An Unfairy Tale escrita por LadyAristana


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Um breve elenco para vocês:

Amber Heard como Aleksandra Portter
Amy Adams como Addison Portter
Ana de Armas como Lilyan Portter
Emily Blunt como Portia Smith
Lily Collins como Norah Reeves
Jennifer Lawrence como Eleanor Stirling

Boa leitura, babys!



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Once, I was seven years old

And my momma told me:

“Go make yourself some friends,

Or you’ll be lonely.”

Once I was seven years old.

Seven Years Old (Lukas Graham)

Liverpool – Inglaterra, Junho de 1986

Residência da Família Portter

Eu era muito pequena para entender o que realmente o que estava acontecendo. Só sei que um dia meu pai caiu das escadas em nossa casa em Liverpool, e mamãe correu com ele pro hospital, deixando minha irmã mais velha – Addison -, que na época tinha 15 anos, no comando. Péssima ideia, mais tarde vocês vão entender o porquê.

Quando meus pais voltaram, papai estava completamente sem expressão e mamãe parecia à um fio de cair em prantos. Não falaram com nenhuma de nós, ao menos até o jantar.

Era o verão de 1986, eu tinha 5 anos, e podia me lembrar claramente de minha irmãzinha Lilyan – com 2 anos na época – chupando os próprios dedos melados de papinha enquanto mamãe anunciava que Addison voltaria para o internato mais cedo e que eu iria morar nos Estados Unidos com tio Howard e tia Peggy – o que eu aceitei fácil até demais.

Mais tarde, quando Lily já ressonava em seu berço, eu encostei a boca do meu copo de água vazio na parede que separava nosso quarto do quarto da Addy para ouvir o que nossos pais pareciam contar chorando.

Não entendi muita coisa. Só os detalhes importantes. Papai estava muito, muito doente, e mamãe não poderia cuidar dele e de nós três ao mesmo tempo. Como Addy já era crescida e estudava em um internato, as coisas continuariam como estavam e eu já era crescidinha e adorava meus padrinhos, então moraria com eles.

O dia seguinte foi uma confusão de malas no meio da sala de casa. Minhas malas se misturando às da Addy, os cabelos arruivados da minha irmã mais velha sendo vistos em relances pela casa enquanto ela ajeitava tudo de última hora.

Eu estava mais confusa que nunca, vestida pra viajar, sentada ao lado do chiqueirinho de Lily olhando a janela ansiosa porque me disseram que tio Howard viria me buscar.

— Está empolgada, Lily? – perguntei observando minha irmãzinha morder a orelha de seu ursinho de pelúcia. – Vai ter a casa todinha pra você! Vai sentir a minha falta? Eu vou sentir a sua.

Como esperado, tudo o que recebi em resposta foram sonzinhos e baba. Mas por mim estava tudo bem. Estava tudo bem porque eu iria ver tio Howard, tia Peggy, tio Daniel, tia Maria e Tony, e eu não poderia estar mais feliz a respeito.

— Hey baixinha! – Addy chamou se ajoelhando na minha frente. – Você está bem?

— Sim. – me lembro de acenar freneticamente com a cabeça. – Estou animada!

— Está feliz porque vai passar um tempo com o tio Howard, a tia Peggy e o Tony, né? – Addy sorriu e eu me lembro do quanto ela parecia adorável apesar de saber que minha irmã não era nenhuma santa.

— Como você sabia? – perguntei impressionada que Addy soubesse exatamente como me sentia.

— Te conheço, baixinha. – Addy riu tirando alguns cachos castanhos claros do meu rosto. – Ei, faça um favor a todos nós e não se torne uma americana frescurenta, ok?

Dei uma risadinha que foi interrompida pela campainha.

Estava tão feliz que não percebi o baque que aquela mudança teria em toda a minha vida.

A verdade é que eu nunca mais voltaria a viver com meus pais.

***

Califórnia – Estados Unidos, Outubro de 1986

Mansão Stark em Malibu

— Ei coisinha. – me senti ser cutucada e ouvi a voz de Tony me chamar. – Não me infernizou nenhuma vez hoje. Tá tudo bem?

