Calmaria Rebelde escrita por Angelina Dourado


Capítulo 4
Parte IV


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Penúltimo capítulo da história e já estou com saudades desses dois. Boa leitura! ^-^



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Naqueles últimos dias antes das avaliações, Dora se dedicou aos estudos de forma que não fazia desde o jardim da infância, talvez desde que entrou para a escola no geral. Sentia que havia uma chance de conseguir uma bolsa para faculdade, mesmo que tal chance fosse mínima já era melhor do que qualquer outra oportunidade que a garota já havia tido em vida.

O grupo de reforço e todo apoio que recebia pela parte de Stuart haviam sido um grande incentivo para que Dora não desistisse de seu potencial, mas claro que não foram a única razão para sua dedicação. Tinha orgulho de toda força e iniciativa que havia tido a começar ir por vontade própria naquele grupo de estudo para desajustados como ela, de ser capaz de finalmente pensar que era muito mais que a garota raivosa que todos conheciam. Provavelmente nunca deixaria de ser aquele espírito rebelde, mas almejava por um futuro melhor do que a vida sempre pareceu querer lhe empurrar.

Depois de sair da biblioteca – um sorriso involuntário sempre se formava em seu rosto quando pensava que havia começado a frequentar aquele lugar para ler os livros realmente, não para dormir – Dora esperava que seus amigos a tivessem aguardado enquanto devolvia os livros que havia pegado, mas como uns bastardos filhos da mãe todos haviam dado no pé. Não havia recebido muitas congratulações de sua trupe por sua dedicação nos estudos, no máximo uma que outra piadinha sobre ter se tornado nerd. Ao menos tinha Susan que lhe compreendia, mas naquele dia a garota mais velha havia faltado aula, deixando-a sozinha naquele final de tarde, que deveria ser bem mais animado pela sua folga no trabalho.

Por vezes Dora acreditava gostar mais de sua bicicleta do que das outras pessoas, dias como aquele apenas provavam o seu ponto.

Não queria voltar logo para casa, na realidade sempre tentava ficar o menos tempo possível naquele trailer junto com sua mãe desequilibrada. Sentou-se em um dos bancos do pátio externo, onde geralmente os alunos almoçavam durante o clima quente, acendendo um cigarro enquanto mexia no celular. Provavelmente depois de tragar um, acabaria indo até sua vizinhança e andando sem rumo aos arredores até que se cansasse. Gostava de ficar apenas com a própria companhia às vezes, entrando num estado de introspecção em que refletia sobre si e o mundo ao redor enquanto sentia o vento no rosto e as correias rodando de forma quase rítmica.

— Olá Dora.

A garota praticamente saltou no banco de metal pelo susto, olhando para trás atônita e escondendo de forma inútil o cigarro ainda exalando fumaça atrás de si, assim como fazia ao ser flagrada por um adulto que a levaria a diretoria. Mesmo que fosse somente Stuart.

— Olá menino gênio. – Respondeu meio sem jeito, visto que não esperava encontrar o garoto naquela hora. Mas pelo jaleco dobrado que ele segurava, deduzia que ele havia acabado de sair do clube de química como o belo nerd mané que ele era, e que Dora gostava mesmo assim.

Stuart a encarou com curiosidade nos olhos escuros que pareciam três vezes maiores por causa dos óculos de lente grossa. Tombou a cabeça um pouco para o lado, percebendo a fumaça fina que saía de trás da garota. Dora suspirou levemente irritada, já esperando o mesmo sermão de sempre sobre ser jovem demais pra essas coisas.

— Tem um sobrando? – Ele indagou, fazendo Dora erguer a sobrancelha por surpresa.

— Cigarro?

— É o que você tem, certo? – Stuart disse de forma óbvia, como se referisse aos bolinhos e biscoitos que fazia. Incrédula, Dora riu pela surpresa, pegando um cigarro do maço que tinha no bolso da calça e estendendo ao garoto agora nem tão certinho quanto parecia, sequer precisando oferecer o isqueiro visto que o garoto tinha um próprio (deixando-a ainda mais surpresa). – Obrigado.

— Quem diria! Stuart Kashyap, o garoto modelo e suprassumo da caretice, um fumante. – Disse Dora aos risos, já voltando a tragar o próprio cigarro. Stuart não a acompanhou na brincadeira, apenas tragando em silêncio e ficando com o rosto sério, uma certa mágoa estampando suas feições. Não necessariamente pelo que a garota havia dito, mas por sentir-se mal consigo mesmo. – Pensei que fosse começar algum sermão sobre câncer de pulmão e os milhares de malefícios da nicotina , etc…

— Bem, não deixa de ser verdade. – Stuart disse dando de ombros. A convivência entre eles desde o caso do carro vandalizado havia se estreitado de maneira considerável, não da forma como Dora realmente almejava, mas gostava das conversas e devaneios que tinham pelos corredores, pois nunca antes imaginou que teria tanto assunto com alguém como Stuart. – Estou pensando em parar a tempos, mas sempre volto uma hora ou outra quando me sinto mal com alguma coisa.

