Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 123
Encontro inesperado




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Finalmente o expediente terminou. Soldado Caxias correu para sua casa, tomou um banho e passou o melhor perfume que tinha. Ele não cabia em si de tanta felicidade.

“É hoje! É hoje! Finalmente terei minha chance com a senhorita Ema!”, pensava ele.

Após terminar de se arrumar e colocar sua melhor roupa social, o soldado fez questão de passar pela floricultura da cidade, comprar o melhor ramalhete de flores que encontrou e se dirigiu em direção à sorveteria assobiando. Ele podia ver Ema de longe, acenando na entrada da sorveteria.

—S-Senhorita Ema? - estranhou ele - Não pensei que fosse chegar tão cedo!

—Como assim? Precisava deixar tudo preparado - disse ela - Hoje é um dia muito especial.

“E-especial?!”, pensou o soldado. “Então é mesmo sério?”

Ele pensava isso, embora Ema estivesse usando uma roupa bem casual, com jeans e tênis. A moça não deixou de reparar a elegância do soldado.

—Vejo que caprichou no visual, heim, soldado? - reparou ela.

—A-a senhorita gostou? - perguntou ele.

—Claro - respondeu ela - Tenho certeza de que fará um sucesso e tanto!

O soldado não entendeu muito bem essa última frase, mas manteve seu sorriso. Ela também viu as flores na mão dele.

—Trouxe até flores. Ótimo!

—São para...

Mas Ema nem deixou ele terminar de falar e sugeriu que os dois pegassem uma mesa. O policial fez questão de puxar uma cadeira para ela. Ema agradeceu a gentileza e continuou com sua postura simpática.

—Espero que ela não demore - comentou a garota, olhando para a entrada da sorveteria com uma certa ansiedade.

—Do que a senhorita está falando? - perguntou o soldado sorrindo (seu palpite era que Ema estava falando da garçonete). Até agora, ele não encontrou nem mesmo oportunidade de entregar as flores para sua amada.

—Ah, chegou - disse Ema.

O soldado olhou para trás esperando ver uma garçonete, mas viu apenas Márcia, também vestida casualmente.

—Boa noite - disse Márcia, estranhando a presença do soldado ali.

—Até que enfim! - falou Ema - Achei que você tinha furado comigo.

—Tive que fazer umas coisas lá em casa. Minha bisavó é velhinha, então todos os perrengues sou eu que preciso resolver - explicou Márcia.

—O importante é que você está aqui - falou Ema - Por favor, sente-se!

Márcia se sentou no lugar de Ema. O pobre soldado não estava entendendo nada.

—Então, Ema? - perguntou Márcia - O que você queria tanto falar comigo?

—Você já conhece o soldado Caxias, não conhece, Márcia? - perguntou Ema.

—Ah, você é o policial que trombou comigo hoje de manhã, não é? - reparou Márcia.

—E você é aquela moça, não é? - disse o soldado, reconhecendo-a imediatamente.

—Sim, eu vi a cena. Sei que já se conhecem. Nem preciso perder muito tempo com apresentações. Soldado Caxias, essa é a Márcia. Márcia, esse é o soldado Caxias. Esse será o primeiro encontro de vocês - falou ela - Não precisam me agradecer.

—O QUÊ?! - Márcia e Caxias falaram em uníssono.

—Qual é? Tá na cara que vocês têm tudo para dar certo - disse Ema descaradamente - Eu vi o clima entre vocês quando as coisas da Márcia caíram e o soldado ajudou a pegar.

—E-Espera, senhorita Ema - disse o soldado - Aquilo foi só um acidente e…

Mas Ema não parecia muito disposta a ouvir.

—Só precisam se conhecer melhor. Bem, vou deixar vocês à vontade agora. Tenham um boa noite.

E Ema sai de cena sem falar mais nada.

—Tô chocada! - falou Márcia, levantando de repente - Como é que ela pode fazer uma coisa dessas?