Levantei a cara do travesseiro. Eu havia me escondido o dia todo para que ninguém visse as provas do que havia acontecido na escola. Um olho roxo, uma bochecha ralada e um lábio cortado.

A cara de espanto de Tony diante do meu estado imediatamente alavancou o meu choro.

— Elas não gostam de mim, Tony! – solucei estendendo os bracinhos e pedindo colo. – Ninguém lá gosta de mim!

 - Vem, vamos resolver isso. – ele disse simplesmente, me levantando no colo e andando pra fora do meu quarto. – Mãe! Mãe! Pai? Algum adulto por favor?

— Qual o motivo dessa comoção toda, Edward? – ouvi tia Maria perguntar. – Aleksandra vem jantar conosco?

— Quantas vezes já mandei não sair gritando por aí, Anthony? – ouvi tio Howard subir do laboratório.

— Ah, garanto que por essa vocês também saiam berrando por aí! – Tony retrucou totalmente na defensiva enquanto eu escondia meu rosto machucado em seu ombro.

— Aleksandra, querida, o que houve? – tia Maria perguntou suavemente e senti sua mão carinhosa em meus cabelos.

— Bateram nela na escola, mãe. – Tony respondeu por mim.

— O que? – tio Howard perguntou encolerizado me tirando do colo de Tony e observando meu rosto. – Oh céus... Quem fez isso, princesa?

— E-e-elas não gostam do jeito que eu falo. – respondi entre soluços. – Tio Howard, eu não quero mais ir lá. Quero voltar pra casa! Quero o papai, a mamãe, a Addy e a Lily.

— Shh, eu sei princesa. Vamos resolver isso. – tio Howard tentou consolar meio sem jeito.

— Tony, fique com a Aleksandra enquanto resolvemos isso, certo? – tia Maria mandou, e não acho que eu já tenha visto uma expressão tão determinada nela antes.

Tony ficou comigo assistindo desenhos até eu dormir, e ainda estava lá, babando no encosto do sofá, quando os gritos vindos da sala me acordaram.

— BATERAM NELA POR CAUSA DO SOTAQUE! O SOTAQUE, PEGGY! EU NÃO VOU DEIXAR ELA VOLTAR PRA LÁ! – esse era o tio Howard.

— ALEKSANDRA NUNCA VAI APRENDER A SER FORTE SE CADA VEZ QUE ELA ACABAR EM UMA ENCRENCA VOCÊ COLOCA-LA EM UMA REDOMA, HOWARD! – e essa era a tia Peggy.

— Peggy, talvez seja melhor contratar um tutor e ensiná-la em casa, como fizemos com o Tony. – sempre calma, tia Maria.

— Talvez seja mesmo melhor. Pelo menos por enquanto. – e o pacificador, tio Daniel. – Crianças pequenas como ela tendem a ser mais cruéis. Deixe-a crescer um pouco, perder um pouco do sotaque, então a colocamos na escola de novo.

— Você só pode estar de brincadeira, Daniel... – falou tia Peggy.

— QUEM TEM QUE ESTAR DE BRINCADEIRA É VOCÊ PEGGY! – gritou tio Howard. – EU NÃO VOU COLOCAR ELA DE VOLTA NAQUELA ESCOLA, OU VOCÊ QUER QUE AS OUTRAS CRIANÇAS CONTINUEM BATENDO NELA?

— Eu não falei pra colocar a Aleksandra naquela mesma escola, Howard! – tia Peggy se defendeu. – Ela precisa aprender a conviver com gente que seja de fora da família.

— Qual a sua sugestão, Peggy? – tia Maria questionou.

— Vamos coloca-la em outra escola e ao mesmo tempo ensiná-la a se defender. – tia Peggy respondeu. – Eu não vou deixar vocês transformarem a minha afilhada em uma princesinha indefesa e mimada.

***

Upstate New York – Estados Unidos, Janeiro de 1987

Academia Para Jovens Agentes da SSR (SSR’s Academy For Young Agents - AFYA)

— Tia Peggy, não estou entendendo. Você disse que íamos pra escola, não pra New York. – me inclinei pra frente no banco do carro e sussurrei pro tio Daniel. – Ela sabe que a minha escola não fica em New York, certo?

