Estrelas escrita por Urano


Capítulo 2
Pela primeira vez


Notas iniciais do capítulo

“[...] Alimentava esse desejo egoísta de ter alguém para descobri-la, desvendá-la. Alguém que soubesse que ela apreciava mais café do que chá. Que amava chocolate. Que ela secretamente gostava de música clássica trouxa. Que ela, na verdade, se perdia o tempo todo em pensamentos; tinha dificuldade para se focar no mundo a sua volta. Que ela gostava das palhaçadas de Blaise, afinal, apesar de ser a primeira a mandá-lo calar a boca. [...]”



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pela primeira vez
you taugh me the courage of stars

Eram seus olhos escuros, as sobrancelhas arqueadas e os cabelos negros, tão perfeitos e alinhados durante o dia — mas bagunçados de uma forma tão… sexy, durante a noite. Uma bagunça certa, de algum modo, como se fosse pensada e preparada para ser assim.

Seus olhos escuros… como o céu, na madrugada, sem estrelas. Pansy, que gostava tanto de observá-las, doava todas as estrelas que deveriam estar em seu olhar para o céu.

Era estúpido, romântico, demasiado doce. Mas Hermione não conseguia impedir-se de devanear. Não em momentos como esse, pelo menos, e não sobre ela. Hermione Granger, tão centrada e inteligente, não conseguia controlar seus próprios pensamentos quando se tratava dela, Pansy Parkinson, a garota mais fascinante que já conheceu.

E isso era algo. Hermione sempre foi emotiva — sabia que desconcertava os garotos com suas lágrimas e que talvez colheres de chá emocionais como Ronald Weasley nunca compreenderiam por completo todas as emoções que ela sabia abrigar dentro de si. E, apesar do que qualquer um poderia achar, Hermione estava bem com isso, com suas emoções e sentimentos. Não os tentava impedir — sua parte racional estava de acordo com o que sua sensibilidade falava, e estava tudo bem.

Mas, ao mesmo tempo, Hermione nunca se perdeu na parte mais… abstrata dos sentimentos. Nem sabia que isso existia. Enquanto emotiva como era, Hermione não se perdia em si mesma. Sempre fora pé no chão, nunca viu razão para se importar com mais do que aquilo que poderia ver — apesar de ser uma bruxa, magia e tudo isso. Era a visão de Hermione do mundo. Funcionava bem para ela (afinal, não é como se ela tivesse outra para comparar, correto?).

Mas… ela não podia se prender com Pansy. Não parecia certo. E, então, ela estava aqui devaneando sobre coisas que ela não entendia por completo… mas que lhe pareciam naturais. E isso parecia correto. Era uma situação inédita em suas emoções que sua parte racional não entendia — mas concordava mesmo assim.

Ela amava o sorriso dela. E a risada, então? Era algo que enchia o seu peito com felicidade borbulhante. Com carinho. Demorou muito tempo para Pansy começar a sorrir e a rir enquanto conversavam e mesmo isso era raro. Hermione gostava de pensar que era algo reservado apenas para ela. Nunca havia visto Pansy rir fora do mundo particular criado para as duas, a noite, quando a escuridão e o brilho da lua caiam sobre elas.

Mas, até então, nunca havia visto muito Pansy de qualquer forma que fosse, antes do trabalho de Aritmancia juntá-las; a sonserina sempre havia chamado sua atenção, sim. Pansy Parkinson era a amiga poderosa e distante de Draco Malfoy, aquele que vivia para atazanar Harry e a ela, por consequência. Parecia ser muito simples desvendá-la, fazendo parte de um aparentemente estereótipo, “o trio de prata”, os vilões colegiais da história — mas Hermione sabia melhor do que descartar qualquer pessoa que fosse; apesar de não ligar nem um pouco para pureza de sangue, sabia que a sociedade a sua volta ligava e era esperta o suficiente para analisar e classificar qualquer potencial perigo ao seu redor. O trio de prata, antagonistas estereotipados ou não, eram um potencial perigo para seus objetivos, já que a sociedade os colocavam assim. Portanto, Hermione analisava.

