Cegueira Sensitiva escrita por Mrs Chappy


Capítulo 3
Fim da História?


Notas iniciais do capítulo

♡ Pois é... Chegámos ao final!
Espero sinceramente que tenham gostado. Não se esqueçam que isto inicialmente era para ser uma oneshot curtinha. Vá, de média extensão. Por isso é normal não ter os momentos muito desenvolvidos e saltos temporais. Assim como o grande protagonista é na verdade o narrador. E não Ulquihime em si. Os momentos narrados são coisas que o destino viu e acompanhou e não toda a história. E por isso só se relata o que é mais importante para se compreender a transformação dos personagens envolvidos.
Achei que seria bonito variar com isto do narrador... E não quis alongar-me com a temática das cores por motivos que já conhecem: tenho uma long também sobre isso e não quero ser repetitiva quando tenho tantas outras ideias por explorar (depois de finalizar algumas histórias). Eheheh.
♡ Obrigada por todo o apoio maravilhoso de cada leitor que comentou... Emocionei-me muitas vezes ao ler os vossos comentários! Obrigada!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774884/chapter/3

— Que palavras devo usar?”

Esse era o pensamento que martelava na mente de Orihime desde que ela decidira, impulsivamente, atingir a vida do seu vizinho com as cores tão familiarizas por ela.

Ulquiorra com certeza não era uma pessoa fácil. De poucas palavras. Como o convenceria a escutá-la? E mesmo que ele a escutasse, que palavra usaria para descrever o mundo que ela sempre enxergara e ele não conhecia-o minimamente, pelo menos, visualmente? Como expor por palavras o que só os sentidos permitiam alcançar?

Eram universos totalmente diferentes!

Orihime estava com uma folha de papel, rabiscando, as melhores palavras para definir as cores que animavam o seu dia. Mas nenhuma parecia suficiente! Como poderia explicar que o azul do céu era tão belo e profundo nos anestesiando de um tal ponto que se esquece tudo ao redor!? Como explicar o amarelo do sol, ou outra cor qualquer, sem nunca a ter visto!? Normalmente explicava-se a uma criança os objectos do mundo com o apoio das cores e nunca as próprias cores!

Se uma criança quisesse saber o que era a cor vermelho, bastava mostrar uma coisa dessa cor! Uma rosa, uma maçã, alguma peça de vestuário… Porém, isso nunca funcionaria com Ulquiorra!

Remexeu os cabelos, irritada. Algo incomum na doce jovem. Sentia-se incapacitada de ajudar alguém que ela sentia que precisava muito do seu amparo. Nunca imaginou que seria algo tão complexo assim… Porém, isso não fez com que ela quisesse desistir, apenas sentia-se mais desesperada e ansiosa por ajudar aquele estranho rapaz.

Por breves segundos, recordou o momento em que eles se conheceram, ruborizando. Sorriu sem se aperceber. Sentia uma estranha ligação, não compreendia mas sentia.

E esse pensamento fez com que sua mente brilhasse de entendimento… Ela conhecera um verde único em seu olhar. Não havia uma cor que ela tivesse enxergado antes que pudesse explicar o seu vizinho. E tinha a certeza que conhecendo-o melhor essa incapacidade só iria aumentar. Nenhuma cor no mundo jamais iria definir Ulquiorra, nem mesmo metaforicamente. Porque tem coisas que são únicas, e isso é o que as torna especiais neste mundinho sem interesse.

Orihime abandonou o papel e decidiu que precisava ser diferente do que estava acostumada. Se ela queria compreender e ajudar Ulquiorra precisava de viver no seu mundo. Mais propriamente, de entrar em seu mundo. Numa das suas gavetas retirou um lenço rosa e prendeu-o sobre os seus olhos, apertando-o com força no topo da cabeça.

Ficou cega.

Por um instante, sentiu-se perdida. Não sabia como agir. Perder o contacto com o mundo visualmente era profundamente assustador. Tentava lembrar-se de como eram as suas divisões e caminhos a seguir para deslocar-se com cuidado e rapidamente compreendeu que quanto mais tempo permanecia sem visão, mais a memória ia desvanecendo restando uma profunda escuridão.

