Vila Baunilha escrita por Metal_Will
Notas iniciais do capítulo
Mais um capítulo. Hoje conheceremos um pouco mais da turma do primeiro ano. Boa leitura! :)
Anne já estava em sua sala aguardando o início da aula. Sua nova colega, Kelly, sentada ao seu lado, parecia estar se dando bem com ela.
—Tenho muita coisa pra te contar - disse Kelly para Anne - Mas é melhor a gente se falar depois. O professor já está vindo e...ele é meio implicante.
—Implicante? - Anne se voltou para a frente quando viu um senhor certamente com mais de 70 anos, cabelos brancos e óculos grossos, se aproximando da sala. Ele se sentou na cadeira da mesa de professor e, após tossir, começou a falar.
—Bom dia - disse ele - Vocês já devem em conhecer, não é? Não preciso me apresentar.
—Err...professor Otávio? - Kelly levantou a mão - Temos uma aluna nova.
—Aluna nova? Mas vocês são a mesma sala que se formou no fundamental ano passado, não?
—Sou nova na cidade - disse Anne - Meu nome é Anne.
O professor ajeitou os óculos e conferiu sua lista de chamada.
—Ah, é verdade. É logo a primeira da lista - disse ele - Mas como eu ia adivinhar? São tantos alunos para lembrar o nome.
“Mesmo? Mas essa sala não tem só sete matriculados?”, pensou Anne..
—Bom, seja como for, sou seu professor de ciências humanas, Otávio Carvalho - disse o senhor - Temos muita coisa para ver esse ano, então espero que estude bastante.
—Ciências humanas? Qual delas? - indagou Anne.
—Como assim? - estranhou o professor.
—Ah, é que não temos muitos professores, sabe? - disse Kelly - Então a diretora acabou juntando várias matérias em uma só. O professor Otávio ensina história, geografia, sociologia e filosofia sempre que vem aqui.
—Tudo isso junto? - estranhou Anne.
—Acostume-se. Você vai me ver muito por aqui - disse ele - Também, sou o único professor que mora na cidade.
—A maioria dos professores são das cidades vizinhas - explicou Kelly - Na verdade, acho que o professor Otávio é mesmo o único professor que mora por aqui.
—Entendi - disse Anne.
—Bom, chega de conversa. Vamos começar a aula - disse o professor, acendendo um cigarro.
—Err...professor? O senhor pode fumar dentro da sala de aula? - perguntou Anne.
—Qual é o problema, aluna nova? - perguntou Otávio.
—É que...fumar em lugares fechados não é proibido por lei? - disse ela.
—As janelas estão fechadas? - perguntou o professor.
—Err...não - respondeu a garota.
—Então não estamos em um lugar fechado. Fim de conversa - disse ele.
—Não adianta contrariar - falou Kelly, baixinho - Pelo menos ele não joga a fumaça na nossa cara.
“Ser uma fumante passiva não estava nos meus planos”, pensou Anne.
—Ela já começou com frescura - comentou Luciano para Luís.
—Ela é tão linda - respondeu Luís sem parar de olhar para Anne.
—Você não tá ouvindo uma palavra do que eu digo, né? - perguntou Luciano.
—Se falando mal da Anne, não mesmo - respondeu Luís.
O professor retomou a palavra.
—Bom, estão todos aqui, não estão? Já podemos começar a aula - disse o professor.
—Espera - Luciano levantou a mão - Ainda falta o Carioca.
—Mas a sala está com seis alunos - estranhou Otávio - Ah, é. Com a aluna nova vocês são em sete. Droga. Por isso que não estudei exatas. Números vivem me confundindo.
—Carioca? - perguntou Anne para Kelly.
—É...é o último da turma. Ele é uma figura - disse Kelly, sorridente.
E, de fato, um garoto com boné virado para trás chegou na sala naquele exato momento.
—Bom dia, professor - disse ele, carregando em algumas letras em um sotaque carioca realmente forte (como não dá para destacar isso na escrita, espero que sua imaginação te ajude) - Desculpa o atraso, aí.
—Senhor Rodrigo. Qual é a sua desculpa dessa vez? - perguntou ele.
