O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 2
O lobo e o garoto aprendiz.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como esta é a minha primeira história fantasia, desculpa minhas loucuras, hehe.

Esse capítulo, esse pequeno momento de postar novo capítulo e você estar lendo, se chama a procura da felicidade. Aliás, lembre-se, qualquer autor procura esse item tão simples, mas que apenas leitores tem o poder...
Boa leitura!



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Depois de dias caminhando por florestas e campos, cheguei a um local mais quente e verde, onde encontrei um rapaz na beira de um riacho, não muito longe do vilarejo onde talvez encontrasse o meu procurado, segundo as informações em minha mente.

Enquanto observava-o de cima de uma colina pedregosa e afastada, percebi que talvez ele pudesse ser o mestiço, afinal havia um aroma de lobo nele que chegava até mim pela brisa. Desci da pedra escarpada e segui pelo bosque para me aproximar mais. Ele usava uma haste longa com um fio na ponta mergulhado na água, parecia concentrado e solitário. Segui pela margem do rio até chegar perto suficiente para poder analisa-lo melhor. O rapaz de cabelos castanhos e um dos olhos com uma cicatriz não me percebeu chegar e me deitar a cinco metros, achei que assim soaria mais amigável e não com intensão de comê-lo. Observei-o por longos minutos no silencio, era magro, usava vestes empoeiradas, carregava uma espada, tinha uma mochila ao lado e sobre os ombros um grande pedaço de pelagem escura. Levei uns instantes e umas inspirações fortes do ar para perceber que se tratava de pelo de lobo. De repente, ele moveu a vara, empolgado, e o anzol saiu da água vazio.

— Maldito! De novo! — esbravejou sozinho e então se moveu para a pequena lata ao lado, o mesmo lado em que eu estava, e o rapaz ficou imóvel. Aos poucos, levantou os olhos para mim e ao ser notado sentei-me. — NÃO! LOBO! — gritou desesperado. — Socorro! Vai embora! — tacou a lata com minhocas na minha direção e levantou-se rápido, largando a vara, agarrando a mochila e saindo correndo para o meio do bosque.

Covarde — pensei e tranquilamente fui seguindo seus passos. Desejei que aquele não fosse o mestiço ou teria muitos problemas com um medroso daquele nível que iria piorar mil vezes quando soubesse que uma alcateia inteira o procurava.

Sem pressa, caminhei pelo bosque de arvores, arbustos e um solo frio, me aproximei da entrada do vilarejo e entendi que não poderia continuar como lobo, não perto de humanos que gostam de usar nossa pele e nos temiam. Com um chacoalhar de cabeça e citando mentalmente ‘lobo-homem’ me transformei, saber fazer isso vinha daquelas informações que a feiticeira colocou em minha cabeça e depois de alguns dias eu já não me espantava.

Enquanto avançava pela estrada gasta de terra, ouvi e notei que os cachorros latiam para mim e muitos fugiam, mas eu também não gostava deles, mesmo estando na forma humana. Segui andando atrás de algum sinal do filho da feiticeira entre as casas e pequenos comércios. Acabei descartando o pescador ao considerar que o cheiro de lobo vinha daquele pedaço de pele que o cobria. Os humanos que eu via nas ruelas possuíam vestes simples e murmuravam entre si com estranheza quando eu passava, temi que talvez soubessem que eu não fosse como eles, mas segui meu objetivo, agindo o mais humano possível que eu podia imaginar.

Perto do meio dia, cansado, observei um par de cavalos galopando pela rua principal. Pareciam viajantes chegando, pois carregavam mochilas em suas montarias e vestia-se com longas capas. O que montava o cavalo branco possuía um manto azul e o do cavalo castanho um manto cor de avelã. Assim, com a poeira que passou por mim, veio o cheiro. Era ele! De alguma forma eu sabia com certeza, apesar de meu faro não ser perfeito naquela forma humana.

Segui os dois homens até uma estribaria, onde deixaram os animais para serem cuidados. Encostei-me a uma cerca de madeira e meu coração palpitou assustado. Eu podia sentir a energia de um feiticeiro completo vindo deles, ele estava ali e próximo. Era o homem de azul, ele mais que ninguém, poderia descobrir que eu era um lobo e por todos contra mim.

—... Espero que levemos anos para uma próxima viagem — comentou o mago, um homem velho e de barba quase totalmente grisalha, enquanto saiam do lugar.

— Por quê? Eu gostei — o mais novo carregava um cajado pendurado nas costas, parecia mais disposto depois da viagem. — Podíamos ir para Aghantar, ao leste, na próxima semana! Aposto que lá terá mais pessoas precisando de ajuda e livros que nunca vimos. E é uma cidade maior!

O homem riu cansado, enquanto seguiam para a rua de terra e se distanciavam do estábulo devagar.

— Ah, jovem aprendiz, temos que passar dois ou três anos mais calmos para que aprenda sobre você. Está quase na hora de conhecer todos os seus verdadeiros poderes e terá que adaptar seus conhecimentos a eles.