— Sim, Leksie, eu sei que a sua escola não é em New York. – tia Peggy disse com um pequeno sorriso. – E não vamos pra essa escola. Vamos pra sua nova escola, onde ninguém vai te bater.

— Mas em New York? Vai demorar um TEMPÃO pra voltar pra casa do tio Howard! – franzi as sobrancelhas.

— E é por isso que você vai ficar com a gente em New York. O que acha baixinha? – tio Daniel sorriu para mim pelo retrovisor.

— Eu adoraria. – sorri animada.

Me acomodei novamente no banco traseiro do Escort XR3i azul de tio Daniel e observei a paisagem passar por alguns minutos, a voz de Paul McCartney preenchendo o carro.

As coisas começaram a ficar estranhas quando tio Daniel entrou em um acesso com várias placas de interdição.

Logo, vi vários avisos e placas com o anúncio de “keep away, this area is propriety of the USA government”.

Foi quando vi uma grande placa preta com a insígnia de uma cabeça de águia que me dei conta do que estava acontecendo.

Eu e Addy havíamos encontrado várias pastas de papel com essa insígnia na capa, assim como duas army tags americanas com os nomes dos nossos pais no sótão de casa. Depois de muita leitura, nós sabíamos da verdade: nossos pais eram agentes da SSR. Eram espiões.

Tia Peggy estava me levando para uma escola de espiões.

***

Upstate New York – Estados Unidos, Setembro de 1987

Academia Para Jovens Agentes da SSR (SSR’s Academy For Young Agents – AFYA)

Agente Pierce nos dava aulas de Educação Moral e Cívica. Eu não gostava. Não era culpa da matéria, eu até gostava de estuda-la sozinha. Não. A culpa era do Agente Pierce. Ele era um chato que não sabia nada sobre como prender a atenção de crianças de 6 anos.

Eu me sentia como o Calvin das tirinhas de Bill Watterson que eu lia todos os dias no jornal e adorava.

 Calvin era um garoto de 6 anos extremamente atentado cujo melhor amigo era um tigre de pelúcia chamado Haroldo. Muitas de suas tirinhas giravam entorno dele viajando na maionese durante as aulas, na maior parte das vezes a respeito das aventuras do Astronauta Spiff, em que ele era o herói e os professores eram os monstros alienígenas melequentos que na maior parte do tempo estavam tentando comer o Astronauta Spiff.

Ao contrário de Calvin – que fantasiava a respeito de monstros alienígenas melequentos tentando devorar o Astronauta Spiff – eu costumava fantasiar a respeito de princesas, castelos, arco-íris e unicórnios mágicos. E príncipes encantados.

— Srta. Portter! – a voz do Agente Pierce me despertou do meu devaneio que se assemelhava à história da Bela Adormecida.

— Sim, Agente Pierce? – perguntei após um leve sobressalto.

— A Diretora Carter veio busca-la mais cedo. Reúna suas coisas e siga a Agente Dawson. – ele comandou. De alguma forma, eu sempre tinha a impressão de que se eu não fosse afilhada dos diretores da SSR, ele já teria torcido meu pescocinho há muito tempo.

Sorri largamente apanhando meu material e andando de forma imponente para fora da sala de aula, apenas acenando para Maria Hill, Hope Van Dyne e Norah Reeves, algumas das amigas que eu fizera antes de sair atrás da Agente Dawson.

Camilla Dawson era a coordenadora da Academia Para Jovens Agentes, era casada com o Tenente Coronel Jason Reeves – que sentava junto com tia Peggy, tio Daniel e tio Howard no alto-escalão – e era mãe de Norah.

O que eu não sabia na época era que a Agente Dawson estava doente. Muito doente. Ela faleceria em dezembro daquele mesmo ano.

Mas isso é outra história.

Porque quando eu me encontrei com tia Peggy e tio Daniel eu descobriria algo mais relevante para a presente narrativa – não que a morte de Camilla Dawson não fosse importante para a linha dos acontecimentos aqui narrados, muito pelo contrário, é muito importante. Porém, só mais tarde.

