Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 78
Sustos na floresta


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos. Tenha uma boa leitura! :)



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Luciano tinha a missão de entregar um lanche na casa que ficava na chamada “colina do arrepio” (a casa onde Samara morava, por sinal). Sendo um medroso, quer dizer, alguém precavido com os perigos do mundo, ele acabou aceitando a ajuda de Luís para enfrentar a floresta que ficava no caminho, aquela que muitos diziam ser assombrada. Como um cético, Luís não acreditava em fantasmas, então poderia tranquilizar Luciano e ajudá-lo a lidar com qualquer fenômeno estranho. Infelizmente, Luciano não se sentia muito tranquilo.

—Ai, o que foi isso?! - gritou Luciano.

—Foi só um passarinho piando ali - apontou Luís, atrás de Luciano na bicicleta.

—Caraca, essa floresta é muito sinistra - disse Luciano - Ai, o que foi isso?!

Luís apontou para o chão e era apenas um coelho saltando por ali.

—Tem muito bicho nessa floresta, né? - disse Luciano, claramente assustado.

—Você mora em uma cidade do interior! Claro que vai ter muitos animais por aqui! - reclamou Luís - Como pode ser tão medroso? Honre as suas calças! Honra essa barba que tá crescendo, aí!

—Você tem razão! Eu sou macho! Sou muito macho! - disse Luciano - Vou encarar isso de cabeça erguida!

—É assim que se fala! Tem que ser um cara corajoso e destemido como eu! Afinal, o que a minha amada Anne diria se me visse com medinho de fantasmas?

Luciano sentiu sua espinha gelar, agora não pelos fantasmas, mas por lembrar o que aconteceu entre ele e Anne naquela trilha.

“Ai, caramba. Esse Luís não pode nem sonhar com aquele beijo. Ele vai me odiar para sempre se souber”.

—O que foi, Luciano? Ficou quieto de repente.

—N-Nada. Nada não - disse ele, continuando a pedalar.

Nisso, um inseto esquisito parecido com uma folha pula bem na nuca de Luciano. Foi o suficiente para a coragem dele ir embora.

—Ai, o que é isso?! Socorro! Socorro! - gritou ele, deixando o pobre Luís cair da bicicleta.

—É assim que você trata seus amigos? - reclamou Luís, passando a mão em suas costas após essa queda.

—Perdão - disse Luciano - É que...alguma coisa monstruosa me atacou!

—É só um inseto da ordem dos Phasmatodea - explicou Luís.

—Um o quê? 

Luís suspirou.

—Um bicho folha, na terminologia popular - continuou Luís - São insetos que possuem uma aparência semelhante a folhas e gravetos. Conseguem escapar dos predadores se camuflando. A seleção natural é incrível, não acha?

—Inseto? E eu achando que era um fantasma! - reclamou Luciano.

—Por isso eu digo que fantasmas, espíritos, nada disso existe - falou Luís - Sobe logo nessa bicicleta, faz logo essa entrega e vamos embora.

—T-Tá… - Luciano ajeitou a postura de sua bicicleta e Luís estava pronto para subir quando, do nada, algo o impediu.

—Quer dizer...pode esperar só um pouquinho? - disse o baixinho.

—Por quê? O que aconteceu?

—É que preciso fazer uma coisa - disse Luís, meio encabulado.

—Que coisa?

—Bem, eu bebi um pouco de água antes de vir pra cá, sabe? Tenho que tirar água do joelho.

—Ah, não dá pra esperar, não? - reclamou Luciano.

—É rápido - disse Luís.

—Tá bom, manda ver! - disse Luciano, contrariado, mas aceitando. Porém, algo estava incomodando Luís.

—Espera um pouco, eu já volto - disse Luís.

—Onde você vai?! - falou Luciano, já sentindo seu coração começar a bater mais forte.

—Já falei! Vou tirar água do joelho - falou Luís.

—E por que está se afastando? Estamos no meio do mato! Faz em qualquer lugar mesmo!

—Com você olhando não dá! - respondeu Luís.

—E o que tem? Nós dois somos homens! 

—Não importa. Não consigo fazer se tiver alguém olhando.

—Deixa de frescura. Vai mesmo ir para longe só por causa disso?

—Tenho direito à privacidade, dá licença?

—M-Mas…

—Não precisa se preocupar. Não tem animais selvagens por aqui e sempre passo repelente antes de sair de casa. Calma aí. Eu volto logo.

O apelo de Luciano não adiantou. Luís se afastou, deixando Luciano ali, sozinho. O pobre garoto de entregas começou a sentir o ar ficar mais sinistro.

—L-Luís...volta logo - dizia ele, já tremendo e olhando para os lados cada vez mais desconfiado.

