Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 9
Capítulo 9




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Será que ela está falando a verdade em relação a Fenwick? Mesmo que esteja, e mesmo que ela não queira nada com ele, é bem óbvio que ele quer alguma coisa com ela...

—James! Presta atenção!

James sacudiu a cabeça e olhou para Diana, que havia lhe chamado. A goles que Matthew tinha lançado para ele estava na mão de Brenda, voando vinte metros abaixo dele.

Droga.

—Desculpa, pessoal, vamos fazer uma pausa de cinco minutos? – Ele disse. Os outros concordaram e se encaminharam para o local em que Indira e Edric esperavam com água.

—James, tá tudo bem? – Diana perguntou, caminhando com ele. Diana havia jogado com ele no Puddlemore logo que James fora chamado pro time ao sair de Hogwarts. Hoje ela defendia as cores das Harpias de Holyhead, o time exclusivamente feminino da liga.

—Sim, sim. Um pouco distraído.

—Tem alguma coisa errada? Eu não lhe vejo distraído assim desde, bem... nunca – Diana confessou.

Claro que James não podia dizer que sim, tinha algo de errado. Ele estava sendo investigado por um crime que ele certamente não cometera. Ele estava sob pressão de ganhar a Copa. E além disso, Lily...

Ele suspirou. Menos de duas semanas com a garota e ele já estava se sentindo como se tivesse dezessete anos novamente, se distraindo ao pensar nela – os cabelos ruivos, os olhos, o jeito que ela sorriu para Fenwick...

James teve de sacudir a cabeça de novo.

—Problemas com garotas – Ele disse por fim, o que não era exatamente mentira. Eles costumavam ser muito próximos no ano que passaram jogando juntos. Diana ergueu uma sobrancelha.

—Você? James Potter? Que garota não iria querer o capitão, o herói da Inglaterra? – Ela perguntou, então semicerrou os olhos – Ela é comprometida?

—Ela... eu não sei... – James disse num tom de voz frustrado. Diana olhou para James intrigada. Ele não era de ficar assim.

—Hey, Pontas, que droga está acontecendo?

James e Diana se viraram e encontraram Sirius, de braços cruzados e uma expressão dura.

—Oi, Black. Segundo James, “problemas com garotas”.

Sirius ergueu as duas sobrancelhas para o amigo enquanto James bagunçou os cabelos.

—Pontas... – Sirius falou num tom de aviso

—Eu sei, Almofadinhas – James disse.

—Escuta, eu sei que Evans lhe atrapalhou alguns dias atrás, mas se conversarmos direitinho, acho que dá para...

—Espera, Evans? – Diana interrompeu – Eu já ouvi esse nome antes...

—Dos jornais, talvez? – Sirius disse, apontando para as arquibancadas – Aquela ruiva ali é a auror que saiu no Profeta recentemente.

—Não é daí que... – Diana começou, mas se interrompeu com uma exclamação de surpresa – Oh! Evans, Lily Evans? A garota que inspirou aquela ida ao Caldeirão Furado? – Diana se virou para a arquibancada e fez uma careta com o esforço de vê-la melhor – Parece ser bonita, mas não dá para ver direito daqui.

Enquanto Diana falava, Sirius e James se entreolharam; Sirius estava encarando o amigo com uma expressão que misturava incredulidade e extrema surpresa, enquanto James parecia estar resignado.

—É, Evans veio como amiga de Remus, lembra de Remus? – Sirius falou por fim, voltando o olhar para Diana.

—Claro. O melhor de vocês quatro.

—As pessoas insistem nessa falsa impressão – Sirius disse, com um suspirou fingindo que arrancou um riso de Diana – Acho melhor vocês voltarem, o jogo é amanhã. James, – Sirius chamou o garoto, que olhou imediatamente, – esquece seus problemas com garotas, ok? E vamos conversar mais tarde. Eu não acredito nisso.

James não culpava Sirius, de jeito nenhum. Ele também mal podia acreditar que estava nesse papel de novo. Suspirando, ele subiu novamente ao ar e focou no treino (ficando completamente de costas para a arquibancada).

—Vamos lá, gente. Sem distrações agora.

***

—Estamos autorizados a dizer quão ruim foi a primeira parte do treino para James ou é melhor deixar quieto? – Marlene perguntou. Lily riu levemente, enquanto Peter e Remus faziam caretas semelhantes.

—Tenho certeza que Sirius já foi falar isso – Remus disse, indicando o amigo que havia corrido antes deles para a direção de James assim que o treino acabara.

—Bem, se formos justos, melhorou muito depois daquela pausa – Lily comentou – Principalmente porque quem estava realmente estragando o treino aparentemente se concentrou de novo.

Isso você não pode falar para James – Peter disse, sacudindo a cabeça em negação.

—Ué, é a verdade – Lily respondeu, dando de ombros.

—Bem, ele sabe disso, melhor deixar esse tipo de comentário para depois do jogo – Remus explicou, olhando para James e Sirius andando à frente. Remus sabia que os amigos estavam conversando sobre o treino, e sobre o que havia feito James jogar tão mal.

—Lily Evans de novo, Pontas? – Sirius perguntou após se certificar que ninguém os escutava. James suspirou e bagunçou o cabelo com uma das mãos. – Como isso foi acontecer?

—Seria bom se eu soubesse, mas a droga é que eu fui pego de surpresa também.

