O Diabo do Sertão escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 31
Assassinato sem sangue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Marcondes nem se deu ao trabalho de examinar o diário com mais cuidado. Foleou rapidamente e, ao acreditar que não faltava nenhuma página, tratou de queimar o objeto. Aliviado, o prefeito da cidade pôde finalmente descansar. Passou o breve tempo de paz com sua família. Aproveitava a presença de sua esposa, enquanto se divertia com os filhos menores. Até mesmo sua relação com Guilherme havia melhorado: após perder um olho, o rapaz parecia mais calmo e cuidadoso. Não saía por aí fazendo apostas que não podia pagar, e havia até mesmo começado a trabalhar. Por fim, Marcondes Maia acreditava que havia encontrado paz: sua família prosperava e ele estava cada vez mais perto de ganhar a eleição. “Mais um dia de glória”, ele pensava ao acordar.

Ledo engano. Mal sabia que, enquanto tomava seu café da manhã na mais completa paz, uma voz opositora se erguia na praça da cidade. Lá estava Breno Farias, o pior da política, pelo menos aos olhos de Marcondes. O jovem político tinha as páginas mais importantes do diário em suas mãos. O povo de Água Funda, como sempre, adorava se reunir quando via um político falando algo. Por quê? Não, não era pensando no bem da cidade ou qualquer coisa do tipo. Políticos falantes indicavam duas possíveis coisas: briga ou água. Quer dizer, meses atrás o próprio Breno havia sido baleado na mesma praça. Não que isso fosse divertido, mas trazia uma certa empolgação e vida para a cidade, a tal da estranhíssima admiração pelo mórbido. Quanto a água, era impossível não se lembrar das compras de votos – como os opositores chamavam – por parte do atual prefeito, distribuindo água que já era da população. No fim, o povo sempre tinha algum entretenimento ou ganho.

Agora, o que a população ganhava era a maior reviravolta dos últimos anos da cidade. Quer dizer, infidelidade e filhos de prostitutas não eram exatamente novidades, mas algo do tipo vindo do prefeito? Boatos até existiam, mas confirmados daquela forma? Se Breno falava e, além disso, mostrava um papel com a grafia do delegado Augusto, então só podia ser verdade! Com olhos arregalados e bocas abertas, os habitantes da cidade tentavam refletir sobre os efeitos daquilo. Os mais religiosos ficavam abismados com o grau de pecados cometidos pelo prefeito, enquanto outros diziam que era só mais um dia comum na política.

O pior, entretanto, estava por vir. Infelizmente para Marcondes, ele mesmo só foi saber daquilo tarde demais: Breno Farias contou sobre a conspiração do político aliado ao Francês para se livrar da mãe de Guilherme. Agora, nem mesmo os que classificavam a infidelidade como algo “normal” aceitaram. O prefeito era um maldito bandido!

— Mas e se isso tudo for invenção? — Alguém resolveu questionar.

Confiante, Breno olhou diretamente para a pessoa em questão e respondeu:

— Como são os outros filhos do prefeito? Todos parecem com a mãe, não? — ele deu uma pausa dramática. — E quanto a Guilherme?

Deixou que o silêncio falasse. Aquele, na verdade, era um argumento bem fraco e que poderia ser contestado pelo próprio desconhecimento das leis da natureza e da genética. Mas quem se importava? Breno falava com tanta convicção e força, que nenhum ser humano seria capaz de contestá-lo. Quer dizer, nenhum ser humano com exceção de Marcondes Maia.

Abrindo a porta da casa com curiosidade, o prefeito queria entender o que era toda aquela barulheira que se fazia na cidade. Ele podia ouvir bem: pessoas gritavam, trocavam fofocas e se manifestavam com uma força crescente. Entretanto, o político não tinha entendimento do que ocorria. Ao se encontrar com a luz da manhã, olhou alguns metros a frente e viu o maldito Breno Farias fazendo aquele discurso. E então, centenas de olhos se viraram para o velho. Assustado, não conseguiu dizer uma palavra sequer.

— Ali! — O político mais jovem apontou para o prefeito. — Perguntem a Marcondes Maia se ele acha que isso que lhes contei é mentira. Aqui, tomem!

