Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 14
"Tá Tudo Bem, Eu Estou Aqui"


Notas iniciais do capítulo

Cá estou eu postando um novo capitulo quase a meia noite quando deveria estar dormindo!

Nem me importo mais! :D

~~ Boa Leitura



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 Peter fez isso.

 Ele pode ter demorado mais tempo do que o necessário para achar o apartamento do Dr. Connors, mas ele finalmente conseguiu. E também nunca esteve mais nervoso; não do jeito legal, como quando há “borboletas no estômago”, não, era de um jeito que o fez estar consciente de tudo ao seu redor.

 Levou seus sentidos ao máximo, quase em mais um dos ataques.

 Passar — novamente — a noite em claro havia sido uma tortura, porque não importa o quão cansado ele estivesse, os pensamentos e a ansiedade não o deixavam dormir. Peter já estava começando a encarar isso como um grande problema. Pelo menos agora ele espera ser capaz de tirar esse peso das costas e finalmente ter uma noite completa de sono.

 Além de claro, responder as perguntas que rodam sua mente.

 Peter estava parado em frente ao apartamento do ex-colega do seu pai adotivo, no décimo andar de um prédio em Manhattan. O caminho até aqui tinha sido longo, não por causa do transito ou até mesmo do fato de ele ter se confundido com o endereço, foi porque ele se distraia muito fácil. Mas o que importa é que ele está aqui, segurando a pasta amarela com ambas as mãos ainda ofegante, com o coração a mil.

 Ele não entrou pelo saguão, em vez disso optou pelo armário do zelador — um jeito diferente de entrar em um prédio, mas ele era o Homem-Aranha; o que provavelmente não lhe dá o direito de fazer isso, mas ainda assim ele fez — lutando para trocar de roupa rapidamente. Peter não estava disposto a perder nem mesmo um segundo do seu novo “passatempo”.

 Ele engoliu em seco, se preparando mentalmente para o que vinha a seguir, e então estendeu a mão e apertou a campainha, segurando a respiração involuntariamente. Peter nem ao menos percebeu o quão rápido seu coração estava batendo, praticamente martelando em seus ouvidos.

 Peter acabou — mesmo que não intencionalmente — ouvindo passos de dentro do apartamento. Não eram altos, tampouco pesados; na verdade, eram leves e até mesmo lentos. Parecia se aproximar da porta com relutância. Pareceu um século até que o clique da fechadura fosse ouvido e uma pequena brecha aparecesse.

 Era pequena demais, apenas uma abertura com no máximo três centímetros e Peter tenve que se inclinar um pouco, olhando para baixo, por um momento ele estranhou a timidez. Fez mais sentido quando ele encontrou com o rosto de uma criança, que encarava ele de forma curiosa e ainda assim relutante.

 Ele sorriu amigavelmente quando percebeu quem era; é claro que os olhos azuis e os cabelos loiras não enganavam, afinal, ele tinha pesquisado o bastante sobre Connors para saber que ele tinha um filho.

 — Oi — Peter o cumprimentou, esperando que seu tom de voz soasse amigável o bastante para tornar a criança ao menos um pouco confortável com ele. — Você deve ser o Billy, não? — Peter, pacientemente, esperou uma resposta. Ele deixou o garoto tomar seu tempo, e depois de alguns segundos finalmente acenou com a cabeça. — Prazer em te conhecer. Eu sou o Peter. O seu pai está...?

 Peter engoliu em seco, quando somente agora o pensamento de que Connors pudesse estar trabalhando na Oscorp veio até ele. Até agora não tinha nem ao menos considerado isso. Para a sua sorte — que quase nunca é boa — Billy acenou timidamente.

 — Eu vou chamar ele — Disse, com a voz baixa em um sussurro. Ele então fechou a porta e desapareceu dentro do apartamento.

 Peter não pode ouvir muita coisa, e isso o deixou nervoso. Ele suspirou e abaixou seu olhar novamente para a pasta, percebendo então que estava a apertando forte demais, amassando as folhas. Peter balançou a cabeça, tentando jogar o nervosismo de lado.

 Dessa vez ele nem percebeu quando a porta se abriu, dessa vez por completo, e ele agora estava de frente para o dr. Connors.