—Menos de um mês perto dela, James. Menos de um mês.

—Eu sei – James retrucou, ainda segurando o cabelo em uma mão e a vassoura com outra.

—O que você vai fazer, cara?

—Eu não sei, Sirius – James respondeu – Honestamente, eu só quero que essa investigação acabe logo, pra eu me preocupar com outras coisas como essa Copa do Mundo.

—Pontas, você tem que focar na Copa com ou sem investigação, com ou sem Evans, ok?

—Ok.

—Não... – Sirius se interrompeu e suspirou – Você não está planejando... fazer alguma coisa sobre isso, certo? Porque ela está lhe investigando e-

—Claro que não. Eu posso até ser um idiota, mas eu tenho bom senso agora.

Sirius soltou uma gargalhada e sacudiu a cabeça em negação, colocando as mãos nos bolsos.

—O mundo dá as mais estranhas voltas... Nunca imaginei que eu fosse voltar a ouvir você falando de Lily Evans novamente.

James suspirou. Ele também nunca esperava isso; ele se esforçara para esquecer completamente da garota. Remus a mencionava de vez em quando, mas James não dava muita importância, e tampouco se permitia ficar fixado quando ela aparecia no jornal.

Então a garota volta do nada para a vida dele, e como se não bastasse ela estar ainda mais linda, eles têm que ficar juntos quase o tempo todo. E tudo que ele mais admirava nela quando tinham 16 anos ainda estava lá, e ainda mais forte.

Ele se permitiu um olhar para trás, onde Lily estava rindo com Marlene. Sirius, ao perceber o olhar de James, soltou uma gargalhada, o que lhe rendeu um belo cascudo na cabeça. James se afastou para guardar a vassoura no depósito da Inglaterra, e quando voltou encontrou todos os amigos juntos, e parando de falar imediatamente.

—Falando de mim? – James perguntou com um sorriso.

—Falando do treino – Peter respondeu numa voz esganiçada, seguido de um “ai!” quando Marlene pisou em seu pé.

—O que acharam? – James questionou. Não que ele não soubesse. Todos fizeram silêncio; Marlene fez uma careta, enquanto Peter coçou a cabeça.

—Uma droga – Lily respondeu. James arregalou os olhos enquanto Sirius ria.

—Lily! – Marlene exclamou exasperada.

—Eu não vou mentir, ué – A ruiva respondeu dando de ombros – Antes da pausa foi uma droga, mas depois você melhorou. Tenta não se distrair amanhã e vai dar tudo certo.

James ainda estava levemente boquiaberto com a sinceridade da garota, enquanto Sirius continuava a rir.

—Eu, ai, haha, eu concordo com Evans – Sirius comentou entre risos – você estava distraído, Pontas. Por que isso?

James encarou Sirius mortalmente, mas isso não fez o amigo parar de rir.

—E tenta lançar a goles com a mão esquerda, Potter – Lily continuou – todos sabem que você só lança com a direita. Pegaria o goleiro de surpresa.

James se virou para a garota de novo.

—Por acaso você é treinadora de Quadribol, Evans? – James perguntou com um meio sorriso. Lily revirou os olhos.

—Sabemos que não, mas eu tenho assistido aos treinos, não é?

James sorriu mais e concordou com a cabeça. Todos caminharam de volta para o hotel, de onde iriam jantar com os Potters seniors novamente.

—Animado para o jogo amanhã, filho? – Euphemia perguntou logo que todos se sentaram. James sorriu para a mãe.

—Claro que sim. Precisamos ganhar para ficarmos mais tranquilos.

—Contra o México, não é isso? – Peter quis saber. James concordou com a cabeça.

—Eles são mais rápidos que os alemães, pelo que pude analisar. Teremos que fazer uma... – James olhou para Lily com um meio sorriso e piscou para a garota antes de terminar: – marcação alta.

Lily abriu um grande sorriso de volta e deu de ombros.

—Acho uma ideia excelente.

Fleamont não entendeu o que o filho estava falando, então Lily se sentiu na obrigação de explicar exatamente o que era a estratégia, sem muito sucesso. Ele tinha, de acordo com Euphemia, uma mente antiga.

—Bom, o que quer seja essa estratégia nova seja, imagino que a verei amanhã, eh? – Fleamont perguntou, com um leve sorriso (e como era igual ao do filho!).

—Isso se seu filho conseguir executar de verdade... – Lily respondeu. Sirius riu, acompanhado por Marlene.

—Ah, Evans, isso me soa como um desafio...

Lily apenas deu de ombros novamente e deixou Euphemia mudar o assunto, mas percebeu o sorriso de James para ela, familiar de alguma forma. Contudo, ela não se fixou em descobrir o que exatamente estava lhe lembrando.

Não que ela tivesse muito tempo para pensar nesse pequeno detalhe; ela negaria se James perguntasse, mas ela havia adorado os pais dele. Ela não conseguia não prestar atenção quando Euphemia conversava com ela, e Fleamont sempre tinha algum assunto mais que interessante. Quando o jantar acabou duas horas depois, Marlene a puxou e começou a falar sobre o garçom que havia atendido a mesa.

—Como você não percebeu quão gato ele era, Lily?! – Marlene questionou escandalizada.

—Eu não percebo os caras que nem você, Lene – A ruiva respondeu.

—Do jeito que você fala parece que eu só me importo com homens – Marlene observou, franzindo a testa.

