Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 3
Capítulo 3




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Já era noite quando William caminhava cuidadosamente pelo campus da escola em direção ao clube de natação. Praguejava mentalmente por ser tão idiota em esquecer sua mochila lá mais cedo, quando tinha ido falar com o treinador a respeito da competição que estava próxima.

— Eu deveria ganhar uma medalha de pessoa mais burra da escola. ­— Resmungou, tomando cuidado para não fazer muito barulho ao caminhar pela grama. Se um dos vigias noturnos o pegasse por ali, ele provavelmente estaria encrencado.

Era seu primeiro dia de aula e já estava burlando regras e andando às escondidas de noite na escola, que fantástico.

Quando chegou ao ginásio, estranhou as luzes acesas do lado de dentro. Talvez o treinador tivesse as esquecido assim, ou... talvez alguém tivesse invadido o clube. Não que o clube de natação fosse um lugar realmente interessante e relevante para se invadir, mas quem sabe, não é?

— Se bem que o que eu estou fazendo é praticamente uma invasão. — Murmurou a si mesmo enquanto entrava pela porta da frente.

Ele caminhou até o vestiário masculino, sempre olhando ao seu redor para ter certeza de que estava sozinho. Lá dentro não havia nem sinal de sua mochila. O mesmo no escritório do treinador. Mas foi quando cogitou dar uma olhada no depósito que ouviu um barulho vindo da piscina, como se alguém tivesse acabado de pular na água.

Certo, talvez a ideia da invasão não fosse tão absurda assim.

Ele correu até lá com pressa, e logo se deparou com a visão de alguém dentro da piscina, se debatendo. Era... Jessica? E ela estava se afogando. Não conseguiu ter tempo de se perguntar nada sobre aquela situação, pois quando percebeu já tinha pulado na piscina para ajudar a garota.

Ela tinha uma raia enrolada em uma das pernas, que a impedia de subir. Quando notou isso, William a soltou na mesma hora e a segurou em seus braços, puxando a garota para fora da água e a deixando na borda da piscina.

— Ei. — Chamou quando saiu a água e ajoelhou-se ao seu lado, vendo a menina aos poucos perder a consciência. — Jessica, está me ouvindo?

Ela murmurou alguma coisa desconexa, e novamente William insistiu:

— Jessica?

Foi quando ela fechou os olhos que ele não hesitou em pôr em prática o que tinha aprendido no treino de primeiros socorros da antiga escola. Com as duas mãos, pressionou o peito dela algumas vezes para vê-la cuspir um pouco de água, porém sem recobrar a consciência.

— Ok, talvez você me bata depois que acordar, mas saiba que eu não tive escolha. — Disse.

Ele então se aproximou da menina de cabelos loiros e começou a fazer respiração boca a boca. Não precisaram se passar mais que alguns minutos revezando entre aquilo e a massagem no tórax para que a garota começasse a tossir novamente e acordasse, aos poucos.

— Ei, Jessica? — Chamou, balançando a mão em frente ao seu rosto. — Consegue me ouvir?

A garota encharcada piscou algumas vezes.

— Você... o que houve...? — Ela questionou, confusa.

— Acho que você caiu na piscina, não se lembra? — William disse, ajudando ela a levantar as costas e se sentar.

Jess olhou ao seu redor, ainda atordoada. Aos poucos, as cenas de minutos antes foram voltando à sua cabeça e então ela começou a chorar, tremendo tanto de frio por ter mergulhado na água gelada quanto de sobrecarga emocional.

O menino de cabelos escuros não sabia o que dizer. Ela era praticamente sua arqui-inimiga, claro, mas ver a garota que sempre pareceu tão imponente chorar daquele jeito na sua frente era tão... triste.

— Ei... — Ele murmurou, se aproximando um pouco dela. — Tá tudo bem agora... Eu vou ligar para alguém pra trazerem o técnico aqui e te levarem na enfermaria e...

— Não. — Jessica falou, segurando o pulso de William para que ele não se levantasse. — Eu não quero que os outros fiquem sabendo disso. Se você chamar ajuda, logo a escola inteira vai ficar sabendo disso e...

— E daí? Quer que eu esconda isso de todos e te deixe voltar assim pro dormitório? Você acabou de se afogar, sabe o perigo disso?

Jessica respirou fundo, ainda chorando.

— Eu sou patética. — Disse.

