de acreditar que foi tão ingênuo. Mas ao mesmo tempo, acha que foi isso que o impediu de morrer pela picada da aranha na excursão as Indústrias Osborn) Tio Ben se foi e ele caçou o homem que fizera aquilo com ele, que destruíra a família de Peter e que os deixara aos pedaços. Ele o caçou e o matou e ele se odiou por se tornar uma daquelas pessoas. Depois disso ele nunca mais voltou a Hell's Kitchen e foi assim que o Homem-Aranha nasceu, um símbolo de sua própria culpa, de sua própria parcela de vilania.

Logicamente, poucas pessoas sabiam de sua história de fundo. Para seus colegas vingadores ele era apenas uma criança ingênua tentando imitar seus heróis – não que qualquer um deles fosse algo do tipo para ele. Talvez, futuramente, amigos. Mas jamais heróis, porque Peter Parker acreditava em destruir seus heróis antes de destruir os ricos -, alguém que ajudava a elevar a moral do time. Para tia May, o sobrinho-filho que entendia suas dores e que precisava de auxílio para conseguir lidar com seus próprios sentimentos de inadequação. Para seus amigos, um ativista que tentava ajudar aqueles que precisavam como uma forma de se redimir de seus erros passados. No entanto, ele ainda não havia se decidido sobre o que ele era para si mesmo. Vítima, herói-trágico ou anti-herói? Um vilão redimido? Um garoto perdido?

(Talvez ele quisesse que alguém o visse apenas como Peter. Sem Parker ou Homem ou Aranha.)

Longos e tortuosos minutos de reflexão mórbida se passam e ele precisa se obrigar a sair de seu desconfortável lugar ao pé da cama e se enfiar debaixo do chuveiro, a fim de espantar a sujeira e quem sabe sua própria melancolia. Apesar de tudo, sentir-se triste e desmotivado não era do feitio diário do menino, que recentemente vinha buscando encarar a vida com mais leveza e positividade. Nem suas tentativas eram capazes de ajuda-lo naquela época do ano, no entanto. Mas ele é insistente e persistente e se força a escovar os dentes, colocar roupas que não cheirem a suor e pentear os cabelos. Ele arruma a cama e se joga na mesma por longos momentos, fadigado apesar de sua super-resistência. Só torna a voltar ao mundo real ao ouvir uma batida decidida, meio irritada até, na porta de seu quarto. Arrasta-se até a mesma, tomando cuidado para não bater a cabeça na samambaia dependurada perto do batente.

É Happy que está do outro lado, com sua habitual feição diária de irritação.

— Aqui garoto. Dá próxima vez vá buscar sua própria encomenda.

Peter pensa em explicar que ele só havia tomado ciência de que algo chegaria a menos de uma hora, mas seria a mesma coisa que dar nó em goteira. Ao invés disso, murmura um agradecimento seguido por um pedido de desculpas e pega a mala de couro das mãos do ex-guarda-costas e volta para dentro de seu quarto, fechando a porta atrás de si. Nesse processo ele perde a ligeira centelha de preocupação que assombra os olhos do Horgan.

— O que você tem aqui para mim, tio Ben? – questionou ao ar. Às vezes gostava de fingir que, caso falasse como se ele ainda estivesse ali, parte de si reconheceria um resquício de presença, talvez um fantasma de um abraço.

Abriu a mala, se deparando com as roupas velhas de Benjamin, que cheiravam como se tivessem sido lavadas recentemente. (Ah, tia May. Por que você se tortura desse jeito?) Um par de coturnos velhos, um diário, alguns discos, um vidro de perfume pela metade, um walkman e no fundo, uma jaqueta de couro. A mesma que seu tio sempre usava, independente do clima (Ele não estava a usando naquela noite, May insistiu que eles deveriam mandar lava-la. Peter meio que pensou que sua tia havia a deixado para sempre na lavanderia da rua de cima), e havia ganhado de segunda mão de seu irmão, pai de Peter, e ela estava desgastada em alguns pontos, o tecido interno havia sido remendado algumas vezes com linha de cor incompatível e o perfume ainda era o mesmo. Vestiu-a sentindo um leve tremor nas mãos, temia que aquele pedaço de couro pudesse se desfazer caso ele não fosse cuidadoso. Peter sempre soube que era consideravelmente baixo e, mesmo tendo mais músculos do que seus franzinos tio e pai, a jaqueta ficou relativamente grande nele. Era como um grande abraço dos dois pais que perdeu. Ele nunca mais iria tira-la.

Não tocou nos outros itens, não tinha energia para isso. Fechou a mala e cuidadosamente a escondeu debaixo de sua cama, onde ela poderia ficar longe dos olhares indesejados e dos dele também. Com motivação renovada, saiu do quarto e desceu as escadas, tentando desesperadamente não pensar muito sobre o que aquilo significava. Ele precisava de um motivo para acreditar que aquele não era o início de uma mudança que ele não tinha certeza se queria. Mas talvez May estivesse certa e fosse à hora de seguir em frente. De qualquer forma, ele precisava acreditar em algo, uma tábua de salvação. Talvez jogasse online com Ned mais tarde, talvez passasse horas no telefone de MJ. Qualquer coisa que o impedisse de se render ao exaustivo processo de pensar demais.

