Taças Vazias escrita por Sanguini


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal. Então, eu levei um bom tempo trabalhando nisso aqui, então se você gostar, dê um sinal de vida ;)
Após muito enrolar, eu finalmente tomei vergonha e assisti tudo que tinha de direito acerca de Evangelion, e ele já entrou dando chute na porta e tapa na cara do meu coração :P Enfim, fique com a leitura.



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Não fazia muito tempo desde que o oitavo Anjo havia sido derrotado pelos habilidosos pilotos da Nerv. Apesar de Asuka, Shinji e Rei terem trabalhado em equipe de maneira rápida e eficiente para impedir a inevitável destruição que Sahaquiel causaria ao Geofront e à Tóquio 3 como um todo, o orgulho e onipotência da piloto germânica se viam postos em cheque pelo filho do comandante Ikari. Mesmo com ar arrogante, Asuka conseguia justificar-se moralmente, era impossível para ela sentir culpa em fazer algo que a tornou o que ela é hoje. Contudo, nada daquilo importava se os sentimentos bagunçados de ódio e paixão que ela teimava em sentir pelo garoto continuassem a serem tão pesados em sua mente.

— Não se preocupe com isso, ele é apenas um idiota! – Entoava Asuka em seus pensamentos sempre que ela lembrava de como ele só tinha olhos para Rei Ayanami.

Inimiga de sua mente, seu corpo parecia conspirar para torna-la cada vez mais sensível e vulnerável a Shinji. Aquele dia estava especialmente marcado com uma caveira em seu calendário, o dia em que seu período fértil estava no seu auge, mesmo com Asuka tendo prestado pouca atenção no que sua professora de biologia dizia quando pequena, ela sabia exatamente o significado daquela sensação de formigamento em seu baixo-ventre. Tamanha sensação que a fazia lutar vorazmente para não levar a mão a sua calcinha, massagear sua intimidade e alivia-la temporariamente daquele desejo pulsante.

Antes de levantar-se da cama, ela visualizou mais uma vez os poucos curativos em seus dedos, postos lá para proteger os cortes causados por suas tentativas fracassadas de impressionar Shinji com suas habilidades gastronômicas. Por alguns segundos, ela ignorou completamente o bip de seu alarme de cabeceira, a última coisa que a empolgava de ir para a escola era ver Shinji passando todo o horário de aula observando Rei com empatia, enquanto ele a tratava como uma irmã chata. Era isso, estava decidido: De hoje em diante ela não iria mais para a escola, independentemente do que aquele maldito despertador achasse melhor.

Não importava o que ele achasse melhor.

Ela não sairia do lugar.

Contudo, não era o que Katsuragi achava. Asuka saltou de sua cama assustada com a expressão nada humorada de sua capitã, que estava tão acometida por uma ressaca matinal que era quase possível de sentir suas dores de cabeça.

— Asuka, quantas vezes já falamos sobre som alto de manhã cedo? – Katsuragi falou com sua voz em tom cansado intimidador, mas inofensivo.

— Ups... Er, desculpa Misato. – Asuka estapeou o botão vermelho sobre o despertador mais rápido que pôde.

— Ahhr... É a segunda vez na semana que você me faz vir aqui. – Katsuragi disse transparecendo seu mal humor matinal, mas nada que de fato amedrontasse Asuka. Ela sabia que Misato podia ser praticamente uma alcoólatra diária, mas não era do tipo que transformava seu humor em violência. Ela continuava sendo a doce e atenciosa Misato de sempre.

— Não se preocupe, um dia o “todo poderoso Shinji” vai finalmente namorar com aquela puxa-saco sem emoção e você não vai mais precisar se preocupar com meu despertador. – Explicou Asuka com voz de bocejo.

— Hm...? O que o Shinji tem a ver com você se atrasando toda ma... – Katsuragi interrompeu sua própria pergunta ao lembrar-se dos jantares fracassados que Asuka tentava fazer toda noite para Shinji. – Oh... Mas é claro, como eu pude esquecer disso? – Misato riu em tom provocativo, o que era infalível na hora de irritar Asuka.

— Olha aqui, isso não tem nada a ver com ele, tá entendendo! – Retrucava Asuka em sua tentativa tradicionalmente fracassada de esconder seus sentimentos.

— Hm... Realmente, eu devo estar equivocada... Não tem a menor chance de uma garota como você se interessar por alguém como ele, não é? – Katsuragi afirmou novamente, dessa vez apelando pro senso de superioridade de sua pupila. Asuka deixou seu rosto enrubescer com o elogio, nada que uma boa massagem em seu ego para estimular um pouco de sua humildade.

— Bom... Ele não é tão ruim assim, na realidade. – Asuka respondeu em tom baixo. Arrancando um sorriso de Misato, que se sentou na cama de sua pupila.

— Ora, o que é isso, seja sincera comigo. Eu também sei como é ficar apaixonada por um cara que não vale nada. – Pediu Misato, enquanto apagava um dos 23 avisos de chamada perdida recebida de Kaji. Ele tentava persuasivamente convencer a capitã a ir a um bar local juntos. Asuka, como sempre, riu da situação.

— Olha, eu sei que você e o Kaji tem essa relação de adultos. Mas eu não sei como aquele bebê chorão do Shinji iria reagir se eu tentasse ser um pouco mais... Dura com ele, entende? – Asuka tentou explicar enquanto apertava apreensivamente seu uniforme escolar entre as mãos, escondendo as leves coradas que seu rosto macio era capaz de expressar. Ela sabia que o relacionamento de Kaji e Misato era completamente diferente de uma mera paixonite adolescente.

— Dura? – Ironizou Misato.

— Er, digamos... Audaciosa.

—  Sexy? – Misato conseguiu disparar mais uma vez o gatilho que deixava Asuka envergonhada, fazendo-a desistir de prosseguir a conversa, e de tabela, fazendo-a rir da fofa ingenuidade de sua pupila. – Não se preocupe com isso Asuka, é normal você se preocupar com seu corpo nessa idade. Mas eu tenho certeza de que o Shinji não iria se importar se você tem ou não um corpo bonito.

— Ele passa literalmente a aula toda olhando para os peitos da Rei! – Asuka disse com desprezo, enquanto dava seus retoques finais antes de ir para a escola.

— Isso é bom, quer dizer que ele é tão inexperiente que mal sabe disfarçar os próprios desejos. – Misato comentou antes de ir em direção a Asuka, que já se encontrava pronta para mais um dia de aula. – Escuta... Se você quiser realmente algo mais formal e maduro com ele, eu posso te dar uma ajuda. – Misato levou a mão ao bolso de seu shortinho jeans e de lá tirou um envelope preto com o símbolo da Nerv.