William a fitou, preocupado. Não sabia o motivo da garota estar ali no meio da noite, e também não fazia ideia de como ela acabara se afogando, mas também não perguntaria. Pelo menos não naquele momento, em que Jessica parecia uma porcelana rachada prestes a se despedaçar.

xx

— Isso foi muita irresponsabilidade da sua parte, Jessica. — O treinador disse à garota molhada que agora estava enrolada numa toalha. — Imagine só se William não tivesse chego, o que teria acontecido?

Ela baixou a cabeça. Lá estavam eles, depois de William finalmente conseguir a permissão de Jess para chamar alguém. Na verdade, sua intenção era apenas pedir para que Natalie e Tina fossem até lá e ajudassem a amiga, mas as duas garotas acabaram entrando em desespero e chamaram o treinador também — e, consequentemente, o resto do clube.

Estavam todos sentados na escada em frente ao clube, preocupados, enquanto os dois conversavam com o treinador em seu escritório. A conversa não estava sendo muito agradável, William pensou. Quem iria querer receber sermões depois de acabar de se afogar?

— Bom, treinador, eu acho que está bom por hoje, né? — O garoto disse, lançando um olhar significativo ao homem mais velho.

Vermont suspirou.

— Certo. Podem voltar para os dormitórios, e Jessica, tome um banho e descanse. — Disse. — Eu só espero que não tenhamos problemas com o clube por causa disso... — Murmurou a si mesmo, saindo do escritório.

Jessica e William também saíram da pequena sala pouco arrumada, em silêncio. O garoto não tirava os olhos de sua colega de clube, apreensivo. Certo, talvez fosse um pouco ridículo e contraditório o fato de ele estar tão preocupado com a mesma pessoa com quem algumas horas antes estava em pé de guerra, mas não podia evitar. Um afogamento, principalmente para um nadador, poderia ser uma cicatriz eterna — assim como foi para o seu pai.

— Por que está me olhando assim? — A garota de cabelos loiros perguntou com a voz fraca, parando no meio do corredor até a porta de saída.

— Eu? Eu não estou olhando pra você... — Ele desviou o olhar.

A garota então voltou a andar, e Will a seguiu.

— Espera. — Ele disse, a fazendo virar-se novamente. — Eu acho que... bom, não pense muito no que aconteceu, certo? É um conselho.

— Você é uma das últimas pessoas desse clube que eu gostaria de receber um conselho. — Jessica falou friamente, embora ainda tivesse a voz trêmula.

E então ela finalmente saiu do lugar, deixando William para trás. Você salva a pessoa de morrer afogada, ele pensou, a aconselha mesmo não gostando dela, e é isso que recebe em troca? Quem inventou a frase "gentileza gera gentileza" estava no mínimo redondamente enganado.

Do lado de fora, todos os membros do clube voltaram a atenção aos dois colegas que tinham finalmente saído do ginásio. Eles se aproximaram e cercaram Jessica, preocupados com a garota abatida.

— Ainda bem que você está bem, Jess. — Tina abraçou a amiga, mesmo com ela um tanto ensopada, e sentiu suas lágrimas da mais velha voltarem a cair.

— Eu só quero ir pro dormitório... — Murmurou.

Christina a olhou com preocupação, e a segurou pelo braço. Deu um "tchau" silencioso para os colegas de clube, logo sendo seguida por Rachel. Natalie continuava ali, revezando entre fitar o irmão e a colega de quarto que saía dali.

— Você fez um bom trabalho, Will. — Jamie botou a mão no ombro do maior.

William não conseguiu responder nada. Ele estava mal, mas não exatamente por causa da situação, e sim por causa da garota de cabelos loiros que saía cabisbaixa dali.

— Natalie. — Ele chamou a irmã gêmea, que se aproximou dele. Ela tinha o semblante preocupado. — Você e as meninas... tentem distraí-la um pouco disso. E cuidem pra que ela descanse direito.

— Você quem tem que se cuidar para não ficar resfriado, está completamente molhado tomando friagem aqui fora. — Disse, cruzando os braços. — Mas pode deixar, vou falar com as meninas, Sr. Preocupado.

— Certo... — Ele disse. — Bom, é melhor eu voltar pro dormitório. Boa noite.

Acenou para a irmã, um pouco cabisbaixo, e saiu andando junto dos outros garotos, que também acenavam pra ela, para então sumirem entre as árvores e as construções do colégio.

xx

O dia seguinte amanheceu cinzento. Quando o despertador do celular de Tina tocou, nenhuma das três garotas do dormitório 23 sentia a mínima vontade de levantar para ir para a aula. Era um dia A, um daqueles em que o dia começava com aulas desde cedo, e por isso não havia ânimo nenhum pra sair da cama.