Os andares inferiores estavam barulhentos. A semana seguinte seria a semana do 4 de julho, dia da independência dos Estados Unidos e também do aniversário de Steve Rogers. Exatamente uma semana antes do aniversário de morte de Ben.

Os outros vingadores voltariam de sua missão dali dois dias e, por mais que odiasse admitir, ele meio que queria que eles só voltassem dali um mês, quando as coisas estivessem melhores e não doesse tanto olhar para Scott, que era exatamente como seu pai. Mas ele não queria se prender a aquele tipo de pensamento, por isso balançou a cabeça e passou por agentes da S.W.O..R.D que comandavam as preparações de segurança, grato que ninguém ali sabia sua identidade de vigilante, e se escondeu em uma das cozinhas privadas na ala oeste, onde se podia ver o mar e contemplar uma visão diferente da completamente artificial do resto da instalação. Foi lá que ele encontrou Wanda Maximoff, que preparava sanduiches e os colocava em uma cesta de palha. Sentiu as orelhas queimarem levemente. Ainda não acreditava que tivera coragem de conversar com ela no dia anterior, muito menos de chama-la para assistir Tá Dando Onda com ele. Esperava não ter feito muito papel de idiota.

— Bom dia! – cumprimentou-a com um tom de voz mais alegre do que realmente se sentia.

— Ah, oi Peter. Bom dia. – ela sorriu para ele e algo se remexeu em seu estômago. Ela era realmente bonita, ele percebeu. – Dormiu bem?

— Que nem uma pedra. – nem ele conseguiu encontrar qualquer tom de verdade em sua afirmação, mas ficou grato que, caso ela tenha ou não detectado sua mentira, não mencionou nada – E você?

— Dormi bem. Eu estou indo dar um passeio no bosque atrás do complexo.

— Isso é... legal. Eu já fui lá algumas vezes. Ajuda a aliviar a mente, né? – riu sem jeito.

— Com certeza. – os cabelos de um castanho com um leve tom de vinho, diferentes do tom alaranjado que ela usava quando se conheceram, estavam presos em um rabo de cavalo e ele notou uma pequena tatuagem na base do pescoço dela – Quer vir comigo? Eu realmente apreciaria companhia.

— Claro! Quer dizer, sim! Quer dizer, se não for incômodo.

— Não é não. – ela riu – Acho que eu acabei me empolgando e embalando comida demais, então eu acho que tem o suficiente aqui para nós dois. Eu meio que precisava recarregar a energia dos meus cristais e uma caminhada na natureza seria uma ideia perfeita.

— A energia aqui é pesada, né? – ele questionou, tentando não gaguejar. Péssimo momento para sua falta de autoconfiança, Parker — Acho que é a quantidade de agentes do governo.

— Acho que é toda essa ostentação.

— Eu concordo.

— Você não quer levar seus cristais também?

— Ah não, eu não uso cristais, a não ser os realmente antigos que minha tia tem. Eu fui criado para ser contra a exploração incansável dos recursos minerais, sabe?

— Em Sokovia nós utilizávamos sempre os mesmos, passados de geração em geração. Meu tio morreu nas minas, então eu acho que entendo seu ponto de vista.

Eles sorriram um para o outro e ela pegou a cesta, que parecia um pouco pesada, com sua névoa vermelha mega-legal. Eles começaram a caminhar lado a lado em direção a saída e não falaram muito a não ser sobre breves comentários a respeito da péssima escolha de decoração das pessoas ricas. Nada ali tinha muita personalidade, era meio deprimente. Chegaram ao lado de fora e enfim a orla do bosque rapidamente, apesar de caminharem sem pressa. Havia uma trilha que ele seguia e que, aparentemente, ela também, e que ele sabia dar a um riacho após alguns poucos quilômetros de caminhada.

— Você não tem medo? – Wanda questiona, quebrando o silêncio – De que possa haver algo ou alguém se espreitando por aqui? Pronto para fazer algo de ruim com desavisados?

— Tipo, o que?

— Sei lá, a gente pode ser sequestrado.

— Fala sério. – ele riu – Eu tenho superforça e você tem esses poderes legais. A gente é meio que o grande mal por aqui.

Caminharam mais um pouco, lentamente seus arredores se preenchendo com mais e mais natureza e uma calmaria começando a tomar conta deles. Wanda olha para Peter e nota sua vestimenta.

— Jaqueta legal.

— Ahn... é. Legal, sim. – Peter gaguejou. A feiticeira percebe um nome bordado em uma das mangas. Benjamin. É pequeno, mas ela tem boas vistas.