Sua leitura das pessoas era superficial, porém precisa, na melhor das hipóteses. Draco era mimado, mas também era esperto. Sabia o que o nome Malfoy significava e sabia se beneficiar disso. E, embora fosse inteligente, desprezava a maioria das coisas porque foi ensinado assim; não era muito de questionar. Blaise era sarcástico, galanteador. Não parecia ser tão ciente de seu sobrenome quanto Draco, mas sabia que era uma presença a ser considerada. Era divertido, gostava de ser engraçado, o que escondia muito bem de qualquer um que não fossem seus amigos; sua expressão altiva e superior fazia um bom trabalho em esconder que ele era, na verdade (se o que ela havia observado quando ninguém mais prestava atenção estava correto), tão bom em piadinhas sem graça quanto Rony.

(Se alguém um dia lhe falasse que essa “classificação” que Hermione fazia era algo muito sonserino, catalogando pessoas por sua potencial ameaça, Granger primeiro encararia a pessoa com surpresa, para depois descartar o pensamento com uma risada. Não era algo sonserino, o que quer que isso queira exatamente dizer. Hermione sabia de seu potencial e sabia que haveria obstáculos para alcançá-lo, principalmente por coisas simples como… ela ser quem era. No mundo trouxa, a sua cor. No mundo bruxo, o seu sangue. Era esperta para saber que era preciso estar atenta. E Hermione estava.)

E, então, como a última integrante do Trio de Prata, havia Pansy Parkinson.

Hermione não conseguia tirar nada dela. Veja, todas as observações feitas sobre Blaise e Draco foram conclusões tiradas a partir de encontros ocasionais (não era como se ela realmente se dedicasse a isso — ser observadora era uma segunda natureza para ela, não exatamente algo em que ela investia muito de tempo). Enquanto ela havia conseguido bastante informação a partir disso, com Pansy… apenas não havia nada. Era como se a sonserina estivesse sempre distante, sempre demonstrando o mínimo possível, sempre… intencionalmente vazia.

Quando foram colocadas juntas naquele trabalho de Aritmancia, Hermione se perguntou se tinha um desafio à sua frente. Será que seria ali, finalmente, a oportunidade para descobrir quem era Pansy Parkinson?

E ela descobriu. Ela conheceu.

Ao chegar perto de Parkinson, suas estrelas e seu modo de encarar a vida, Hermione teve a sua própria mudada. Ela chegou perto de Pansy e a descobriu, aprendeu cada detalhe dela e se apaixonou por eles. Preencheu espaços em sua mente, se infiltrando em sua forma de ver o mundo. Era fácil se afogar nela, em seus mistérios, tentar desvendar o que ela queria dizer por trás de cada olhar e expressão vazia.

Ao chamar a atenção de Hermione para as estrelas, a solidão delas, o brilho único, sua coragem em existir, Pansy também chamou a atenção de Hermione para si mesma. Por suas histórias, por sua bagunça confusa, por mostrar o que era ser uma pessoa. A beleza de existir.

Não era sobre sexo, sobre como sua mão se encaixava tão bem na dela ou como Pansy poderia desencadear reações confusas em seu corpo apenas por um bocejar ou algo igualmente banal. Isso era bom também e Hermione era um pouco apaixonada por essas coisas, mas era mais, apesar de não saber especificar o que exatamente era esse mais.

Era como Hermione lembrava de Pansy quando tomava café, por que sabia que era a bebida que ela preferia (apesar de todo mundo tomar chá, por Merlin, elas eram britânicas); ou como Hermione sorriria ao comprar, em Hogsmead, algo particularmente doce, porque, quem imaginaria, Pansy tinha algo pelo açúcar; como a grifinória procurou sobre música clássica trouxa porque tinha que entender o que era que fazia o sorriso de Parkinson subir daquele jeito malicioso e secreto quando falava de “um instrumento interessante de ampliação emocional” (seu rosto e sua voz estavam tão inexpressivos como sempre quando disse isso, mas o sorriso… os olhos… Hermione não se deixava mais enganar).

Era a forma como Pansy parecia emocionada além das palavras quando Hermione tocava seu braço levemente para fazê-la voltar de seja lá onde seus pensamentos a teriam levado dessa vez; o alívio em seus olhos por Hermione não ficar chateada por forma dela de ser. E também era como Granger pensava na sonserina quando ria e repreendia Rony por alguma piada idiota — elas já haviam conversado na divertida semelhança entre Ron e Blaise, mas o que elas não haviam conversado era sobre como secretamente aquilo as divertia em imenso.

