Vila Baunilha escrita por Metal_Will
Depois de acidentalmente engolir uma das pílulas do amor feitas por Luís, Anne foi vendada por Kelly e levada até o restaurante. Naquela altura da tarde, o movimento já tinha diminuído bem e foi possível acomodar Anne com mais tranquilidade.
—Ah, Kelly, amor. É sempre bom receber sua visita! - disse Gustavo, funcionário do restaurante, correndo para os braços de sua amada. Mas, ao ver que ela estava acompanhada de uma Anne de olhos fechados, freou seu impulso rapidamente - A-Anne? O que aconteceu?
—Anne! - disse Carla, a mãe - O que você tá fazendo? Tá matando hora de trabalho pra ficar brincando por aí?
—Brincando? - disse Briana, que também estava por ali ajudando a família como podia - Do que você tá brincando, Anne? É cabra cega?
—Que cabra cega que nada! - disse Anne - Mas eu não posso tirar essa venda dos olhos de jeito nenhum!
—E posso saber por quê? - perguntou Carla.
—Bem, isso eu posso explicar - disse Luís, coçando a cabeça.
—É. Pode começar - disse Anne - Afinal, nada disso estaria acontecendo se não fosse pela sua invenção maluca!
E assim Luís explicou a situação. Carla não acreditou muito no que ouviu.
—Vocês acham que eu nasci ontem para acreditar numa história dessas? - reclamou a mãe - Deixa dessa brincadeira e volta para o trabalho, Anne.
—Eu também gostaria que fosse mentira, mas não dá pra subestimar o perigo das invenções do Luís - falou Anne.
—Por favor, não diga isso. Vai me fazer parecer um cientista louco!
—Espera, espera - disse Antenor que, no meio da confusão, veio ver o que estava acontecendo e ouviu toda a história - Sei bem que o Luís é um garoto bem inteligente. Aqueles patins turbo que ele usou no exame para garçom só podia vir de uma mente brilhante.
—Obrigado, sogro - disse Luís - O senhor é mesmo incrível!
—Sogro é o escambau! - reclamou Anne.
—Calma, calma - disse Ema, tentando amenizar a situação - Eu entendo muito bem essa divisão de opiniões. Então proponho um teste para provar que estamos falando a verdade.
—Teste? Que teste? - estranhou Luís.
—Simples - continuou Ema - Samara, venha aqui.
—E-Eu? - falou Samara que, até agora, só estava acompanhando tudo em silêncio.
—Sim, você - confirmou Ema - Tome a pílula e olhe para o Luís.
—QUÊ?! - Luís e Ema gritaram juntos.
—Isso mesmo - disse Ema - Vocês provariam para a família da Anne que estão falando a verdade.
—M-mas eu não quero ficar apaixonada pelo Luís! - disse Samara.
“Eu te entendo”, pensou Anne.
—E eu também não quero essa salva-vidas de aquário atrás de mim! - reclamou ele.
—Não quero ouvir isso de você! - retrucou Samara, excepcionalmente sem gaguejar.
—Ah, eu acho que ficariam fofos - disse Briana.
—Sim, Briana, você tem bons olhos! - disse Ema - Com treino pode ser uma shipper incrível no futuro!
—Posso? - disse Briana, animada.
—Ei, não vem influenciar minha irmãzinha, não! - reclamou Anne.
—Bem, eles não parecem estar brincando - comentou Gustavo - O problema parece mesmo sério.
—É verdade, dona Carla - disse Kelly - A Anne não iria inventar algo assim só para escapar do trabalho.
—Ai, ai. Tá bom. Vamos supor que isso seja verdade - admitiu Carla - Se for, como ela vai trabalhar assim? Não quero que ela se apaixone pelo primeiro cliente que passar pela porta. E se for um pé rapado? Não quero minha filha se engraçando com qualquer um!
—Acho que a felicidade dela também conta nisso, não é, amor? - falou Antenor.
—Não é tão trágico - falou Luís - Lembra? Eu disse que só dura vinte e quatro horas.
—Mesmo assim - falou Carla - Vou perder uma funcionária por um dia inteiro.
—E eu vou perder o pagamento de um dia. É culpa sua, Luís!
—M-Mas foi um acidente! - Luís tentou se defender.
—Dinheiro não é problema - disse Ema, assumindo a frente - Eu pago seu dia de trabalho.
—Não precisa fazer isso, Ema - continuou Anne - Se o Luís é quem fez a pílula, ele é que deve pagar.
—É que...parte da culpa também foi minha - falou Ema - Se eu não ficasse provocando ele, a pílula não teria escapado.
—Tá boazinha demais para o meu gosto… - comentou Anne - Sorte a sua que não posso tirar essa venda pra ver a sua cara.
—Como você é desconfiada - disse ela - O que tem demais em querer ajudar minha amiga?