—De jeito nenhum, amiga querida – Lily respondeu – Você apenas tem falado mais sobre isso nessa viagem, só isso.

—Ou você tem andado meio desligada como sempre fica com investigações complexas. Não se esqueça que nosso laço inicial e mais forte foi forjado a partir de livros... inclusive, você leu o...

O caminho todo de volta foi feito com Marlene ralhando com Lily pois a ruiva não havia lido o livro que haviam combinado por causa do trabalho.

Quando Lily achou que finalmente iria descansar ao entrar na suíte em que estavam, reconheceu imediatamente a letra do bilhete que estava endereçado a ela. Marlene sacudiu a cabeça e Lily suspirou.

—Quando tiver uma folga me avise. Preciso lhe contar a mais nova que meu irmão aprontou porque minha mãe não deixou ele vir para a Copa.

Com um sorriso, imaginando as maneiras que o irmão de 14 anos de Marlene poderia demonstrar sua insatisfação por não poder ir para o maior evento do esporte bruxo, Lily apenas colocou uma roupa mais confortável e se sentou para fazer o relatório que Moody pedira enquanto todos os outros iam dormir. Geralmente ele só pedia relatórios após a resolução do caso, mas aparentemente não era apenas Lily frustrada com a falta de resultados.

A garota mal viu os minutos se transformarem em horas de tão concentrada que estava em terminar o mais cedo possível. Apesar de poucas provas, era necessário protocolar todas as entrevistas, indicar os caminhos tomados, escrever sobre a falta de provas... o trabalho que nenhum auror gostava de fazer.

Tão entretida estava que só percebeu que tinha alguém além dela acordado quando pousaram uma caneca de chocolate quente ao seu lado. Ela olhou para cima e ficou ainda mais surpresa ao reconhecer o autor da gentileza.

—Potter? O que faz acordado? – Ela perguntou. O garoto sorriu levemente e se sentou na cadeira mais próxima, segurando ele mesmo uma caneca idêntica à de Lily.

—Às vezes fico sem sono na véspera das partidas, e chocolate quente me ajuda a acalmar – Ele explicou, apontando para a caneca – Quando percebi que você ainda estava aqui, lembrei que você também gosta de chocolate quente, então decidi lhe trazer uma pequena regalia enquanto trabalha.

—Oh. – Lily disse apenas – Obrigada, Potter.

Ele sorriu novamente.

—Atrapalho se ficar aqui enquanto termino minha xícara?

—Não – Lily respondeu, dando um gole do seu chocolate quente – Estou terminando já. Então está nervoso para amanhã?

—Não – James respondeu automaticamente. Lily desviou sua visão do relatório para olhar ceticamente para o moreno – Um pouco. Alguém disse que o treino de hoje foi uma droga, o que posso fazer a não ser ficar nervoso?

Lily soltou uns leves risos, tentando manter o volume baixo para não acordar os outros.

—Larga de ser dramático.

—É a verdade.

—A verdade é que eu disse que metade do treino foi ruim.

James sacudiu a cabeça, mas não escondeu um meio-sorriso. Ele se calou para deixar Lily terminar o relatório, e ficou analisando alguns esquemas que ele havia desenhado.

Quando o relógio passava das duas da manhã, Lily suspirou e fechou a pasta.

—Terminou? – Potter perguntou. Lily assentiu com a cabeça.

—Agora só preciso enviar para Moody – Ela completou, com um bocejo – Obrigada pela companhia, Potter – Ele sorriu mais uma vez, o mesmo sorriso familiar que ela vira durante o jantar.

—De nada, Evans – Ele respondeu, pegando a xícara dela. Parecia que ia falar algo, e hesitou. Lily estreitou os olhos – Na verdade, eu... eu queria pedir desculpas.

—Por quê? – Lily perguntou surpresa.

—Er, estou atrasado nisso, mas... pedir desculpa pelo dia da festa em que eu sumi – Potter explicou, passando a mão pelo cabelo – Eu perdi a linha.

Lily assentiu.

—Um pouco, sim. Só não perca de novo, ok?

Ele mostrou o mesmo sorriso (de onde ela conhecia esse maldito sorriso?), disse boa noite e foi se deitar. Sem conseguir se lembrar, Lily suspirou e fez o mesmo.

***

—E lá vai Potter com a Goles, passa para Carlinson, de volta para Potter, agora para Little... não, era uma finta, ele arremessa para o gol...! Sanchez salva! O placar continua 70 a 30 para a Inglaterra... e os artilheiros britânicos continuam com a estranha tática de não voltar... Sanchez lança para Hernandez... Carlinson intercepta, passa para Little, que adianta para Potter... E ele marca! Sanchez não conseguiu salvar dessa vez, 80 a 30 para a Inglaterra, quando atingimos trinta minutos de jogo!

Lily não conseguia não sorrir ao ver que sua contribuição estava dando certo; das oito vezes que a Inglaterra conseguiu marcar, três haviam surgido da marcação alta. Fleamont havia finalmente conseguido entender e estava discutindo os méritos da tática com Sirius, enquanto Euphemia comentava sobre a violência do Quadribol.

Mesmo que ela não gostasse muito do esporte, ela estaria mentindo se dissesse que não estava se divertindo. Marlene estava pulando a cada vez que a Inglaterra tinha posse da Goles, Peter incentivava James quase que exclusivamente e até o geralmente contido Remus estava animado.