— Todo fim de semana, os oficiais da Nerv se reúnem para um jantar formal com todos os membros do alto escalão. Bom.... Digamos que “jantar” é um eufemismo pra “venha beber com seus amigos e dar uns amassos na estagiária”, mas tudo o que você precisa fazer é convidar o Shinji para ir lá com você. – Sugeriu Katsuragi oferecendo a garota o convite negro com o símbolo escarlate brilhante da Nerv. Asuka, apesar de empolgada com a ideia de tentar transformar sua relação com Shinji em algo mais adulto, sem toda a intriga e melodrama de um romance adolescente, ainda sentia um leve medo natural de estar em meio a pessoas desconhecidas sem supervisão de um adulto.

— Não acha isso um pouco perigoso? – Questionou Asuka.

— Ah, não, não, não... Eu vou estar lá com o Kaji o tempo inteiro, você pode se sentir completamente à vontade. – Respondeu novamente Misato com um sorriso simpático, o que foi respondido com o sorriso sem-jeito da jovem alemã.

— Obrigada, Misato. – Agradeceu Asuka antes de guardar seu convite dentro da bolsa escolar. Misato adorava ver o ânimo tomar conta da garota.

— Não precisa agradecer. Agora dê o fora daqui agora, você já está muito atrasada, mocinha! – Misato ordenou enquanto via sua pupila deixar o apartamento porta afora. Em seguida, a capitã discou rapidamente o número que a importunou durante a noite inteira, ela tinha um convite a fazer.

...

Asuka não conseguia engolir a imagem que via na sala de aula enquanto deixava seu almoço intocado. Ver Shinji saboreando sua comida enquanto conseguia arrancar risadas discretas de Rei, sem saber o que poderia ser o assunto que os dois estavam compartilhando. “Aposto que é algo bem pervertido” Cogitava Asuka em sua mente paranoica, nem mesmo o blábláblá frenético de sua amiga Hikari, que estava sentada ao seu lado, era suficiente para tirar a jovem germânica de sua insatisfação romântica.

— ...mas ele não iria fazer nada de graça, não é mesmo? Então eu... – Hikari notou o olhar ácido que Asuka direcionava ao pequeno casal que comia no canto da sala.

— Sabe, se eu quisesse conversar sozinha, eu faria isso em casa, Asuka. – Hikari provocou, tentando arrancar a atenção de Asuka.

— Hã? Ah claro... Me desculpa, Hikari, mas é que dá pra acreditar naqueles dois? Onde eles pensam que estão pra ficarem fazendo aquele jantarzinho romântico brega? – Asuka argumentou, incrédula.

— Ah, não é pra tanto... O Ikari e a Ayanami nunca interagem com quase ninguém da sala, acho legal que os dois se deem tão bem. – Respondeu Hikari, degustando um pedaço do seu almoço.

— Não é disso que eu estou falando, olha como os dois ficam se olhando, como se estivessem numa espécie de conto de fadas infantil... Argh, isso é tão nojento que acaba com meu apetite. – Asuka declarou, com sua expressão inconformada que Hikari reconhecia a distância e sem conseguir esconder a risada.

— Fufu... Acho que não é bem por isso que você está desapontada, Asuka. – Provocou Hikari, que apenas atraiu o olhar fuzilante de Asuka para ela.

— Eu tenho coisa mais importante pra fazer do que disputar a atenção daquele garotinho. – Retrucou Asuka com seu olhar penetrante, que foi respondida por uma expressão presunçosa de Hikari.

— Seja lá o que for é melhor resolver logo, porque seu prêmio está sendo usurpado por outra competidora. – Hikari disse segurando o maxilar de Asuka e direcionando ao jovem casal. A germânica viu Shinji ser alimentado diretamente em sua boca por Rei, aquela cena relativamente fofa, apesar de simples, aguçou ainda mais o misto de sensações de ódio e repressão que Asuka já experimentava desde que chegou à sala.

— Mas que filha da... – Asuka foi incapaz de completar sua crítica.

— E pensar que ela era tão tímida quando chegou, tsc tsc... – Hikari recordou.

— É... As mais tímidas são sempre as mais pervertidas. – Asuka complementou apertando seus punhos a ponto de fazê-los tremer, sua capacidade de reprimir a própria raiva era admirável a aquele ponto.

— Hey, Asuka! – Hikari quebrou a constante de ódio que a germânica estava mantendo.

— Uh, o que?

— Quer ficar um tempo a sós com o Shinji, não é? – Hikari ofertou.

Asuka manteve-se em silêncio, mas sua típica expressão fechada de garota durona, denunciada pelas marcas rosadas de vergonha no seu rosto, eram suficientes como resposta.

— Então, deixa que eu dou um jeito nisso. Mas não deixe a oportunidade passar, okay? – Hikari concluiu se levantando e dirigindo-se a mesa do jovem casal que ali almoçava. Asuka apenas conseguia ouvir de longe algumas poucas palavras ditas pela jovem presidente de turma, pelo palavreado, parecia ser algum tipo de ordem que a representante tinha poder de dar sobre os alunos de sua turma. Seja o que for, a expressão confusa e frustrada na face de Shinji demonstrava que havia funcionado.

— Registro de digitais?! – Shinji repetiu intrigado.

— Sim, Ikari... Eu não acredito que a Ayanami passou tanto tempo sem ter se registrado com os monitores.

— Mas... Nunca me disseram nada sobre isso. – Rei justificou em seu tom tipicamente suave.

— É uma regra recente que a escola adotou, você devia procurar se informar mais sobre os nossos periódicos, Ayanami. – A bronca didática de Hikari foi suficiente para convencer Rei.

— Mas precisa ser agora? A Ayanami iria me mostrar onde ficava o... – Shinji foi repentinamente interrompido.

— Nunca é tarde demais para se obedecer às regras, não é mesmo? Venha comigo, Ayanami. – Hikari pediu com uma simpatia incomum na voz enquanto se dirigia à porta, pedido esse que prontamente foi atendido por Ayanami.

— Prometo não demorar muito. – Comentou Rei antes de seguir sua representante.

— Hã? Espera, eu também não tenho esse registro, eu vou com...