— É de seu namorado? Ou de algum amigo? Quer dizer, eu-

— Não, tá tudo bem. – Peter a interrompeu – Eu não tenho namorado ou namorada ou qualquer coisa do tipo. Era do meu... era do meu tio. Ele gostava dessas coisas, sabe? Grunge. Era a praia dele.

— Seu tio devia ser uma pessoa legal.

— Ele era. O mais legal de todos. Foi ele que me incentivou a ser um super-herói, mesmo sem saber.

— É sério?

— É. – ele riu anasalado – No inicio, quando eu ganhei esses poderes, eu deixei isso subir na minha cabeça. Eu... os usei de forma responsável, mas depois que eu perdi o tio Ben por causa da minha imprudência, eu lentamente comecei a perceber que eu não era nenhum tipo de grande bem ou grande mal. Que eu era só o Peter, mas que agora eu tinha esses poderes e podia escolher a forma como iria utiliza-los e que a responsabilidade do que acontece quando eu tomo essa decisão é minha. Eu acho que, aos poucos, eu amadureci. Mas ao mesmo tempo mais rápido, sabe? A gente meio que amadurece de maneira diferente quando a gente passa por essas coisas de super-herói e tudo mais. Me ajudou a aprender a controlar minha raiva.

— Eu nunca quis ser uma super-heroína, acho. Eu só queria ter uma vida normal. Ter meus pais de volta. Pietro, meu irmão.

— Eu entendo, de verdade, eu entendo. Eu sinto muito que eu não possa fazer nada a respeito.

— Não, tá tudo bem. Só de você estar aqui ouvindo minhas lamúrias já é mais do que qualquer pessoa tem feito por mim nos últimos meses. Desde... desde Ultron.

— É, eu sei. Tem sido difícil para mim também, não por causa de Ultron mas... a vida acontece e as vezes é uma merda, né? Mas é bom conversar. Você é uma garota legal, Wanda.

— Você é legal também, Peter. E... eu gostei da jaqueta.

— Gostou? – ele disse, divertido. Internamente, no entanto, se perguntava de onde vinha tanta ousadia de sua parte.

— É, eu gostei. Fica bem em você. – ele pode observar um pequeno rubor aparecer nas orelhas expostas dela – Sabe de uma coisa, Peter?

— O que?

— Eu... eu acho que... depois de todos esse tempo, meio que sozinha, eu acho que estou começando a ter um pouco de esperança. De que as pessoas podem sim serem legais comigo. Você definitivamente é a pessoa que tem sido mais legal comigo e a gente só teve poucas conversas até agora.

— É, eu também. Eu – coçou a garganta – eu concordo com você. Isso significa que nós somos amigos?

— Eu acho que sim.

— Legal.

— Legal.

— É.

— Pois é. Ei, olha. O riacho. Tem um lugar perfeito para piqueniques logo ali.

— Vamos lá então!

Eles chegaram a uma pedra em frente a agua que era larga e lisa o suficiente para acomoda-los e, ao não detectar nenhum som de nenhum animal potencialmente perigoso, ele de dispôs a ajuda-la a esticar o lençol que a mesma trouxera e tirar algumas coisas da cesta. Havia, além da comida e dos cristais, dois livros que ele reconheceu os títulos. Orgulho e Preconceito e o sexto volume de Harry Potter.

— Sabe de uma coisa, eu tenho essa impressão de que você me acha idiota. – ela começou de repente – Quer dizer, a gente mal se conhece e eu já compartilhei todos os meus problemas com você.

— Na verdade eu tinha a impressão de que você pensava a mesma coisa de mim. Nem com Tony ou Natasha eu falei sobre meu tio, mas sei lá, você confortável. Por mais esquisito que pareça.

— Você me deixa confortável também, Peter. Você é um cara legal.

— E você é uma garota legal também. Mas eu acho que já falei isso. Foi bom te conhecer.

Eles sorriram um para o outro mais uma vez e pelo resto da manhã e metade da tarde, continuaram naquele mesmo local sob a sombra das arvores e a brisa revigorante. Ele foleou o exemplar de Jane Austin enquanto ela se concentrava no Enigma do Príncipe e foi, de alguma forma, perfeito.

Pensamentos sobre o tio Ben não tornaram a incomoda-lo naquele dia e ele se sentiu mensamente grato. Ele esperava que aquela amizade frágil e inicial durasse. Porque, sabe, Wanda era uma garota muito, muito legal.

 


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Notas finais do capítulo

*A letra é a primeira estrofe da música Rät da cantora Penelope Scott. Eu super recomendo que vocês ouçam, por que é incrível. A tradução é essa:

"Eu venho de cientistas, ateístas e homens brancos que mataram Deus

Eles fizeram tecnologia de alta qualidade, complexos fisiológicos

Experimentos e sacrilégios em nome do bem público

Eles me ensinaram tudo, assim como um pai deveria"

(Peço desculpas por qualquer erro de tradução já que eu traduzi bem rápido e de cabeça e, embora eu seja consideravelmente fluente em inglês, tradução não é meu forte)

Até a próxima!
Saturn.



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