Lily nem percebeu o tempo passar; quando se deu conta, Diana Harrison havia capturado o pomo, garantindo um triunfo inglês pelo placar de 380 a 250.

Dessa vez Lily decidiu aguardar o término da coletiva de imprensa mais afastada, onde as chances de ela ser reconhecida eram menores. Marlene esperou com ela pelos meninos e pelo casal Potter.

Não era exatamente fácil para Lily se esconder, pois seu cabelo chamava atenção até mesmo numa multidão. Por isso ela escolhera usá-lo preso e com um chapéu da Inglaterra – não que fosse um disfarce elaborado, mas pelo menos ela conseguia se misturar.

—Se você ainda não se sente tão bem, não sei porque não tomou uma polissuco – Marlene comentou ao perceber que mesmo assim a amiga estava preocupada, olhando de um lado para o outro.

—Porque eu não trouxe e não daria tempo de preparar uma – Lily explicou – E eu tenho que ser eu durante o Mundial, tanto para entrar quanto para não levantar suspeitas.

—Eu me orgulho de quão certinha você é, Lil – Marlene disse. Lily riu e olhou para a amiga – Quero dizer, ninguém saberia porque você literalmente seria outra pessoa.

—É o princípio da coisa, Lene.

—Eu sei, mas seria justificado, sabe? Seria para o bem maior.

—Bem maior, Marlene? – Lily perguntou, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha, enquanto a amiga dava de ombros.

—O meu bem maior; não suporto lhe ver com essa carinha triste – Marlene disse com um sorriso docemente falso e tocando o nariz da ruiva com o indicador. Lily revirou os olhos.

Elas tiveram de esperar por mais trinta minutos pelos meninos, o tempo necessário para James terminar a coletiva e se arrumar.

—Alguma crítica para a partida de hoje, Evans? – Ele perguntou assim que alcançou as garotas. Marlene riu, enquanto Lily rolou os olhos.

—Sempre tentando ganhar algum elogio... – Lily rebateu. James riu – a garota estava certa, de um modo.

—São tão raros vindos de você... – Lily apenas revirou os olhos novamente – A festa hoje é fora do complexo, teria como eu ir? – James perguntou olhando para Lily de lado.

—Sim, sim – Ela respondeu, acenando com a cabeça – Não se preocupe.

Eles seguiram para o hotel para se arrumarem para a festa.

—Não está pronta ainda, Evans? – Sirius perguntou ao perceber a garota sentada à mesa comendo calmamente e vestida com um short de moletom e uma camiseta. Os outros três rapazes se viraram.

—Hoje vocês estarão livres da minha presença, – ela explicou, – Benjy acompanhará vocês hoje, enquanto eu fico aqui vendo uns arquivos.

Só então eles perceberam uma grande pilha de materiais no chão ao lado de Lily. Peter assoviou.

—O que é tudo isso? – Ele perguntou.

—Apenas pesquisa. Coisa básica. – Ela respondeu dando de ombros – Então se divirtam por mim. E não deixem Benjy ficar muito louco pela quantidade de jogadores, sim? – Lily pediu com um sorriso. Remus concordou, enquanto Sirius bradava sobre o desperdício de festas por trabalhadores certinhos do Ministério.

—Certeza que não pode ir? – James perguntou, sentando-se ao lado de Lily.

—Sim, eu preciso ler tudo isso – Ela explicou, apontando para os papeis.

—Fenwick não vai lhe ajudar nisso?

—Até poderia, mas quem lhe vigiaria? – Lily perguntou em resposta. James consertou os óculos e abriu um meio sorriso.

—Você, claro – Ele respondeu. Lily sorriu em resposta.

—Para acabar com sua diversão? Não, obrigada. Além do mais, Benjy odeia essa parte da pesquisa, e eu acho fundamental... Só não fuja novamente, ok?

James concordou e acompanhou os outros (já com Marlene) em direção ao saguão do hotel, onde Fenwick já aguardava por eles. Após os cumprimentos iniciais, eles seguiram as instruções de Sirius para a festa.

—Então, Potter, apenas finja que não existo, se divirta, e não saia daqui – Fenwick falou ao chegarem no local – Lily me estrangula com uma só mão se eu lhe perder de vista, enquanto escreve o relatório com a outra.

—E você não vai curtir, Fenwick? – Sirius perguntou, já com um copo em mãos e oferecendo outro para James, que passou a mão pelos cabelos e aceitou.

—Nah, não posso beber, estou em serviço – Fenwick explicou.

—Bom, mas olha quantas mulheres temos aqui – Sirius comentou, gesticulando para a festa. Fenwick fez uma careta.

—Eu não... er, não imagino que Lily tenha falado com vocês, mas... é complicado. – Ele disse franzindo a testa. – No fim das contas, eu também não posso me divertir desse jeito.

James disfarçou a surpresa ao levar o copo para a boca. Lily dissera que não havia nada entre ela e Fenwick, mas...

—Pontas, olha! – Sirius chamou. James olhou na direção em que o amigo apontava e reconheceu antigos companheiros de time, para em seguir caminharem naquela direção sorrindo.

James ignorou a presença de Fenwick na festa; ele, Marlene e Remus ficaram num canto conversando, enquanto James, Sirius e Peter conversavam com diversas pessoas, de jogadores a fãs que haviam conseguido se infiltrar na festa.

