Um dia escrita por Ero Hime


Capítulo 1
Um dia


Notas iniciais do capítulo

MAYARA ATACA NOVAMENTE DESSA VEZ PRA CHORAR eu tinha essa belezinha guardada nas notas há muuuuito tempo, hoje sentei no computador e pensei "por que não?". Espero que gostem, eu fiquei tristinha mas orgulhosa! São dois capitulozinhos (algo raro pra mim) ♥



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Hinata jogou sua bolsa no banco vago, ao lado do seu.

Com um suspiro pesado, desfez o nó do cabelo. Puxou o celular, esperando ver uma nova mensagem. Sem sucesso. Escorregou pelo estofado, apoiando as pernas e recostando a cabeça, enquanto olhava pela janela, para a estrada em movimento.

Estava cansada. Não somente de correr para a rodoviária com sua mochila, a fim de não perder a hora; estava cansada. Cansada de tudo. Há muito aquela rotina deixava-a ansiosa. Tinha aceitado as imposições do pai, na época, porque estudar fora era seu sonho. Agora, tudo que queria era adormecer com o balançar abrupto da condução que pegava todos os dias.

Seguiu pela via expressa, com a paisagem passando em borrões. A linha de ônibus que coincidia com seus horários parava em três cidades da província, pequenas demais para terem seus próprios horários; pequenas demais para terem rodoviária.

Não conseguiu dormir, e já não escutava a música que saía por seus fones de ouvido. Não se permitia uma trégua no fim de semana, porque precisava colocar a matéria em dia e tirar boas notas; só assim convenceria seu pai a continuar pagando seus gastos de transporte.

Suas roupas estavam amassadas, as vestiu de qualquer jeito. O cabelo despenteava com o vento que entrava pela fresta da ventana quebrada. Correu os dedos pela franja, agora grande demais. Nada era como antes.

O ônibus diminuiu a velocidade, entrando na cidade. As ruas esburacadas dificultavam o trajeto, e as poucas pessoas no veículo fingiam não se importar. Hinata afastou a cabeça do vidro, para não bater. A paisagem borrada foi substituída pelas casas antigas de cercado colorido. Uma pequena mercearia e a agência de cartas. Viraram estreito em uma das esquinas, para estacionar na estação. O motor tossiu e desligou. O motorista desceu pela porta da frente do ônibus.

Teriam de esperar alguns minutos. O tédio era ainda maior enquanto estavam parados. Hinata queria estudar, mas sabia que não se concentraria. Queria descobrir para onde tinha ido seu desejo de crescer – vivia cada manhã apenas a espera de outra. Era nisso que tinha se transformado?

Enquanto estavam parados, duas pessoas entraram. Uma minivan parou e saiu. Um táxi desapareceu no cruzamento. Outro ônibus chegou; provavelmente apenas um circular que parava nas províncias que não tinham horários suficientes para rodar o tempo todo.

O ônibus parou ao lado de Hinata. Recostada na janela, com os olhos distraídos, ela observou as janelas passarem lentamente, em uma sequência. Quando estagnou, pôde ver que as cortinas eram azuis, e os bancos pareciam tão confortáveis quanto os seus próprios.

Em sua direção, sentado como um espelho dela, ela o viu.

Arrumou a postura, subitamente atordoada. Sua boca entreabriu de uma maneira pouco educada, mas ela não se importou. Foi como se o mundo desaparecesse.

Aqueles olhos eram tão azuis. Como duas pedras de topázio, ele a encarava com igual perturbação. Intensamente. Avaliaram seu rosto, sem se importar com etiqueta.

Hinata corou; ela sequer se lembrava da última vez que isso tinha acontecido.

Suas bochechas aqueceram, enquanto ela sentia que seus olhos brilhavam. Pela primeira vez, em muito tempo, sentia-se viva. Seu coração saltou em disparo, dolorosamente. Ele a encarava, do outro lado. Tinha o rosto queimado de sol e o cabelo loiro brilhante, que insistia em cair por suas sobrancelhas em um corte mal feito. As sobrancelhas grossas, os lábios finos, o maxilar quadrado. E os olhos. Grandes olhos azuis. Ela poderia desenhá-lo em seus sonhos.

Perdeu o fôlego. Nunca tinha se sentido assim.

Desejou sair dali. Estava sufocada. Queria descer correndo pelas escadas, jogar-se do outro lado. Sentir o sol queimar, o vento bater, o chão de pedras em seus pés. Queria poder tocá-lo, e acariciar sua pele.

Seu coração ligou-se ao dele pelo momento que pareceu a eternidade.

O ônibus chacoalhou, e o motor tornou a ser ligado. Com o olhar fixo, ela começou a se mover em ré. As janelas se afastaram, e ela virou o rosto, querendo vê-lo o máximo de tempo possível. Quando viraram a esquina, a rodoviária ficou para trás, junto dele.

Hinata virou-se para frente, ofegante. Escorregou novamente no banco, abraçando as próprias pernas e sentindo o peito estarrecido. Tocou os lábios com as pontas dos dedos; estavam úmidos.

Retomou viagem. A cidade ficara para trás, junto dos ônibus que um dia receberia, junto das pessoas que um dia a cruzariam, junto de todas as histórias que um dia presenciaria. Junto do garoto que um dia avistou, e um dia se lembraria. Tudo ficara para trás, sim.

Durante aquele dia, ela pensou nele, e nos detalhes que sua mente gravara. Cada traço singelo, e o olhar que ele lhe dera. Como se suas almas se reconhecessem.

Um dia, no futuro, Hinata se questionaria se era possível amar por um dia, e um dia somente. Talvez fosse.


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