Por outro lado, Jessica se sentia aliviada por não ter que ir para o clube logo cedo anunciar sua decisão. Na verdade, se dependesse dela, talvez ela nunca mais pisasse naquele lugar, era o último lugar no mundo em que gostaria de ir um dia depois de se afogar. A garota ainda se sentia horrível pelos acontecimentos da noite e não tinha conseguido dormir direito por um segundo, já que os flashes dos momentos dentro d'água surgiam em sua mente sempre que fechava os olhos.

Nunca tinha sentido algo tão forte assim em sua vida como aquele medo junto da sensação de insuficiência. Duvidava, e muito, de que seu cérebro fosse esquecer os segundos mais torturantes de toda a sua vida.

Mas o que realmente a preocupava era como contaria às suas amigas que tinha decidido sair do clube de natação.

— Vamos? — Natalie chamou a garota que estava sentada na cama, a acordando dos pensamentos que parecia imersa.

Jessica assentiu, pegando sua mochila.

— Gente, —Tina disse, parando em frente à porta aberta. — antes de sairmos, eu tenho uma coisa pra perguntar.

Elas então a olharam, dando aval para que prosseguisse.

— Vocês sabem o que aconteceu com os lápis quando souberam que o dono da Faber Castell morreu?

Jessica e Natalie se entreolharam, confusas com a pergunta.

— Eles ficaram desapontados. — Uma outra voz falou atrás dela e quando se virou, lá estava Rachel, rindo da cara de indignação da garota.

— Você estragou minha piada! — Exclamou.

— A piada em si já estava estragada, convenhamos. — Rachel disse, dando um tapinha no ombro da amiga. — Vamos?

As meninas assentiram, embora Tina ainda estivesse com uma careta de decepção.

— Mas eu não entendi a piada. — Natalie disse enquanto elas desciam as escadas do dormitório.

Tina a fitou, chocada.

— Como você não entendeu isso? Lápis, desapontados...

— Ahhh — A garota disse, como se finalmente tivesse conseguido tirar uma grande conclusão. — Caramba, isso foi péssimo.

A menina de cabelos curtos cruzou os braços e revirou os olhos.

— Vocês não estão no mesmo nível de senso de humor que eu. — Falou.

— Ainda bem... ­ — Rachel resmungou, arrancando risadas de Natalie.

Continuaram o caminho todo até o prédio principal ouvindo Tina contar piadas terríveis e afirmar que eram as melhores do mundo. De fato ela sabia que não eram, mas depois de Natalie dizer para elas continuarem deixando Jessica pra cima, achou que talvez uma falta de senso de humor fosse ajudar. Não realmente. Na verdade, Jessica continuava na mesma, reflexiva e sem dizer muita coisa.

— Nossa primeira aula é Biologia, né? — Foi uma das únicas coisas que a loira disse enquanto estava com as amigas, quando elas finalmente chegaram ao seu destino.

— Sim, infelizmente. — Tina revirou os olhos.

— Por que essa cara? — Natalie questionou.

— Ah, é mesmo, você ainda não conhece o professor de biologia. Bom, espero que esteja preparada para encontrar com o pigmeu mais insuportável, exibido e irritante desse mundo. — A menina de cabelos curtos disse.

— É tão ruim assim? — A novata perguntou olhando para as três garotas, que responderam em uníssono:

— Sim.

A aula de biologia foi sem nenhuma dúvida um horror, como sempre. Talvez quartas-feiras fossem os piores dias para o 2º ano C, acompanhadas das quintas, que coincidentemente eram os únicos dias da semana com aulas do, de acordo com Tina, pigmeu maligno.

— Eu sei como vocês amam genética. — Disse o professor no meio da aula e toda a turma resmungou coletivamente. — Tanto que na última prova sobre esse assunto, no bimestre passado, vocês tiveram uma linda média 3 na sala. Eu sinceramente não sei qual o problema de vocês.

— Talvez você seja o problema... — Tina murmurou, recebendo um olhar de reprovação de Jessica em sua direção. As duas estavam sentadas em dupla, assim como Natalie e Rachel logo à frente.

— Cuidado com o que você fala nessa aula... — Ela sussurrou, embora também soubesse que era verdade. — Você vai acabar se prejudicando...

— Eu não ligo. — Christina deu de ombros.

— Bom, parece que a Srta. Christina Nolace e sua querida amiga Jessica Carter querem dividir algo conosco. ­— Ele disse aquela típica frase de professor, que fez com que Jessica discretamente revirasse os olhos, como um "eu avisei" indireto. — Digam agora, crianças.

