Se existe uma palavra que Sonic nunca usaria para definir Shadow, certamente era ‘carinhoso’.

O ouriço ébano era um caso à parte, sempre isolado, quieto e de poucas falas. Sempre envolto em sua própria bolha pessoal, com seus pensamentos que nunca compartilhava com ninguém, mesmo que Sonic tivesse muitas vezes tentado desvendar o que ele escondia por trás do timbre frio e olhar apático.

Algumas vezes conseguia tirar de seus lábios uma ou outra palavra diferente, uma frase mais complexa, uma oração nova. Shadow era como uma caixinha de surpresas, com segredos escondidos aqui e ali, mas precisava de cuidados para que não perdesse o progresso.

Era idêntico a andar em uma corda bamba, sem qualquer proteção para lhe amparar. Mas não chegava a ser o mesmo que caminhar sobre ovos.

A primeira surpresa que teve, foi descobrir um senso de humor que pensava ser inexistente. Ele ria e sorria com uma frequência que poderia assustar, mas, com o tempo percebera que apenas se tratava da confiança que ele passou a ter para demonstrar suas emoções mais... Comuns.

Mas não eram comuns para Shadow. Ele não era comunicativo e emoções eram algo raros para ele, difíceis de vir à tona, ao contrário de si, que conseguia demonstrar com extrema facilidade uma gama de expressões sem precisar se esforçar.

A dificuldade de Shadow em demonstrar qualquer tipo de emoção fora algo novo para apreender e lhe deixou semanas pensativo sobre, descobrira que, por mais tempo que ele teve contato com o ouriço ébano, mas tinha certeza que as emoções que ele mais demonstrava era irritação e raiva. Ela claro quando ele estava irritado, quando ele sentia ódio de algo. Mas nunca o viu demonstrar outros sentimentos mais.

Se recordou da primeira vez que o encontrara, do olhar de raiva em seu rosto, da arrogância que sempre demonstrava ao querer demonstrar sua superioridade. E, depois, quando o reencontrara, no meio de Frog Forest, rodeado por Rouge e o robô que mais tarde descobrira que seu nome era Omega, parecia diferente, como se algo estivesse faltando.

Como se não fosse mais o mesmo.

Algo em sua personalidade o deixara mais, retraído, desconfiado e por alguma razão, parecia estar intrigado com ele, curioso, embora nenhum deles soubessem explicar, era claro. Eles eram parecidos e, Shadow não tinha nenhuma memória, seu passado uma completa incógnita, desconhecido.

Mas, mesmo que agora ele soubesse o suficiente sobre quem era, o que representava e porque existia, ainda existia a barreira de suas emoções, desde que nunca tivera experiências antes, seus relacionamentos eram escassos, mais com relação ao trabalho que por amizade verdadeira.

Exceto claro, por ele.

Sonic rolou na cama, de barriga para baixo enquanto seus pés descalços balançavam, apoiou sua cabeça pensativo, um sorriso bobo no rosto.

Ele fora o ponto inicial, o incentivo que Shadow precisava para aprender sobre o que era as emoções, sobre o que cada uma significava, como era a sensação delas.

Tomara para si a tarefa de professor, para ensiná-lo cada uma das emoções que o ouriço ébano desconhecia, mesmo sabendo que a ideia agora era bobinha, Shadow parecia realmente intrigado com a proposta, então cada dia, Sonic tentava explicar o melhor que podia e se o ouriço fosse um bom aluno, seria recompensado.

Mas, com o tempo a desculpa para contato acabou sendo desnecessária conforme a relação progredia, deixaram de precisar de pretextos para se verem, deixaram de mentir para si mesmos.

Apenas aceitaram.

Então dedos começaram a subir por suas costas, as unhas curtas raspando em sua pelagem curta, o contato fora repentino, embora não inesperado. Ele sabia de quem eram aquelas mãos, sabia o porquê do colchão se afundar de um lado, enquanto fechava os olhos esmeraldas e suspirava, o carinho desceu até sua cauda e subiu lentamente, provocando a pele, causando arrepios gostosos que o ouriço aprendera a gostar tanto.