Antes que pudesse completar sua frase, Shinji sentiu sua manga esquerda ser puxada para trás de maneira gentil. Ao olhar para a direção em que foi puxado, deparou-se com Asuka, escondendo muito habilidosamente sua timidez pensando em algo imediato para falar, enquanto guardava o envelope atrás de si. Sua pode era muito similar à de uma a amiga de infância apaixonada, pronta para pedir seu interesse amoroso em namoro.

— Asuka, desde quando você está aqui? – Shinji foi cortado mais uma vez pela jovem germânica puxando-o para baixo, fazendo-se sentar na mesma mesa onde estava antes com Rei.

Asuka manteve uma de suas mãos sobre a mesa, levemente trêmula enquanto a outra mantinha-se sobre o próprio colo com o convite dado pela Misato. Shinji estava confuso com a atitude de sua colega, que dificilmente o saudava de alguma outra maneira que não fosse o chamando de idiota.

— Algum problema? – Shinji questionou, disparando o coração de Asuka, que precisava pensar em algo e rápido.

— Er... Você não tem vergonha de ser tão desatento assim? – Asuka perguntou, cutucando a testa de Shinji com a mão que ainda estava sobre a mesa.

— Ai! Do que você está falando? – Shinji questionou com um de seus olhos fechado pelo desconforto.

— Arh... Pelo jeito, não é só a Rei que está completamente perdida aqui, vocês realmente foram feitos um para o outro, não é mesmo? A Nerv vai reunir seus pilotos em um evento esta noite, você não pode faltar lá. – Mentiu Asuka, entregando o convite úmido e amassado para Shinji.

Shinji leu de cima a baixo o convite negro dado por Asuka, desde a logo em alto-relevo escarlate da Nerv até as entrelinhas que claramente diziam “Apenas oficiais de alto-escalão permitidos”. Aquele aviso fez o estômago de Shinji apertar, sua natural insegurança mal o dava confiança o suficiente para questionar.

— Er... A Misato-san sabe que você...

— Nós! – Asuka cortou com eloquência, fazendo Shinji engolir em seco.

— ...Nós, vamos para esse evento? – Shinji questionou, arrancando um sorriso confiante dela.

— Misato ordenou que fôssemos, garotinho. – Asuka disse antes de se levantar da cadeira e se dirigir para o seu lugar. – Ah, antes que eu me esqueça, tenta vestir alguma coisa formal, vai ser uma festa de adultos.

— Adultos? Mas eu ainda tenho 14 anos. – Shinji justificou.

— Pff, então é melhor você se tornar um adulto até hoje à noite. – Asuka respondeu com uma piscadinha, Shinji enrubescia só de imaginar o que ela quis dizer com a frase. – Ah, e outra coisa...

Shinji levantou seu olhar para Asuka. Suas bochechas voltaram a avermelhar-se, contudo, com suas costas viradas para Shinji, seu nervosismo estava mais controlado.

— Não perca esse convite por nada nesse mundo, como ele te dá direito a uma acompanhante, então eu vou com você. – Complementou Asuka, deixando seu coração acelerar, tal como o de Shinji. Ele procurou um milhão de maneiras de deixar aquele clima menos constrangedor, mas tudo que ele fez foi assentir positivamente, o que arrancou um sorriso da jovem germânica.

— Nesse caso, vou esperar por você... – Asuka concluiu com uma voz gentil, antes de caminhar a passos rápidos para sua cadeira.

— Obrigada Misato! – Asuka agradeceu em sua mente, meio caminho já estava andado.

...

O amontoado de roupas usadas sobre a cama de Asuka já formava uma pilha bagunçada tão íngreme quanto uma montanha, elas variavam desde vestidos e casuais, até roupas mais extravagantes. A frustração a cada estilo de roupa experimentado e reprovado pelo seu rigoroso gosto pessoal acabava a fazendo desistir frequentemente, nada parecia adequado para o momento, nada a fazia acreditar que estava boa o suficiente para que Shinji pudesse se sentir atraído por ela.

— Se você ficar o tempo todo sentada aí, nós vamos nos atrasar. – Misato reclamou enquanto se apoiava na lateral do frame da porta.

— Eu não me importo, não quero ir a esse jantar idiota, ou seja lá o que isso for. – Asuka declarou, sentada ali no chão do quarto em uma posição nada confortável abraçada às próprias pernas, vestida apenas por sua calcinha. – Misato sentiu-se anormalmente empática por Asuka naquela situação.

— Vem cá, eu te ajudo com isso. – Disse Misato enquanto ajudava sua pupila a levantar-se. Por mais que Misato não compartilhasse nenhum elo familiar com Asuka, a jovem germânica não se via constrangida em ter o seu corpo completamente exposto à Katsuragi.

— Que tal tentarmos de novo? Vamos ver se tem algo de bom aqui. – Disse Misato enquanto vasculhava as vestimentas sob observação de Asuka. Apesar de estar acostumada a sempre conseguir a melhor roupa para qualquer ocasião, nada que a sua pupila tinha ali era algo suficientemente adequado, ou maduro o suficiente, para um jantar de oficiais da Nerv.

— Uau, que surpresa, não é mesmo? Não tenho nada além dessas roupinhas infantis de uma garota de 14 anos. – Reclamou Asuka frustrada.

— Isso não é verdade, você tem isso aqui... – Misato puxou do amontoado de roupas aquele vestido preto amassado, tão escondido no canto que os olhos versáteis da capitã Katsuragi quase os deixam passar despercebidos.

— Eeh... Não, definitivamente esse não! – Asuka recusava balançando as mãos em negação. O vestido era relativamente simples, sem nenhum adereço mais extravagante, exceto pelas suas alças finas, um bordado estilístico no fim e um detalhe bem particular.

— Qual o problema Asuka? Ele ficaria tão bem em você. – Misato elogiou esticando o vestido entre ela e a garota, imaginando como ela ficaria vestida nele. Asuka solta um pesado suspiro e, tentando esconder sua face rosada pela vergonha, aproximou-se do vestido de modo que Katsuragi pudesse medi-lo no corpo da jovem germânica.

— Ah, acho que entendi o que você quis dizer, fufu... – Misato riu ao ver o final do vestido basicamente cobrindo aproximadamente metade das coxas da jovem germânica, que tentou disfarçar o seu rosto avermelhado com uma expressão mal-humorada.

— Sem chance que eu vou para uma festa vestida desse jeito. – Insistiu Asuka, que não conseguia convencer Misato.

— Ora, o que é isso Asuka, ele ficaria perfeito em você. – Argumentou Misato.