— Não tenho nada pra dizer. — Tina disse, dando de ombros.

— Não? Pois não era o que parecia. — O professor baixinho desdenhou.

— Talvez você não tenha visto direito, prof, mas eu tenho a impressão de que eu estava falando com a Jess. Mas é só uma impressão, não tenho certeza. — Desdenhou de volta, arrancando algumas risadas baixas da turma, e o homem massageou as têmporas.

— Pra fora da sala, Nolace.

Tina arqueou uma das sobrancelhas.

— Como?

— Você ouviu. Se manda, vai, não quero ter que te aturar hoje. — Ele disse.

Jessica respirou fundo, enquanto Rachel e Natalie fitavam a garota de cabelos curtos, perplexas, juntas do resto da sala.

— Certo, então. — Ela falou, se levantando com pouco caso da mesa e levando seus materiais consigo.

Saiu da sala irritada pela expressão de satisfação do professor, batendo os pés. Por sorte, o homem não chamara um inspetor e nem nada do tipo pra levá-la à diretoria, senão estaria no mínimo ferrada. A S.S era realmente rígida, e a chance de ligarem para seus pais e contarem o ocorrido era muito grande.

Christina saiu do prédio principal suspirando e sem saber muito o que fazer. Com sua mochila nas costas, ela caminhou até a praça mais próxima dali e se sentou num dos bancos.

Ela olhava ao redor, sem ter muita coisa para fazer. Não queria voltar para o dormitório e nem pensava em ir para o clube treinar fora de hora, com o que poderia matar tempo, então? Uma ideia veio à sua cabeça quando olhou mais além, para os morros próximos ao clube de natação. A velha quadra.

Será que Alexander estaria lá? Provavelmente não, imaginou, só algum maluco para matar aula logo cedo, e só uma idiota como Christina para ser expulsa da sala na metade da primeira aula.

Tina deu de ombros e pegou sua bolsa de cima do banco, caminhando sem muita pressa até o morro. Tinha gostado do lugar, e não parecia uma má ideia passar algum tempo por lá. Ela subiu os degraus cobertos de grama e logo chegou no lugar fresco e agradável, mas se surpreendeu ao encontrar o menino de piercing lá, sentado no chão com um livro na mão.

— Você realmente passa bastante tempo aqui. — Ela disse, talvez meio desacreditada de que ele realmente não estava dentro da sala. Alexander olhou em sua direção e riu.

— Eu disse. — Falou.

— Desculpa te atrapalhar de novo... realmente achava que essas horas não teria ninguém. — Tina coçou a nuca.

— Sem problemas, pode ficar. — Alex falou. — Matar aula sozinho não é tão divertido quanto parece.

A garota riu.

— Está matando aula?

Alex assentiu.

— E você aparentemente também está, né? — O menino perguntou, fechando seu livro.

— Na verdade não. Fui expulsa da sala de biologia. — Tina falou, fazendo uma careta. — Se importa se eu sentar aí?

Ela apontou para o chão ao lado do menino de óculos e ele negou, dando espaço para ela ao tirar sua mochila de lá. A menina de cabelos curtos então se sentou e voltou a dizer:

— Aquele cara me odeia.

— Estamos no mesmo barco, então. A diferença é que praticamente todos os professores dessa escola me odeiam. — Riu, fitando a capa de seu livro.

— Por quê? — Questionou, curiosa.

Ele deu de ombros.

— Eu sou o cara que mata aulas.

Tina riu baixo, assentindo. Fazia um pouco de sentido na verdade.

— A propósito, Alex, de que ano você é? — Perguntou depois de um tempo em silêncio.

— Terceiro ano. — Disse. — E você?

— Segundo. Como eu nunca te vi por aí antes? ­— Ela questionou mais para si mesma do que para ele.

— Eu não fico muito "por aí". — Fez aspas com os dedos. — Passo a maior parte do tempo no dormitório ou aqui.

— Mas você não é de nenhum clube ou algo assim? — Tina perguntou. Finalmente tinha chego num ponto que poderia mostrar progresso em sua missão de ajudá-lo.

— Não realmente... — O garoto de óculos murmurou, e seu semblante pareceu ficar sério.

Certo, missão avanço cancelada. Aquela cara significava que não poderia perguntar mais nada além disso.

Os dois então entraram num silêncio estranho, daqueles em que você está lado a lado com a pessoa, precisa dizer alguma coisa, mas não faz ideia do quê. Era ruim não ter intimidade o suficiente com Alexander para contar uma piada ridícula e quebrar o gelo assim como fazia com suas amigas.