—Esqueci que as aulas começavam hoje - disse ele.
—A direção mandou várias mensagens avisando, não mandou? - disse o professor.
Rodrigo, o Carioca, olhou no celular e viu que tinha algumas mensagens.
—Poxa, é verdade mesmo, aí - disse ele, com toda a calma do mundo - Acho que silenciei o grupo da escola sem querer.
Luciano mal segurava as risadas lá no fundo.
—Seu pai também recebe as mensagens - disse o professor.
—Pô, podicrê, aí - disse Carioca - Bem que o meu pai falou alguma coisa de escola ontem quando eu tava quase fechando meu game. E ainda fiquei bravo por ele só ter falado isso hoje de manhã.
—Vá logo para o seu lugar - disse o professor - Vamos começar a aula agora.
—Valeu, professor - disse o rapaz, indo para o fundo da sala e cumprimentando Luciano e Luís.
—Agora o bonde tá completo - falou Luciano - Saudades suas, Carioca.
—E aí? Quais são as novas? - perguntou o garoto.
—Saca só, o Luís aí tá apaixonadinho pela aluna nova - disse Luciano, sem falar muito alto.
—Quem? Tem uma aluna nova? - perguntou Carioca.
—É aquela garota linda ali na frente - disse Luís, baixinho, apontando para Anne.
—Poxa, podicrê, é uma menina nova. E aí? - gritou Carioca, sem nenhum constrangimento.
—O-oi - disse Anne, acenando.
—Será que podemos começar logo a aula? - disse professor Otávio, embora não expressasse muita impaciência.
—Opa. Foi mal, aí - disse Carioca, com toda a tranquilidade do mundo.
—Não falei? Esse cara é demais - disse Kelly, tentando segurar o riso.
—O jeito dele falar é bem carioca mesmo. Então não sou a única que não nasceu aqui - comentou Anne, enquanto Otávio começava a escrever algumas coisas na lousa.
—É, ele nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Veio pra cá faz uns três anos - disse Kelly, pegando o caderno para anotar o que o professor escrevia - É gente boa.
—Bem, o Luciano eu já conheço. Infelizmente - disse Anne, também anotando - Ele é meu vizinho. Achei ele mal educado.
—Ah, ele é do tipo que não liga muito para os outros - disse Kelly - Ele vive trabalhando com o pai, então não costuma sair muito com a gente. Mas se dá bem com os meninos.
—Especialmente com aquele Luís, não é? - perguntou ela.
—É. O Luís é o melhor aluno da sala. Acho que ele deve ser algum tipo de gênio - disse Kelly.
Anne olhava para Luís e ele, por sua vez, não tirava os olhos dela com um ar apaixonado.
—Acho que ele gostou de você - comentou Kelly.
—É que...ele não faz bem o meu tipo - disse Anne.
—E quem faz o seu tipo? O Ian? - perguntou Kelly.
Anne olhou para Ian que também não tirava os olhos dela.
—Pelo pouco que conversei com ele, também não.
—Ei, não vai fazer desfeita com o filho do prefeito - brincou Kelly.
—Filho do prefeito? - estranhou Anne - Sério mesmo?
—Sim. E a nossa outra amiga, a Ema Fontes, é bisneta do fundador da cidade.
Anne olhou para Ema admirada que também estava concentrada anotando o que estava na lousa.
“Ela é bisneta do cara do extrato de baunilha”, pensou Anne.
—Hoje a empresa da família dela é uma das mais bem-sucedidas da região. Preferimos os sorvetes deles do que muitas marcas famosas - explicou Kelly.
—Ela deve ser montada na grana, então - comentou Anne, baixinho.
—Você nem imagina - disse Kelly, sorrindo - Mas ela é gente boa, apesar de parecer meio patricinha. A mãe dela morreu cedo e ela vive só com o pai.
—Ah, coitada - lamentou Anne.
—Mas voltando para o Ian...você não quer mesmo dar uma chance para ele? - perguntou Kelly.
—Ah, sei lá, não estou preocupada com isso agora - disse Anne.
—Sei bem como é - falou Kelly - Bem, tem os meninos de outros anos também. Talvez você encontre alguém legal.