— Você acha mesmo que eu vou em um evento formal, encontrar os grandes oficiais da Nerv com... Er, minhas pernas tão expostas. – Repetiu Asuka.

— O Shinji iria amar esse vestido. – Misato provocou, tocando na ferida aberta de Asuka. Nada incentivaria mais a garota a ir vestida daquela maneira a menos que fosse para atrair a atenção de Shinji, tudo bem com isso, até porque era um encontro entre os dois, não é? O seu dilema era confuso e óbvio ao mesmo tempo.

— Eu não sei se devia... E se todos ficarem me olhando? Como se eu fosse uma vadia ou algo do tipo? – Asuka questionou com uma voz insegura, enquanto pegava o vestido das mãos de Misato e apertava contra o próprio peito. Misato percebia como o espírito imaturo de Asuka ainda falava mais alto. A capitã aproximou-se da garota e plantou suas mãos sobre os ombros da mesma.

— Se eu vestir um vestido preto parecido com seu, você aceitaria ir para o jantar? – Misato ofertou com um sorriso sincero, algo que Asuka reiteradamente duvidava sempre que recebia de alguém.

— Fufu... Você quer vestida igual a mim pro mesmo lugar, isso ficaria um pouco estranho, não acha? – Questionou Asuka, com uma risadinha tímida, ainda envergonhada por seu desejo de impressionar Shinji.

— Eu te garanto que isso é mais comum do que você pensa, pelo menos para o lugar aonde nós vamos. – Respondeu Misato, tornando a expressão de Asuka mais séria. Após breves segundos de silêncio entre as duas, e uma eventual troca de olhares, Asuka retomou o diálogo.

— V-você promete? – Pediu Asuka, algo que ela raramente fazia.

— Confie em mim. – Respondeu Misato, arrancando um sorriso da jovem germânica e deixando seu coração mais leve. – Agora que tal tentar provar esse vestido de novo? Tenho certeza que você ficaria maravilhosa nele. – Insistiu Misato, que aceitou o pedido sem hesitar.

Asuka deixou o quarto em direção ao banheiro por um breve momento, logo após retornar de lá vestida com a roupa que Misato tinha tão seletivamente escolhido para sua pupila. A garota se olhava no espelho de maneira mais altiva e confiante de que fez com todas as suas outras roupas, mesmo com aquele vestido provocantemente, curto exibindo grande parte de suas pernas sedosas, ela já não via mais aquilo como um problema.

— Minha nossa, Asuka, você está linda! – Misato elogiou, levantando-se da cama, se posicionando atrás da germânica que se exibia em frente ao espelho.

— É, acho que isso sim é digno da melhor piloto da Nerv. – Emitiu orgulhosamente Asuka, que apenas atraia a visão analítica minuciosa de Misato.

— Não está esquecendo de nada, não é mesmo? – Questionou Misato, que foi respondida por um olhar confuso de Asuka em sua direção. – Estou falando disso aqui. – Misato levou suas mãos aos seios pouco desenvolvidos de Asuka, fazendo-a corar imediatamente.

— Espera aí, o que... Awnm!... O que você está fazendo! – Asuka não conseguiu conter o gemido constrangedor e involuntário que ela emitiu ao ter seus peitos apertados por Katsuragi.

— Você não quer que ninguém ouça você gemendo assim quando estiver a sós com o Shinji, não é? – Misato desafiou Asuka, que voltou corar fortemente suas bochechas, descobrindo o quão importante era um sutiã naquele momento.

— M-me desculpe. – Respondeu Asuka, novamente envergonhada pela sua roupa, ao mesmo tempo que arrancava uma risada simpática de Misato.

— Fufu... Não se desculpe por tentar ser sexy, Asuka... Apenas seja discreta. – Misato declarou com uma piscadinha, seguida do assentimento positivo de Asuka, que ainda protegia os próprios seios com as mãos.

— Você não cansa de me provocar, não é mesmo? – Retrucou Asuka, que foi respondida por uma risadinha provocativa de Misato, antes de seguir para seu quarto.

...

O Alpine A310 de Misato cortava as ruas movimentadas de Tóquio 3 em velocidade, apesar de ter sido uma sexta-feira agitada, a rua estava deserta o suficiente para que Kaji pudesse saborear todo o potencial que o motor de 130 cavalos conseguia proporcionar. Não era de se impressionar, dado que faltava pouco mais de alguns minutos para a meia noite, porém tanto Asuka quanto Shinji não se importavam com aquele detalhe, apesar de serem mandados cedo para cama, nada os conseguia fazer dormir em algum momento que não seja na madrugada.

Shinji estava sufocado naquela camisa preta de mangas longas dada a ele por Kaji, não tanto quando Asuka, que apesar de estar confiante, ainda se sentia estranha por suas pernas estarem tão expostas assim ao jovem rapaz, que fingia não estar prestando atenção, mesmo que seu rosto corado denunciasse suas intenções.

— Shinji, você está bem? – Perguntou Misato, que apesar de também ter suas longas pernas tão visíveis quanto de Asuka, não despertava a mesma atenção envergonhada que a de Shinji.

— C-claro, eu estou bem. – Respondeu Shinji desviando seu olhar, o espaço largo entre ele e a jovem germânica, que escondia seu rosto avermelhado olhando para a janela, ela grande o suficiente para que ele pudesse disfarçar o volume constrangedor em sua calça.

— Não se preocupe, já estamos chegando. Eu sei como é ter essa sensação em público. – Respondeu Kaji, atraindo um olhar incrédulo de Misato, que naturalmente se enfezava sempre que ele se referia a ela.

— É só que... Eu não estou muito acostumado a ir em sociais como essa. – Mentiu Shinji, arrancando um sorriso de Kaji.

— A primeira vez sempre é mágica, você vai se acostumar bem rápido.

Diferente do que Shinji esperava, os arredores do local não eram tão movimentados como as festas que ele via nas revistas de cultura pop que constantemente Asuka mostrava para ele. Assim que Kaji estacionou o carro de Misato em meio a centenas de outros veículos, Shinji se deparou com a enorme torre iluminada entre prédios que a Nerv contratara para sediar seu evento.

— Crianças, nos esperem lá dentro, vamos segui-los em instantes – Misato ordenou enquanto ambos abandonavam o veículo.

— Espera, vocês dois não vão demorar muito, vão? – Shinji questionou em sua natural timidez de se misturar a tantas pessoas.

— Ai, anda logo! – Respondeu Asuka ansiosa, puxando a mão de Shinji enquanto saía do veículo, arrancando risadas de Misato.