O fato é que tia Peggy nunca me tirava mais cedo da escola. Por nada.

Logo meu cérebro de criança, imaginativo demais pro próprio bem, começou a criar cenários que fariam minha rígida e querida madrinha me buscar mais cedo.

Em todos eles, alguém estava muito doente ou morto.

Menos em três: em um deles eu era na verdade a princesa da Inglaterra e não precisava mais de escola. Em outro tia Peggy tinha descoberto o caminho pra Nárnia e ia me levar pra lá. E no terceiro, tio Howard finalmente havia achado um jeito de me dar um unicórnio mágico de verdade. 6 anos, certo?

Graças a Deus, eu não acertei em nenhum dos palpites – e talvez eu não deva ficar tão feliz que ninguém achou o caminho pra Nárnia.

Addy havia pulado o muro da escola e sido expulsa. Essa era a verdade. E mamãe havia resolvido que ela precisava de uma “vitamina Peggy Carter” pra ver o que era bom pra tosse.

A partir de então, Addy passou a frequentar a Academia Para Jovens Agentes, e finalmente se achou.

***

Califórnia – Estados Unidos, janeiro de 1988

Mansão Stark em Malibu

Tony, Addy e eu podíamos ir na praia. Podíamos inventar mil jogos diferentes. Tudo o que quiséssemos no recesso de fim de ano, mas o calor havia nos transformado em três coisas moles jogadas de qualquer jeito na frente dos ventiladores.

A verdade é que o recesso havia começado semanas mais cedo e terminaria semanas mais tarde para mim e para Addy. Tia Peggy, tio Howard e tio Daniel haviam achado falhas no sistema de funcionamento da SSR, e estavam reformulando todos os estatutos, protocolos e regras da agência, incluindo a Academia.

Nas palavras do Sr. Jarvis, o mordomo dos Stark, a SSR seria reformulada do zero.

Nenhum de nós, no entanto, havia entendido quão do zero era até tia Peggy voar para a sala onde estávamos e nos arrastar para uma das salas de conferência.

Ela nos sentou em cadeiras. Cada um ganhou um maço de papel em branco, alguns lápis e borracha.

Então ela escreveu uma sequência de palavras no quadro branco diante de nós.

SWORD, ARMOUR, HELMET e SHIELD.

— Alguém pode por favor me explicar o que está acontecendo? – Tony perguntou se recostando na cadeira e a inclinando para trás.

— Estamos reformulando a agência. Strategic Scientific Reserve não vai mais funcionar com o que queremos. No entanto, surgimos com algumas possíveis siglas. Queremos decodifica-las. – tia Peggy deixou o canetão de lado e apoiou o quadril na mesa, cruzando os braços. – Vocês três são espertos, e estão entediados. Aí está a sua lição de casa para o resto do recesso: eu quero que transformem essas palavras em siglas.

— Espera, você quer que a gente dê nome pra nova agência? – Addy perguntou ajeitando a postura e dando um sorriso atentado.

— Pense nisso como sua primeira missão, Addison. – tia Peggy piscou para Addy e saiu da sala.

— Primeira missão? Que primeira missão? Como assim? – perguntei para Addy.

— O que a coisinha disse. – Tony reforçou.

— Eu fui movida para a área de treinamento de agentes. – ela respondeu puxando os cachos ruivos para trás. – Estou oficialmente no primeiro ano da Academia de Treinamento e Formação de Novos Agentes.

— Vai ser uma agente secreta, Psychocrazy? – Tony riu, arqueando uma sobrancelha.

— Vamos trabalhar. – Addy revirou os olhos. – Anotem palavras que tenham haver com espionagem e comecem com S, A, W, I, O, R, D, U, E, T, M, L e H.

Strategic começa com S. Acha que podemos manter? – perguntei batucando o lápis na mesa. Mais tarde, eu ia aprender que aquilo só servia pra quebrar o grafite todinho.

— Vocês acham que talvez a tia Peggy queira algo como um quartel-general? Poderíamos usar headquarters. – Tony ponderou tirando o lápis da minha mão. – Parou com os barulhinhos chatos, coisinha.