 Ele tinha olhado tanto para o rosto estampado naquele recorte de jornal, nas câmeras, fotos e em entrevistas, que chegou a ser estranho estar frente a frente com o homem. Assim como o esperado, ele tinha cabelos loiros, um pouco escurecidos, e olhos azuis. Peter fez um enorme esforço para encarar apenas o seu rosto, assumindo que seria falta de educação se não o fizesse.

 — Pois não? — Perguntou, parecendo confuso com a presença de Peter. Ele provavelmente nem se lembrava da sua existência, e Peter não ficou surpreso com isso.

 — Desculpa incomodar dr. Connors — Peter engoliu em seco pela milionésima vez. —Eu- Eu sou Peter Parker, filho de Richard Parker — Ele sentiu um nó na garganta enquanto falava, algo extremamente desconfortável, mas que não pode deixar de lado porque parte dessa afirmação era mentira.

 Ele ainda estava lutando para mudar esse pensamento, e estava indo surpreendentemente bem.

 — Peter... — Ele sussurrou, um lampejo de realização cruzando seu rosto.

 Connors ficou em silêncio por alguns segundos, olhando Peter de cima a baixo, como se estivesse tentando criar alguma ligação com aquele pequeno garoto que Richard frequentemente levava à Oscorp apenas para que ele brincasse com o filho de chefe.

 — Você cresceu — Disse por fim, sorrindo para Peter. Algo meio oco e sem um real sentimento de simpatia, mas Peter não se sentiu incomodado.

 Seu sentido aranha ainda estava calmo, e ele aprendeu a confiar apenas nele.

 Dr. Connors então abriu o resto da porta, deixando um espaço para Peter entrar.

 — Entre

 O jovem aranha agradeceu com um pequeno aceno, avançando para dentro do apartamento. O lugar era bem arrumado, brilhante, mas ao mesmo tempo simples. Peter sorriu novamente para Billy que estava o encarando, meio escondido atrás da parede.

 O garoto era bem tímido, pelo menos com estranhos.

 — É uma surpresa você ter aparecido aqui — Ele disse, não com uma acusação, mas com pura incredulidade em sua voz. — Eu... achei que nem se lembrasse mais de mim — Disse, talvez um pouco envergonhado por admitir isso.

 O homem o guiou até a cozinha, a onde havia uma bancada aconchegante.

 — Eu não sabia como entrar em contado com o senhor além de aparecer aqui — Peter confessou. — Provavelmente me expulsariam da Oscorp se eu aparecesse lá sem um crachá

 Connors riu, admitindo assim que Peter estava certo. Ele então pegou uma caneca de café e foi até a cafeteira.

 — Eu não duvidaria disso — Deu de ombros, ainda com um sorriso no rosto. — Norman leva a segurança a sério demais.

 Ele parou por um momento, tempo o suficiente para Peter se sentar numa banqueta, ainda segurando firmemente a pasta em suas mãos.

 — Aceita um café? Assim nós podemos colocar a conversa em dia — Dr. Connors sugeriu, mas Peter se sentiu obrigado a rejeitar.

 — Não posso ficar muito tempo — Peter confessou, encolhendo os ombros. — Eu gostaria de falar com o senhor sobre isso — Peter levantou a pasta amarela, deixando-a descansar sobre a bancada. Ele então a virou, permitindo que Connors pudesse dar uma boa olhada.

 Ele parou seu movimento, abaixando a caneca fumegante de café lentamente para a bancada. Parecia chocado, quase assustado, e olhou para Peter como se ele fosse um fantasma.

 Peter sentiu seu coração apertar com isso.

 — Isso... é...? — Peter não sabia o que ele queria dizer, mas assumiu que era sobre Richard.

 — Era de Richard — Disse, sentindo-se abrigado a explicar tudo. — Eu a encontrei em uma pasta velha a alguns meses, mas não sei o que é. Pensei que o senhor soubesse?

 Connors se aproximou com relutância, demorando mais do que o necessário para alcançar a pasta e folheá-la. Peter se sentiu nervosos apenas pelo modo que o homem estava encarando cada uma das folhas, como se tivesse a resposta para mil e uma perguntas bem na sua frente.