Muitas fotos foram tiradas, e muitos convites para aproveitar a festa em outro lugar foram oferecidos a James, mas ele sabia que não poderia sair. Ficou levemente tentado – a ideia de Lily estrangular Fenwick era intrigante –, mas ele sabia que não poderia colocar a ruiva em situação mais delicada do que já estava.

Como não haveria treino na manhã seguinte, eles só voltaram ao hotel às 4h. James esperava que Lily já estivesse em seu quarto, então ficou levemente surpreso ao ver a garota deitada na mesa, uma xícara ao seu lado e os papeis espalhados na mesa ao seu redor.

—Ai Merlin, ela entrou na espiral... – Marlene disse com um suspiro. Ela tentou se aproximar da amiga, mas tropeçou – Não estou em condições... meninos, por favor...

Remus assentiu com a cabeça e Marlene foi para o quarto. Sirius e Peter seguiram o exemplo, deixando Remus e James na sala com Lily.

—Aluado, pode deixar comigo... – James disse. Remus ergueu as sobrancelhas, mas concordou, talvez por estar muito cansado.

James se aproximou da mesa com a intenção de acordar Lily, porém teve de parar ao ver alguns dos jornais que estavam na mesa.

Viu seu rosto em vários, com manchetes que variavam de suas atuações, boatos a respeito de sua vida pessoal e declarações polêmicas. Mas também tinha vários com seus pais, falando sobre as criações de Fleamont e posicionamento político.

E outros ainda falavam sobre aquele estranho preconceituoso que há muito já disseminava discursos de ódios contra nascidos-trouxas – nascidos-trouxas como a própria Lily. James suspirou e sacudiu a cabeça. A única pessoa melhor em Poções que Lily era Fleamont – e Fleamont era o melhor do mundo.

—Ei, Evans – James sussurrou, mantendo a distância que Lily recomendara ao acordá-la – Acorda, Evans...

Quase de imediato ela se sentou e estava com a varinha em mãos.

—Oi, Potter... eu acho que – um bocejo interrompeu sua fala – peguei no sono. São que horas?

—Quatro da manhã.

—Nossa! Eu ainda tenho coisa para ver! Não podia ter dormido, preciso entregar isso para Moody amanhã! Quer dizer, hoje mais tarde!

Ela já estava se levantando com a caneca em mãos, aparentemente pronta para voltar ao trabalho.

—Ei, calma, ruiva! – James disse, segurando-a pelo pulso. – Escuta, hoje o treino é só pela tarde. Vai descansar por umas horinhas. Prometo que não saio do quarto até você terminar.

—Não sei se consigo terminar antes do treino, Potter...

—Se não descansar, aí é que não vai conseguir mesmo. Eu lhe acordo. Prometo.

—8h, ok? – Lily pediu. James assentiu com a cabeça. – Obrigada, Potter.

—De nada. Agora guarda isso para ninguém ver e mais tarde você continua.

Lily sorriu, fez como ele sugeriu com um aceno da varinha e mandou a caneca para a cozinha.

—Por que está sendo tão legal? – Ela perguntou enquanto iam para a direção dos quartos.

—Quanto mais cedo você terminar, mais cedo eu estou livre da minha babá ruiva – James explicou, ignorando que se livrar dela estava no seu top 10 de coisas que ele menos gostaria na vida.

Lily, contudo, riu e sacudiu a cabeça em negação, acenando um tchau antes de se encaminhar para o quarto de vez.

***

Lily acordou com uma sensação de descanso que há muito não sentia. Ficou deitada na cama por alguns segundos, tentando se situar no tempo e no espaço. Era um sábado após um longo caso e ela estava em casa, tendo se permitido dormir mais?

Mas aquela cama era muito confortável para ser a sua...

Estava na casa de Marlene? Não parecia, já que a cama também era muito grande para ser aquela do quarto de visitas da amiga.

Outra recaída então?

Ela não acreditava, já que não conseguia ouvir o liquidificador com as habituais vitaminas que Amos tomava todo santo dia.

Na verdade, o ambiente era bastante impessoal, como se fosse um quarto de hotel...

Lily sentou-se com um sobressalto, olhando imediatamente para o relógio ao identificar exatamente onde e quando estava.

Meio-dia. Aquele palerma do Potter tinha prometido a ela que iria acordá-la às 8h! Quatro horas atrás! Ela iria atrasar o relatório para Moody pela primeira vez na vida, tudo por culpa daquele babaca...!

Mas, ela ponderou enquanto se vestia, eu mereci ao confiar no imbecil... apenas mais uma das suas brincadeiras idiotas.

Ela não conseguia ver, mas seu rosto estava corado, anunciando toda a sua irritação. Ao sair do quarto, registrou rapidamente que o quarto geral estava estranhamente vazio. O único barulho era a voz do palerma falando com alguém do lado de fora. Ele riu e fechou a porta, entrando com duas bandejas no cômodo em que Lily estava.

—Ei, Evans, já estava indo lhe chamar. Pedi almoço para a gente – Ele disse com um leve sorriso, e depositou as bandejas na mesa ao lado da pilha organizada de um jeito diferente de como ela havia deixado.