— Será que SHIELD é por causa daquele drama todo do Capitão América? – Addy sorriu de canto, um sorriso que eu sempre digo que ela copiou do próprio Satanás de tão malvado que é.

— Abram alas pra nova teoria da conspiração da Psychocrazy! – Tony declarou em alto em bom som.

— Tia Peggy me mostrou um dia uma foto dele antes do soro. Ele era bonito. – apoiei os braços na mesa e deitando a cabeça neles com um suspiro.

— AFILHADA FURA-OLHO! – Tony gritou antes de me atacar com cócegas.

— EU ESTOU OUVINDO MUITA CONVERSA E POUCO TRABALHO! – tia Peggy gritou passando pela porta do escritório.

Os três nos sentamos retinhos e comportados, e logo tínhamos três listas.

Juntamos tudo e decidimos que SWORD era nome de agência de ataque, não de defesa. ARMOUR não era lá aquelas coisas. HELMET era simplesmente e unanimemente ridículo.

Ficamos com SHIELD. E depois de filtrar muito, acabamos com duas siglas.

Supreme Headquarters of International Espionage and Law-Enforcement Division. Cortesia de Tony e Addy, mas eu não gostei muito do “Supreme”, sob o argumento de que soava prepotente.

Strategic Homeland Intervention Enforcement Logistics Division. Cortesia dos três, já que – nas palavras do Tony – eu era uma “chatinha mandona general mirim contra a supremacia americana”.

Talvez eu realmente fosse. Talvez ainda seja. Certa pessoa costuma dizer que sou a britânica mais britânica de Grã-Bretanha e a inglesa mais inglesa da Inglaterra – sim, você mesmo, Sam.

***

New York – Estados Unidos, dezembro de 1991

Apartamento de Peggy Carter e Daniel Souza em Manhattan

No dia mais traumático da minha vida, eu me lembro de estar animada por ser o primeiro dia do recesso de fim de ano.

Era uma quarta-feira, dia 18 de dezembro, e eu acordei cedo sem necessidade. Mas acordei feliz.

Antes do advento do café, dos SATs, do Ensino Médio, da faculdade de Direito e da renca de filhos, eu era uma pessoa matutina. Hoje em dia, só de pensar em fazer algo além de beber um balde de café lendo o London Times de manhã eu já multiplico o meu mau-humor – intencionalmente.

Tia Peggy e tio Daniel haviam pego licença da SHIELD e estávamos arrumando malas e mais malas para passar o Natal em Malibu com os Stark.

De fato, nós iriamos passar o Natal em Malibu. Só não do jeito que esperávamos.

Era por volta de meio-dia quando o telefone tocou. Tio Daniel estava me ensinando como as malas eram arrumadas no Exército Americano, então tia Peggy atendeu.

Eu soube que algo estava errado quando ela derrubou o telefone.

Eu soube que alguém tinha morrido.

— Foi o papai, não foi? – murmurei para tio Daniel. – Eu não quis voltar pra Inglaterra e ele não aguentou. É culpa minha.

— De onde a senhorita tirou isso? – tio Daniel perguntou empurrando a mala aberta para o lado e me puxando para sentar na cama com ele. – Te garanto, Leks, se fosse pro seu pai morrer de susto, tinha sido quando a sua irmã fugiu da escola.

Dei um sorrisinho mínimo, me sentindo aliviada. Cedo demais.

— Terminem essa mala. Nós vamos pra Malibu hoje. – tia Peggy disse aparecendo na porta do meu quarto com a maquiagem borrada de vez.

— Peg, o que houve? – tio Daniel questionou preocupado, fazendo menção de se levantar.

— Fique sentado. Os dois fiquem sentados. Leksie, querida... Eu tenho más notícias. – ela se aproximou e agachou-se na minha frente, segurando minhas mãos pequenas em suas mãos sempre quentes.

— Foi o papai, não é? Ele morreu por causa da leucemia, né? – perguntei com os olhos baixos. No fundo eu estava em paz com o fato de que meu pai tinha uma doença incurável e não tinha muito tempo de vida. E, sendo sincera, eu nunca me sentia tão ligada ao meu pai quanto eu era ao tio Howard e ao tio Daniel, que me criaram.