 — Isso — Ele parou por um momento, quase como se estivesse sem fôlego. Peter então teve a certeza absoluta de que aquele documento era importante, e que ele tinha feito a coisa certa em trazer isso para o Dr. Connors. — Isso é toda a pesquisa que seu pai e eu trabalhamos por anos... — Ele parecia perdido em seus pensamentos por um momento e nem ao menos olhou para Peter. — Eu tentei recomeçar quando ele foi embora, mas... nunca tive um grande avanço

 Peter piscou, as peças finalmente se encaixando a onde deveriam. O livro do dr. Connors que ele leu deixava tudo claro.

 Isso era mais do que importante, era revolucionário.

 — É sobre o cruzamento genético de espécies — Não foi uma pergunta, foi uma afirmação. Peter sabia o que era, sabia agora aonde seu pai estava tentando chegar. Ele se remexeu em seu assento, levantando em fim o olhar para o dr. Connors. — Eu li seus livros... acha que pode funcionar?

 Era estranho quando Peter pensou nisso. Imaginar que a cura para uma doença grave poderia ser encontrada se eles cruzassem o DNA humano com o de um animal; era surreal. Por algum motivo, sua mente não conseguia parar de pensar nas consequências, nos efeitos colaterais; no que isso poderia gerar.

 Connors abaixou a pasta, não hesitando em responder.

 — Tenho certeza — Ele afirmou. — Poderia melhorar a vida de milhares e milhares de pessoas

 Peter abaixou o olhar, franzindo a testa para a pasta, tentando uma luta interna por um momento.

 — E... quais o senhor acha que seriam os efeitos colaterais? — Peter perguntou, buscando tirar suas dúvidas agora do que voltar para Torre com elas.

 — É difícil dizer — Disse após um momento de hesitação. — A pesquisa nunca chegou na fase de testes, mas se tivéssemos tido sucesso, poderia ser pequena

 Peter mordeu o lábio inferior, abaixando seu olhar para a pasta agora aberta. As folhas e folhas que ele nunca foi capaz de entender, mas que o homem na sua frente tinha ajudado a criar.

 Não tinha utilidade pra ele — claro, além do valor sentimental, mas para isso existia a foto e todo o resto das bugigangas na pasta em casa —, ele não era um gênio, não era um químico ou um cientista que usaria essa pesquisa para algo importante.

 Connors saberia o que fazer com essa pesquisa. Saberia como usa-la. Ou assim Peter acreditava.

 — O senhor deveria ficar com ela — Peter disse, levantando o olhar para o cientista. — Vai poder fazer grandes coisas com ela

 Aos poucos, um sorriso se formou no rosto do dr. Connors.

 — Obrigado Peter — Ele disse. — Isso tem mais valor do que você imagina

 

 ...

 Ele acabou tomando um caminho alternativo de volta a Torre. Algo que levou muito mais tempo do que deveria.  Peter sempre soube que ele se distraia muito facilmente, era algo que Mary vivia chamando sua atenção.

 “— Querido, desligue a TV senão você não vai conseguir resolver os exercícios“ Ela o avisava mais de uma vez; na verdade, ela dizia isso todas as vezes que ele sentava na sala para fazer o dever de casa.

 Peter podia passar horas e horas com o lápis na mão e o caderno aberto, mas a sua atenção sempre estava na tela da TV. Esse era um pequeno defeito seu, mas que nunca o incomodou até hoje.

 Ele se deixou levar, sentindo seus ombros mais leves pela primeira vez em quase dois meses. Finalmente tinha entendido do que tudo aquilo se tratava e agora tinha certeza de que aquela pesquisa seria útil para alguém, que não ficaria apenas jogada na escrivaninha do seu quarto pegando poeira.

 Com isso em mente, ele se deixou levar.

 Peter acabou ajudando uma moça que tinha ficado presa no banco do motorista após seu carro sofrer um acidente. Ela parecia bem, apenas com um arranhão na testa — e talvez um pouco assustada quando o viu ao seu lado, estendendo uma mão e oferecendo ajuda —, mas mesmo assim Peter a aconselhou deitar no chão e esperar os policiais e a ambulância chegarem.

 Ele meio que tentou ignorar a aglomeração que havia se formado ao redor do acidente, e também o espanto de todos ao ver um cara vestindo uma fantasia estranha.

 Depois disso, ele salvou um cachorro de ser atropelado — o Golden Retriever parecia perdido, mas havia uma coleira ao redor do seu pescoço e Peter acabou ligando para o dono que apareceu minutos depois —, ajudou um garoto que havia se perdido da mãe e ensinou um novo jogo a um grupo de crianças no Central Park.

