Bakugou era uma pessoa orgulhosa até demais, isso era inegável. Chegava a ser assustador vê-lo sorrindo tão suavemente e compartilhando de conversas distraídas e tão naturais com outra pessoa que não fosse Kirishima.

Apesar daqueles que ainda estranhassem, o ruivo e o loiro tinham uma conexão esquisita, mas apreciável de igualdade e equilíbrio.

Contudo, aquela realidade – e não sendo com Eijirou – começou a acontecer a dois meses, desde que ele não tirou sua licença provisória para poder exercer o papel de um herói em sociedade devido suas notas baixas de resgate às vítimas.

Foi um balde de água fria, considerando o fato que praticamente todos – até mesmo os mais imbecis e que deveriam ter perdido a seu ver – passaram. Mas nem todos estavam nessa lista. E era essa exceção que estava tirando sorrisos recheados de leveza e risos sem maldade de Katsuki naquela tarde.

Todoroki mostrava vídeos de gatinhos fofos em uma rede social para Bakugou, muito deles fazendo algumas coisas ou muito adoráveis ou muito desastradas. O da vez era um filhotinho indo beber leite e sair com a cara completamente branca do líquido e molhado foi o ápice.

— Que merda, eles são muito idiotas. — Ele ria entre as palavras, encostando-se ao banco da praça vazia a não ser pelos dois.

A primavera estava bonita, todas as árvores em volta de ambos adolescentes cheias de cores e flores desabrochadas, no auge de sua beleza.

Os olhos heterocromáticos de Todoroki dividiam a atenção da tela de seu celular e olhar para Katsuki, com Shouto não sabendo qual era a cena mais encantadora. Talvez Bakugou estivesse ganhando com a ajuda daquele cenário em que flores rosa e laranja caíam atrás de si na grama local.

Já era difícil esconder o que seus olhos brilhavam em transparência, esboçando o que o coração jovem sentia a cada timbre e olhar rubro do loiro em seu lado.

Quase ninguém acreditou quando avistaram Bakugou e Todoroki trocarem algumas palavras e andarem juntos. Tudo começando com eles pegando o mesmo trajeto para os treinos pesados para a segunda chance que ganharam de tirar a licença provisória.

Seus curativos, o cansaço em excesso, a curiosidade e preocupação dos amigos sendo trocado por uma surpresa de vê-los começarem lentamente, mas significativamente, trocarem andares juntos.

O primeiro inconveniente fora Kaminari em companhia de Kirishima, necessitados de detalhes. Tais quais Katsuki não fazia a noção de que existissem.

Não estava se fazendo de sonso, tinha a perfeita noção da aproximação que tiveram de repente devido seus caminhos se cruzar, afazeres e até o mesmo almejo.

Fora sem qualquer malícia, Katsuki iria reclamar sobre o sol estar batendo no seu lado do ônibus quando voltavam de mais um treino, e, Todoroki distraído com seus fones de ouvido a tocar alguma playlist em seu celular, viu o incômodo dele.

Falar sobre o clima era o pior clichê possível de assunto, mas se iniciou ali.

Em um dia a estrela fora o tópico, no dia seguinte uma música no celular de Shouto, o qual dividiu os fones de ouvido no fundo do transporte público, não ligando para em como aparentavam.

Na outra semana trocavam assuntos rotineiros e acompanhavam um ao outro da escola para o treino sem mais nenhuma estranheza entre os dois. Bakugou não tinha deixado de se alterar com pequenas coisas ou fazer um circo por ver Deku o chamando de Kacchan e isso o transformar no Katsuki que conheciam.

Mas era impossível não dizer e ver que ele estava bem mais calmo.

A maioria tinha feito apostas em dizeres de que a calmaria duraria pouco, eles eram opostos demais para se misturarem. Eram como água e óleo, nunca se dariam.

Foi quando num dia, Kaminari em sua intromissão típica não segurou a língua.

"Ah, então vocês viraram amigos?" Kirishima estava interessado, conseguindo uma brecha finalmente para falar sobre aquilo.

Estavam na saída da escola e por algum milagre, Midoriya tinha puxado Shouto para algum assunto aleatório, ainda sendo possível vê-los um pouco mais ao longe.

"Tá de brincadeira? Você já viu o jeito que o Todoroki olha pro Bakugou?" Denki não soube frear as palavras, fazendo questão de apontar com a maior cara de pau para o bicolor do outro lado.

Conversava com Izuku, mas acabava revertendo seu foco para em direção deles, mudando o olhar em seguida. Suspeito, para dizer de forma suave e a olhos inexperientes.