Pansy a havia ensinado a se apaixonar pela vida. Pelas estrelas. Mas também a havia ensinado a se apaixonar por ela, por seus pequenos detalhes, no caminho.

Quando Hermione Granger olhou para Pansy Parkinson e a viu pela primeira vez… foi a primeira vez que tudo isso a atingiu. Os raros e apaixonantes momentos onde ela conseguiu contemplar Pansy como ela era, como a estrela brilhante e tão hipnotizante, atraindo Hermione em seu espaço.

Era tão absurdo que Pansy pudesse considerar ser um cometa, quando a ensinou tanto. Mas Hermione sabia — tanto quanto amava os detalhes e Pansy Parkinson, nunca seria capaz de entendê-la, desvendá-la e descobri-la por completo.

E, enquanto em outra vida, enquanto nessa vida, Hermione ansiava por tentar, por ir atrás de todos os pequenos detalhes, o mundo não era tão gentil. Em outra vida, em outro mundo, talvez; mas não era como seu mundo era. Talvez por Hermione nunca ter entendido tudo o que eram muito bem, apesar de nunca terem pensado sobre o que exatamente era o mais — talvez por isso não tenha doído tanto quando, inevitavelmente acabou. Foi a guerra, foi a morte de Sirius, foi o sofrimento de seu melhor amigo, foi o mundo real jogando em sua cara o que elas teriam de fazer… foi. E está tudo bem.

(E, às vezes, Hermione poderia parar, talvez para observar uma noite escura [que nunca mais teve a mesma magia]. Ou olhar para Harry, pensar em Draco Malfoy e saber que mais alguém também teve de escolher largar o mais. Ou algo ainda menos significativo, como uma xícara de café ou ouvir acidentalmente música clássica. E, enquanto doía, também era bom. Certo, natural e apaixonante, mesmo depois de todo esse tempo. Hermione ouviria um sussurro que não sabia ao certo se alguma vez existiu, em uma música que era só dela — eu irei contar as estrelas sobre você.

E Hermione sorriria.)


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Notas finais do capítulo

Escrever do ponto de vista da Hermione foi muito diferente de escrever do da Pansy, ao mesmo tempo que não (?). Pansy está mais imersa, ao mesmo tempo que mais confusa, sobre isso do que Hermione poderia estar. Além de que, eu, como a escritora, estou mais perto da mente de Pansy do que da de Hermione, que é bem mais objetiva. As vezes, estar tão imersa assim em algo deixa as coisas mais confusas do que deveriam. Há umas três ou quatro, até mais, ramificações de entendimento diferentes no capítulo de Pansy, enquanto no de Hermione é só uma, que talvez abranja a todos e esteja o mais próximo do correto. Eu não sei. Amo essa ambiguidade.

Meu único medo é ter diminuído as coisas. Disse nas notas do capítulo passado que “[...] mas quando pensava em como fazer isso, percebi que não conseguia.”; colocar em palavras, é o que eu quero dizer. Tenho medo de ainda não conseguir, de ter simplificado e tudo isso. Mas medo é algo que eu tenho que conviver haha não vou deixar que isso me impeça, porque, apesar de tudo, estou satisfeita. Estou feliz.

Escutem Saturn. Sério. É o que eu tenho a dizer.

E, agora sim, essa história se vai. Enquanto eu estava incomodada, sem saber o que estava faltando no último capítulo, agora vejo que não há mais nada a se extrair dessa história. Talvez as palavras não tenham se alinhado da melhor forma e talvez continue estranho e confuso — não sou capaz de uma visão imparcial para dizer com certeza — mas a essência se extraiu. Enquanto tenho planos para esse universo (há uma Drarry que eu escrevo que essas duas estão no plano de fundo e talvez se reúnam como um casal novamente em um pós-guerra; além de ter ideias não formadas para Blaise e Ron), não acho que haverá mais nada centrado na história das duas. Não é como se eu não fosse mais escrever nada sobre pansmione, mas essa Pansy e essa Hermione… não há mais nada para tirar delas. Não vejo o que mais poderia ter. Essa Pansy, como ela é (tão parecida com a minha própria bagunça) cresceu sozinha na outra fanfic e juntá-la com Hermione cresceu tão sozinha quanto. Sei que essa personalidade de Pans não é a encarada pelo fandom. O que eu posso dizer? Estou feliz com o que é.



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