Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 20
A garota (quase) invisível


Notas iniciais do capítulo

Domingo é dia de quê? Macarronada e Vila Baunilha, é claro.

Boa leitura! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775280/chapter/20

 

 

Em cidades pequenas como Vila Baunilha é difícil ter uma vida oculta, afinal, é fácil ter informações sobre todos. Mesmo assim, algumas pessoas conseguem viver por ali sem chamar muito a atenção. Esse era o caso de Samara, a mocinha de dezesseis anos que cursava o segundo ano do ensino médio na escola municipal de Vila Baunilha. Era uma garota de cabelos negros lisos, mas não muito bem tratados. Seus cabelos geralmente cobriam seu rosto e dificilmente ela olhava nos olhos dos outros. Quando olhava, era percebido um rosto pálido e olhos com olheiras escuras. Samara lembrava um fantasma e o fato de seu nome ser o mesmo da menina fantasma do filme “O Chamado” não ajudava em nada.

Os colegas de sala de Samara não lembravam muito dela, apenas quando era chamada por algum professor. Suas notas não eram ruins, mas podiam ser melhores se participasse mais dos trabalhos em grupo. Geralmente, ela não falava nada, mesmo sabendo as respostas. Sim, Samara era o paradigma da garota extremamente tímida. Apesar disso, sua vida interior até que era bem agitada. Ela mantinha vários diálogos internos com sua própria mente, na maioria das vezes amaldiçoando seus colegas de sala.

“Aqueles idiotas”, pensava Samara, enquanto estava mais uma vez sozinha no intervalo comendo o sanduíche de atum que trouxe para o lanche. “Aquelas meninas se acham as melhores só por serem mais bonitas do que eu...e aqueles moleques só ligam para a aparência delas. Não que eu quisesse chamar a atenção dos meninos...eu nem ligo para essa coisa de namorado, claro que não. Podem ficar com as imbecis da minha sala. Eu nem ligo!”

Ela pensava nessas coisas, enquanto segurava lágrimas de seus olhos. Talvez fossem lágrimas de tristeza, ou de raiva, ou das duas coisas. Do outro lado do pátio, Luciano e Carioca vinham andando e conversando sobre alguma coisa. Luciano comia um sanduíche da lanchonete de seu pai, enquanto Carioca trazia uns salgadinhos e suco.

—Caraca, ainda não acostumei com o sanduíche do meu pai - comentou Luciano.

—Ainda tá ruim? - perguntou Carioca.

—É. Acho que a gente precisa pensar em alguma coisa nova para vender na lanchonete. Pena que meu pai é preguiçoso demais para pesquisar coisas novas - desabafou Luciano.

—Não deve ser difícil de pensar em alguma coisa - disse Carioca - Para fazer um sanduíche você só precisa de dois pães e um recheio no meio.

—Não é tão fácil assim - retrucou Luciano - Não pode ser qualquer recheio.

—Claro que pode - continuou o amigo - Tem sanduíche de tudo que é jeito.

—Claro que não! - insistia Luciano - Como qualquer coisa pode ser recheio? Se for assim, você coloca uma fatia de pão no Pólo Norte e outra fatia de pão no Pólo Sul e tem um sanduíche com a Terra.

—E daí? - prosseguiu Carioca - Qual é o problema da Terra ser recheio de um sanduíche? E se tiver algum ser alienígena maior do que nossa Via Láctea que se alimenta de planetas? Ele pode muito bem comer sanduíche de planetas.

—Então para você o recheio não importa? Só precisa ter dois pedaços de pão?

—É isso aí.

—Ah,é? E aquele pão de cachorro quente que você só corta o pão ao meio e coloca a salsicha? Vai dizer que cachorro quente não é sanduíche? Ou então quando você coloca carne louca em um pão só? Também é sanduíche, não é?

—Tá, deixa eu melhorar - prosseguiu Carioca - Um sanduíche não precisa ter dois pães, só precisa deixar o recheio fechado com alguma coisa.