Bom, será que ela não podia mesmo?

— Então... — Começou a dizer. — Você sabe por que o pinheiro nunca se perde?

Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— Porque ele tem uma pinha. — O garoto respondeu e Tina o olhou desapontada.

— Droga. — Fez uma careta.

— Essa piada é velha. — Alex riu, ainda surpreso com a tentativa repentina da garota. — E péssima.

— Não consigo pensar em nada que não seja velho e péssimo. — Falou, também dando risada.

— Faz parte. — Garoto falou, ainda sem conseguir para de rir.

Foi a vez de Tina arquear uma das sobrancelhas.

— Certo, e duvido que você esteja rindo da piada ruim. Qual a graça? — Questionou.

— Foi bem aleatório. É assim que você quebra silêncios constrangedores? — Ele disse e Tina por um momento sentiu-se orgulhosa de si mesma. Parece que a ideia da piada tinha dado certo pelo menos para alguém.

— Na verdade não. — Respondeu. — Hoje eu estou mais inspirada pra isso, estava tentando animar uma amiga que teve uns problemas.

— Que tipo de problemas se resolvem com a piada do pinheiro?

— Problemas tipo... se afogar na piscina do clube, no meio da noite, e ser salva pelo rival de time. — Falou, suspirando. — Não que as piadas realmente funcionem nesse caso...

— Que tenso. — Ele disse.

— Nem me fale. Tenho medo de que ela desista do clube por conta disso, embora eu saiba que ela é forte o suficiente pra passar por cima desse problema.

Alexander assentiu, e pareceu reflexivo por um momento, até dizer:

— Pelo menos sua amiga tem uma garota aleatória disposta a fazer piadas ruins por ela, não acha?

Tina sorriu com aquilo.

— É, eu acho.

— Mas então significa que você é do clube de natação? — Ele questionou, recebendo um manear positivo de cabeça como resposta. — Interessante.

— Interessante?

— Sim. Nunca tinha conhecido ninguém do clube de natação.

— E eu nunca tinha conhecido ninguém do clube "não realmente".

O menino riu. Tina pôde notar com aquele sorriso que o garoto de cabelos lisos tinha covinhas fofas.

Embora soubesse que Alex tinha ciência de que aquilo tinha sido uma indireta para ele falar mais sobre seu clube, o garoto não parecia muito interessado em entrar naquele assunto. Talvez houvesse algo a mais por trás do simples aluno desmotivado, não?

xx

Era hora do almoço. O período de aulas do dia finalmente tinha chego ao fim, e William continuava a pensar no mesmo assunto desde que acordara pela manhã, com a mesma expressão séria e sem prestar muita atenção ao seu redor.

— Alguém dá um soco nele, por favor? — Jamie pediu para os amigos na mesa, cansado da cara pensativa do maior. Com eles estavam Henry, John e George, este último sendo quem atendeu o pedido do amigo, fazendo William tomar um susto.

— O que foi? — O garoto alto perguntou, finalmente voltando de seu mundo.

— Você estava de novo com aquela cara. — Jamie disse, contorcendo o rosto para imitar o colega.

— Estava mesmo. — George falou, rindo. — Ainda quero saber o que tá te deixando assim.

William então deu de ombros. Não queria tocar no assunto de Jessica para pessoas que não eram do clube, assim não havia chances de algo se espalhar pela escola. John, Jamie e Henry se entreolharam.

— Certo, eu já entendi. — George disse. — Coisa do clube fica no clube.

— Exato. ­— Henry disse. — E por falar em clube, quando vai ser o jogo do seu? Faz tempo que eu não vejo uma boa partida de futebol ao vivo.

— Daqui a duas semanas, provavelmente. — O baixinho respondeu. — E a propósito, vocês todos estão convidados pra me ver ganhar.

— Vai ser muito engraçado quando vocês perderem pra East Soul. — John disse. ­— Eu não perderia isso por nada.

George revirou os olhos. Ele, diferente dos outros garotos da mesa, era capitão do clube de futebol da S.S, e também um dos melhores jogadores. Tinha virado amigo daquele pessoal todo única e exclusivamente por ser o melhor amigo de Jamie e colega de quarto dele. Não haviam muitos outros motivos pra alguém do time de futebol se misturar com gente do clube de natação. Os dois também estavam na mesma sala do segundo ano, agora acompanhados de William, enquanto Henry estava no primeiro ano e John no terceiro.

