"Konoha, oito da noite.

Ficou pior depois que fiz o que tinha pensado. Acho que foi pressentimento quando escrevi que não queria ver esse dia."

A luz do sol era pálida aos olhos de Naruto. O ar ainda era frio quando ele iniciou sua caminhada pela vila. Teria corrido até onde seu coração mandava se não fosse cedo demais para uma conversa.

Estava em jejum. Massacrava o corpo e a alma sem perceber. Queria solução. Pronta, brilhante, libertadora. Iludia-se na ânsia de resolver seu próprio peito. Pensar por vezes o distanciava de seu desejo e por isso ele confiava que aquele diálogo lhe encheria daquilo que se esvaziava mais a cada tentativa de conter.

Demorou-se num banco até se tornar parte da paisagem. Espantou os motivos que nutriam o indesejado sentimento. Acolheu-os sem perceber. Havia perdoado, tinha certeza, contudo os inúmeros atos de Sasuke pareciam demonstrar que a amizade não partia do lado dele. Duvidou se de fato o Uchiha foi algum dia seu amigo. Despertou com o chamado de Shikamaru.

"Você tá parado aí há muito tempo."

"É..."

Shikamaru afiou o olhar. A expressão abatida de Naruto não se relacionava a cansaço físico, a fadiga vinha de dentro, como os olhos azuis, perdidos na terra, denunciavam.

"Pensei que você faria alguma coisa sobre o Sasuke."

Naruto abaixou a cabeça. A vergonha lhe beijando com sua doce amargura.

"É que... não sei o que fazer."

A resposta paralisou Shikamaru por um segundo, e ele se sentiu aliviado por Naruto ser pouco perceptivo.

"Estranho, não é?"

"É... Não, não é. Ele foi declarado um nukenin. Ser nosso amigo" a palavra saiu desajeitada. "não deve interferir na nossa visão sobre isso."

"Você é tão maduro, Shikamaru. E... racional..."

"Não!" Respondeu em alto tom. Endireitou-se ao perceber o exagero e suspirou. "As coisas mudam quanto se vira um chunnin. A vila está em primeiro lugar, mais do que antes."

"Deve ser por isso que não consegui me tornar um chunnin..."

"Naruto, não tem nada ver!"

"Obrigado."

Deu as costas com um aceno. A conversa o esmagava, lançando luz a sua imaturidade. Jamais chegaria a hokage priorizando outras coisas em detrimento da vila. Nem mesmo subiria uma patente se continuasse assim. Havia crescido, mas não amadurecido. De repente não se sentia capaz de colocar sua ideia em prática. Outro diálogo expondo sua pequenez ultrapassaria o limite do suportável.

Mas a vida é mestre em nos provar.