 Foi uma tarde relativamente tranquila, e Peter acreditava que as coisas ficavam mais serias a noite, mas ele ainda não tinha permissão para chegar tão tarde em casa — talvez isso fosse conquistado com o tempo. O que importa é que ele ainda estava ajudando; coisas pequenas, simples, mas que ainda pareciam trazer um sorriso para o rosto de alguém.

 Quando ele entrou, vestindo suas roupas normais, pela entrada da Torre dos Vingadores, o sol já havia caído no horizonte. Ele não estava cansado, exausto ou no limite, estava até mesmo radiante, com um enorme sorriso no rosto; seu dia tinha sido maravilhoso.

 Ele acabou parando no andar do Vingadores, sendo recebido por um turbilhão de conversas aleatórias. Elas não cessaram com a sua presença.

 — Hey Peter — Wanda foi a primeira a notar sua presença. Ela estava sentada no sofá ao lado de Visão, com um controle de videogame em mãos. Um rápido olhar para a televisão confirmou que ela estava jogando com Scott. — Scott disse que você é bom — Gesticulou para o jogo.

 Peter sorriu, olhando a luta que ambos estavam tendo na tela. Wanda parecia estar ganhando e conhecendo Scott, Peter sabia que ele estava dando o seu melhor.

 — Nem tanto — Deu de ombros. Ao seu ver ele realmente nem era tão bom.

 Porem Scott parecia ter uma opinião diferente, zombando com um bufo indignado.

 — Não venha com modéstia garoto — Ele brincou. — Você é o melhor nesse jogo

 Peter revirou os olhos.

 — Ele deve ser melhor que você — Wanda disse logo em seguida, quando a partida acabou e Scott foi derrotado.

 — Mostre pra ela o que você tem garoto

 ...

 Peter ganhou, mas ele não pode deixar de lado a sensação de que Wanda o deixou ganhar.

 ...

 Peter não foi direto para seu quarto quando a sessão de videogames acabou, ele simplesmente não podia. Durante o dia inteiro ele só viu Tony de manhã, quando pediu permissão para sair depois da escola, fora isso, o bilionário esteve ausente o dia inteiro. Era uma sensação estranha de vazio que o deixou inquieto.

 Por isso ele desceu até o laboratório, ainda carregando sua mochila nas costas, porque dali ele iria direto pro quarto e, se tudo der certo, finalmente descansar um pouco.

 Quando a porta do elevador se abriu, Peter encontrou com a figura do seu pai curvada sobre a escrivaninha. Não foi uma surpresa ele tê-lo encontrado adormecido em seu laboratório, isso era bem frequente na verdade. Não era a primeira vez que ele encontrava Tony assim e provavelmente não seria a última.

 Peter sorriu e, como das outras vezes, seguiu a mesma rotina.

 Ele se esgueirou silenciosamente por trás do monitor ligado, e estendeu a mão para desliga-lo, mas parou quando viu que na tela estava sendo exibida a agenda de Tony para o mês inteiro. Peter franziu as sobrancelhas, se pergunto o quanto seu pai realmente era ocupado.

 Ele teria apenas os próximos dias de folga, já que na semana que vem ele participaria de duas conferências de imprensa, e na próxima semana haveria um evento das Industrias Stark — Peter não soube dizer o que era, já que não havia uma descrição.

 Porém, ele piscou em pura surpresa quando percebeu que Tony tinha marcado uma nota daqui a duas semanas, na quinta-feira em especifico, junto com horário e local. Era a competição do Decatlo.

 Ele estava planejando ir assisti-lo.

 Peter sentiu seu coração tremer com isso, tentando futilmente decidir se isso era bom ou ruim. É claro que Tony estaria lá para vê-lo, para torcer por ele, mesmo quando as competições de Decatlo Acadêmico são vazias e sem muito entusiasmo; afinal, é algo que apenas os nerd participam.

 Ainda assim tinha um enorme valor, porque isso significava que, mesmo tendo a agenda cheia, Tony ainda iria arrumar um pequeno momento para ele.

  Peter deixou seu olhar cair novamente para Tony, sentindo um sorriso rastejar para seus lábios. O que ele tinha feito para estar aqui? Para ter essa chance? Ele não se sentia merecedor disso tudo.