— Não querida... Aconteceu um acidente de carro na noite de segunda-feira. Howard e Maria estavam no carro... Nenhum dos dois sobreviveu. – tia Peggy relatou, a voz embargada e os olhos preocupados em mim.

Meu cérebro não assimilou a informação de primeira. Tudo o que eu conseguia me lembrar era de uma das únicas vezes em que tio Howard me deixou entrar em seu laboratório.

— Isso não é perigoso, tio Howard? – perguntei vendo-o mexer em algumas fiações sem as luvas apropriadas. – Cuidado, eu não posso ficar sem você.

— Fique tranquila, princesinha. Vaso ruim não quebra, você não vai ficar sem mim tão cedo. – ele assegurou largando as fiações para fazer um carinho em minhas bochechas. – Eu sempre vou estar com você.

— Então vai me levar até o altar no meu casamento? – perguntei com um sorriso, minhas covinhas se afundando em minhas bochechas.

— Se casar, princesinha? Nem pensar! Não enquanto eu estiver por aqui. Pode ir esquecendo! – ele negou rindo e me puxando para um abraço. – Não cresça tão rápido, Aleksandra. Seja a minha princesinha pelo máximo de tempo que conseguir. Quem sabe até lá eu não consigo arrumar um unicórnio mágico que espirra arco-íris pra você?

— Tio Howard, eu já tenho 10 anos! Sei que unicórnios não existem! – gargalhei devolvendo o abraço.

— Quem te ensinou essa baboseira? Óbvio que unicórnios existem! E ei! – ele me deu um leve beliscão no braço de forma carinhosa. – Eu não acabei de te dizer pra não crescer tão rápido?

Pisquei três vezes e encarei tia Peggy.

— Tia Peggy... Você está dizendo que... Que o tio Howard... O tio Howard morreu? – perguntei sentindo um nó na garganta. – E a tia Maria também?

— Sim querida. Sinto muito. – tia Peggy concordou com lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Mas... Mas ele disse... Ele... – solucei, sentindo lágrimas quentes em minhas bochechas. – Ele prometeu que sempre estaria comigo!

— Eu sei querida, eu sei. – ela me puxou para um abraço forte, uma se desmanchando nos braços da outra.

Foi o pior dia da minha vida, mas também foi o dia em que percebi uma das verdades mais importantes da minha vida: de todas as formas que importavam, tia Peggy era minha mãe.

— Ele ainda está com você, querida. – tia Peggy murmurou em meu ouvido. – Sempre vai estar.

***

Upstate New York – Estados Unidos, fevereiro de 1993

Primeira Base da SHIELD Para Reabilitação e Monitoramento de Indivíduos Perigosos

— É daqui que a minha nova instrutora vai vir? – perguntei encarando a placa com evidente desdém e até algum cinismo.

— Más notícias, Peg: nós temos uma aborrecente! – tio Daniel anunciou.

— Eu não sou uma aborrecente! – reclamei do alto dos meus 12 anos de idade.

— Então por que está se comportando como uma? – tia Peggy devolveu.

— Porque a minha nova instrutora vai sair da Reabilitação Para Criminosos Internacionais! – respondi indignada.

— Você quer ser uma agente como a Addison? Vai ser treinada pela melhor. – tia Peggy respondeu e da última porta de segurança máxima saiu uma mulher ruiva que devia ter a mesma idade que a Addy. – Leksie, esta é Natasha Romanoff, a melhor. Srta. Romanoff, essa é Aleksandra Portter, sua nova aprendiz. O que acha?

— A postura é boa. Faz aulas de balé? – a ruiva – Natasha – me perguntou.

— Faço sim. Na melhor escola de New York. – respondi levantando o queixo orgulhosa. – Sou Prima Ballerina da minha turma.

— Ótimo. Mas esse nariz empinado... Vai ter que abaixar. – Natasha me encarou com um meio sorriso.