— Eu acho que vou comprar alguma coisa pra comer. — William disse, se levantando da mesa. — Querem alguma coisa?

Os meninos negaram.

Will então saiu com seu cartão da escola em mãos, indo em direção ao quiosque que vendia os melhores lanches dali. Ele comprou um sanduíche de presunto e um suco de uva, seus favoritos, embora aquilo não fosse considerado bem um almoço, mas quando ia sair de lá acabou encontrando a pessoa que tomara conta de seus pensamentos o dia todo. Jessica.

Ao ter seus olhos se encontrando, a loira tomou um susto, desviando o olhar na mesma hora.

— Hã... oi. — Ele disse. — Como você está?

— Bem. — Ela respondeu, talvez seca demais e parecendo querer evitar conversas.

— Não parece. Por que não fala comigo normalmente?

— Talvez porque nós não falamos normalmente um com o outro? — Jessica usou seu tom sarcástico. Aquele era seu modo de defesa.

— É, isso até que faz sentido. — William resmungou. — Me desculpe por estar preocupado então. Me lembre de ser ignorante com você da próxima.

William então piscou para a garota e saiu com seu lanche. E novamente um diálogo sem sucesso nenhum. Era estranho como toda e qualquer palavra que eles trocavam acabava em sarcasmo ou farpas, como se fosse algo inconscientemente obrigatório entre os dois.

Quando chegou à mesa, notou que Natalie e Rachel estavam lá. Rachel conversava animadamente com os garotos da mesa sobre o último jogo do time de basquete, enquanto a garota de cabelos cacheados fitava algum ponto aleatório no refeitório.

— Sua amiga ainda está mal. — Ele disse à irmã, sentando ao seu lado.

— Eu sei... — Natalie respondeu. — Não sei o que fazer, não sou boa dando conselhos.

— Ela me odeia.

— Eu também te odeio, entendo o sentimento. — Disse, vendo o irmão fazer uma careta. — É brincadeira, Willy, você sabe que sua mana te ama, né? — Fez uma voz de neném.

William revirou os olhos.

— Estou falando sério, Nat. — Ele disse. — Não quero que aconteça com ela o mesmo que aconteceu com nosso pai.

O semblante da menina automaticamente mudou de um sorriso brincalhão para uma expressão séria. Aquele assunto era delicado para os Campbell.

— Eu estava tentando não pensar nessa possibilidade... — A garota falou. — Rachel me disse que Jess sempre amou nadar, desde o fundamental, e que ser uma nadadora era um de seus maiores sonhos. Não acho que ela vá simplesmente desistir...

— Um trauma é uma coisa séria. As pessoas demoram pra superar coisas assim, e pelo o que eu observei ontem, ela parecia muito aflita. — O gêmeo mais velho refletiu.

— Eu sei...

Os dois então ficaram em silêncio, pois não demorou para Jessica aparecer na mesa com sua comida numa bandeja. Ela olhou de canto de olho para William, que a fitava, e novamente se apressou em desviar o olhar.

— Mas afinal, onde está a Tina? — Henry perguntou, olhando para todos da mesa.

— De acordo com a mensagem que ela me enviou, "fazendo um plano de ação para capturar o pássaro". — Rachel respondeu, fazendo aspas com os dedos. — Acho que isso significa que ela está planejando como vai arrancar informações de um garoto.

— E desde quando a Tina fala com garotos que não sejam a gente? — John riu.

— Desde sempre, ok? — A voz da garota soou e ela logo apareceu na mesa, jogando sua mochila no chão e se sentando ao lado de um dos garotos. Ela parecia afobada.

— Lá vem. — O loiro disse, fitando a amiga.

— Finalmente terminei de planejar como eu vou fazer o Alex voltar ao normal. — Tina falou, sorrindo. – É uma pena que eu tenha deixado meu bloco de notas no dormitório, senão eu mostrava o meu plano super ultra genial pra vocês.

— Ok, primeiro: quem é Alex? — Jamie questionou, desentendido. Os outros meninos também pareciam querer saber.

— Um garoto meio problemático que o Conselho Estudantil a mandou ajudar pra não perder o cargo. — Respondeu Rachel, arrancando risadas dos amigos da mesa.

— Estão rindo de quê? É uma boa causa. — Falou, dando de ombros. ­— Além do mais, Alex é um cara legal, ele só mata aulas.

— Ah... ­ — George falou. — Então você é tipo uma assistente social?

Tina arqueou uma das sobrancelhas, reflexiva.

— Não tinha parado pra pensar nisso, mas é algo assim. — Respondeu.