 Geralmente, Peter apenas joga uma coberta sobre os ombros de Tony e deixa que o bilionário apenas durma o tempo que for necessário, mas isso não o ajuda em nada, já que a posição pode ser tudo, menos confortável. Ele tinha dó do homem que sem dúvida, horas depois, iria acordar com dores pelo corpo.

 Suspirando, Peter tirou a mochila das costas apenas para facilitar seus movimentos, e alcançou os ombros de Tony. Ele o puxou para fora da mesa gentilmente, fazendo o bilionário gemer em aborrecimento.

 — Peter? — Perguntou, olhos se abrindo para encara-lo, mas estavam turvos demais para focar. Peter se perguntou a quanto tempo Tony estava acordado antes de simplesmente desmaiar na mesa. — Quando você chegou...?

 — Faz um tempo — Respondeu, um sorriso se formando em seu rosto.

 Peter praticamente ergueu o homem mais velho e o guiou até o sofá abandonado do outro lado do laboratório. Tony pareceu despertar no meio do caminho, mas não lutou quando o menor o deitou no sofá — que era relativamente pequeno demais para o bilionário.

 — Tente dormir um pouco pai — Peter disse, sorrindo, e então jogou a típica coberta em cima do homem, que voltou a apagar como vela. — Sexta-Feira, blecaute

 As luzes do laboratório se apagaram e todas as vidraças escureceram, deixando o mundo lá fora bem mais escuro do que antes. O zumbido das máquinas e até mesmo o de Dum-E e U pararam e o laboratório foi mergulhado em um silêncio profundo. Peter suspirou, grato a Pepper por ela ter lhe dado o comando para situações como essa.

 Aparentemente, era bem comum Tony adormecer em seu laboratório desse jeito.

 Peter deixou o homem para trás e alcançou sua mochila novamente, a jogando por cima dos ombros. Então ele se virou e saiu do laboratório, entrando no elevador para poder, enfim, depois desse longo dia, retornar ao seu quarto.

 Ele estava muito cansado.

 ...

   Tony ainda estava um pouco grogue de sono quando o alarme começou a soar, alto e estridente em seus ouvidos, o despertando de um jeito nada gentil. Ele bocejou, se sentando no sofá duro e desconfortável, apenas para perceber que não fazia a mínima ideia de como havia chagado ali.

 Ele olhou para a janela, encontrando com as vidraças escurecidas, impedindo-o de ver o mundo lá fora. Ainda assim ele tinha um palpite que não passavam das 4 da madrugada.

 — Chefe, lamento acorda-lo — A voz de Sexta-Feira ecoou pelo laboratório, e logo em seguida as luzes se acenderam, machucando seus olhos no primeiro momento. — O senhor me pediu para avisar quando Peter tivesse um pesadelo

 Ele piscou surpreso, se sentindo mais desperto agora. Um pequeno tremor de desespero passando pelo seu corpo. Tony não precisou de outro incentivo  e logo estava de pé, caminhando até sua mesa de trabalho para alcançar seu celular.

 Três e vinte da manhã.

 Era cedo demais para ele começar a se sentir preocupado dessa forma, mas ao mesmo tempo isso o ajudou a despertar e a deixar o sono de lado. Tony respirou fundo, decidindo o que fazer antes mesmo de pensar em como agiria nessa situação. Pepper sempre teve uma estranha facilidade em ajuda-lo com os pesadelos, mas não era ela aqui, era ele, e ele nunca soube lidar muito bem com os sentimentos.

 Ainda assim, Tony estava no automático enquanto caminhava até o elevador apressadamente, praticamente correndo. Ele deixou-se subir, deixou as portas abrirem e logo estava andando com passos largos até o quarto do filho.

  Ele hesitou um pouco antes de abrir, a porta, tentando pensar no que iria fazer assim que tivesse Peter ao seu alcance. Mas não tinha a menor ideia. Ele decidiu então que o melhor jeito era o instinto, mesmo que falhasse, ele ainda estaria ali; era melhor do que deixar Peter sozinho.

 — Acenda as luzes em 50% Sexta-Feira — Ele disse, uma ordem clara, antes de empurrar a porta levemente, espreitando o quarto com hesitação. Naquele ponto seu coração já estava agitado demais e Tony podia sentir a bile querendo subir pela garganta.