— Bem-vindo ao lar. — Sua voz era apenas um ronronar.

A mão se adentrou entre os espinhos dorsais, coçando a pele quase intocada, os dedos despreocupados em meio a floresta de espinhos afiados e mortais. Sonic tombou a cabeça para trás, enquanto um gemido fino e tremulo dançava por sua garganta.

— Obrigado. — A voz era rouca, cansada, o ouriço cobalto só podia imaginar que fosse mais um dos dias em que ele era obrigado a ficar trancado em um escritório preenchendo formulários.

A língua quente envolveu a orelha esquerda, os dentes afiados mordendo de leve. Um sorriso deslizou pelos lábios de Sonic.

— Também senti sua falta. — Riu enquanto virava seu corpo, fazendo com que o braço que estava tocando suas costas ficasse para trás e o corpo do ouriço ébano viesse de encontro ao seu.

Esmeraldas e rubis se encararam, sem fôlego, pêssego manchado de rosa e peitos arfantes se tocando, a respiração quente sendo jogada uma no rosto do outro.

Braços pêssegos se moveram para a jaqueta de trabalho, aproveitando o pouco espaço que tinham para se moverem, tirando a única e inconveniente peça de roupa que Shadow era obrigado a usar, suas mãos desnudas deslizavam pelos músculos rijos, firmes e evidentes, enquanto seu nariz aspirava aquele cheiro almiscarado que nunca havia sentido similar.

Shadow apenas não assistia, sua cabeça desceu, sua boca alcançando toda pele acessível, testa, olhos, bochechas. Deu um meio sorriso antes de finalmente tocar os lábios com os seus, o ósculo começando de forma tímida, com breves e leves selinhos, seus braços segurando seu peso enquanto as mãos pêssego trêmulas deslizavam por seu peito.

Sentindo os músculos que já conheciam, sentindo a força, o poder, o calor. Até que elas pararam no pescoço, segurando com força como se para manter seus corpos unidos. A boca de Shadow se moveu, delineando a mandíbula, dando espaço e tempo para que Sonic recuperasse o folego, até que o ouriço negro surpreendeu seu companheiro ao virar seus corpos, ficando por baixo e deixando um Sonic arfante e corado em cima de si.

Com as mãos agora livres, moveu o braço para tocar a pele aquecida, enquanto a outra mão arranhava o lado direito da cintura cobalto, traçando linhas invisíveis no pelo curto.

O polegar apenas deslizava pela bochecha, mas não tinha um sorriso carinho nos lábios ou a expressão apaixonada de filmes de romances.

Mas Sonic sabia que não precisava disso, Shadow aprendera de outras formas demonstrar emoções, mesmo não sendo comunicativo, aprendeu lê-lo.

Shadow era a última pessoa na qual o adjetivo carinhoso poderia ser atribuído, mas Sonic não se importava em como a relação deles eram vistas, não se importava se seu namorado tinha dificuldades em se expressar. Apenas sabia que ele gostava de si.

— Eu amo você. — Disse finalmente. Assim que sentiu que sua voz estava estável.

O ouriço ébano levantou a sobrancelha, pego de surpresa pela declaração.

Se sentou levando Sonic consigo em seu colo, os olhos esmeraldas estavam baixos, como se tímidos. Uma mão no queixo levantou-o, obrigando-o a encarar rubis inquisidores que pareciam lhe encarar até a alma.

Então a outra mão fora para as costas, logo acima da cauda, o rosto se aproximando lenta e suave e Sonic não precisava de mais nada.

Ele já tinha seu “eu amo você também”.

E era isso que importava.

Fechou os olhos, se entregando a um dos beijos intensos e suaves que já experimentara, sentindo nos lábios a intensidade do sentimento que não conseguia ser dito.

E isso bastava.