—Se você não se importa, então que seja - falou Carla - O jeito é ela ficar isolada por um dia até o efeito dessa coisa passar.
—O efeito dura só vinte e quatro horas, não é? - perguntou Antenor.
—Espero que sim - disse Luís.
—Espera? - perguntou Carla.
—Pelo modelo do computador - explicou Luís, ajeitando os óculos - Cada pílula dessa nova remessa tem uma previsão de vinte e quatro horas. É o que a teoria diz.
—Você tem certeza, né? - perguntou Kelly.
—Claro. Vou até mostrar para vocês os cálculos. Aqui no meu celular tem uma versão do sistema que eu estava usando - Luís tirou o celular do bolso, mexeu em algumas funções e olhou para o gráfico - Ops...
—Não gostei desse “ops” - comentou Anne - Desembucha, safado.
—É que...acho que teve um pequeno erro nos cálculos - disse Luís - O computador fez uma nova previsão e corrigiu os dados.
—E? - perguntou Carla.
—E então é possível que essa pílula dure tempo indeterminado - disse ele.
—Tempo indeterminado?! - todos falaram em uníssono.
—O que você quer dizer com “tempo indeterminado”? - questionou Anne.
—Bem, em outras palavras, o efeito...pode ser...permanente - disse Luís, falando baixinho em “permanente”.
—Ai, meu Pai amado! - Carla quase desmaiou - Ela vai ter que usar venda o resto da vida? Antenor, pode ir procurando outra garçonete.
—Mãe! O fato de eu estar condenada a ficar assim não te incomoda, não?
—É, tem isso também - disse Carla.
—Não há nada que possamos fazer? - perguntou Antenor.
—Bem, eu poderia criar um antídoto e...
—É isso! - disse Gustavo - Se tem como fazer, tem como desfazer. Vocês cientistas são bons nisso, não são?
—De onde você tirou essa ideia? - perguntou Luís.
—Você pode fazer isso, Luís? - perguntou Briana - É pelo bem da minha irmã.
Os olhinhos de Briana derreteriam qualquer um, então é claro que a resposta dele não poderia ser mais direta.
—C-Claro - disse ele - Posso fazer isso, sim.
—Ah, que bom! Viu, Anne? É só ele fazer o antídoto!
—Será que você consegue isso o quanto antes? - perguntou Anne.
—Bem, pode levar um tempinho - disse ele - E, sabe, preciso fazer algumas pesquisas…
—Mas ele consegue, sim - falou Briana - Lembra? Ele fez rapidinho o antídoto para aquela galinha gigante voltar ao normal.
—Nem me lembra disso - reclamou Anne.
“Mas se é mesmo tempo indeterminado”, pensou Luís. “É a minha chance de conseguir ficar com a Anne de vez. Não, não. Eu falei que só tentaria fazer isso honestamente, mas...uma oportunidade dessas…”
—O que você tá esperando, garoto? - disse Carla - Vai logo preparar esse antídoto ou sei-lá-o-quê.
—S-Sim, senhora - falou ele - É pra já!
—E-Eu também já vou indo - disse Samara - Até mais!
Depois que Samara e Luís saíram de cena, Carla se voltou para Anne.
—Bem, Anne - disse ela - Acho que o melhor é ir para casa, não é?
—É. Não posso ficar aqui de olhos vendados - disse ela - Mas preciso que alguém me leve.
—Deixa comigo - disse Ema - Eu te levo, Anne.
—Tá, obrigada - disse Anne - De novo, tá boazinha demais, não acha, não?
—Eu sou boazinha, meu anjo - falou Ema.
—Acho que quando você se priva de um dos sentidos, os outros ficam mais aguçados. O tom da sua voz tá dizendo que você tá aprontando alguma.
—Deixa de ser desconfiada - retrucou Ema - Vamos logo, eu te levo pra casa.
E assim foi. Ema deixou Anne em casa, onde ela finalmente tirou a venda. Parecia seguro, já que as duas eram meninas.
—Bem, pelo menos já sei que a pílula não funciona com duas meninas - disse Anne - Não é meu estilo.
—Muito menos o meu - disse Ema - Mas recomendo que você use a venda dentro de casa também. Vai que você olha sem querer para algum homem passando pela janela.
—Ai, nem me fala - disse Anne - Vou ficar é bem quieta no meu quarto e de janela fechada.
—Bem, então é isso - falou Ema - Vou indo nessa.
—Valeu. Ah, e desculpa. Achei que você tava armando alguma, mas obrigada pela força.
—Para isso que servem as amigas - disse Ema.
As duas se abraçaram e Ema saiu da casa de Anne direto para a lanchonete.
“Se o que aconteceu é verdade, essa oportunidade eu não posso perder!”, pensou ela. É, certas coisas nunca mudam.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!