Do bolso estufado, Breno retirou algumas dezenas de cópias das páginas que lera. Jogou-as para o alto e viu os cidadãos disputando os pedaços de papel uns com os outros como se fossem notas valiosas de dinheiro. Ao ver a cena, Marcondes Maia entendeu exatamente o erro que cometera. Entrando em desespero, pensou em convocar os pistoleiros e ordenar que eles disparassem. Mas onde estariam os homens? “Os desgraçados devem estar dormindo ainda”, o prefeito se lembrou enquanto rezava para que eles aparecessem logo. Rezou em vão.

As pessoas que aos poucos se viravam para o prefeito, tinham olhares cheios de ódio e vingança. Como aquele verme poderia ter sido capaz de tamanho crime? Desgraçado! Marcondes até que tentou argumentar:

— Não foi exatamente assim! Tem muita coisa errada nessa história e eu posso provar!

Viu os seus antes potenciais eleitores o encarando com ainda mais intensidade. Eles aguardavam a tal da prova que ele acabara de prometer.

— Bem... Acontece que... — não, ele não tinha prova alguma. — Breno Farias é um mentiroso contumaz!

O povo nem sabia o que “contumaz” significava. O medo na voz de Marcondes também não ajudava nada e, dessa forma, o prefeito se viu cada vez mais cercado. Como predadores, os cidadãos de Água Funda se aproximavam de forma ameaçadora. Acuado, o prefeito recuou alguns passos, chegou na porta de sua casa e, em um ato de pura covardia, trancou-se lá dentro.

Vendo tudo a uns bons metros de distância, Breno Farias sorria. Os olhos dos habitantes se voltaram para ele, mas não havia ódio. Muito pelo contrário, os olhares que encontravam o novo político estavam cheios de esperança. Ele era o homem que livraria Água Funda de todo crime e miséria, sendo justo e trazendo a verdade acima de tudo. Com tudo isso em mente, os miseráveis da cidade começaram a gritar o seu nome. Por fim, tornou-se um coro.

Com seu nome sendo gritado pela cidade, Breno sentiu uma grande paz e confiança preencherem seu corpo. Ele encarava as portas fechadas da casa de Marcondes e enxergava aquilo mais como túmulo do que como residência. O político estava morto para as novas eleições e só havia uma certeza: o sobrenome do novo prefeito seria Farias.

Falando em sobrenomes, Zé e Bia tinham várias dúvidas. O casal, Alice e Diabo acamparam na noite passada. Em decorrência dos eventos extraordinários – também conhecidos como o nascimento de uma criança e todos os cuidados que isso envolve –, montaram um pequeno acampamento e descansaram antes de seguir viagem. A pequena família teve sorte: o ex-cangaceiro estava bem equipado e, mais do que tudo, disposto. Passou a noite desperto enquanto o casal dormia com a criança. Quando acordaram, foi aí que começou a discussão a respeito de sobrenomes.

— Alice Medeiros é muito curto — José havia finalmente parado de desmaiar repetidamente. — Alice de Lima fica muito meiór. Além disso, eu nunca vi esse negócio da criança pegar o nome da mãe.

— Pois devia ver melhor — irritada, Bia respondeu. — Alice de Lima é um nome sem graça. Não por causa de “Alice”, mas por causa desse “de Lima” no fim.

Calado, Diabo observava calmamente o casal discutir tal questão. Para ele, nomes não eram coisas exatamente complexas: ele tinha apenas um e isso bastava. Dois, três, quatro nomes... Aquilo tudo era um exagero para o ex-cangaceiro. Mas ele entendia, ao menos parcialmente. Compreendia que as pessoas gostavam de passar parte de si para seus descendentes. No caso, além dos genes, iriam os sobrenomes.

— Por que não “Medeiros de Lima”? — falou após um breve momento de reflexão.

Assim que ouviu a voz de Diabo, Alice sorriu. Beatriz e Zé se entreolharam, como se buscassem refletir sobre aquela ideia.

— De onde tirou essa coisa, Diabo? — José de Lima foi o primeiro a quebrar o breve silêncio.

— Ela gostou! — Olhando para a pequena Alice, Maria Beatriz ignorou as besteiras que o marido dizia. — Olha, ela sorriu!

— Ela o quê?!

Distraído, Zé virou-se para ver sua filhinha. Agora, ela já não sorria. Ainda assim, Diabo já havia captado a deixa.