Ao início teve vontade de chorar ao imaginar que seria aquela sensação que Ulquiorra sentiria a cada segundo dos seus dias. Mas, gradualmente, os outros sentidos aguçaram-se e foi aprendendo a deslocar-se, um pouco aos trambolhões. Sorriu divertida, ela não era propriamente a pessoa com o melhor equilíbrio. Cantarolava, e assim cumpria o seu quotidiano.

Os novos sentidos abriram horizontes. Era uma nova perspectiva. Orihime entendeu que teria de usar o reino das palavras para ajudar Ulquiorra a “ver”.  Ela não poderia utilizar palavras com conotações visuais, obviamente, ele não a entenderia e ficaria no desconhecimento, e possivelmente triste por não conseguir enxergar. Mas através do olfacto, do tacto e da audição, as palavras poderiam ganhar outros significados e mesmo sem perceber, ele poderia criar imagens mentais. Como uma criança que desconhece um objecto e forma uma determinada imagem e expectativa ao escutarem as narrações das características desse objecto. Era tudo poder da imaginação consequente das palavras usadas.

Tudo foi diferente quando Orihime bateu, pela segunda vez, na porta do seu vizinho. Estava mais confiante e saberia que encontraria a rudeza típica de Ulquiorra. O jovem abriu a porta e permaneceu em silêncio com o olhar opaco esperando que o intruso se manifestasse. A cara deste com certeza tinha “tédio” escrito. Orihime riu, o que fez com que Ulquiorra erguesse a sobrancelha.

— O seu nome é Ulquiorra, certo? —Rapidamente reconheceu a única voz que o recebera desde a mudança, não estranhou o facto de ela saber o seu nome. Estava habituado ao facto de que a sua condição sempre era alvo de mexericos.

— Você de novo, mulher.

— Meu nome é Orihime! —Exclamou, ligeiramente incomodada. Ela tinha quase a certeza de que ele se recordaria do seu nome, tal como se lembrava da sua voz.

— O que pretende?

— Eu disse que queria ser sua amiga, Ulquiorra-kun. —Ulquiorra automaticamente pensou que aquela mulher era maluca e extremamente persistente, suspirando enfadado com aquela situação. Ele não queria nem precisava de amigos. Achava que tinha sido claro na primeira vez que ela o tinha visitado.

O Shiffer iria expulsá-la novamente porém sentiu seu corpo sendo empurrado com delicadeza. Orihime entrara pelo seu apartamento! Seus olhos arregalaram em espanto, uma reacção puramente instintiva. No entanto, logo se recompôs.

— O que você pensa que está fazendo? —Ele estava claramente irritado, não que isso tivesse incomodado de algum modo Orihime.

— Eu sabia que não me convidaria a entrar. —Comentou distraída enquanto analisava o apartamento humilde.— Eu pensei em convidá-lo para sair. Ou arrastá-lo pelas ruas, você não aceitaria o meu convite, Ulquiorra-kun.—Riu imaginando a cena.— Mas deve ser mais fácil para você ficar em casa. Eu tapei meus olhos, sabe? Para ficarmos iguais. Queria compreende-lo… Seria horrível sair de casa naquele momento. Tudo era estranho. Talvez quando tiver mais confiança em mim vamos comer um gelado. Eu pago, pode ser?

Orihime sorria e andava em círculos pelo apartamento, tagarelando animada enquanto Ulquiorra estava surpreso demais para exigir que a mulher saísse. Um calor encheu o seu peito quando ela afirmara querer compreende-lo, sujeitar-se voluntariamente às mesmas condições àquelas que ele era forçado a viver.

Não havia hostilidade, troça ou alguma brincadeira naquela mulher. Era só… bondade. E um tanto de doidice. Riu com isso. Mas rapidamente desmanchou o sorriso assustando-se com o seu gesto, ele não sorria à anos. E do nada estava a rir por causa de Orihime Inoue!?

Ela continuava a falar quando Ulquiorra fechara a porta. Aquele cenário repetiu-se durante dias, semanas… e meses. Orihime não invadira só o apartamento de Ulquiorra inesperadamente mas como a sua vida, tornando-se uma peça fundamental.

Os dois passavam os dias fechados no apartamento dele, depois que a ruiva regressara do seu trabalho. Tornando-se muito próximos. As pessoas comentavam… mas eles não se incomodavam com esse pormenor. Aquele era um mundo só deles.