—Deveria ter ido me chamar há quatro horas, não? – Ela perguntou, cruzando os braços. Potter levou uma das mãos aos cabelos (ele estava tentando deixá-la mais furiosa?) e com o gesto, ela ergueu as mãos em uma demonstração clara de impaciência – Eu não acredito que você me prometeu que iria me acordar e simplesmente não acordou! Eu pensei que você tivesse compreendido a importância da velocidade dessa investigação! Você atrapalhou os prazos, eu vou me atrasar para entregar o relatório para Moody, porque Benjy tem que fazer a proteção da ministra e eu tenho que ser sua babá! Mas eu mereci isso, pra quê eu fui confiar em você-!

—Evans! – Potter interrompeu finalmente – Você não vai atrasar nada, calma!

—Ah é? E como você sabe disso? – Ela desafiou, cruzando os braços novamente e erguendo uma sobrancelha.

—Fenwick apareceu aqui às 7h30, pois estava livre essa manhã, e disse que terminaria o relatório. Ele saiu há uma hora, dizendo que havia terminado e deixado o relatório final em cima para você. Segundo ele, dá tempo de você ler o que ele deixou depois do treino e ainda assim não atrasar a entrega. Como você estava com a maior cara de acabada da história, achei que era melhor deixar você descansar.

—Benjy fez o relatório? – Ela perguntou, saindo de seu estado passivo-agressivo.

—Fez.

—Oh.

Potter suspirou e bagunçou os cabelos novamente.

—Olha, eu juro que não fiz por mal, eu só... você parecia que precisava de mais do que 4 horas de sono, e a julgar pela hora que você acordou, eu estava certo.

—Talvez – Ela respondeu.

—Então senta aqui e aproveita o especial do dia que é... – ele descobriu as bandejas para revelar dois pratos de peixe com fritas – o clássico inglês.

Lily sentou na cadeira que Potter havia puxado para ela. Ele abriu um grande sorriso e colocou o guardanapo de papel no colo da garota. Então serviu um copo de Cerveja Amanteigada para Lily e finalmente se sentou.

Lily suspirou.

—Desculpe pela explosão, Potter. O passado está contra você. – Ela disse. Potter assentiu e consertou os óculos.

—Está, eu sei. Eu... você pode confiar em mim, Evans.

Lily ergueu levemente as sobrancelhas, mas Potter parecia estar falando com toda a sinceridade possível.

—Cadê os outros? – Ela perguntou, mudando de assunto rapidamente.

—Já desceram – Potter respondeu – está tendo um almoço diferente, acho que uma competição de quem comer mais... Porque ainda tentam competir com Sirius eu não sei, mas cada um com sua loucura, né?

—Hum, sei não. Marlene sabe comer muito bem quando ela quer.

—Mais do que Sirius? – Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha – Impossível!

—Não sei, mas... ela come mais do que Remus e eu. Ela come as sobras dos nossos pratos quando saímos juntos.

—Nah, meu dinheiro estaria em Sirius. Ele dá um bom prejuízo.

—Veremos, Potter. Veremos.

Quando terminaram de almoçar, os dois foram se arrumar para o treino. Lily colocou o relatório resumido de Benjy na bolsa que estava levando depois de colocar um feitiço para só ela poder ler o que estava realmente escrito – para qualquer outra pessoa, seria apenas uma cópia de uma revista trouxa.

Para surpresa de Potter e alegria de Lily, Marlene tinha sido a ganhadora da competição. Sirius clamava que Marlene havia trapaceado de alguma forma, enquanto a garota dizia que ele tinha que aprender a perder. Remus e Peter riam discretamente, e Lily comentou que se arrependia de não ter apostado de fato na amiga.

As arquibancadas estavam mais cheias que o normal. Geralmente apenas familiares e acompanhantes iam assistir aos treinos, mas naquele dia metade do espaço estava ocupado.

—Merda – Potter xingou baixinho – Er, esqueci que o treino hoje é aberto para imprensa.

Lily arregalou os olhos enquanto Potter fazia uma careta. A ruiva suspirou; seria difícil para ela ler o relatório afinal de contas. Eles se direcionaram para uma parte mais isolada a pedido de Lily, no alto da arquibancada.

—Algum problema, Ruiva? – Sirius perguntou ao perceber a expressão preocupada de Lily.

—Eu iria aproveitar o treino para dar uma lida em uns papeis da investigação – ela explicou –, mas não quero causar suspeitas com tanta gente da imprensa.

Sirius franziu a testa.

—Bom, eu e Peter podemos ir lá para baixo e focar a atenção em nós...

—Como? – Lily perguntou.

Sirius apenas piscou para ela e abriu um sorriso, puxando Peter pelas vestes até o andar mais baixo. Ele, então, começou a dar ordens para o time, mais especificamente para Potter. Os jogadores pareciam estar acostumados com aquilo, pois apenas acenaram em concordância.

Os jornalistas focaram em Sirius e no que ele falava, se direcionando para a região em que ele e Peter estavam. Lily sorriu e puxou o relatório.

—Vocês estão de guarda. – Ela pediu para Remus e Marlene, que concordaram.

O relatório resumido de Benjy mostrava exatamente o que o preliminar dela dizia. Voldemort tinha em mente uma supremacia bruxa, rejeitando e excluindo os trouxas e todos os que tinham ligação com trouxas (como ela). O pior, na opinião de Lily, era que ele tinha apoio de diversos grupos: os que concordavam com suas ideias discriminatórias e os que apenas achavam que ele tinha um pouco de razão nas críticas contra a Ministra.