— Alice Medeiros de Lima — falou em voz alta e com uma parcela de carinho direcionado à criança.

E então, a bebê sorriu de novo, dessa vez sob os olhos do pai também. Encantado, o rapaz não conseguiu deixar de replicar um sorriso extremamente bobo e feliz. Seus olhos brilhavam e ele não conseguia desgrudá-los de sua prole.

— Alice Medeiros de Lima — repetiu em voz alta e olhou para a esposa. Ela sorria em igual intensidade. — Alice Medeiros de Lima!

— Alice Medeiros de Lima! — Maria Beatriz repetiu estupidamente mais algumas vezes.

Encarando o bobo casal – ou boba família –, Diabo sorriu. Sentiu um estranho prazer, uma estranha felicidade em simplesmente contribuir em algo para a felicidade daquele pequeno grupo no meio do sertão opressivo. Entretanto, já havia dado o tempo de seguir com a viagem.

— Vamos, já enrolamo demais — alertou enquanto voltava a colocar os equipamentos na carroça atrás de Carlinhos. — De vez em quando passa uns homi estranho por essas banda.

Ouvindo o alerta do mais experiente, José de Lima se levantou, segurou a criança e auxiliou Beatriz logo em seguida. Foram até Carlinhos e, em instantes, estavam prontos para seguir com a viagem. Ágil, Zé comentou com Diabo as direções dadas pelo padre e o ex-cangaceiro já entendeu para onde deveria ir. Não estavam longe e o restante da viagem deveria ser breve.

Dito e feito. Pouco tempo depois, depararam-se com uma grande casa no meio do nada. Com as paredes brancas, a residência tinha uma altura considerável e, só olhando do lado de fora, já era possível determinar que ela era maior que qualquer outro lugar em que José e Bia já moraram antes. Com a boca aberta, o rapaz não escondia sua apreciação diante do novo lar.

— Rapaz... — seus olhos admiravam as belas janelas de madeira, a porta em ótimas condições e os pequenos degraus que levavam ao patamar da entrada principal. Diferentemente do que estava acostumado, eles pareciam um tanto quanto sólidos e seguros. — O homi é rico mesmo!

— Roubando água do povo, — Beatriz mantinha a insatisfação de sempre. Ela nunca iria gostar de Gustavo, não importasse o que ele fizesse por eles.

— Esperem aqui fora — Diabo ordenou enquanto descia da carroça. — A chave!

Distraído, José precisou de alguns segundos para entender o pedido do ex-cangaceiro. Quando se deu conta do que precisava fazer, retirou de sua pequena bolsa de couro a chave que Padre Miguel lhe cedera. Arremessou-a em direção do homem de muitas cicatrizes, que agilmente segurou o objeto.

— Vou uma olhada — Diabo afirmou enquanto se afastava.

Ele já levava o revólver na mão e José sabia que, dessa vez, não havia balas de festim. Ele e a esposa assistiram ao homem entrando pela porta principal e sumindo através da escuridão do interior. Arrepiados, lembravam-se de todos os conflitos vividos. Não só isso: lembravam-se bem de todos os conflitos que lhes eram contados, como aqueles ocorridos entre os cangaceiros e Marcondes Maia.

Porém, os corações dos dois jovens também tinham espaço para um sentimento diferente. Eles sentiam, de alguma forma, presenteados pela presença de Diabo. Como se o aparecimento dele na hora do parto já não tivesse sido oportuno, ele ainda estava disposto a protegê-los. Diferente do magnata da água, o ex-cangaceiro era alguém que Beatriz admirava e sentia que devia milhões de agradecimentos.

Então, sem demora, o homem apareceu no meio da escuridão. Parecia tranquilo e rapidamente gesticulou para que a família adentrasse a residência. Após estacionar Carlinhos, José foi o primeiro a descer. Depois segurou sua filhinha com todo cuidado do mundo, auxiliando Bia na descida da carroça logo em seguida. Cheios de empolgação, apressaram o passo e atravessaram a porta principal. Diabo havia se antecipado: ao vê-los se aproximando, tirou um isqueiro do bolso e tratou de acender as lamparinas espalhadas pela casa. A escuridão havia sido rompida e eles finalmente puderam apreciar a residência e seu conforto.