— É legal da sua parte fazer isso, mesmo que seja para o conselho estudantil. — Jamie comentou.

A garota corou, coçando a nuca. Nunca sabia reagir muito bem às palavras de Jamie, apesar de tudo.

O grupo de pessoas continuou conversando sobre qualquer coisa, como sempre, até o sinal bater. Jessica, por sua vez, estava silenciosa. Não tinha tocado na comida e sentia o aperto em seu peito aumentar conforme via o tempo passar. Já tinha tomado sua decisão sobre o clube, só não esperava que fosse tão difícil assim lidar com o fato de que provavelmente decepcionaria a todos. Querendo ou não, os membros do clube eram pessoas extremamente importantes para ela, como uma verdadeira família, e imaginar não vê-los mais durante os treinos, apenas nas aulas e intervalos, era no mínimo triste.

Mas, algo dentro dela dizia que aquela era uma decisão que tinha que ser tomada. A noite passada tinha sido o pior dia de toda a sua vida, e somente pensar em entrar numa piscina novamente fazia seu coração acelerar de um jeito ruim. Era desesperador ver seu sonho literalmente indo por água a baixo.

Quando o sinal do fim do almoço bateu, a menina de cabelos loiros respirou fundo. Era hora do treino. Eles foram direto para o ginásio, com exceção de George, que foi para sua amada quadra de futebol. Enquanto todos conversavam, Jess suava frio, tomada por uma ansiedade que julgou nunca ter sentido em toda a sua vida. Apenas entrar naquele lugar a deixava mal.

Enquanto todos iam para os vestiários, ela parou na metade do corredor.

— Não vai se trocar? — Natalie perguntou, sendo a única que percebera a garota para trás. A menina de cabelos cacheados temia a resposta da amiga.

— Não... — Murmurou. — Preciso falar com o treinador.

Dito isso, saiu sem conseguir dar mais explicações em direção ao escritório do técnico Vermont, que provavelmente já esperava que ela fosse falar com ele.

— Com licença... — Disse, entrando na sala repleta de troféus em grandes prateleiras.

O homem de olhos claros estava sentado no seu lugar de costume, escrevendo provavelmente os relatórios de sempre, quando levantou o olhar ao ver a menina.

— Ah, Jessica, como você está? — Ele perguntou. — Conseguiu descansar?

A garota assentiu, embora fosse uma grande mentira.

— Não devia estar se trocando para o treino? ­Já está na hora.

Jessica então baixou a cabeça.

— Treinador... eu... não vou treinar hoje. — Disse. — Nem amanhã, e talvez nunca mais.

O homem pareceu surpreso com aquela resposta.

— O que quer dizer com isso? ­— Perguntou.

Jessica respirou fundo. Passou um tempo em silêncio, pensando se aquilo realmente sairia de sua boca.

— Eu estou saindo do clube. — Finalmente falou, fazendo Vermont respirar fundo.

— Olha, Jessica, eu sei que o que aconteceu não foi fácil. É recente, te fez mal, mas você deveria reconsiderar...

— Eu já pensei o suficiente sobre isso — Interrompeu. — e não consigo pensar em outra saída senão me transferir de clube. Não é só pelo o que aconteceu ontem, é pelo o que vêm acontecendo desde que eu entrei. Eu nunca dei nenhuma medalha para o clube, as pessoas me reconhecem só pela minha aparência, e agora desenvolvi medo de piscina depois de me afogar de um jeito ridículo. Como eu poderia continuar assim?

— Jessica, pense bem. ­— Vermont falou. — Não é simplesmente sair do clube, é jogar fora tudo o que você fez em um ano e meio aqui na S.S. Está mesmo disposta a isso? — Perguntou.

A garota não conseguiu dizer nada. Um nó estava entalado em sua garganta, e sabia que se soltasse qualquer outra palavra, começaria a chorar.

E foi nesse momento que a porta se abriu atrás deles, revelando a pessoa que Jessica talvez menos quisesse ver: Gabe, basicamente o responsável por tudo aquilo.

— Desculpa interromper a conversa, mas estão todos esperando, técnico. — Falou o menino friamente.

— Já vou, diga a eles para esperarem. — Disse.

Antes de sair, o capitão fitou Jessica de forma cortante.

— Então é isso? — Vermont disse à menina.

— Sim... eu sinto muito por te decepcionar. — Ela falou, cabisbaixa.

O homem suspirou.

— Seus colegas já sabem?

Jessica negou com a cabeça.

— Pode contar a eles por mim? — Pediu. — Eu... não quero chorar na frente de todo mundo novamente...

