Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 182
Fuga noturna




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A verdade, em algum momento, é descoberta. E esse foi o caso do plano de Abílio de fazer seu filho se casar com Anne: a garota chegou na lanchonete justamente quando ele falava sobre isso.

—Calma, calma - disse Abílio, todo gentil, para a garota - Não vamos deixar um mal-entendido desses abalar nossas relações e…

—Que mal-entendido? - retrucou a menina - Eu ouvi bem com todas as letras! O senhor quer que eu me case com o Luciano para tirar o pé da lama! Isso porque minha família nem rica é!

—Não foi bem com essas palavras que eu disse - Abílio tentava se justificar, mas não seria tão fácil.

—Bem que eu achei estranho o senhor ter parado de armar para ferrar com o nosso restaurante - disse Anne - Por que fazer isso se seu filho pode se casar comigo e herdar tudo que minha família conseguiu, né?

—Bom, só achei que vocês formariam um lindo casal - disse Abílio, sem jeito, limpando os óculos para evitar trocar olhares com a garota.

—Conta outra - reclamou Anne - A Ema pelo menos acreditava de verdade nisso, mas o senhor é só um aproveitador mesmo. E você, Luciano!

Luciano não sabia o que falar.

—Você fez tudo aquilo só para tentar se aproximar de mim com essa intenção, não é? - falou Anne, olhando para o garoto.

—Não! Claro que não! - o garoto se defendeu - Eu nunca concordei com essa ideia imbecil do meu pai! Juro que tudo o que aconteceu foi porque eu realmente gosto de você!

—Vai mentir no inferno! - retrucou Anne, saindo da lanchonete furiosa.

—Anne! Espera! - exclamou Luciano.

—Tudo o que aconteceu? - repetiu Abílio, estranhando a resposta - Espera aí, como assim tudo o que aconteceu?

—Eu já beijei a Anne - falou Luciano, secamente.

—Beijou? - disse Abílio, sorridente - Ah, seu malandrinho. E nem me contou nada, heim?

—Pai, agora não é hora disso! - falou Luciano, deixando seu pai de lado e correndo atrás de Anne - Anne! Anne! Volta aqui!

—Me deixa em paz! - falou ela, correndo para casa.

—Não, não até você ouvir o que eu tenho para dizer! Vou ficar aqui até você falar comigo!

—Vá para o inferno! - retrucou Anne, desistindo de entrar em casa e correndo para outro lado chorando.

—Anne! - gritou Luciano, mas a garota estava bem rápida. Luciano tentou alcançá-la, mas acabou tropeçando no saco de lixo, atrapalhando sua perseguição. Nisso, a garota virou a esquina e saiu da vista do menino - Droga, onde ela foi?

Anne seguiu correndo. Curioso como os personagens dessa história possuem um impulso de sair correndo sem rumo quando alguma coisa acontece, não é? Anne corria sem olhar para trás em um misto de raiva e decepção.

“Luciano idiota! Idiota, idiota, idiota!”, pensava a jovem sem parar de correr e quase derrubando o carrinho de pipoca da praça. Ela seguia sem rumo até chegar nas proximidades da floresta com a trilha que levava à colina do arrepio. Já cansada, Anne apenas sentou embaixo de uma árvore e começou a chorar.

—Luciano é um idiota mesmo, mas...eu sou mais, por achar que poderia ter alguma coisa com ele - chorava ela, sentada ali - E pensar que eu dispensei um cara legal que nem o Renan por aquilo!

Depois de alguns instantes, Anne finalmente se acalmou um pouco e se deu conta de que não conhecia bem a região onde estava. A pior parte é que já tinha escurecido e aquele região não era muito iluminada.

—Ai, droga - disse ela - Acabei vindo parar aqui sem pensar e já tá ficando escuro! Droga, droga, droga!

Ela se levantou e tentou voltar pela trilha, mas ouviu um barulho estranho. Seria algum animal selvagem? Não, pareciam passos.

“Ai, caramba. Eu sei que essa cidade é tranquila, mas no meio de uma floresta dessas…”, a razão de Anne voltou a funcionar e ela procurou se esconder. De fato, tinha alguém vindo, mas não era nenhuma ameaça.

“Por que minha mãe teve que me mandar fazer compras agora à tarde?”, pensava Samara. “Falar com a caixa do mercadinho é sempre um sufoco”

Com a pouca luminosidade, Anne não conseguiu perceber quem era. Achando que era alguém perigoso, ela tentou fugir, mas acabou pisando em um galho e fazendo barulho. Isso assustou ela e também a coitada da Samara.

“O que foi isso?”, pensou Samara, assustada. “Eu sempre passo por aqui, mas pelo barulho parece que alguém pisou em um galho. Tem mais alguém aqui? Ah, não, mais pessoas não! Já sei...vou passar e fingir que não ouvi nada”

Mas ao tentar fazer isso, uma das latas que Samara tinha comprado escorregou da sacola e ela usou a luz do celular para procurá-la, nisso acabou encontrando Anne no meio das árvores. As duas gritaram, mas, depois, perceberam que se conheciam.