***

Califórnia – Estados Unidos, maio de 1999

Mansão Stark em Malibu

— É bom você ter um ótimo motivo pra ter me tirado de Oxford antes das provas finais! – falei entrando no escritório de Tony, que ele quase nunca usava. O mesmo escritório em que anos atrás eu, ele e Addy havíamos criado um nome para a maior organização de inteligência do mundo.

— Então olha só que interessante! Eu, Obadiah e o Sr. Williams estávamos dando uma olhada no testamento do meu pai, e qual não é a minha surpresa ao descobrir que eu não sou dono de 100% das Stark Industries. – Tony falou sentado na mesa – literalmente – de modo displicente ladeado de Obadiah Stane e do advogado da família, Terrence Williams.

— Obadiah, Sr. Williams. – cumprimentei antes de me voltar para Tony de sobrancelhas franzidas. – Como assim você não é dono de 100% da empresa?

— Sr. Williams, tenha a bondade! – Tony pediu para o advogado.

Sr. Williams limpou a garganta antes de erguer o testamento que eu já havia visto várias vezes e ler um parágrafo que eu nunca tinha ouvido antes:

Para minha afilhada, Aleksandra Portter, deixo uma cadeira no Conselho e 25% das ações, lucros e propriedades das Stark Industries a partir da sua maioridade aos 18 anos. Deixo para ela também a propriedade em Glasgow, os vinis, minha coleção de livros clássicos, todos os pianos de todas as propriedades e o Centro De Pesquisa Médica da empresa. — assim que o Sr. Williams terminou, me encarou com um sorriso afável. Eu sempre havia adorado o Sr. Williams, e fora ele quem escrevera minha carta de recomendação para o curso de Direito em Oxford.

— Espera... Então... Eu sou dona de 25% das empresas? – arregalei os olhos chocada.

— Bem-vinda à família capitalista, sócia! – Tony exclamou abrindo os braços.

— Jurídico. – falei simplesmente ainda meio catatônica com a informação de que agora eu tinha uma mansão em Glasgow, todos os vinis maravilhosos de tio Howard, todos os pianos, um Centro de Pesquisa Médica, uma cadeira no Conselho e 25% da empresa.

— O quê? – Tony perguntou confuso.

— A cadeira no Conselho. Eu quero a que representa o departamento jurídico. – sorri.


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Notas finais do capítulo

Escort XR3i ??“ Carro da Ford lançado em 1982, tendo sua primeira versão ??“ o XR3 ??“ lançada na Europa em 1968. O Ford Escort XR3i tinha motor 1,8 litro Zetec, carburador duplo, injeção eletrônica, câmbio de 5 velocidades e era conversível.
Calvin e Haroldo ??“ Tirinhas de autoria do americano Bill Waterson que foram publicadas semanalmente em versões inéditas por mais de 2 mil jornais ao redor do mundo de 18 de novembro de 1985 ate 31 de dezembro de 1995.
“Keep away, this area is propriety of the US Government” ??“ mantenha distância, essa área é propriedade do Governo dos EUA.
Army tags ??“ plaquinhas de identificação do exército.
Supreme Headquarters of International Espionage and Law-Enforcement Division ??“ Quartel-general Supremo de Espionagem Internacional e Divisão de Reforçamento de Leis, foi o primeiro nome cogitado para a SHIELD pela Marvel Comics.
Strategic Homeland Intervention Enforcement Logistics Division ??“ traduzido pela editora Abril e mantido pela editora Panini como Superintendência Humana para Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão.

ESPERO QUE TENHAM CURTIDO ESSE CAPÍTULO CHEIO DAS REFERÊNCIAS QUE SERVIU MAIS PRA AMBIENTAR A LEKS NO UNIVERSO.
NO PR?“XIMO CAPÍTULO QUE A COBRA FUMA! VOU INTRODUZIR A LINHA DE HOMEM DE FERRO 1 E VOCÊS VÃO OUVIR RUMORES A RESPEITO DE UM TAL DE PROJETO UNSEELIE!
COMENTEM, VOTEM, COMPARTILHEM!
BEIJOS DE REFERÊNCIA NO CORAÇÃO,
SHAZI



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