2008 – Percy 

A primeira coisa que vi foi branco. Um teto branco, com luz branca, cadeiras brancas e um uma dor leve na mão, esta que tinha uma agulha espetada, injetando algum líquido transparente em minhas veias. 

Eu estava numa sala com grandes janelas, e através delas, vi Annabeth novamente. Eu havia desmaiado? Só porque vi Annabeth Chase novamente? Que tipo de ser humano patético eu sou? 

De longe, avistei um homem vestindo branco, que supus ser um enfermeiro, e o chamei. 

— Acabei de recobrar a consciência... O que é isto? — Perguntei apontando para o saco com líquido misterioso, que tinha como destino minha corrente sanguínea. 

— Glicose. Você teve uma queda de pressão repentina e já está melhor, de acordo com os exames. — Ele retirou com cuidado a agulha da minha mão. — Estava esperando só o senhor acordar para liberá-lo. Aquela moça lhe acompanhou. 

— Muito obrigado. 

Levantei na enorme poltrona de coro claro e andei até Annabeth, tocando seu ombro para chamar atenção. 

— Olá. — Eu disse. 

— Você tem noção do susto que me deu? Devia se alimentar melhor antes de ir para o trabalho. — Ok, os médicos disseram que a pressão caiu devido à falta de alimentação. Bem melhor do que dizer que desmaiei porque vi um fantasma do meu passado. 

Pus a mão na cabeça e cocei a nuca, sem jeito por suas broncas. 

— Desculpe... Eu estou bem agora, não é mesmo? 

— Graças a mim. Vamos, eu te levo para casa. 

— Eu tenho carro, sabia? 

Ela não precisou responder minha birra, apenas lançou um olhar cansado e eu cedi. Annabeth deveria ter muitas outras coisas para fazer além de esperar uma antiga paixonite desmaiada no hospital. 

Eu informei o endereço e fomos calados durante o percurso, mesmo com oito anos de perguntas a fazer e novidades para compartilhar. O trânsito também não facilitava e eu já não aguentava mais o silêncio desconfortável ali. 

— Seu curso dos sonhos mudou para engenharia? — Puxei assunto. 

— Também não lembro do seu primeiro curso ser arquitetura. — Ela rebateu. — Simon Fraser não tinha outro curso? 

— Eu te esperei. — Disse. — Todo ano verificava a lista de calouros do meu curso... Eu esperei por você. 

Ela não respondeu de imediato, parecia-me que havia sido pega de surpresa pela minha resposta. 

— Desculpe-me. 

— Não tem porque se desculpar. — Encarei a janela, tentando me convencer do que falei, mas no fundo fiquei feliz pela suas desculpas. — Como foi sua vida nos últimos anos? 

— Bem... Digamos que os últimos cinco anos foram pacíficos. — Os cinco anos que passou na faculdade, e se não me engano, meu chefe disse que ela se formou na Universidade Japonesa. 

Tinha mais perguntas a fazer, mas ela continuou. 

— Eu fugi de Oregon após três anos sua partida. Depois da pior surra da minha vida graças à minha sabotagem ao exame, vieram outras. Comecei a trabalhar, alguns colegas investigaram a fundo e fizeram o que eu não tive coragem desde a morte da minha mãe. 

— Denunciaram ele. 

— Sim. — Eu via os nós de seus dedos brancos pela força ao segurar o volante. Era um assunto delicado para ela. — Mas ele não gostou disso. Me deixou presa em casa durante um mês e meio, até eu pegar todo seu dinheiro e escapar. 

— Mas por que Japão, e não o Canadá? 

— Eu cometi o erro de especificar que meu exame seria aplicado para a Simon Fraser, ele me procuraria lá. — Notei sua voz cada vez mais baixa e embargada. — Procurei o lugar do globo mais longe de Oregon que eu pudesse bancar, comprei um apartamento minúsculo em Tóquio e passei para a universidade pública. Não houve um dia que eu não me recordasse de você. 

Aquilo definitivamente me pegou desprevenido. 

— Nós fomos dois então. — Afirmei. — Eu nunca parei de pensar em você Annabeth. Tudo o que disse naquela noite, através daquela porta... Aquele sentimento nunca se foi. 

Ela parou o veículo, e percebi que já estávamos na portaria do meu apartamento. 

— Você gostaria de entrar? — Perguntei.