— Espero que eles se deem bem hoje. – Misato complementou.

— Bom, eu tenho certeza de que eles vão se dar melhor do que nós. – Respondeu Kaji.

— Hã... Como assim? – Questionou Misato, que foi respondida por Kaji apontando o dedo em direção aos agentes engravatados em meio à multidão que ele temia serem a inteligência da Nerv ou do Governo Japonês. Desde que suas afiliações secretas foram descobertas, ele sempre temia ser preso ou morto ao ser reconhecido.

— Não quero que sua última lembrança de mim seja a de um corpo frio com uma bala na cabeça. – Respondeu Kaji. Apesar do arrepio repentino, Misato entendia como ninguém o quão arriscado era a vida de seu amante, o que a fez suspirar de frustração.

— Tome cuidado. – Misato disse antes de envolver seus lábios em um beijo longo e intenso com os de Kaji.

— A nossa noite ainda não acabou. – Respondeu Kaji, ofegante após o beijo. Misato assentiu enquanto tinha seu rosto acariciado pelo ex-agente.

Misato limpou as marcas borradas de batom nos arredores de sua boca e ajustou suas roupas bagunçadas pela intensidade do beijo. Apesar de prazeroso, ela detestava ficar excitada à toa, sabendo que passaria o resto da noite sozinha segurando vela para um casal de pirralhos que mal conseguiam quebrar o gelo da amizade. Mas nada deixava seu coração mais aquecido que ver Asuka ao longe puxando o braço de Shinji de um lado para o outro, com o garoto sem saber como reagir, mas adorando estar sendo tocado.

Shinji ficou mais aliviado ao ver figuras conhecidas como Maya e outros funcionários simpáticos da organização por lá, dando uma sensação de familiaridade ao local. Depois de algumas conversas esparsas e saudações rápidas, o grupo contemplou o largo elevador panorâmico que levava ao último andar daquele monumento arquitetônico tão onipotente, dos quais Shinji sempre observava de longe imaginando o quão incrível esses lugares poderiam ser. Finalmente ele teve acesso ao local onde todos se reuniriam, o local não era nada modesto, embora resguardasse bastante discrição; havia uma pista de dança no meio do salão e tracks de blues e jazz sendo emitido de algum lugar, capaz de ser audível por todo o recinto. O balcão negro coberto por bebidas de diferentes países e idades eram um deleite aos olhos de todos que estavam ali, exceto Shinji e Asuka, que ainda não compreendiam o que havia de tão incrível naquela sopa de bebidas alcoólicas variadas e coloridas.

Misato tomou seu lugar acompanhado dos seus dois pupilos, apesar da música sendo ecoada pelo salão, o silêncio constrangedor que se mantinha entre os três era perceptível, mesmo que Katsuragi conseguisse a todo momento costurar diálogos individualmente com cada um, seja sobre os EVAs ou as histórias emocionantes da vida universitária de Misato. Apesar disso, ambos não interagiam entre eles da maneira que a capitã queria, sua chance viria com a licença de Shinji para ir ao banheiro.

Enquanto saboreava seu Bloody Mary, Misato sentiu aquele papel toalha se arrastar sutilmente em sua direção, conduzido pelas mãos de Asuka, que demandavam sua atenção.

“Ele não parece estar muito interessado”. Dizia o papel escrito com batom, arrancando um sorriso de Misato, que respondeu da mesma maneira.

“Você já tentou tomar alguma coisa com ele?”. Respondeu Misato no mesmo papel. Fazendo Asuka hesitar.

“Bleh, eu não gosto do sabor de álcool”. Treplicou Asuka.

“Ninguém gosta, mas eu vou achar algo que vocês se interessem por aqui.” Misato prometeu com uma piscadela, fazendo Asuka rir antes de preencher o restante do papel.

“Você é a melhor, Misato ♥”

— O que você não faz por um pedacinho do Shinji, não é? – Provocou Misato antes de deixar o balcão e se dirigir a adega de acrílico no final do bar. Grande parte dos vinhos ali presentes vinham de conhecidos vinhedos pelo mundo, desde Château Beaucastel até Chambertin Grand Cru, o que à aquela altura da noite, já não fazia diferença nenhuma para Misato, Exceto pelo fato de todo aquele luxo líquido e roxeado era bancado pelos fundos da Nerv. “Gendo, seu irresponsável”, pensava Katsuragi enojada.

— Misato-san, é a senhora? – Shinji questionou.

— Ah, oi Shinji. Já voltou tão rápido?

— Não é nada disso... Eu só não consegui encontrar um banheiro. – Respondeu Shinji, Misato não conseguia deixar de sorrir sempre que o garoto transparecia sua inocência.

— Não se preocupe, eu te mostro onde é. – Respondeu Misato, enquanto guiava o garoto a um dos banheiros que o gigantesco estabelecimento tinha a oferecer.

— Muito obrigado, Srta. Misato. – Respondeu Shinji, se guiando a um dos corredores do local.

— Ah Shinji, espere, você poderia me fazer um favor? – Perguntou Misato. O garoto virou-se para sua tutora.

— Eu sei que é a sua primeira vez no meio de tantas pessoas, e eu sei também você não é tão acostumado com encontros desse tipo. Mas a Asuka estava muito animada pra que você viesse com ela... – Misato pediu a Shinij com uma voz gentil de apelo.

— Eu sei, por isso eu aceitei vir com ela. – Justificou Shinji, mais uma vez arrancando um sorriso de Misato.

— Não é disso que estou falando, Shinji. Escute... A Asuka está no auge de sua juventude, é normal para garotas não tirarem... Certas coisas da cabeça nesse momento, e você como amigo próximo dela deveria ajudá-la. – Argumentou Misato, o fato de Shinji enrubescer rapidamente denunciou ele ter entendido o que sua tutora quis dizer.

— Eu... Não sei como fazer isso.

— Você não precisa fazer muita coisa... No estado em que ela está agora, tudo o que você precisa fazer é provoca-la.

— Não é disso que estou falando... – Shinji tentou justificar.

— Não é muito complicado, eu posso te mostrar... – Misato aproveitou a privacidade que ambos compartilhavam dentro daquele banheiro para mostrar a Shinji o que ele deveria fazer. Aproveitando-se do seu desejo não saciado, provocado por Kaji mais cedo, ela encostou seus lábios nos de Shinji, fazendo-o avermelhar como nunca, dando passagem posteriormente para que as mãos da capitã corressem pelo peito do rapaz em direção ao seu pescoço. Não demorou até que suas línguas se encontrassem, o cheiro alcoólico que Shinji sentia era estranhamente erótico, ele quase conseguia sentir o gosto ácido da bebida que Misato saboreava mais cedo. Depois de poucos minutos no céu, Shinji voltava ao seu corpo enquanto Katsuragi separava seu beijo, lambendo seus lábios de maneira extremamente erótica.