O técnico assentiu e se levantou de sua cadeira, se aproximando da menina e pondo a mão em seu ombro.

— Muito obrigado pelo tempo que passou com a gente, Jessica. Mesmo que eu não concorde com essa decisão extremamente precipitada, não posso simplesmente te obrigar a ficar aqui. Saiba que nós estaremos sempre com as portas abertas pra quando quiser voltar, ok?

Jessica assentiu, e então não conseguiu conter mais as lágrimas. Se apressou em sair dali de uma vez por todas, sem nem dar um "tchau".

Xx

— O quê? — Tina arregalou os olhos assim que o treinador terminou de contar a notícia sobre a saída de Jessica. — Como assim, treinador? Isso é uma piada, não é?

O homem negou com a cabeça e por um segundo todos pareceram em choque. William, no canto, respirou fundo. Ele sabia que isso ia acontecer uma hora ou outra.

— Temos que falar com ela. — Rachel disse.

— Eu concordo. — Natalie disse. — Vamos deixá-la sair assim, simplesmente? — Questionou.

O homem de olhos claros suspirou.

— Ela está sofrendo uma pressão muito grande pelo o que aconteceu ontem. — Disse. — Eu sei que estão preocupados, e eu também, mas agora deveríamos deixá-la descansar a mente.

Os membros do clube se entreolharam, todos com um semblante triste. Talvez ninguém além de William fosse imaginar uma coisa dessas, já que Jessica sempre mostrara uma afeição muito grande por aquele lugar e aquelas pessoas, e sempre se dedicou em tudo que fazia.

— Concordo com o treinador. — Gabe disse. ­— Não deveriam se tocar tanto com um assunto trivial como esse, vai atrapalhar os treinos.

Todos olharam para ele, indignados.

— Você é realmente insensível, né garoto? — Natalie disse, enquanto todos pareciam mudos perante àquela situação. — Deveria estar indo pedir desculpas pra Jessica, porque isso tudo aconteceu por sua causa.

Gabe revirou os olhos.

— Como uma coisa dessas pode ser minha culpa?

— Foi você quem enfiou minhocas na cabeça dela ontem, quando ninguém tinha te perguntado nada. — Falou. — E foi por isso que ela veio aqui treinar à noite.

— Não fui eu quem a afogou. — Disse friamente. — Ela fez isso porque quis.

— Mesmo assim eu concordo com a Natalie. — Henry disse. — Parte disso é mesmo sua culpa, Gabe. Todos viram a forma que você falou com ela ontem.

O treinador suspirou.

— O que você disse a ela, Gabe? — Ele questionou, fitando o menino de cabelos castanhos.

— Nada que não fosse verdade. — Respondeu.

— Ele disse que ela era só um rosto bonito no time. — Rachel disse. Embora não fosse muito a sua praia "dedurar os amiguinhos", não queria que o menino saísse impune do que fez com sua amiga. — E que ela não sabia nada sobre esporte.

— Agora está explicado. — O homem disse, reflexivo. Finalmente tinha entendido as palavras de Jessica de um tempo antes, o que Gabe dissera realmente a tinha afetado naquele grau. — Eu concordo que você não deveria ter aberto a boca. Você é o capitão do time, Gabe, sabe o quanto esse tipo de comentário afeta um integrante do time? Isso é uma enorme falta de ética e senso de responsabilidade com seus membros.

O garoto de lábios bonitos respirou fundo, cruzando os braços já mostrando sinais de irritação.

— Você vai fazer 200m extras hoje. ­— O treinador falou severamente.

— Espera aí, estou sendo castigado porque Jessica saiu do clube? — Ele indignou-se.

— Sim. — O homem de olhos claros respondeu. — Agora assunto encerrado. Temos que treinar duro e não podemos deixar questões secundárias atrapalharem nosso rendimento.

Os membros assentiram. William estava feliz que o verdadeiro responsável por aquele problema tinha recebido o que merecia, mas não concordava que Jessica ter saído era uma questão secundária. Talvez aquilo parecesse uma preocupação exagerada com alguém que sequer gostava dele, mas não podia deixar de ressaltar mentalmente como a perda de um sonho poderia ser difícil, ainda mais sem apoio de ninguém.

Naquele dia, o treino foi desanimado. Talvez a situação tivesse desmotivado um pouco os alunos da S.S, principalmente o time feminino que acabara de perder um membro tão importante, e por isso se tornava tão difícil praticar de cabeça erguida.

Mas quem sabe as coisas ainda poderiam mudar?

 

 


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