Foi num dia normal que Orihime compreendeu que não poderia afastar-se de Ulquiorra mesmo que ela quisesse. Ela enxergara uma alma tão pura dentro dele…  Tão diferente que percebeu que tinha-se apaixonado perdidamente por ele.

— Ulquiorra-kun, você não tem algo que gostaria de fazer? —Orihime, desde o segundo dia em que dialogaram, sempre juntava o sufixo ao seu nome. Algo que Ulquiorra tentara mudar em vão mas que com o tempo aprendera a gostar, não que ele fosse lhe confessar isso.

— Não diga besteiras, mulher. —Embora Ulquiorra ainda fosse frio e distante, Orihime sabia que ele era mais carinhoso à forma como se dirigia a ela. Era parte da personalidade dele e ela gostava disso, sentia-se feliz por ele ter o cuidado de ser atencioso com ela.

— Nunca pensou em algo que gostaria de fazer? Sempre está aqui fechado…

— Não. Tenho tudo o que preciso aqui.

— Oh… compreendo.

Orihime ruborizou, cogitando se ele também se referia a ela. Colocou uma madeixa atrás de seu cabelo, nervosa.

— Sabe… Tem algo que eu gostaria de fazer Ulquiorra-kun. Desde algum tempo…

Ulquiorra estranhou a voz da mulher mas não se manifestou, aguardando que ela prosseguisse. Sua mente e seu corpo não estavam preparados quando os seus lábios foram pressionados pelos dela.

Orihime Inoue era extremamente imprevisível. Nunca sabia como agir perante as suas palavras e os seus gestos. Eram de uma inocência tão pura que não sabia como a corresponder sem a sua escuridão.

Um borbulhar espalhava-se pelo seu corpo, concentrando-se em seu peito. A sensação era boa, muito boa, tinha de reconhecer. E assim como desde que ela invadira o seu apartamento, apenas deixou-se seguir nas maluquices daquela mulher que já tinha conquistado o seu coração à muito tempo.

Poderia ser errado ou impróprio, não que ele se preocupasse com isso. Apenas correspondeu ao que ela sentia por ele, deixou-se sentir… Sorriu durante o beijo, afinal a visão não era assim tão importante como julgara. Naquele momento, ele sentia os olhos fechados dela enquanto se beijavam. Não havia nada para ser visto, apenas estragaria aquele momento. Bastavam aquelas emoções que os rodeavam sempre que estavam juntos.

— Eu amo-te, Ulquiorra-kun. —Orihime suspirou, próxima dos seus lábios entreabertos constatando um dos raros sorrisos do moreno.

Ele não respondeu mas ela compreendia que ele ainda não estava nesse nível em expor os seus sentimentos. No entanto, ela teria toda a paciência necessária com ele, porque Ulquiorra poderia não dizer mas sabia que ele a amava. O Shiffer demonstrou isso ao deixá-la entrar em seu mundo sem cor, permitindo que ela o colorisse de alguma forma que ele pudesse enxergar.

— Obrigado. —Aquela simples palavra fez com que ela sentisse um calor envolver seu peito.

E após uma ajudinha do destino, Orihime aceitou que o excesso de cores, da própria visão, por vezes ofuscam as sensações. Era agradável poder caminhar num mundo às cegas, com um novo trajecto formado pelo desconhecido, sendo encaminhada pelas sensações e pelas palavras. Este reino das palavras e da imaginação não precisava ser visto para ser apreciado.

Talvez Ulquiorra não pudesse observar as cores pelos seus próprios olhos, mas ela o faria constatar todo um novo espectro colorido, criado unicamente pela mente dele, sempre que o beijasse ou lhe apresentasse algo de novo pelas suas descrições.

O mundo não era justo nem perfeito. A condição de Ulquiorra comprova esse facto… Todavia, isso tornava-se algo superficial quando estava junto de Orihime. Ulquiorra nunca tinha dito a Orihime mas se era necessário a sua mudança de cidade por causa da sua incapacidade para a conhecer então ele seria sempre feliz por essa característica sua. Preferia nunca enxergar do que nunca a ter conhecido.