Enquanto isso, nossa amiga Samara caminhava pela floresta com seu disfarce fantasmagórico para assustar qualquer entregador que não fosse Luciano. Ela não sabia muito bem onde esperar, mas sabia que, cedo ou tarde, o entregador passaria pela trilha. Porém, até chegar lá, ela teria que passar por entre as árvores. Usando uma bússola meio velha que tinha em seu quarto, a garota sabia mais ou menos onde deveria chegar.

“Tá, tudo bem. A trilha fica a leste daqui. Se eu continuar seguindo, vou acabar chegando lá”.

Ela estava meio nervosa, mas achava que conseguiria seguir bem com seu plano. O que ela não esperava mesmo era encontrar nosso amigo Luís, se aliviando ali, em meio às árvores. Samara quase caiu para trás ao ver Luís e ele, por sua vez, quase caiu para trás também (ainda bem que ele já tinha terminado o que tinha para fazer, ou Samara seria atingida por algo nada agradável).

—O que é isso?! Que diabos é você? - exclamou Luís.

—E-E-E-E… - Samara apenas gaguejava.

—Você é um fantasma? Não pode ser!

—E-E-E… - Samara continuava gaguejando.

—Não pode ser! Fantasmas não existem! Muito menos um fantasma gago!

—Eu não sou gaga! - retrucou Samara - Foi só o susto!

Luís observou melhor e viu que a criatura esquisita à sua frente era Samara.

—Espera, eu te conheço, não conheço? - perguntou Luís.

—M-Meu nome é Samara - disse Luís - Você...é o baixinho do primeiro ano, não é?

—Você não tem moral nenhuma pra me chamar de baixinho, ô pintora de rodapé!

—O que diabos você tá fazendo aqui? Ainda mais...ainda mais…

—O que foi? - perguntou Luís.

—Ainda mais fazendo o que você tava fazendo! - disse Samara, com o rosto absurdamente vermelho.

—Mas não se pode nem ter privacidade? - reclamou Luís - Só vim aqui para esvaziar a jarra. Qual é o problema?

—Qual é o problema? Eu sou uma menina e…

—Vai me dizer que você viu? - interrompeu Luís.

—Não vi! - disse ela - Não vi nada e se vi, foi como se não tivesse visto, era tão pequenininho que...

—Não precisamos continuar essa conversa! - exclamou Luís - O que diabos você tá fazendo aqui?

—Ora, eu moro em uma casa aqui perto - falou Samara.

—Sério? Ei, espera. Não é a colina do arrepio, é?

—Bom, minha casa fica no topo de uma colina, mas…

—Espera. Você pediu uma encomenda na lanchonete do Luciano?

—C-Como você sabe?

—O Luciano está justamente indo para lá fazer a entrega. Mas como ele é um medroso, pediu que eu o acompanhasse por medo dos fantasmas da floresta.

—Fantasmas? Não tem fantasma por aqui, não que eu saiba - falou Samara (por algum motivo, ela conseguia falar fluentemente com Luís) - Só me disfarcei assim para assustar um entregar que não fosse o Luciano.

—Por que você faria isso e...ah, acho que estou entendendo…

Samara colocou as mãos na boca.

“Oh, droga. Acabei falando o que não devia! Eu nunca falo e quando falo, falo besteira!”

—Você é a fim do Luciano, é isso? - perguntou Luís.

—N-Não é bem isso! É que...e-e-eu…

—Tá, tá, entendi - falou Luís - Por isso você disse aquele dia que apoiava minha relação com Anne. Agora estou entendendo. Você não quer que ele se aproxime da Anne, não é?

—B-Bem...não é bem isso...eu ainda não compreendo bem meus sentimentos e…

—Deixa disso, garota! - falou Luís - Coloque seus sentimentos para fora! Admita! Admita de quem você gosta! Vai te fazer bem!

—E-Eu…

—Vamos, vai, você consegue!

—E-Eu…

Luís olhava para ela, empolgado.

—Eu gosto do Luciano! - disse Samara - Gosto dele, sim, admito!

—Isso! É assim mesmo que se faz! Não se sente melhor?

—S-Sim - gaguejou Samara - Agora que você falou, sim, me sinto melhor. Como é bom colocar pra fora!

Enquanto isso, Luciano sentiu um arrepio do nada.

—Que sensação é essa? - falou o garoto - Não tem nada aqui, mas é como se alguma coisa muito sinistra tivesse acontecido…

Só uma garota revelando seus sentimentos para o mundo, nada mais.

—Luís, meu filho, cadê você? - disse Luciano - Volta logo!

Nisso, Luciano ouviu uma gargalhada.

—Ai, caramba - disse ele - O que é isso, agora?

Será que...a floresta era realmente assombrada no final das contas?


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Notas finais do capítulo

Veremos isso no próximo capítulo, onde finalmente vamos ver como essa confusão toda acaba.

Até lá! :)



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