— Acho que isso vai ser o suficiente. – Concluiu Misato com um sorriso gentil, desfazendo completamente da persona estranhamente sexy que beijou o garoto.

— Eu... Entendi... – Respondeu Shinji em meio a sua respiração ofegante. – Mas mesmo assim, eu não posso quebrar minha promessa. – Shinji argumentou.

— Promessa? – Antes que a curiosidade de Misato perguntasse mais alguma coisa, Shinji levou a mão ao seu bolso e puxou de lá um bilhete dobrado, escrito em papel de caderno escolar. O bilhete tinha a caligrafia bagunçada de Rei e estava escrito a lápis, com várias partes borradas por borracha, como se o autor tivesse reescrito várias vezes antes de entregar.

 

Ikari-kun

Fico feliz em saber que você está fazendo amigos
me desculpe por não ter conseguido almoçar com
você na sala, prometo que não vou mais me
esquecer de registrar meus dados na escola.
Eu soube que você foi convidado para sair com
alguém, eu não pude ir com você, mas espero
que se divirta.
Se você gostar dessa pessoa, quero que você
não deixe de compartilhar seu almoço comigo.
Eu gosto da sua comida.”

 

Misato sentiu o peso daquelas palavras de alguém que estava confiando plenamente em Shinji, o mesmo se confirmou quando ela levantou seu olhar em direção a Shinji e viu o sentimento de culpa que o jovem rapaz já carregava pelo beijo recém recebido dela.

— Shinji...

— Não se preocupe com isso, foi apenas por treinamento... Eu agradeço a sua aula, Misato-san – Respondeu Shinji corando levemente quando proferiu a última frase. – Mas eu não quero usar ela hoje.

O sentimento de culpa de Misato estava sendo fortemente reprimido, de certa maneira, ela sentia-se orgulhosa de Shinji, mas ao mesmo tempo que se preocupava com Asuka. A capitã jamais se perdoaria se a culpa que ela sentia naquele momento fosse transferida a Shinji por quebrar sua tão singela promessa.

— Me desculpe, Misato-San... – Shinji foi interrompido pelo abraço caloroso de sua tutora, que deitou sua cabeça sobre a dele, durando algum tempo antes do rapaz responder envolvendo seus braços no corpo de Katsuragi. A sensação de atravessar de um momento extremamente erótico como aquele beijo para um abraço aconchegante, no qual Shinji pode sentir o aroma do perfume feminino de Misato, era extremamente reconfortante para o jovem piloto.

— Você quer que eu leve você para casa, Shinji? – Misato respondeu com sua voz maternalmente gentil, o que fazia o coração juvenil do garoto aquecer.

— Eu posso voltar sozinho, obrigado pela noite, Misato-san. – Respondeu Shinji, separando seu corpo do de Misato. – Ah, e explique tudo para Asuka. Diga a ela que eu pedi desculpas. – Pediu Shinji, que foi respondido positivamente pelo assentimento de Misato.

Shinji mais uma vez a reverenciou e caminhou pela porta do banheiro, com a consciência tão leve quanto pesada estava a consciência de Misato.

...

O gloss labial que Asuka havia trazido consigo estava a ponto de acabar com a quantidade de vezes em que ela o retocava. Apesar de ser habitualmente irredutível, Asuka naquele momento via-se ansiosa pelo que a noite lhe reservava, suas fantasias românticas já tinham simulado todas as situações que sua criatividade europeia era capaz de produzir envolvendo Shinji, uma garrafa de vinho, um pedido de namoro e uma passagem só de ida para o paraíso com o garoto que ela aprendeu a gostar. Toda aquela empolgação era incrivelmente disfarçada pela sua pose discreta de mulher aguardando por alguém, deixando-a quase quer irreconhecível. Um verdadeiro barril de pólvora de hormônios.

Antes que ela pudesse reagir de qualquer maneira, sua audição aguçada identificou o som da taça sendo preenchida com um bom vinho tinto, servido pelas mãos habilidosas de Misato Katsuragi e sua vocação natural de garçonete sexy, que alimentaria os sonhos molhados de qualquer garoto na puberdade.

— Misato... Você chegou rápido. - Asuka elogiou, contudo, a expressão facial de Misato não estava tão otimista assim.

— Que tal beber um pouco? Vai te ajudar a relaxar. – Recomendou Misato, enquanto tomava um gole de sua taça.

Apesar de estranhar, Asuka obedeceu ao pedido e levou à boca a bebida alcoólica, seu o sabor levemente adocicado, seguido de um amargor duradouro, mas que a fazia ficar quente e extrovertida, fez com que sua vontade de provar mais daquela bebida crescesse.

— Hey, eu gostei desse... suco de uva meio blerg... O que é? – Questinou Asuka, apesar de ela sempre ter visto vinho dentro de garrafas chiques, importados da França, ela nunca imaginou que aquele líquido roxo delicioso estava lá dentro. Sua cidade natal não tinha muitos admiradores de vinho, e a maioria preferia cervejas locais, como bons alemães sempre fazem.

— Fufu... Você está reagindo muito bem pra quem dizia que não gostava de álcool. – Disse Misato rindo da reação receptiva de Asuka.

— Ah, mas isso aqui não tem álcool, ou tem? Que seja, quem liga, isso aqui é muito melhor do que Schorle. – Respondeu Asuka, servindo-se de mais uma taça da bebida com um ânimo pueril. Apesar de ambas não serem tão intimas normalmente, Misato conseguiu fazer Asuka se concentrar mais naquela garrafa escura de vinho barato do que no seu desejo apaixonado por Shinji, não era a melhor maneira de lidar com o problema, mas tirou o peso que a capitão estava carregando desde mais cedo.

— Hey, pega leve, você não vai querer ficar bêbada, não é? – Provocou Misato, depois de as duas já terem consumido uma segunda garrafa inteira.

— Eu não ligo, essa garrafa já me deixou mais feliz em algumas horas do que eu fui nos últimos... O que? 4 anos. – Respondeu Asuka, com um certo senso de ironia, o que fez Misato compartilhar daquela sensação com um sorriso.