—Então...ela não marcou um encontro só comigo? - falou o soldado, com as mãos trêmulas - Nem deu tempo de eu entregar as flores para ela…

—Como é que é?

—É que...a senhorita Ema me chamou para um encontro e achei que seria um encontro romântico entre nós dois, mas...acho que foi tudo um mal entendido.

—Espera - Márcia voltou a se sentar - Você gosta da Ema?

—Por favor, não diga isso alto! - falou o pobre soldado - Não quero revelar isso antes do tempo.

—Olha só - disse Márcia, sorrindo - Não imaginava que ainda existissem rapazes assim.

—Achei que fosse hoje esse dia, mas não era - lamentou o soldado - Trouxe até flores. E agora? O que eu faço com elas?

—Posso ficar com elas se você não se importar - disse Márcia.

—Ah, claro, à vontade - falou ele, sem esconder sua insatisfação.

—Mas essa Ema é fogo, viu? - desabafou Márcia - Como ela foi capaz de fazer isso?

—Preciso ser justo - disse o soldado - Ela não tinha como saber sobre meus sentimentos…

“Pra mim, parece que tá bem na cara”, pensou Márcia.

—Eu...sinto muito - foi o que ela acabou dizendo.

—A culpa não é sua - disse ele - Eu que acabei me empolgando. Ah, sou mesmo um idiota! Devia ter pensado melhor na situação!

—Desde quando você gosta da Ema? - perguntou Márcia.

—Isso? Ah, desde o ano passado, quando cheguei na cidade - explicou ele, com brilho nos olhos.

—Adoraria escutar - disse Márcia - E já que estamos aqui, vamos pedir alguma coisa.

Os dois pediram um sorvete e o soldado começou a contar sua história.

— Eu estava animado para começar uma vida nova depois de ter passado no concurso e realizado meu sonho de ser policial militar.

“Ser policial militar em Vila Baunilha? Bem, não parece muito emocionante, mas pelo menos é seguro”, pensou Márcia.

—Estava ganhando bem e parecia ter uma carreira promissora pela frente, mas faltava alguma coisa para eu me sentir completo.

—Amor?

—Exato - disse ele - Passei a adolescência toda estudando e treinando, mas quando finalmente consegui conquistar o que queria percebia que seria um homem incompleto vivendo sozinho.

—Entendo. E quando a Ema entrou nessa história?

—Foi no dia da minha tomada de posse - falou ela - O prefeito da cidade e o delegado estavam presentes, mas o senhor Henrique, um dos grandes fazendeiros daqui, também estava lá. O policial anterior era muito amigo dele e estava se despedindo. Mas o importante não é o senhor Henrique, mas a filha dele.

—Que é a Ema.

—Sim - disse ele - Era a garota mais linda que já conheci. Tinha um olhar amável e um sorriso maravilhoso.

Só de descreve Ema, Caxias parecia ficar com a cabeça nas nuvens.

—Sim, ela é linda mesmo - concordou Márcia.

—Não é?

“É uma pentelha, mas é linda”, mas isso Márcia só pensou, não falou.

—Ah, sim. Tentei me aproximar dela, é claro.

“Espera. Ano passado ela ainda estava no fundamental. Tá tudo bem?”, pensou Márcia, mas o soldado continuou a história.

*Flashback do soldado Caxias*

—B-Boa tarde - disse ele, gaguejando ao se aproximar de seu Henrique e Ema enquanto a posse era comemorada.

—Boa tarde, soldado - disse o fazendeiro - Espero que continue o bom trabalho de meu velho amigo, defendendo a justiça local.

—Com certeza - disse o soldado - Farei o possível!

Parece que a polícia militar da cidade só tinha uma vaga...

O soldado o cumprimentou, mas Henrique passou álcool nas mãos assim que se soltaram.

—Não leve a mal - disse Henrique - Mas todo cuidado é pouco. Hoje em dia tem germes por todos os lados. Meu maior medo é que um dia um vírus mortal se espalhe pelo mundo todo em uma pandemia.

Ainda bem que eles vivem em um universo paralelo fictício.