—Não ligo tanto para isso agora - disse ela - No momento, quero só estudar e focar para me tornar uma boa médica.
—Sério? Você quer ser médica? - perguntou Kelly.
—Bem, gosto de biologia e gosto de estudar anatomia. Por enquanto, é a profissão que mais me interessa - disse Anne - Já estou estudando desde já, mas...sei que é difícil pra caramba. Duvido muito que eu passe no vestibular direto do ensino médio.
—Ah, não precisa ser tão negativa. Meu pai é o médico do posto de saúde da cidade - falou Kelly - Talvez ele possa te dar umas dicas.
—Sério? Obrigada - agradeceu Anne, sorrindo.
Enquanto isso, Ian continuava admirando Anne à distância. Em certo momento, ele comentou com sua colega Ema, sentada próxima dele.
—Ei, Ema - ela a chamou baixinho.
—Sim? - respondeu a garota, sorridente.
—Acho que decidi.
—Decidiu o quê?
—Estou apaixonado pela Anne, a aluna nova.
—Querido, ninguém decide se apaixonar. Você não escolhe o amor, ele que te escolhe.
—Então, acho que ele me escolheu e eu decidi aceitar esse destino. Sim, sim, é verdade. Ela é mesmo uma garota de muita sorte por ter chamado a atenção de alguém tão maravilhoso quanto eu.
Ema fez uma evidente cara de “sério mesmo?”, mas, por ser uma defensora do amor, teve o mínimo de simpatia pelo sentimento de Ian.
—Isso realmente confirma o triângulo. Mas agora você me deixa numa situação difícil. O Luís também gostou dela - disse Ema.
—Você diz, o Luís, nosso colega de sala? - perguntou Ian.
—Ele mesmo.
Ian não conseguiu segurar a risada.
—Entendo o sentimento dele - disse Ian - Mas infelizmente ele já perdeu essa. Sou mais bonito, mais rico e mais modesto. Não tem como a Anne não me escolher.
—É mais inteligente também? - perguntou Ema.
Isso nem mesmo alguém com ego estratosférico como Ian poderia dizer.
—É. Esse é o único ponto que eu perco - admitiu Ian.
—Bem, teremos que dar tempo ao tempo - disse Ema.
—Só sei que não vou perder essa - disse Ian - Sempre consigo tudo que eu quero.
—Tudo?
—Tá, menos o dinossauro que o Papai Noel não me trouxe quando eu tinha doze anos. Parei de acreditar nele depois disso - desabafou Ian.
Kelly continuava a conversar com Anne, enquanto o professor não terminava o texto.
—Então sua família abriu o restaurante no centro, né? Preciso comer lá um dia desses - falou Kelly.
—Sim, será muito bem-vinda - disse Anne - Meu pai cozinha muito bem e…
Anne foi atingida por um giz lançado pelo professor.
—Garota nova, você fala demais. Chega.
—Calma, isso acontece o tempo todo - explicou Kelly.
“Tive azar de falar bem na hora que ele terminou de escrever”, pensou Anne.
—Vamos começar nossa aula. Hoje vamos começar com história do Brasil - o professor acendeu outro cigarro, não sem antes pigarrear mais um pouco - Alguém pode me resumir a história do Brasil?
Apenas Luís levantou a mão empolgadamente (e meio que pulando, por conta de sua altura baixa).
—Mais alguém?
Luís continuou com a mão levantada.
—Tá bom, Luís. Pode falar.
—Obrigado, professor - disse ele - Para falarmos da história do Brasil, precisamos entender o contexto da Europa no final do século 15 e o fenômenos das grandes navegações…
Apesar dos pesares, Anne estava sobrevivendo em seu primeiro dia.
“Como a Briana estará se saindo na turma dela?”, pensou ela. Bem, isso é o que veremos no próximo capítulo.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Professor fumando no meio da sala? É, a fic não é muito politicamente correta (mas a classificação continuará sendo livre. Essa geração atual tem frescura demais). Kkk
No próximo capítulo, mudaremos um pouco o foco para a irmã de Anne. Até lá! :)