O que estávamos fazendo era considerado algo errado, eu sabia. Ele o líder dos Nines, eu a líder do Esquadrão 13. O que de mais errado poderia existir além disso? Já era motivo o suficiente.

Alfa, mesmo que arrogante e narcisista, se tornou o foco de todos os meus sentimentos, desde o ódio ao amor, ele me irritava de todas as formas possíveis e imagináveis, ele sabia exatamente o que fazer e dizer para me tirar a paciência. Em contrapartida, ele também sabia exatamente como me acalmar e como me tirar longas gargalhadas. Esse garoto me deixava louca.

Era quase impossível evita-lo, e eu estava constantemente tentando mantê-lo longe. Nunca tive êxito em nenhuma tentativa.

A medida que meu amor por Hiro se apagava minha paixão pelo Alfa se acendia e aumentava cada vez mais, eu estava começando a me preocupar com isso. Ele me encontrava, não importava onde eu estava, não importava com quem eu estava e muito menos o que eu estava fazendo. Ele estava sempre lá, mesmo que escondido. Sua teimosia em avançar estava vencendo a fraca barreira que criei entre nós. Quanto mais tempo eu aguentaria? Eu tinha certeza de que não seria muito, quanto mais ele avançava mais eu me deixava ser seduzida.

Eu definitivamente não queria ser vista como uma traidora pelos meus colegas de equipe, sei o quanto eles confiam em mim, todos são compreensíveis e imagino até que tentariam entender, porém a rincha entre os Nines e o Esquadrão 13 era profunda. Eles queriam ZeroTwo, e ZeroTwo estava com Hiro sendo parte do nosso esquadrão. Para conseguir Iota eles fariam o que fosse preciso. E eu não seria exceção, tudo o que Alfa está fazendo pode ser parte de um plano apenas para conseguir o que seu esquadrão mais quer.

Ele quer suja-la, fazer com que ZeroTwo carregue a culpa por algo que eles fizeram para recupera-la, fazendo com que a expulsemos e dessa forma ela não tenha outra alternativa senão retornar ao seu antigo esquadrão. Isso deveria ser óbvio, mas sinto que já é tarde demais para lutar contra esse sentimento. Eu não fui forte o suficiente para impedi-lo de entrar no meu coração, e não sou forte o suficiente para impedi-lo de ir mais fundo.

Eu estava vagando pelos corredores silenciosos do Jardim totalmente imersa em pensamentos quando sinto a mão de alguém tocar meu ombro. De súbito retorno a realidade e me viro em direção ao indivíduo que está atrás de mim.

Claro, se trata de ninguém mais ninguém menos que Alfa, já não bastasse ele estar em meus pensamentos ele tinha também que aparecer na minha frente naquele momento.

Como de costume ele me direciona aquele típico olhar de superioridade que não larga seu rosto por nada com o queixo um pouco erguido para que o ar ao nosso redor corresponda ao seu semblante. Eu o encaro franzindo o cenho em resposta e, quase instantaneamente, ele solta uma gargalhada retirando sua mão do meu ombro.

Eu mantenho o semblante taciturno enquanto ele se recompõe.

— Tem como você ser menos interessante? – Sua pergunta foi claramente retorica, mas aquela voz melosa sempre me desconcerta. Eu desvio o olhar sentindo minhas bochechas esquentarem.

Você sempre consegue me quebrar, Alfa.

— O que você quer? – Indago ainda olhando para baixo.

— Uau, que arrogante! – Ele responde num tom sarcástico – gostaria apenas de saber como a senhorita está hoje, a vi andando sozinha pelo corredor e fiquei preocupado, aconteceu algo?

— Uma pessoa não pode simplesmente andar sozinha sem ter nenhum problema? – A essa altura já estou o encarando novamente, aborrecida. Ele me irrita só por respirar!

Eu dou um pulo ao sentir sua mão tocar a minha, Alfa calmamente leva-a até seus lábios e a beija suavemente. Eu sinto o calor que se originou onde ele tocou subir e se espalhar pelo meu corpo rapidamente em resposta.

Minha carranca suavizou dando espaço para que meu rosto fique vermelho. Instantaneamente retiro minha mão da dele dando alguns passos atrás para me afastar e, consequentemente, encostando em uma parede.

Há um sorriso malicioso crescendo em seus lábios enquanto ele se aproxima lentamente de mim. Ele estende uma mão e a posiciona ao lado do meu rosto se apoiando na parede a minhas costas.

— Na verdade, eu queria vê-la. – Ele diz, se aproximando cada vez mais.

Viro meu rosto na direção contrário a que seu braço estava constatando imediatamente que não fora uma boa ideai. No mesmo instante em que sinto seu hálito quente próximo da minha orelha sua mão livre se posiciona carinhosamente abaixo do meu queixo, puxando meu rosto delicadamente até que meus olhos fiquem na altura exata dos dele.

Esmeralda contra esmeralda. Tudo o que eu conseguia ver era seus olhos radiantes me encarando, um perfeito par de pedras preciosas.

E então, tão logo ele fechou os olhos e me beijo, me fazendo prender a respiração com o ato inesperado enquanto me deixa sem reação por alguns segundos com os olhos arregalados.

Ao retomar o controle meu primeiro foi agarrar o colarinho do seu uniforme vermelho e empurra-lo. Mas algo me impedia de empurra-lo o bastante, deixando-o ainda perigosamente próximo de mim enquanto eu ofegava com o olhar baixo sem o soltar.

Eu não fazia ideia do que diabos eu estava fazendo, eu estava completamente confusa. Por que eu não o soltava? Por que eu o mantinha tão perto?

— Você quebrou um homem, Ichigo – Essas palavras não deveriam fazer sentido algum para mim, mas eu entendi perfeitamente o que elas significavam.

Sem pensar em mais nada eu o puxei para mais perto deixando meus lábios próximo aos dele e falei:

— E você quebrou uma mulher, Alfa.

Sim, eu quebrei um homem esta noite.

E então eu o beijei. Naquele corredor silencioso do Jardim onde eu sabia que ninguém nos veria, ninguém nos encontraria. Fora ali que eu enfim decidi que correria o risco, mesmo que fosse egoísta. Pelo menos naquele momento tudo o que eu queria era libertar o sentimento avassalador que estava queimando dentro de mim a semanas. Aquele seria nosso segredo, guardado a sete chaves.
            Ele quebrou uma mulher está noite.