Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 145
Um problema cabeludo


Notas iniciais do capítulo

Não, não consegui pensar em um título melhor, foi mal.



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O grito de Anne acordou todos os moradores da casa (ainda que já estivesse na hora de todo mundo levantar mesmo).

—O que aconteceu? É uma barata! - falou Antenor, entrando no banheiro de pijama, todo preocupado com a filha.

—Que barulheira é essa? Acordou a gente antes do despertador! - falou Carla, acompanhada do marido e mais furiosa do que preocupada.

—O que foi? - disse Briana, esfregando os olhinhos ainda com sono.

—É um desastre! - falou Anne com seus cabelos se movimentando sozinhos.

—Filha? - estranhou Antenor - O seu cabelo…

—Nossa. Que legal! Como você faz isso? - perguntou Briana.

—Legal, Briana? - gritou Anne furiosa - Eu virei uma aberração!

O desastre foi esse: ao levantar de manhã para lavar seu rosto como sempre faz, Anne deu de cara com seu cabelo se movendo sozinho, como se tivesse vida própria. Um efeito colateral do xampu preparado por Luís.

—Como é que isso foi acontecer? - perguntou Carla.

—É culpa do Luís. Ai, que ódio! - disse Anne, rangendo os dentes - Ele fez um xampu para hidratar meu cabelo e olha o que aconteceu.

Os cabelos de Anne se moviam como serpentes. No mínimo, era uma cena bizarra de se observar.

—Misericórdia. Nunca vi uma coisa dessas - falou Antenor.

—Bem, se o Luís fez o xampu, então ele deve saber o que aconteceu - falou Briana - É só pedir para ele reverter isso.

—Mas como é que eu vou para a escola com o cabelo assim? - lamentou a pobre adolescente.

—Indo como sempre, ué? - disse Carla - Larga de inventar desculpa para faltar na aula.

—Já sei - falou Antenor - Por que você não coloca um chapéu?

Antenor pegou rapidamente um dos seus chapéus de pescaria (já que desde que se mudou ainda não arranjou um tempo para pescara) e entregou para Anne. Foi inútil. O cabelo tirou o chapéu sozinho.

—Aaaah! Eu quero sumir! - disse a garota.

—Por que você não prende o cabelo? - sugeriu Briana - Um coque bem firme resolve.

—É, pode ser - falou Anne.

E foi o que ela fez. Prendendo o cabelo em um coque, a situação melhorou um pouco, apesar do cabelo querer se mexer o tempo todo.

—Parece que tem uma escola de samba na minha cabeça - reclamou Anne - Ai, que aflição.

—Mas tá preso, não tá? - perguntou Carla.

—É. Bem ou mal, ele não fica chicoteando por aí - reconheceu Anne.

—Então tá resolvido - concluiu a mãe - Agora vem logo tomar seu café que a vida não para, não.

Ao chegar na escola, Anne foi para o pátio e viu Luís chegando. A garota correu até ele em disparada no mesmo momento.

—Luís! - gritou ela.

—Ah, Anne. Bom dia.

—Vem comigo! - falou ela, puxando o jovem inventor pelo braço.

“Ela já está caidinha assim por mim?”, pensou ele. “Caraca. O xampu é bom mesmo!”

Não demorou muito para os dois irem para os fundos da escola, não sem antes Anne verificar se ninguém estava por perto.

—Acho que não tem ninguém - falou ela.

“Ela não quer que ninguém veja?”, pensou Luís. “Ah, moleque. Finalmente chegou o meu dia. Já posso até imaginar o que vem agora!”

*Imaginação do Luís*

—Beleza, não tem ninguém - repetiu Anne - Agora é só você e eu.

—S-Sim - gaguejou Luís - E o que tem?
—Luís, seu xampu deixou meu cabelo maravilhoso - falou Anne - Olha só.

Anne soltou seus cabelos, mostrando madeixas brilhantes e hidratadas.

—Maravilhosa - disse Luís, com corações nos olhos.

—Só você mesmo para salvar a minha beleza - disse ela - E agora que estamos só nós dois aqui…

—Só nós dois… - repetiu Luís.

—Deixa eu te agradecer devidamente - disse Anne, puxando Luís para perto e tascando um beijo nele.

*Fim da imaginação*

—É, agora é só você e eu - falou Anne.

“Caraca! Tá igual o que eu imaginei!”, pensou Luís.

—Então…

—Não precisa dizer nada - disse Luís - Aceito sua gratidão.

Luís fez um biquinho esperando um beijo. Anne apenas olhou a reação com estranhamento.

—O que você tá fazendo?

—Eu? Bem, eu...err...nada. Então, o que você tinha para dizer?

—É isso! - falou Anne, soltando seu cabelo e revelando a monstruosidade que aconteceu. Os cabelos estavam mais agitados do que nunca.

—Sua voz continua a mesma, mas os seus cabelos...quanta diferença, né? - foi tudo que Luís conseguiu dizer diante da cena.

—A droga do seu xampu fez meu cabelo criar vida própria! - gritou Anne - Como é que você vai resolver isso, heim?

—Vida própria? Puxa, quando eu falei que seu cabelo ia ficar mais vivo do que nunca não era bem isso que eu quis dizer…

—E então? Você não disse que assumiria toda responsabilidade? Estou esperando a sua responsabilidade! - falou Anne.