Do lado de dentro, viram o piso de cimento queimado refletindo as pequenas labaredas presentes nas lamparinas. Colocando a mão no chão, José sentiu o frio característico do material. Ele sorriu e Bia, ainda que seguisse com a desconfiança de sempre em relação àquele presente, repetiu o gesto do marido. “Que chique!”, pensaram de maneira igual.

Seguiram com a caminhada e perceberam as paredes extremamente grossas, impedindo que o calor se espalhasse com facilidade e, dessa forma, garantindo que tivessem um bom conforto térmico. A altura entre chão e teto também era elevada e, apesar da casa não ser nem metade da de Marcondes, era como uma mansão para a pequena família. Vendo o ânimo de Zé e Bia, Diabo sorriu.

— Tem um quarto ali — o ex-cangaceiro apontou. — E outro ali também.

Ansiosos para conhecer os ambientes do seu novo lar, a família teve um momento de grande felicidade: o quarto contava com uma cama de casal, além de uma rede. Havia ainda dois criados-mudos, uma penteadeira e um armário muito espaçoso. Era como um hotel luxuoso, algo que nunca viram na vida. Agora o melhor de tudo: a residência estava extremamente limpa e arrumada.

— E o homi tem mais de uma casa dessas? — José de Lima questionou.

— Com certeza — Diabo respondeu.

Começando a sorrir, Maria Beatriz olhou no fundo dos pequenos olhos de Alice. A criança parecia ter gostado da casa e, ainda que não falasse nada, o calorzinho infantil dela era o suficiente para guiar as decisões e pensamentos da mãe.

— Este é o lugar — a mulher decidiu.

Sorrindo, o marido estava mais que satisfeito. Quanto a Diabo? O homem sentia uma felicidade tão grande, que nem mesmo ele conseguia descrever. Era estranho: não dava tiros, não assaltava e nem mesmo arriscava a vida. Ao invés disso, simplesmente ajudara um casal em apuros no meio do sertão. Ainda assim, ele nutria um certo carinho por José e Bia. Quando a Alice? Aquela era a pessoinha mais fofa do mundo. Não tinha como não querer bem a uma bebezinha daquelas.

— Eu vou ficar por aqui — Diabo surpreendeu a todos com essas palavras.

Calados, Beatriz e José se entreolharam. Cada um esperava que o outro desse a resposta certa. Mas o que era certo? Diabo era um homem violento, isso era óbvio. Entretanto, eles sabiam que o homem nunca lhes representou nenhuma ameaça. Não só isso: ele os protegera ativamente. Ao perceber o sorriso discreto da esposa, José de Lima resolveu tomar a iniciativa:

— Ótimo — falou com mais seriedade que o normal. — A gente num sabe o que tem por aí. E eu confio em você, Diabo.

Aquelas palavras entraram como uma bala direto no coração do ex-cangaceiro, que se manteve inerte para não manifestar emoção. Logo em seguida, com Alice nos braços, Bia se aproximou e concluiu:

— Nós confiamos em você.

Ela então permitiu que Diabo segurasse a criança. Deixando de esconder qualquer emoção, o homem abriu o maior sorriso de sua vida. Com Alice nos braços, tratou a criança com a maior gentileza do mundo, finalizando aquele tenro momento com um carinhoso beijinho na testa. Naquele instante, ele fez uma promessa para si mesmo: não deixaria que nada de mau acontecesse àquela família. Iria fazer por eles o que não conseguiu fazer pela sua.

Com uma mentalidade parecida, Augusto fez o que devia ser feito. Já era noite quando os cinco pistoleiros de Marcondes invadiram a casa do delegado. Ao arrombarem a porta, encontraram um ambiente escuro e vazio. “Só pode ser uma emboscada”, pensaram por um instante. Entretanto, estando em um número elevado e armados até os dentes, largaram o temor e avançaram pelos diferentes cômodos. Encontraram absolutamente ninguém. Pior: as fotografias, vestimentas e até mesmo alguns brinquedos não estavam mais presentes.

— O desgraçado fugiu — o que tinha um dente de ouro falou.

— Não, deve ter alguma coisa aqui ainda — outro insistiu.