Sobre a Ministra ainda tinham alguns trechos em que ele dizia que ela seria a culpada pela queda do mundo Bruxo com sua política inclusiva e “fraca”. A Ministra rebatia em alguns, mas nunca com muita contundência.

Lily ficou satisfeita em ver que pelo menos em um quesito acertara em relação a Potter – ele não tinha interesse nenhum nessa política que Voldemort sugeria. Entre as diversas entrevistas a respeito de sua vida amorosa (como esses repórteres se interessavam pelas garotas que Potter estava vendo!), não eram tão raras as vezes que ele defendia nascidos-trouxas.

Pelo que Lily percebeu, esse respeito era aprendido em casa, pois Fleamont também era muito expressivo sobre sua crença na igualdade de sangue em todas as entrevistas que perguntavam a respeito do assunto.

Ficava então difícil fazer uma conexão entre James Potter e Voldemort.

Não excluía completamente a possibilidade de James Potter ter sido o culpado.

Lily suspirou e guardou o material. Ela estava travada na investigação. Não tinha muito material para seguir, sem pistas, sem suspeitos. A única coisa que ela tinha era a imprensa em cima dela cobrando respostas.

—Olha quem veio hoje! – Remus exclamou – Lily, olha!

Lily se direcionou para onde Remus estava indicando e viu Fleamont e Euphemia chegando.

—Ah, vocês estão aqui, que bom! – Euphemia disse – James não tinha mencionado que estariam. Cadê Sirius e Peter?

—Lá embaixo, fazendo baderna – Marlene respondeu com um sorriso – Vou avisá-los que vocês chegaram, eles vão ficar felizes em vê-los.

Euphemia e Fleamont perguntaram como estava o treino e Remus respondeu; Lily não era capaz de opinar, não tendo visto nada. Com a chegada do casal, ela resolveu observar o campo. Potter estava fazendo um treino básico, pelo que Remus dissera, escondendo as jogadas novas da imprensa.

Quando Sirius e Peter chegaram, Sirius começou a destacar todos os erros que James estava cometendo e como deveria corrigi-los. Euphemia ralhou com o garoto, dizendo que James estava jogando bem e que era para ele parar de ser tão chato com o irmão.

—Ah, querida mãe, nesse momento não sou irmão: sou o agente, e infelizmente aquele palhaço não merece os elogios.

—Por Merlin, Sirius, se controle – Lily disse – é só um treino.

—Só um treino?! – Sirius exclamou – O treino é a diferença entre times bons e times medíocres, Evans!

Todos soltaram um muxoxo, mas Sirius continuou a retrucar.

—Era isso que você estava falando para os repórteres lá embaixo? Que o treino está medíocre? – Remus perguntou.

—Não – Peter respondeu – Ele estava dizendo que era só um treino para não perder o ritmo e que os jogadores estavam se poupando.

—Regenerativo – Lily concluiu. Todos olharam para ela. – Er, no futebol o treino logo em seguida a uma partida é chamado regenerativo. Atividades leves, só para não ficar sem movimentar a musculatura, mas sem exaurir.

—Gostei do termo, Evans – Sirius disse, descendo de imediato para retornar aos jornalistas.

O treino terminou no final da tarde. O casal Potter convidou todos para jantarem indo direto dali, num restaurante próximo. Potter se encontrou com eles já preparado para sair, e eles seguiram.

Era fácil de cair nesse ritmo, Lily concluiu enquanto comia. O casal Potter era extremamente adorável, e apoiavam 100% o filho. Além disso, era evidente o imenso carinho que sentiam pelos outros meninos, e que agora estendiam para Lily e Marlene.

No caminho de volta Lily estava pensando em seus próprios pais e que não havia falado com eles desde que avisara que sairia em outra missão. Ela não podia se comunicar com eles durante as missões, exceto por meios trouxas. Lily ainda não vira um telefone público para tentar avisá-los que estava tudo bem.

Ao chegar no quarto deles, Lily imediatamente pediu licença e foi para a lareira para se comunicar com Moody. Ele estaria no quarto de Benjy, onde eles haviam deixado uma cópia final do relatório.

—Tudo em ordem, Evans? – Moody perguntou.

—Sim, senhor. Desculpe a demora, mas tive de acompanhar Potter num jantar com os pais.

—Sim, sim, imaginei – Moody rosnou – Vou ler sobre isso mais a fundo e falo com você depois. Já me deu o quarto em que está?

—Acho que sim, senhor, mas Benjy tem caso precise.

—Certo. Tenho que sair; a Ministra me aguarda. Boa noite a vocês.

Lily observou seu chefe desaparatar e Benjy se aproximar.

—Ele me parece cada vez mais preocupado – Benjy comentou.

—Eu também estou, Benjy. Não temos evidências, pistas, nada que nos leve ao próximo passo.

—Calma, parceira. Já pegamos casos piores.

—É, bem. Não com tanto apelo da mídia. – Ela retrucou e Benjy riu. – Ei, obrigada por ter ido hoje mais cedo terminar os relatórios. Eu estava muito cansada.

—Ah, sem problemas. Potter disse que você estava destruída, por isso ele me chamou. Espero que Moody não perceba que-

Mas Lily não deixou que ele terminasse de falar.

—Espera, Benjy. Potter lhe chamou? – Ela perguntou em tom de surpresa. Benjy franziu a testa.