—E a senhorita...

—Sou Ema - cumprimentou a mocinha - Muito prazer.

—É minha filha - disse Henrique - Iniciará o ensino médio ano que vem.

—Ah, sim. Faz pouco tempo que terminei o meu.

—E já passou em um concurso? É mesmo um garoto esforçado - cumprimentou Henrique.

—Verdade - concordou Ema, sorrindo.

*Fim do flashback

—E depois disso só a cumprimentei de longe - lamentou o soldado - Não achei que seria de bom tom cortejar uma garota terminando o ensino fundamental, mas agora que ela já é uma colegial, acho que não tem muito problema. Poderíamos namorar durante o ensino médio dela e nos casarmos assim que ela se formasse.

—É verdade. Em cidades do interior é comum o povo casar cedo, né? Onde eu morava só pensam em casamento depois dos trinta.

—Trinta? - disse Caxias, espantado - Não aguentaria esperar tanto tempo.

—Mas acho seu sentimento muito bonito - falou Márcia - Devia contar logo para ela o que sente.

—É o que eu queria, mas essas coisas não dá para falar de qualquer jeito. Preciso ter o momento certo. E não quero parecer atrevido. Posso assustá-la.

“Não acho que ela se assuste tão fácil”, pensou Márcia.

—Mas se a senhorita Ema armou essa situação, então ela deve achar que estou interessado em você.

Márcia não conseguiu segurar a risada.

—Que estranho. A Ema costuma arranjar namorados para todo mundo, mas não consegue perceber que você gosta dela.

—Bem, a culpa disso é minha também, né?

—Isso só prova que ela não é tão esperta quanto pensa - falou Márcia, sorrindo - Queria ver a reação dela quando descobrir que tem um admirador.

—Por favor, não fale nada! - disse o soldado - Eu imploro, por favor. Isso é algo que eu preciso resolver com ela. Seria uma vergonha a senhorita Ema descobrir meus sentimentos pela boca de outra pessoa. Como homem, tenho a obrigação de ser direto!

—Tudo bem, tudo bem, não vou falar nada - disse Márcia - Pelo contrário, vou ajudar vocês.

—Como?

—Não sei ainda, mas vou ficar atenta às oportunidades e dar um jeito de aproximar vocês dois.

—Sério mesmo? Eu agradeceria muito. Márcia, né?

—Isso.

—Muito obrigado.

—Será um prazer arranjar alguém para ficar com a Ema - disse a garota, sorrindo - Quem tem boca pra beijar, não tem saco pra encher.

—Não sei se entendi bem.

—Deixa pra lá - pediu Márcia - Bem, foi legal conversar com você, soldado. Já vou indo

—Não, por favor, eu pago os sorvetes - falou ele - Afinal, você também veio aqui pensando ser outra coisa, né?

—Imagina, deixa que eu pago e…

—Por favor, eu insisto.

“Ele é muito moda antiga. Mas acho que é justamente o tipo da Ema”, pensou Márcia.

No próxima dia de aula, Ema estava ansiosa para ouvir as novidades do encontro. Márcia estava alegre e Ema jurava que tinha acontecido algo.

—E então? Você e o soldado Caxias se deram bem, não deram? - Ema perguntou para Márcia assim que a viu na classe.

—Sim - confirmou ela.

—Sabia - comemorou Ema - Então, vocês estão namorando?

—Eu me dei bem com ele - disse Márcia - Mas não como namorada. Nos tornamos bons amigos. Se quer saber, ainda estou a fim do Luciano.

Ema mordeu os lábios.

—Tudo bem - disse ela - Um relacionamento costuma começar com uma boa amizade. Não desisto dos meus ships tão fácil.

"É. Eu também não", pensou Márcia.

Caxias pode não ter encontrado uma namorada, mas com certeza ganhou uma boa amiga.

 


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Notas finais do capítulo

Vamos ver o que vai rolar no romance desse povo.

No próximo capítulo, começamos um arco novo. Até lá.



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