—V-V-Você é...é a Anne da minha escola, não é? - disse Samara, tremendo toda.

—Ah, você é a amiga do Luís - disse Anne, aliviada - Graças a Deus. Achei que fosse algum bandido.

—B-Bandido? Você tá fugindo de algum bandido, é isso? - falou Samara, assustada.

—Não, não, eu tô sozinha - disse Anne - Nossa, o que você tá fazendo andando sozinha por aqui?

—E-Eu é que pergunto - gaguejou Samara - Err....eu sempre passo por aqui. Eu moro na colina, no final da trilha.

—Ah, acho que a Briana me falou uma vez sobre ter uma casinha na colina depois da floresta - disse Anne.

“Ah, é verdade. Apesar de tudo, ela é irmã da Briana”, lembrou Samara. “Preciso ser legal com ela, mas como?”

—A-A-Aconteceu...a-al...- Samara tentava se comunicar como podia.

—Se aconteceu alguma coisa? - disse Anne - Ah, bem, é uma história complicada…só não queria voltar para casa agora.

—Você...você...você pode ficar na minha casa! - exclamou Samara.

—Sério? Posso mesmo? - disse Anne - Nossa, se não for dar muito trabalho. Eu não quero voltar agora, mas também não quero ficar sozinha aqui.

—N-não tem problema - gaguejou Samara, tentando sorrir - Fica tranquila.

As duas seguiram pela trilha em silêncio. Samara até pensava em conversar alguma coisa, mas sua timidez era absurda. Anne também não estava muito confortável, mas tentou puxar conversa.


     –Samara o seu nome, né? - perguntou Anne, tentando quebrar o gelo de alguma forma.

—S-Sim - foi a resposta da baixinha.

—Você...é amiga do Luís, né? Participou da corrida com ele e tudo - perguntou Anne.

—A-amiga? É, acho que sim - foi o que Samara respondeu - Quer dizer, ele costuma falar mais de você mesmo.

—Ah, claro - disse ela - Mas eu já conversei sério com ele. Acho que agora ele pode procurar alguém que goste dele de verdade.

—Já tem alguém assim?! - perguntou Samara, espantada.

—Não que eu saiba - falou Anne.

—Ah, tá… - disse Samara, toda vermelha depois de ter falado isso.

“Será que...?”, pensou Anne, sorrindo por dentro, “Não, melhor não arrastar muito isso. Vou mudar de assunto”

—Então, falta muito para chegar na sua casa? - perguntou Anne.

—N-Não - gaguejou Samara - É logo ali.

De fato, a casinha da colina onde Samara morava já estava à vista. Anne gostou da arquitetura simples do local, mas parecia que o tempo ficava mais nublado conforme se aproximava da casa. Bom, talvez fosse só impressão. As duas entraram e Anne conheceu os pais de Samara.

—Oi, filha - disse a mãe - Já voltou com as compras?

—O-Oi, estou de volta - falou Samara.

—Boa noite - cumprimentou Anne.

—Oh, você trouxe uma amiga? Isso nunca aconteceu antes! - disse a mãe dela, espantada, mas sem expressar tanta emoção assim - Querido, querido, venha aqui!


O pai de Samara veio para a sala e também se espantou ao ver Anne na sala.

—Você...é amiga da nossa filha? - perguntou ele.

—Bem, ela está me ajudando bastante agora, então acho que sim - disse Anne.

“Ela me considera uma amiga?”, pensou Samara. “Então, será que eu tenho mais uma amiga além da Briana e do Luís?”

—Por favor, fique à vontade - disse o pai de Samara, embora sem expressar muito emoção também - Err...nós não recebemos muitas visitas, então não sabemos muito bem o que fazer…

—Você quer alguma coisa? Suco? Café? Refrigerante? - perguntou a mãe.

—Acho que só vou aceitar um copo de água - falou Anne.

—S-Sim - gaguejou a mãe - Vou providenciar agora…

“Eles são iguaizinhos à Samara”, pensou Anne. “Até nas olheiras…”

—Como eu disse, fique à vontade. Filha, pode levar sua amiga para o seu quarto. Vocês devem ficar mais confortáveis lá, né? - disse o pai.

—T-Tá - falou ela, seguindo em direção ao quarto. Anne apenas a seguiu, já um pouco mais tranquila.

“É, acho que dá para ficar aqui por um tempo. O idiota do Luciano nunca vai me achar aqui”, pensou Anne.

Enquanto isso, Luciano pegou sua bicicleta e pedalava freneticamente atrás de Anne.

—Anne! Anne! - ele gritava por todos os lados, atrás da garota.

“Droga! Se acontecer alguma coisa com ela, nunca vou me perdoar!”, pensava ele, enquanto continuava pedalando.

Será que eles vão conseguir se acertar?


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Notas finais do capítulo

É o que vamos ver no próximo capítulo.

Estamos na reta final, continue acompanhando.

Até! :)



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