—Sim, ele me mandou uma mensagem por aqui dizendo que você estava terrivelmente cansada e que achava que você não ia poder terminar o relatório, e se eu não poderia terminar para você conseguir descansar. Ele não lhe falou isso?

O silêncio de Lily respondeu. Potter chamara Benjy? Mas...

—De qualquer sorte, eu acreditei que ele estivesse falando a verdade, porque esse é o seu comportamento, então eu fui. Se precisar de novo é só falar. E se precisar que eu lhe cubra em uma festa de novo é só falar – Benjy respondeu, com uma piscadela. Lily sorriu e se despediu.

—Lily, que cara é essa? – Marlene perguntou assim que Lily saiu da lareira.

—Er, nada, só... umas coisas que Benjy me falou – Ela respondeu, olhando de relance para Potter, que estava jogando xadrez com Peter.

—Então melhora essa cara e venha aqui que não terminamos de discutir Admirável Mundo Novo e Remus diz que tem considerações.

Naquela noite, quando todos foram dormir, Lily foi para a sala com um radinho bruxo, mas não conseguia sintonizar na estação que queria.

—Droga – ela retrucou.

—Algum problema, Evans?

Ela se virou rapidamente.

—Ah, oi, Potter.

—O que está fazendo? Não me diga que é do caso ainda – Ele questionou, se sentando ao seu lado no sofá.

—Não, dessa vez não – Ela respondeu com um sorriso – Estou tentando sintonizar numa rádio trouxa, mas sem muito sucesso.

—Oh?

—É fácil conseguir sintonizar numa rádio bruxa com um aparelho trouxa, mas o inverso nem tanto.

—E por que tanto interesse numa rádio trouxa a essa hora?

—Bem, essa é a hora que fazem retrospectiva dos jogos da Copa do Mundo...

—Copa do Mundo? – Potter perguntou, erguendo as sobrancelhas.

—Sim, de futebol. Acontece por agora também, e como é na Espanha esse ano, os jogos são durante o dia. A essa hora tem comentários sobre todos os jogos dos dias, e eu gosto desses comentaristas em específico, mas não consigo ouvi-los, e aqui não tem televisão para eu ver os melhores momentos dos jogos.

—Nossa, você realmente gosta muito de futebol... – Potter comentou.

—Bem, é. Eu realmente estava pensando em pedir uns dias de folga a Moody para talvez ir a algum jogo com meu pai, mas nada feito.

—Desculpe – Potter pediu.

—Não se desculpe. Bem, a não ser que você realmente seja o culpado.

—Juro que não sou – ele respondeu rindo com ela – mas eu ia me sentir péssimo se eu não pudesse acompanhar a Copa Mundial de Quadribol...

—Ossos do ofício. Eu sabia no que estava me metendo quando entrei na academia e os sacrifícios que teria de fazer. Afasta as pessoas pela ausência.

—Não Marlene e Remus – Potter ponderou. Lily sorriu.

—Não, eles não. Nem que eu quisesse eu conseguiria fazer com que eles se afastassem. Mas já tem duas semanas que não falo com meus pais. Eles não sabem onde estou, o que estou fazendo, ou mesmo se estou viva. Não posso arriscar arruinar missões para tranquilizá-los.

Ela sentiu o olhar de Potter nela e teve que encarar de volta.

—Você não sente vontade de largar tudo? – Ele perguntou.

—Você sente? – Ela rebateu.

—Não, mas eu amo ser jogador de Quadribol.

—Eu amo ser auror. Veja bem, não é uma vida glamorosa. Longe disso. Mas é o que eu gosto de fazer, é o que eu preciso fazer.

Potter sorriu com a resposta dela.

—Eu deveria ter imaginado. Você não é de desistir.

—Não sou. – Lily concordou. – Bem, exceto agora, esse rádio é inútil. Vou tentar achar um jornal trouxa amanhã.

—Pede a Fenwick.

—É uma ideia. Obrigada.

Lily se levantou e se direcionou ao quarto, mas no meio do caminho se virou. Potter ainda a olhava.

—Benjy me disse que você que o chamou hoje de manhã para vir fazer o relatório.

Lily esperava várias reações a essa afirmação, mas definitivamente não a que ocorreu: as bochechas e o pescoço de Potter adquiriram uma coloração avermelhada tão forte que ela ergueu as sobrancelhas.

—Er, bem, talvez, mas... er, sim, eu chamei.

—Por que você não me disse?

—Não era importante – ele disse dando de ombros – ele ter vindo por si só, ou eu ter chamado, o resultado final foi o mesmo: você descansou.

Lily não teve como não sorrir. Quem era aquele James Potter em sua frente?

—Isso foi muito atencioso e gentil de sua parte. Obrigada – O rubor de Potter aumentou ainda mais, e Lily o sorriso de Lily aumentou – Mesmo que você tenha dito que eu estava, como foi mesmo? Ah sim, “terrivelmente cansada”.

—Eu tive de ser dramático para ele vir. Você só estava destruída.

Lily riu e sacudiu a cabeça, observando Potter rir também.

—Obrigada.

—Não foi nada, Evans.

Lily sacudiu a cabeça em negação, ainda sorrindo.

—Na verdade, foi sim. Boa noite... James.

E se ela não tivesse se virado naquele momento, ela teria conseguido observar a expressão meio surpresa, meio embasbacada do garoto ao ouvi-la chamá-lo pelo nome.


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