— Não comece um namoro com o vinho, ele vai te deixar bem dolorida no dia seguinte. – Argumentou Misato, que foi respondida por risadas de Asuka. Katsuragi percebia como a jovem germânica conseguia aproveitar bem seus poucos momentos de felicidade, mesmo que terminasse a noite sozinha. A capitã percebeu que a garota pretendia contar algo intimo a ela quando, ao redor de seu sorriso, pintava-se em tom mais avermelhado em seu rosto, enquanto com um sorriso sincero, a garota olhava fixamente para os olhos de sua tutora. Asuka estava no clima de sentir-se mais à vontade com sua tutora aspirante a amiga de confiança, pode-se dizer que o fato de uma versão eletrônica de Bubblegum Bitch tocando de fundo, e seu ritmo aceleradamente contagiante naquele clima marasmático de fim de festa a deu motivos para confidenciar a Misato.

— Misato, como é beijar alguém? – Questionou Asuka, a pergunta fez Misato sorrir ao lembrar que tinha forçado a mesma sensação para Shinji, então ninguém era melhor que ela para responder àquela pergunta.

— Depende, de que tipo de beijo estamos falando? – Contrapôs Misato, a postura completamente confortável e sorridente de Asuka quase a tornava irreconhecível, deixando-a mais doce do que nunca.

— Hmm? Um beijo apaixonado, do tipo que você dá em um namorado. – Continuou Asuka, com o tom inocente de uma garota de 14 anos conversando com uma colega de escola. A postura constantemente dominante que a jovem germânica fazia, levava Misato a constantemente duvidar daquela personalidade.

— Bom... O Kaji sempre foi bem bruto na hora de beijar, mas... – Misato apertou suas pernas entre si, a lembrança agradável do beijo no carro a fazia fantasiar tanto quanto Asuka. – A maneira como ele tocava meu corpo quando me beijava era muito intensa.

Aquelas palavras entravam fortemente na mente de Asuka, que não conseguia parar de imaginar ambos em seus momentos mais íntimos e eróticos. Não era difícil para a garota criar essas fantasias com Kaji, afinal não era nenhum segredo a paixonite adolescente que ela tinha pelo seu antigo tutor. Mas nada a decepcionava mais do que saber que seu corpo feminino magro e esguio ainda não era suficientemente desejoso para Kaji.

— Eu tenho tanta inveja de você, Misato. Eu queria ter um corpo como o seu, talvez assim o Kaji se interessaria por mim também... – Respondeu Asuka tomando mais um gole de seu néctar roxo da verdade, arrancando risadas de Misato.

— Asuka, seu corpo ainda vai ser muito belo, não se preocupe tanto com isso. – Respondeu Misato incapaz de conter um sorriso, que foi respondido igualmente por Asuka.

— Você acha que posso ficar tão bonita quanto você? – Questionou Asuka em seu espírito sonhador, o que alegrava o coração de Misato.

— Não se encha tanto assim de esperanças, mocinha, eu não sou o Kaji para acertar na mosca assim. Mas eu acho que você vai conseguir achar um “Kaji” pra você. – Respondeu Misato sorrindo.

— Concordo, que pena que você não é o Kaji... – Respondeu Asuka, enchendo sua voz com uma entonação levemente sedutora, o que foi bem recebido por Misato. Asuka fez uma expressão decepcionada ao ver a última gota do vinho gotejar em sua taça.

— Hee?... Não temos mais dessa bebida... – Reclamou Asuka com uma voz mista entre frustração e decepção. Misato não conseguia deixar de amar as reações embriagadas de sua pupila.

— Não se preocupe, tem mais de onde esse veio. – Provocou Misato.

...

A noite estava dando seus últimos sinais de vida, com as luzes da cidade sendo as últimas coisas ainda acesas nas ruas de Tóquio 3, além dos faróis dos carros que raramente passavam pela rua. Asuka e Misato caminhavam sobre a calçada cimentada nas margens do maior canal da cidade. A caminhada longa, feita sobre seus saltos em direção ao apartamento de Misato era uma resposta dura à teimosia da capitã em se negar a pedir por uma carona do Kaji. Ela via como uma punição a ele por tê-la deixada excitada e insatisfeita o resto da noite, claro que não era culpa dele, mas seu ego jamais permitiria aceitar aquilo de graça.

— Misatoooo... Liga pro Kaji agora, eu não vou conseguir caminhar por mais um metro com esses sapatos. – Clamou Asuka.

— Eu não fazer nada até aquele idiota me mandar um pedido formal de desculpas... Registrado em cartório! – Respondeu Misato, seguido de gargalhadas de Asuka.

— Bom, nesse caso... – Entoou Asuka dando meia volta e posicionando-se atrás de Misato.

— Asuka, o que você... Ai! – Misato foi interrompida pela sua pupila segurando-se em seu ombro e entrelaçando suas pernas ao redor da cintura de Katsuragi. Tudo que manteve a capitão de pé naquele momento foi seu condicionamento físico militar invejável.

— Isso... É por você me fazer andar tudo até aqui. – Declarou Asuka de maneira punitiva, como uma guarda pune uma prisioneira. Arrancando de Misato um gemido de frustração. Apesar disso, o clima amigável entre as duas nunca esteve tão forte e íntimo, no qual o fato de ambas estarem completamente sozinhas e solitárias a fazia fantasiar.

— Misato...

— Humm...? – Misato já se movia basicamente pelos seus reflexos involuntários. Mas ela ainda foi capaz de ver o sorriso tímido da germânica, seguido de sua típica e doce face avermelhada, quando se preparava para fazer uma pergunta constrangedora.

— Eu sei que eu vou levar muito tempo pra beijar alguém e todo aquele blábláblá de adultos, mas... Você se importaria em me dar uma amostra grátis? – Pediu Asuka de maneira sedutoramente sexy, apertando os ombros de Misato em massagem, enquanto fazia pedido tão lascivo.

O coração de Misato disparou naquele momento, havia um misto de sentimentos e desejos em conflito ns sua mente logo após ela proferir aquelas palavras. Seu senso racional e responsável brigava cruelmente com sua libido e desejo, mesmo que aquilo nunca saísse dali e não passasse de um segredinho particular guardado entre as duas.

— D-Do, que você está falando, Asuka? – Questionou Misato, com sua voz visivelmente trêmula.