— Aff, eu posso fazer isso enquanto sigo descobrindo outros lugares!

— Há muitos perigos no nosso mundo, garoto. E não estais com saudades de Flora?

— O que? Claro que não! Como pode ter esses pensamentos com sua própria filha!

— Ora, não inverta as coisas, Luahn, sabes que não tenho mais paciência para isso. Além disso, Flora certamente espera seu retorno ansiosamente.

— Ah, eu espero que não.

— Ela é uma jovem bonita e desejada com habilidades dignas. Serão perfeitos. Acredite.

O garoto ficou em silencio e de repente parou:

— Mestre! Esqueci algo em meu cavalo. Vá à frente, logo estarei em sua casa. Até!

Quando vi o rapaz retornar, ele me olhou diretamente, então dissimulei, fingindo juntar algumas ferraduras que estavam penduradas na cerca até ele entrar no estábulo e ir falar com o homem que cuidava dos cavalos. Era uma boa chance de me aproximar, já que não estava com o feiticeiro.

Após alguns minutos o garoto saiu, não olhou para mim, foi caminhando pelas ruas e logo sumiu em uma esquina, o segui. Não estava fazendo o mesmo caminho que o mestre dele fez, parecia estar passeando, e de repente virou algumas esquinas seguidas em um labirinto de ruas estreias entre algumas casas. Tentei ficar mais perto, mas logo o perdi e dei alguns passos com a sensação estranha de nada, parei... Não pensava, não sentia cheiro, não me movia, minha noção de tudo sumiu por alguns segundos.

Então, depois, virei-me e comecei a retomar o caminho que fiz, mas numa esquina dei de cara com ele, quase o atropelando. Eu não tinha ideia de como ele foi parar atrás de mim e isso fez meu coração acelerar. Apesar de ele ser apenas aprendiz, algo sempre me dizia para ter cuidado com feiticeiros. Nós nos encaramos. O garoto era jovem, tinha os olhos da mãe e o mesmo porte físico que meu corpo humano, porém seus cabelos eram dourados e com ondas sutis. De repente, sua expressão assumiu um sorriso torto e divertido.

— Você é bonito.

— O quê? — estranhei, confuso.

— Eu falei que você é bonito — respondeu naturalmente e analisou meu rosto, relaxando a postura.

— Não diga isso! É estranho. Ninguém diz isso para alguém que mal conhece — respondi, incomodado, e ele riu.

— Eu digo: Você é bonito.

— Não fale isso! — rosnei.

— Calma. Qual o problema?

— Um homem não diz isso para outro.

— Claro que sim. Eu disse — contestou e pareceu rir.

Ele divertindo-se comigo me deixava irritado. Sabia que um folear de mãos ou uma palavra e ele podia fazer algo contra mim, mas eu estava prestes a fazê-lo ficar quieto.

— Não volte nisso!

— No que?

— Em dizer que você diz o que não é normal dizer!

— Que você é bonito.

— Pare!

— Quanto estresse! Parece até que isso te incomoda. Se se sente especial por ouvir isso, acredite: você não seria o primeiro ou primeira a ouvir vindo de mim. Mas você é mesmo interessante.

Calei-me, o encarando irritado. Ele era petulante e estava mesmo me sentindo envergonhado diante daquele tema estranho.

— Você tem algo diferente... Gosto disso, é intrigante — ele disse, estreitando olhar e com um sorriso torto.

— Para com isso!

— Parar com o que agora? Só estou conversando.

— Para de flertar comigo!

— O que? — e deu uma gargalhada rápida. — Eu não estou fazendo isso! Mas, talvez, seja você que queira pensar isso porque quer estar aqui, ouvindo o que eu digo...

— Não distorça o que eu disse!

Por uns segundos ele ficou quieto, me encarando sem expressão. Eu achei que ele tinha terminado, mas então se agitou:

— Há! Viu! Você quer ficar! Se você não quisesse já teria ido embora depois que nos encontramos nesse lugar vazio e nem daria a chance de eu fazer qualquer comentário! Ou, no mais, me daria às costas sem qualquer resposta assim que te disse que era bonito; qualquer homem que se incomode em ouvir isso teria ido assim que tivesse a oportunidade.

— Cala a boca! — e numa súbita irritação e instinto de matar qualquer coisa que me perturbe, avancei contra ele. Infelizmente, entre nós, um campo de energia dourado surgiu e me repeliu. Bati em uma parede e fui cair um pouco distante, jogado sobre as pedras do calçamento com uma linha queimando minha pele sob a clavícula e na extensão de meus braços, atingindo meus músculos.

— O que foi isso? — ouvi o aprendiz questionar, realmente confuso.

Não disse nada, ainda me lembrava da sua expressão de medo quando o ataquei e sua única ação foi tentar proteger seu corpo com os braços como um humano comum, ignorando a feitiçaria.