Ficaram em uma busca inútil por mais algumas dezenas de minutos. Procuraram por novos diários, entradas secretas ou qualquer coisa que pudesse entregar a localização do fugitivo. Entretanto, como previsto, não havia nada que tivesse utilidade. O delegado fora mais esperto e, seguindo o conselho de Breno, havia disparado rumo a um lugar misterioso junto de sua família. O prefeito nunca mais veria o homem.

Os cinco pistoleiros resolveram que estava na hora de levar a notícia ao chefe. Atravessaram parte da cidade enquanto recebiam encaradas pouco amigáveis dos habitantes de Água Funda. O povo sabia: aqueles eram os bandidos de Marcondes Maia, o homem que mandou que se livrassem da mãe do próprio filho. Desgraçado imundo! Dois dos bandidos até mesmo pensaram e intimidar os cidadãos, mas foram impedidos pelos outro três, levemente menos loucos.

Após alguns instantes, adentraram a casa do prefeito. A primeiro momento, estranharam: o homem não estava na sala de estar, como costumeiro. Entretanto, logo começaram a ouvir sua angustiada voz:

— Isso é política! Você tem que entender isso, menino! — Agitado, Marcondes não escondia a tensão. — Isso é um jogo e eles jogam sujo! É por isso que você ouviu o que ouviu. Mas saiba: não é verdade. Nada disso é verdade! Você não acredita em mim?

— Um jogo?! — Os cinco pistoleiros puderam ouvir a voz chorosa de Guilherme Maia. — E quanto aos seus jogos, Marcondes?

Os bandidos se entreolharam. Nunca tinham ouvido o filho do prefeito chamá-lo pelo nome, ao invés de “pai”. Os cinco estavam com os ouvidos encostados na porta do escritório e a discussão prosseguiu.

— Meus jogos?! Eu sou a salvação dessa cidade, meu filho! — Era choro aquilo? Os curiosos podiam jurar que Marcondes Maia estava começando a despejar lágrimas. — Você sabe bem demais que aquele Breno Farias é um mentiroso, um monstro, um bandido! Ele se juntou com os cangaceiros, ele que lascando com a cidade!

— Eu tava lá, pai! — Nervoso, Guilherme tinha uma voz trêmula. — Eu peguei uma cópia e eu vi o que Augusto escreveu! Você mentiu sobre minha mãe e ainda mandou ela pro inferno!

O pai tentou argumentar, mas não adiantou. Cheio de ódio, o filho abriu a porta com brutalidade, assustando os cinco pistoleiros. Sem nem mesmo olhar para eles, caminhou até a saída. Mais atrás, Marcondes tentou dissuadi-lo:

— Eu te amo mais que tudo, meu filho! Eu te salvei de uma vida miserável!

— A minha vida é miserável, seu velho desgraçado! — Guilherme respondeu antes de abrir a porta.

Observando tudo passivamente, os pistoleiros viram o filho se separar definitivamente do pai. O prefeito até tentou se aproximar do rapaz, mas recebeu empurrões em retorno. Rapidamente, Guilherme olhou a carruagem mais próxima e pediu carona. Era tarde demais para Marcondes Maia, que retornou para dentro da casa com a maior expressão de tristeza que os pistoleiros já haviam visto.

— Eu acabado — o político falou em voz alta. — Vocês cinco! Nós não temos mais nada o que tratar.

Calados, os bandidos se entreolharam.

— Ah, que se dane! — Caçando algo nos bolsos, Marcondes retirou um maço de dinheiro. — Pelos serviços de hoje. Agora vão embora e nunca mais apareçam!

Sem questionar, os pistoleiros repartiram os ganhos e deixaram o prefeito para sempre. O quinteto tinha certeza: o homem estava morto por dentro e só precisava de um empurrão para o corpo encontrar o solo de uma vez por todas.

Na mansão, Marcondes encarava a direção de seu quarto. Deixara a esposa com seus filhos pequenos lá, pois queria poupá-los da discussão. Infelizmente, era certo que eles teriam ouvido os gritos e, agora, ele seria o arauto das péssimas notícias. Olhando para o alto, o prefeito pediu para que Deus o ajudasse. O homem estava dando apenas os primeiros passos em seu calvário pessoal.


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Notas finais do capítulo

Estamos a dez capítulos do fim!
O que está achando da história e quais suas previsões?

Muito obrigado pela leitura e até breve ♥



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