—Mas aí você tá abrindo demais o conceito de sanduíche - falou Luciano - Então quando você junta duas bolachas de água e sal com geleia de goiaba no meio, elas são um sanduíche?

—São - disse Carioca - Qualquer recheio limitado por alguma coisa que também é comestível pode ser um sanduíche.

—Mas aí até sorvete de casquinha seria sanduíche! - reclamou Luciano.

—É que tem mais fatores envolvidos, cara - continuou Carioca - Tu não morde um sorvete de casquinha direto. Mas um sanduíche você morde direto.

—Então o jeito de comer conta? - Luciano continuava divergindo - Mas aí vai depender de pessoa para pessoa, não vai depender da estrutura do sanduíche.

—Tá legal, como tu define um sanduíche, então? - perguntou Carioca.

—É algo que tem um recheio salgado - disse Luciano - Simples assim.

—Não, cara. Tu tá limitando demais. Se eu colocar creme de amendoim em dois pedaços de pão, vou ter um sanduíche doce - contra-argumentou Carioca.

—Mas amendoim é salgado - disse Luciano - Não refuta o que eu falei.

—Claro que refuta! Vai dizer agora que paçoca é salgada?

Luciano ficou em dúvida com essa última afirmação.

—Olha, acho que precisamos de uma terceira opinião para decidir isso - falou Luciano.

—Concordo - disse Carioca.

Nisso, Luciano viu Samara comendo seu sanduíche. Era isso que ele precisava!

—Você! - disse Luciano.

Samara olhou para os lados, mas logo percebeu que Luciano estava mesmo falando com ela. Assustada, ela apenas ficou com as mãos trêmulas e não sabia o que falar. Ela dificilmente falava com pessoas e era difícil falarem com ela, ainda mais um garoto.

—É, você mesma, menina do sanduíche - disse Luciano.

De fato, Samara ainda não havia terminado o seu lanche.

—E-E-Eu? - gaguejou ela.

—Isso - confirmou Luciano - Para você, o que é um sanduíche?

—Um..sanduíche? - repetiu ela.

—Isso - confirmou Carioca - A gente tá um tempão tentando definir o que é um sanduíche.

“O que é isso? Que raio de pergunta é essa? Nunca parei pra pensar nisso. Para mim, um sanduíche é...é…”

—E então? O que é? - Carioca insistia.

—Acho que...depende de cada pessoa - falou Samara, evitando olhar nos olhos dos meninos - Para alguns, um sanduíche deve ter apenas recheio salgado, mas, para outros, pode ter qualquer recheio..acho que é isso.

—Poxa, aí não tem graça - disse Carioca.

—Bem, continuamos na dúvida - suspirou Luciano - Obrigado pela opinião, de qualquer forma.

—De..de… - Samara tentava dizer “de nada”, mas o sinal tocou antes que ela pudesse terminar.

—Que saco, aí. Já acabou o intervalo - disse Carioca.

—Já tá na hora de voltar - falou Luciano - Tchau, moça.

Ele se despediu com um sorriso. Samara não pode deixar de se encantar com isso.

“Não acredito! Foi a primeira vez que um menino falou comigo por livre e espontânea vontade”, pensou Samara, sentindo seu rosto ficar um pouco mais quente pelo rubor. “Espera, não é que eu esteja interessada em meninos, mas...isso foi bom. Foi, foi muito bom. Quem é aquele menino? Quem será que ele é?”

Parece que a vida de Samara estava prestes a mudar. Mas, será que é para melhor ou para pior?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E mais uma personagem entra! (e ainda tem mais alguns personagens fixos que quero apresentar)

Caso você esteja se perguntando onde quero chegar com essa história, a resposta é que não será muito diferente de outras fics de comédia que escrevi. Logo você vai começar a perceber um padrão de arcos curtos com histórias mais fechadas, embora a tendência seja desenvolver os personagens principais (e as relações entre eles) aos poucos.

"Mas isso não vai demorar muito?" Apenas lembrando que minha fic mais longa teve 220 capítulos, então, qual é a pressa? Huahuaha.

Obrigado pela leitura e até a próxima! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vila Baunilha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.