 Ele sabia que Peter não estava bem no instante em que entrou no quarto. O som da sua respiração acelerada ecoava pelas quatro paredes, além dos eventuais grunhidos de sofrimento.

 Parecia que Peter estava em pânico. E isso foi como um balde de água gelada.

Tony amaldiçoou mentalmente, tentando se controlar para que ele mesmo não entrasse em pânico e se aproximou da cama do garoto, sentindo seu peito apertar com preocupação.

 Mesmo sob a luz fraca, Tony pode ver que Peter não estava nada bem.

 Ele parecia angustiado, se agarrando firmemente ao travesseiro como se sua vida dependesse disso, se remexendo e chutando os edredons para longe. Essa não era o tipo de visão que o bilionário pensou que um dia veria. Tony estendeu a mão calmamente e afastou algumas mechas de cabelo da testa do menor, se surpreendendo quando notou que ele estava suando frio.

 Ele não sabia o que fazer.

 Tony estava entrando em desespero, tentado a apenas chacoalhar Peter de volta a consciência, mas sabia perfeitamente que essa não era uma boa ideia. Poderia simplesmente piorar tudo se o fizesse.

 Tony optou por dar um passo de cada vez e se sentou na cama, se curvando para frente para que sua cabeça não batesse no beliche de cima.

 — Ei... Peter — Ele o chamou gentilmente, não querendo assusta-lo de alguma forma. Tony não era bom em ser compreensivo e nenhum dos livros que ele leu especificava como agir quando seu filho tinha um pesadelo. Ele engoliu em seco, encarando o rosto de Peter, se sentindo mais desesperado ainda quando a careta no rosto do menor se aprofundou. — Bambino...?

 Tony optou por balançar levemente o ombro do garoto, esperando que o ato não fosse muito abrupto. Ele observou quando Peter franziu os lábios e as sobrancelhas, como se estivesse com dor e então soltou um gemido angustiado e se encolheu nos lençóis.

 Só então ele abriu os olhos, turvos e desfocados, parecendo ainda imerso no pesadelo.

 — Ei bambino — Tony o cumprimentou, se certificando de que sua voz estava leve e amistosa. Ele não queria assusta-lo, queria mostrar a Peter que estava tudo bem. — É só um pesadelo

 Peter estava ofegante, suando frio e a forma como ele olhou ao redor parecia frenética, como se ele estivesse procurando por alguma coisa escondida nas sombras, algo que ele mesmo não sabia o que era. Mas havia apenas ele e Tony ali. O bilionário não estava preparado para as lágrimas que inundaram os olhos do menor antes mesmo que ele pudesse reconhecer que era seu pai que estava sentado ao seu lado.

 De repente, Peter estava chorando, lágrimas quentes descendo pelo seu rosto uma após a outra, sem parar, soluçando. Seu peito estava subindo e descendo freneticamente, como se ele estivesse desesperado por ar.

 Tony podia sentir a onda de desespero se ampliar mais ainda, deixando-o atônico. A única coisa que ele queria naquele momento era consolar Peter, fazer aquelas lágrimas pararam de manchar seu rosto, mas se viu impotente, apenas pairando sobre o garoto enquanto o mesmo parecia ter um ataque de pânico.

 Ele buscou uma forma de acalmar Peter e não assusta-lo ainda mais, mas não sabia como fazer isso.

 — Ei Pete, tudo bem, acabou

 Tony acabou buscando algum apoio e agarrou os ombros de Peter, puxando o garoto para um abraço desajeitado, praticamente enterrando seu próprio rosto nos cabelos do garoto.

 A forma como o menor tremeu em seus braços foi desesperadora. Tony não podia nem imaginar sobre o que Peter estava sonhando, se sentindo incapaz de ajuda-lo nesse momento. Em vez disso ele apenas começou a sussurrar calmamente palavras reconfortantes, garantias e promessas, esperando que isso fosse o suficiente.

 Peter então entrelaçou os braços em sua cintura, o puxando mais para perto, quase como se Tony fosse todo o apoio que o garoto precisava. Se isso fosse ajuda-lo, não havia nenhum problema.

  Tony fechou os olhos e afagou os cabelos de Peter, do jeito que ele sabia que o garoto gostava, ignorando a forma como sua camisa, de repente, começou a ficar úmida juntamente onde Peter havia enfiado o rosto. Ele alisou as costas do menor em círculos repetidas vezes, deixando ir.