—Calma, calma. Não precisa se preocupar - disse ele - Provavelmente foi alguma diferença na teoria que acabou afetando a prática. Mas eu sou um gênio, posso resolver isso.

—Acho bom mesmo - falou Anne, pegando o pote de xampu na sua mochila - Aqui está o xampu. Fiz questão de trazer para você resolver isso o mais rápido que puder!

—Não se preocupe - disse ele - Vou fabricar outro xampu que vai resolver seu problema na hora!

—Dane-se o xampu. Só quero um antídoto para isso! - falou Anne.

—Pode contar comigo - falou Luís - Mas, se serve de consolo, seus cabelos estão muito lindos.

—Não me tira do sério mais ainda, criatura - respondeu Anne, enfurecida - A minha sorte é que consigo prender o cabelo com esse prendedor e…

Mas na hora que Anne ia colocar o prendedor de volta, o cabelo simplesmente pegou o objeto da mão dela e jogou para longe muro afora. Anne e Luís arregalaram os olhos.

—Acho que...instintivamente seu cabelo já aprendeu a não ficar mais preso - explicou o garoto - Nunca vi uma adaptação tão rápida ao ambiente.

—Ah, não! - gritou Anne - Ótimo. Agora eu vou ter que ficar aqui a aula inteira.

—Não vai dar - disse Luís - O inspetor vai te mandar para a sala de qualquer jeito.

Anne estava quase chorando. Ela tentava segurar o cabelo com as mãos, mas não era muito fácil manter aquela posição por tanto tempo. Ao chegar na sala, Kelly reparou a dificuldade que a amiga estava tendo com as mãos.

—Oi, Anne - cumprimentou ela - Aconteceu alguma coisa?

—N-Nada, não - disse ela - Eu tô bem.

—Mesmo? Parece que tem alguma coisa te incomodando…

O cabelo puxava para os lados e a impressão que dava era que Anne estava mexendo as mãos de modo totalmente esquisito. Luís tentou explicar a situação.

—É que o cabelo dela…

—Não tem nada de errado com o meu cabelo! - interrompeu Anne - Nada!

A aula começou e Anne continuava tentando segurar seu cabelo. Porém, para começar a estudar, a garota teria que tirar sua mochila e pegar seu material, algo que não dava para fazer sem soltar o cabelo.

“E agora? O que eu faço?”, pensou Anne. “Bem, é o professor Otávio. Ele não vai ligar se eu não anotar nada. Não preciso pegar o material.”

—Muito bem - falou o professor, logo no início da aula - Hoje não estou a fim de explicar nada. Já sei. Façam uma redação sobre a importância do trabalho de até 15 linhas e me entregue até o final da aula. É isso.

“Por quê?!”, pensou a pobre Anne.

Todos começaram a escrever, com exceção de Anne. A garota simplesmente não conseguiu tirar as mãos do próprio cabelo.

—Algum problema, Anne? - perguntou o professor.

—Não, professor. Nenhum. Por que teria?

—Bem, é porque você é sempre a primeira a começar a fazer as atividades que eu peço - disse o professor - Tem alguma coisa errada?

—Não. Imagina - disse ela - Nada de errado.

—Então porque não começa logo? - perguntou ele.

—É que...tá, não estou me sentindo muito bem - falou ela - Posso ir embora?

—O que exatamente você está sentindo? - perguntou o professor.

—Dor de cabeça - disse ela - É, dor de cabeça…

—Só isso? - falou Márcia, no fundo - Não precisa se preocupar. Tenho um comprimido para dor de cabeça bem aqui. Não precisa perder um dia de aula só por causa disso.

“Será que dá pra ficar pior?”, pensou Anne.

—Aqui, Anne. Pega - Márcia pegou a cartela contra dor de cabeça e jogou na direção da garota. Como Anne não tirou a mão do cabelo, a cartela acabou caindo no chão.

—Não conseguiu pegar? - disse Luciano - Achava que ela tinha mais coordenação motora.

—Não tem problema. Caiu pertinho dela, é só pegar - falou Márcia.

—Aqui - disse Kelly, pegando a cartela e entregando para Anne.

—Tá. Agora é só tomar um comprimido desses e fazer sua redação - disse o professor - Anda logo, vai.

—Eu...preciso pegar água - disse Anne, se esforçando cada vez mais para segurar a própria cabeleira - Vou tomar lá fora.

Anne estava saindo da sala ainda de mochila, quando Kelly chamou sua atenção.

—Anne! Por que você tá indo de mochila? - perguntou ela - Não é mais fácil só levar sua garrafa? Aliás, por que você ainda nem tirou a mochila?

—É, pois é, né? - disse Anne - Mas como já estou com a mochila, vou assim mesmo.

—Anne, o que tá acontecendo? - perguntou Kelly - Você tá esquisita demais hoje.

“Tá cada vez mais difícil. Será que tem como piorar?”, pensou a garota.

Sim, tinha. Enquanto pensava isso, o nariz dela começou a coçar. E, como todos sabem, uma coceira no nariz é extremamente difícil de aguentar.

—O que foi? - insistia Kelly.

—Meu nariz - falou Anne - Ah, meu nariz tá coçando.

E assim Anne tirou as mãos dos cabelos, revelando o que seus cabelos haviam se tornado. É, não era uma das situações mais confortáveis. Pobre Anne.


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Notas finais do capítulo

É, vamos ver como ela vai sair dessa. Até o próximo capítulo! :)



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