— Foi assim que ganhou o vício? – Dora questionou. Não era algo característico de alguém como ele, mesmo que um mau hábito não o fizesse deixar de ser o garoto sério de sempre. Porém, ainda assim ficava intrigada com esse lado desconhecido do outro.

Stuart se retesou, parecendo hesitar em respondê-la, mas acabando por se sentar ao lado dela e suspirando como se estivesse tirando um peso das costas.

— De certa forma sim, foi o motivo por eu ter continuado… Mas comecei jovem demais sabe, e não foi por me sentir nervoso com babacas feito Acey, nem com minhas notas, por simplesmente me sentir mal comigo mesmo, ou… Não ter coragem de falar com a garota que eu gosto. – Ele tragou mais da droga, soltando a fumaça lentamente enquanto olhava para a estrada de forma reflexiva como Dora, encolhendo mais os ombros de maneira acanhada. Dora sentiu o coração se acelerar com a última frase, pensando quem poderia ser a garota, e se havia alguma mínima chance de ser ela. – Foi meu pai quem me ofereceu o primeiro, disse que era pra "eu parecer um pouco mais macho". E eu aceitei besta como era, pensando que ia agradá-lo assim. Tinha medo de nunca parecer o suficiente pra ninguém, sempre fui fraco…

Ambos permaneceram em silêncio por um momento, com Dora analisando as palavras de Stuart, olhando para seu rosto que conhecia pelo sorriso cativante agora tomado por uma sobriedade que parecia não se encaixar com sua figura calma e adorável. Se Stuart havia a conhecido primeiramente pelo seu lado ruim, sua irresponsabilidade, o humor explosivo e rebeldia, ela havia o conhecido pelo jeito doce, simpático e tímido. Quando seus laços haviam se estreitado, ele havia passado a conhecer também sua personalidade solidária e repleta de bravura. Agora, talvez fosse a vez de Eudora conhecer outra face do garoto que tanto havia lhe despertado interesse.

— Acho que te entendo de certa forma. – Dora comentou, apagando o resto da bituca na mesa e juntando as mãos. – Nunca convivi muito com meu pai, e desde que ele foi preso quase nem o vi mais. Mas quanto a minha mãe, é mais complicado, a gente briga bastante, por qualquer coisa estúpida, principalmente quando ela bebe e eu estou irritada. Não acho que ela é uma pessoa ruim, só não sabe como agir feito mãe, nem eu como filha. Acredito que ninguém é perfeito sabe, o problema é insistir no erro eu acho… E meus pais parecem insistir bastante, mas eu pretendo mudar isso, e espero que eu consiga um dia.

— Com certeza você vai Dora, eu acredito em você. – Stuart disse com um singelo sorriso no rosto, olhando agora para a garota que sentia um riso de júbilo involuntário lhe preencher o peito.

— Valeu, não teria conseguido sem sua ajuda no grupo de reforço. Você é um garoto incrível Stuart, e não é nada que seu pai ou qualquer um desses babacas da escola dizem. – Dora deu um leve empurrão no ombro de Stuart como um gesto companheirismo, adorando ver seu sorriso acanhado de quando ficava sem jeito a qualquer elogio.

— Dá pra se dizer que a gente não é grande coisa, mas ao menos não somos nenhum caso perdido. – Stuart disse, ambos rindo da constatação enquanto sentiam os ombros se chocarem pela proximidade.

— Deve ser por isso que a gente se dá tão bem. – Dora falou olhando nos olhos escuros de Stuart que se via vidrado no olhar marcante da garota. As mãos próximas, uniram-se a princípio de forma tímida, mas logo os dedos se entrelaçaram firmemente enquanto os olhares não se deixavam e os dois corações batiam rápido em sincronia.

— Sim, mas não só por isso. – Stuart não soube de onde havia tirado coragem para dizer tal coisa, mas antes que pudesse pensar mais sentiu os lábios de Eudora contra os seus.

Abraçaram-se de forma desajeitada a princípio, assim como o beijo lento que explorava com cuidado a textura um do outro, inebriando-se no gosto de cigarro e de algo doce no fundo. Stuart agarrou os cabelos cheios de Dora enquanto ela o envolvia com os braços e tocava suas costas o pressionando para mais perto, intensificando o beijo que tornara-se voraz e tomado pela paixão afoita do jovem casal.

Pararam quando o ar já não se fazia o bastante, encarando-se ainda próximos para sentirem a respiração descompassada um do outro, as pupilas cheias e tomadas por aquele momento mágico entre eles.

— Mas por muito mais. – Eudora declarou antes de se abraçarem de maneira afável e encontrarem nos braços um do outro a força que compartilhavam.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram deixem um comentário! Nos vemos amanhã no último capítulo.



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