 Tony também optou por ignorar o aperto mortal que Peter tinha em sua camisa, tão forte que ele podia jurar que ouvir o tecido se rasgar.

 Isso não era importante.

 — Tá tudo bem, eu estou aqui — Ele o tranquilizou e, como se para confirmar as suas palavras, plantou um pequeno beijo a têmpora do menor, algo que até agora ele nunca ousou fazer.

 Eles ficaram assim por um longo tempo, até que a respiração de Peter começou enfim a se acalmar e ele se mexeu no aperto do bilionário, ainda ofegante, mas agora buscando uma brecha para olhar para cima.

 — Pai...? — Perguntou num murmúrio, parecendo um pouco grogue de sono. Tony o apertou mais fortemente, sentindo um pequeno alivio no fundo do seu coração, mas não durou muito já que ele sentiu seu ânimo cair por Terra quando viu as lágrimas no rosto de Peter.

 Elas haviam parado de cair, mas havia um firme rastro em suas bochechas, isso se os olhos vermelhos não fossem óbvios o bastante.

 Tony sentiu sua garganta secar.

 — Estou aqui, Peter — Era uma firme garantia, e Tony fez questão de deixar isso claro, puxando o garoto para outro abraço, esse menos desesperado do que o anterior. Isso pareceu atingir Peter de uma forma tão profunda que o garoto soltou um suspiro trêmulo e praticamente desmoronou em seus braços.

 Tony, ainda um pouco relutante, o soltou, deixando Peter descansar no travesseiro antes de criar uma pequena distância entre eles. Ele não queria se afastar, não depois disso, por isso optou por apenas ficar ali, ao lado de Peter enquanto o garoto ainda tentava controlar sua respiração.

 O bilionário apenas estendeu uma mão e afagou os cabelos de Peter, várias e várias vezes, ajeitando e então bagunçando as madeixas uma e outra vez. Peter então abriu os olhos e olhou para Tony, uma expressão tão machucada que o mais velho não soube como agir ou o que pensar.

 Era a angustia clara ali.

 — Desculpa te acordar... — Ele murmurou, soando miseravelmente fraco. Isso quebrou o coração do bilionário em milhares de pedaços e Tony acabou franzindo os lábios.

 Ele balançou a cabeça negativamente, suspirando.

 — Não tem nada pra se desculpar Peter — Tony tentou tranquiliza-lo. — Você nunca vai ser um incomodo

 Peter fungou e então fechou os olhos, deixando claro que ele estava cansado. Tony sabia que insistir nesse assunto não seria a melhor coisa a ser feita, já que ele mesmo nunca soube lidar muito bem com seus pesadelos.

 Mas o silêncio era pior.

 — Não precisa falar sobre isso... mas eu ainda estou aqui se quiser que alguém te ouça — Tony garantiu num sussurro, esperando que isso fosse o suficiente para deixar Peter confortável.

 Peter não respondeu, ele apenas manteve os olhos fechados, quase como se estivesse adormecido novamente, mas a forma como ele se inclinou para a mão de Tony deixou claro que ele ainda estava acordado.

 — Obrigado...  — Foi o que ele disse depois de um tempo, um tom distante.

 — Você é bem-vindo garoto

 Tony não podia nem imaginar o quanto Peter estava cansado, já que não demorou muito e logo o garoto estava cochilando novamente, com a respiração agora uniforme, bem diferente de antes. Ainda assim, o mais velho ficou por mais alguns minutos, apenas para se certificar de que seu filho estava bem, de que ele não iria acordar novamente.

 Sim, ele estava com receio de deixa-lo, como se ele fosse sair do quarto e Peter fosse acordar em pânico. Mesmo assim, Tony se levantou, puxando os edredons para Peter novamente, o ajeitando de um modo que pareceu ser confortável e só então deixou o quarto do menor.

 Tony suspirou, esfregando os olhos com a palma da mão. Ele estava bem acordado agora e duvidava firmemente se seria capaz de voltar a dormir.


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Notas finais do capítulo

Isso, meus amores, se chama avanço no roteiro. Finalmente tivesse isso!

Quando eu estava escrevendo esse capítulo ele pareceu ser bem maior, mas me enganei kkkkkk bem, pelo menos saiu hoje, mesmo assim me perdoe pelos possíveis erros, eu meio que revisei por cima!

~~ See Ya Later



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