— Por favor, Misato... Eu tenho certeza de que o gosto da boca dele ainda está na sua... –Asuka sussurrou no seu ouvido, de maneira a arrepiar Misato. Não ajudava nada o fato de os braços macios da garota estarem abraçados ao seu pescoço, ao mesmo tempo que seu corpo magro, aquecido pelo álcool, reconfortava completamente o de Misato. Contudo, nada dificultava mais sua decisão do que sentir as pernas lisas e quentes de Asuka em suas mãos, enquanto a carregava.

— Asuka, por favor... – Misato tentava resistir ao máximo a tentativa intensa que sua pupila fazia de arrancar um beijo seu. “Não é apropriado, Misato, se controle” Pensava agressivamente Misato, assistir ao struggle pessoal de Katsuragi fazia Asuka sentir-se ainda mais excitada.

Ela abriu um sorriso antes de dar seu próximo passo.

— Prometo servir você muito bem, sempre que tiver vontade. – Asuka provocou uma última vez antes de Misato parar sua caminhada. A germânica assustou-se com a parada abruta que sua carregadora fez.

— Você promete? – Questionou Misato, arrancando de Asuka um sorriso malicioso.

— Tenha certeza disso. – Asuka sussurrou antes de passar sua língua pela parte externa da orelha de Misato.

— Não se acostume com isso. – Disse Misato, Asuka estranhou a orientação.

— Isso o que?

Misato, que já estava com Asuka em suas mãos, transferiu-a para sua frente em velocidade, deixando-a mais desorientada do que o álcool já havia feito.

— Me deixe provar o seu gosto. – Misato disse em uma voz sedutora, que foi recepcionado igualmente por Asuka.

— Sirva-se à vontade... – Respondeu Asuka, com o tom de voz igualmente sexy, rapidamente, a capitã pressionou o corpo esguio e magro da garota contra a parede de um dos vários becos ao seu redor. Antes que pudesse reagir, a jovem germânica foi surpreendida com a maneira como os lábios da sua capitã foram capazes de beijar tão intensamente os seus. Sua língua foi extremamente ofensiva, durante aquele intenso jogo erótico, suas línguas brigaram com a perseverança e personalidade que ambas demonstravam apenas em batalha. Os gemidos intensos enquanto ambas trocavam intensamente de saliva, ao mesmo tempo que o doce aroma de álcool que ressoava pelo ar a faziam lembrar daqueles momentos maravilhosos que ambas compartilharam no bar do evento; onde ambas estavam cheias de expectativas sobre a noite, e saíram de lá com não mais do que apenas o calor e desejo uma sobre a outra.

O beijo intenso era acompanhado de eventuais toques, Misato não cansava de apertar a ponta dos seios em desenvolvimento de Asuka, que emitia doces gemidos cada vez que Katsuragi abandonava sua boca e passava a chupar seu pescoço, com a mesma intensidade que Kaji fazia com ela. Era inevitável deixar um pegajoso fio de saliva que conectava a língua exposta de ambas, sempre que elas separavam suas bocas para poder respirar de maneira ofegante.

— Ahnn... Misato, continue, por favor! – Asuka dizia enquanto segurava a cabeça de Misato contra seu pescoço, uma parte tão sensível e sedutora para a capitã que ela não conseguia se conter em chupá-lo. Não demorou até que grande parte do torso e pescoço de Asuka ficassem cobertos de lindas marcas vermelhas, referentes aos chupões de Misato, que sorria orgulhosamente da felicidade de Asuka em estar completamente marcada.

— Você... Foi tão intensa... – Asuka mal conseguia falar em meio a sua respiração ofegante, sua língua mal conseguia parar dentro da boca aberta e sorridente, enquanto passava sua mão sobre a pele de seu pescoço, mergulhada na saliva de sua capitã, misturada ao suor da ruiva.

— Tem mais de onde esse veio... – Misato disse em sussurro, ao lado do ouvido de sua pupila.

— Sei barmherzig... – Emitiu Asuka em sua língua nativa, com um sorriso tímido e erótico. Misato preparou-se para tirar as alças do vestido preto de sua pupila, mas foi interrompida pela imagem dos carros da cidade que já começavam a habitar as ruas. Katsuragi deu um sorriso antes de plantar um beijo carinhoso no rosto de Asuka.

— Podemos fazer mais quando chegarmos em casa. – Prometeu Misato acariciando afetuosamente o rosto da jovem germânica, que respondeu com seu sorriso simpático de uma boa menina.

O amanhecer do dia não foi muito diferente dos outros, com exceção da mulher de cabelos roxo-azulados ter sobre seu peito, tranquilamente adormecida pelo cansaço, a garota ruiva com seus cabelos ainda úmidos pelo suor de uma noite intensa; ambas compartilhando um cobertor sobre a cama de Misato. A tranquilidade serena no olhar de Asuka era suficiente para fazer o dia da capitã suficientemente mais satisfatório, não porque as duas conseguiram elevar sua relação a um patamar extremamente íntimo, mas porque ela conseguiu fazer tudo aquilo sem ferir nenhum dos dois, nem Asuka e nem Shinji. A cabeça singelamente deitada sobre o peito de Misato, somado a respiração doce e calma da garota fazia o coração de Katsuragi palpitar rapidamente, nada como aquela visão maravilhosa para começar bem o dia.

— Não vai me acordar, Misato? – Perguntou Asuka levantando levemente o olhar, revelando-se estar simulando seu sono.

— Acordou cedo hoje, não é? – Respondeu Misato. Asuka sorriu docemente.

— Seu coração acelerado me acordou, prefiro ele do que meu despertador barulhento. – Respondeu Asuka, acariciando o torso de Misato. A capitã sorriu com o elogio enquanto a jovem germânica levantava-se nua da cama.

— Aonde você vai? – Questionou Misato.

— Você vai precisar de um bom café da manhã depois de ontem a noite. – Respondeu Asuka piscando para sua tutora, que relaxava tranquilamente sobre a cama.

— Obrigada, Asuka. – Respondeu Misato.

— Eu agradeço Misato... Por mim e pelo Shinji. – Respondeu Asuka se dirigindo a cozinha.

Apesar de ter tido uma noite intensa com a garota ruiva, nada tirava da cabeça o que aconteceria se o garoto nunca tivesse recebido nenhum bilhete e tivesse aceitado ao convite pervertido de Asuka para passarem a noite juntos. Seja lá qual for o resultado, ela aprendeu o poder que um beijo de Kaji era capaz de provocar nela e conhecendo ele como ninguém, ela nunca descartava a possibilidade de tudo ter sido armado por ele.


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Notas finais do capítulo

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