Ouvi os passos dele vindo em minha direção, o vi agachar-se ao meu lado e logo tocou a gola de minha camisa, o empurrei, quase odiando sua aproximação e seu toque. Contudo, ele estava determinado e insistiu com uma cara séria, tentando puxar minha roupa, então segurei sua mão e o contive. Mas ele usou a mão livre, simplesmente tocou o meu pulso e disse algo que não ouvi e imediatamente minha mão o soltou e foi repousar do lado de meu corpo esticando meu braço, como se usasse uma algema de ferro pesada. Meu coração bateu mais rápido, ele poderia fazer mais que apenas me segurar.

— Solte-me! — disse-lhe irritado, mas ele já fazia o mesmo com minha outra mão, me mantendo deitado no chão.

O garoto não me ouviu, só parou me encarando nos olhos, concentrado e talvez refletindo profundamente sobre algo, nem parecia àquele petulante que distorcia as coisas que eu dizia. Quando fiquei quieto e mais calmo, tentando entender o que ele pensava, o garoto se aproximou mais sutil e desabotoou a minha camisa até o peito, tocou minha pele sob a clavícula, analisando-a. Minha respiração estava um pouco dificultada por sentir aquele calor estranho do toque humano em meu corpo, era tão incomum pra mim, mas de alguma forma era confortável e eu não conseguia deixar de ficar atento a suas ações.

— Eu vi... — murmurou o feiticeiro quando colocou a palma aberta sobre minha pele, depois disse frases baixas e finalizando com: — destaque.

Um brilho claro e sutil veio de mim. Eu não conseguia ver o que era, mas logo percebi o olhar curioso do garoto e seus dedos se moveram na linha em baixo da minha clavícula que seguia para meus braços.

— São runas — ele disse ficando admirado. Seus dedos percorreram-nas até meu ombro e retornaram para a clavícula, depois, para minha surpresa, começaram a descer na direção do meu abdômen, causando cosquinhas e um pouco de aflição em mim.

— Pare! — avisei, tentando soar firme, e ele estagnou, me encarando. Pude ver sua oposição antes que falasse:

— Preciso saber até onde você está preso nesse encanto.

— Isso não te importa. Solte-me! — Me movi, tentando soltar-me, mas meus pulsos ainda pareciam presos com aço grosso.

— Sendo um feiticeiro, talvez possa te ajudar. Aparentemente, você não pode atacar os magos e isso pode ser por causa dessa corrente gravada em seu corpo.

— Idiota... — murmurei irritado pelo seu ar de herói. Mal ele sabia que eu não podia atacar ele, só ele.

— Tadinho. Não fique bravo com a gente só porque foi contido por algum outro feiticeiro. Você provavelmente não deve ter sido legal com alguém.

Ouvimos passos na ruela e logo duas mulheres com grandes cestos cheios de roupas surgiram numa esquina. Elas pararam de imediato e o rapaz ficou de pé, surpreso, fazendo meus pulsos ficarem livres. E, antes que eu sentasse-me, as mulheres sumiram.

— Isso é meio constrangedor — ele comentou. — Eram as lavadeiras do meu mestre, não sei que impressão elas tiveram com isso.

Quando fiquei de pé, o brilho das runas da corrente em mim havia sumido completamente, então fechei a camisa.

— Meu nome é Luahn — apresentou-se e esperou um retorno.

Dei as costas e me afastei cinco passos, determinado a deixá-lo para trás, mas então me lembrei de que minha missão era estar com ele e protege-lo. Parei, inspirei fundo para ter paciência, e me voltei para ele. O garoto estava parado no mesmo lugar, com uma expressão frustrada que logo ganhou um ar renovado.

— Eu não tenho nome.

— Como não? Perdeu a memoria? — fez alguns segundos de silêncio me observando. — Ah, claro! Pode ser um efeito colateral do feitiço. Você não é do vilarejo, já tem um lugar para ficar?

— Não.

— Ótimo! Tenho um espaço no meu quarto que é do seu tamanho, parece que você não tem nada com você mesmo.

Confrontando o olhar dele, refleti com desconfiança. Ele era realmente autoconfiante demais para querer levar um estranho para sua toca sem saber nada, por outro lado, acredito que ele tinha fé na sua teoria de que eu não podia machucá-lo.

— Bom, de qualquer forma, se quiser, encontre-me na estalagem depois de anoitecer. Fica no fim da rua do açougue.

Dito isso, ele seguiu seu caminho com um sorriso amigável. Ao menos ele tinha facilitado que eu ficasse próximo.

Depois desse encontro, o segui a uma distancia maior e mais cauteloso, descobrindo onde ficava a casa do mestre dele. Enquanto ele estava lá, fui até ao bosque mais próximo, arrumar algo para comer.


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Notas finais do capítulo

Aí, no próximo tem ação! Eu dou garantia, deixa alguma palavra pra mim, pode ser um oi ou espero um próximo.♡

Enfim, até o próximo capítulo!



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