Ele nunca pronunciou tais palavras, mas Orihime sabia que Ulquiorra pensava assim. Nem tudo precisava ser dito para ser compreendido, eles tinham um mundo só deles, onde os seus sentimentos demonstravam ser mais eficientes em explicações. Embora Ulquiorra estivesse disposto de, um dia, dizer todas as palavras que abundavam em seu peito.

Porque graças àquela mulher irritante e peculiar… ele agora tinha um coração. Ulquiorra permanecia cego mas apenas a respeito do sentido da visão, não era mais a frieza e cegueira sentimental. Ele agora tinha alguém para amar, que o fazia sentir.

Nada seria perfeito, a vida era uma desgraça em termos de paraíso. Mas se tem algo que os dois sabiam é que ficariam juntos para sempre. E isso bastava-lhes para ser tudo perfeito.

O que seria da perfeição sem alguma imperfeição?  

 



Afirmar que eles “viveram felizes para sempre” seria uma completa mentira e vocês, meus caros leitores, rapidamente perceberiam. Afinal… quem vive sempre feliz neste mundo tão pequenino como o nosso?

Isto não é um conto de fadas.

Defender ideias abstractas não é o mesmo que viver aprisionado na ilusão. Todos, eu e vocês, precisamos de algo mais forte para dar sentido a esta existência estranha e incógnita que nos persegue. Precisamos de emoções! Sentir que voamos, sem voar! Apaixonar e acreditar que tudo será perfeito quando, obviamente, não o será.

Sentir isso então é errado?, perguntam-me vocês. Não, podem ser sonhadores mas os pés ainda estão assentes no mundinho real. Qual o pecado de sonhar um pouco alto demais, de vez enquanto? O abstracto vos liberta do que é fútil mas isso não quer dizer que sejam umas almas sem corpos e que não precisem de viver.

Sim, todos precisamos de viver. Até mesmo eu. Embora, de uma forma diferente…

Quando vocês vivem, de verdade, eu vivo através de vocês.

As verdadeiras histórias de amor não tem um fim, sabem porquê? Porque o amor nunca finda… O amor é uma emoção poderosa que liga os dois mundos. O ideal e o material. Este sentimento manifesta-se através de uma abstracção que nenhum de nós compreende porém tem implicações corpóreas. Os amantes podem ficar juntos, para sempre. Nem sempre vão sorrir, outras vão discutir e chorar… Mas quem disse que o amor não é uma droga complexa!?

O facto é que enquanto estas histórias não acabarem, eu também não. Vou continuar a ajudar cada um que permitir-se vivenciar uma experiência destas.

Porquê, me interrogam vocês de novo. Porque eu não sou o vilão, e agora vocês sabem disso.

Eu sou apenas mais um que se deixou prender às amarras deste sentimento incrível que faz transcender qualquer tempo e espaço. Agora deambulo sem um caminho, beneficiando os outros com os meus dons.

Vocês devem estar a sentir-se confusos. A perguntarem-se “então existe mais do que um destino?!”

Meus caros leitores, com um universo tão vasto e desconhecido pensam que só a vossa reduzida realidade é a verdade? Acham que só eu sou como sou?

Abandonem esses preconceitos. Nada é o que parece. Nem mesmo eu.

Pensam que sou um deus, algo de místico. Contudo, sou apenas um amante que perdeu a sua amada num dia fatídico e que não teve a chance de pedir perdão antes. Um erro que me conduziu a uma eternidade de solidão.

Aprendam com Ulquiorra e Orihime. Eu posso tê-los ajudado com meus talentos, mas meu dom não fez com que ficassem juntos. Não se pode obrigar duas pessoas a ficarem juntas, ninguém tem poder para tal coisa.

Não existe essa coisa de “destino”, há apenas decisões de várias pessoas no mesmo mundinho que vão definir um ciclo de consequências em que podemos ser interferidos por elas ou não. O importante é nunca deixar de esquecer o fundamental… Ou então, meus leitores, serão mais uns como eu: deambulando, fantasmagoricamente, rindo do insucesso de alguns e chorando de arrependimento amargo com a felicidade daqueles que encontraram o que querias tu ter encontrado na tua chance, que desperdiçaste com o fútil.

Este não é o fim.

Para Ulquiorra e Orihime, foi apenas mais um capítulo. Para vocês, meus leitores, é apenas o início da vossa transformação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cegueira Sensitiva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.