"Vão caçar o que fazer e parem de encher a porra do meu saco" Foi somente o que Katsuki buscou dizer, perdendo a rara paciência em caminhar para ir embora, ignorando os protestos dos dois.

Não era um imbecil desligado, era óbvio que tinha percebido. Então o que ele fazia naquele banco de praça sentado junto dele? Precisava tirar a limpo aquele permanecer em cima do muro, era isso.

— Eles são adoráveis. — Shouto tentava achar outro vídeo, concentrado, não notando o olhar observador em si.

Ele não era o único que ficava com aquele olhar, mas mascarava o seu da melhor forma que sabia.

Os braços do loiro repousavam esticados e largados no encosto do banco que as costas de Todoroki não tinham contato. Ele sustentava uma pose tão neutra. Podia ter entendido errado? Não, com certeza não.

— Ei, meio a meio. — Bakugou resolveu terminar com aquilo logo, recebendo um encarar que tinha resquícios do humor de há pouco. — O que você acha que somos? — Foi direto. Não queria rodeios, odiava-os.

Shouto não teve reação de primeiro, parecendo buscar lógica no questionar em meio a nada do que faziam. Bem, até que tinha.

Estava se habituando ao fato que criou laços de amizade recentemente, lidando com eles lentamente, contudo, o maior sabia que com Katsuki tinha de algo diferente. Só faltava saber exatamente o quê.

— Amigos...? — Soou totalmente incerto, pensando a respeito ao juntar ligeiramente as sobrancelhas. Ele tinha notado algo? Não acreditava que Midoriya tenha dito.

— Você mente mal pra caralho com essa cara de sonso — disse num riso nasal. Deu uma olhada rápida ao redor, achando necessário ajeitar a falta de pingos nos i's entre eles. — Nós não podemos ser amigos.

Um vento mais forte que os de praxe que faziam as flores e folhas dançarem no parque atingiu os adolescentes. Os cabelos bicolores de Todoroki se bagunçaram em extremo, assim tapando sua visão para a aproximação que teve da parte de Katsuki para consigo nesse meio tempo.

Imaginava uma resposta parecida, só não esperava que tal tópico fosse ser trazido à tona.

— Não? Por quê? — Para não dizer que Shouto estava um pouco atônito, podia usar de querer saber os motivos alheios ao menos em sua forma impassível.

Sabia que chegar a Katsuki era tanto difícil, aqueles dois últimos meses passaram tão naturalmente que não o enxergava tão inalcançável como os outros. Tinha aprendido a lidar aos poucos com o jeito dele de mostrar interesse ou a falta desse com as coisas.

— Porque você não me vê assim, imbecil. — A mão atrás de Todoroki se moveu para os fios coloridos, aproximando o rosto dele para perto do seu, parando a poucos centímetros um do outro. O menor encarava-o em olhos rubros e sérios. — Nem eu a você.

O tempo de reação e absorção das palavras de Katsuki para Shouto fora praticamente zero. Em um momento sentiu dedos embromarem em seus cabelos, no outro, lábios macios num toque suave aos seus.

Os olhos não se fecharam de imediato, encarando a reação alheia mais de forma ansiosa do que avaliativa. A cabeça de Todoroki tinha parado por breves segundos enquanto que a de Bakugou preferia crer que não tinha feito bosta ao ter tomado aquela atitude impulsiva.

O corresponder positivo do rapaz bicolor fora sua resposta: um pressionar tímido e incerto, porém, a demonstrar que também queria aquilo. Seu cerrar de cílios claros fez Katsuki notar uma primeira vez estes, puxando inconscientemente os fios brancos em misturá-los aos vermelhos e vice-versa.

Droga, ele conseguia chamar atenção em cada detalhe, perdia-se nisso.

As bocas trocaram afagos sem um aprofundar, estalares baixos acompanhados de batidas em seus peitos fora de qualquer ritmo que existisse. O findar veio demorado, com Bakugou não tendo notado como as mãos de Shouto foram parar na barra de sua camisa escolar, apertando-a ao puxá-la levemente para si.

— Então... não podemos ser amigos? — Todoroki perguntou quebrando o longo silêncio que criaram, apreciando o “tsk” do loiro, do também rubor que compartilhavam em suas bochechas.

— Fica quieto — reclamou ao ver a feição de graça que o outro achava daquilo.

Não podiam se limitar a apenas somente uma coisa do que tinham a chance de ser, ainda mais se tratando de sentimentos. Seus olhos conseguiam falar mais que suas bocas e transparecer mais que o que seus corações teimavam em justificar somente como batidas desreguladas.

Eles não podiam se contentar com o “só”. E depois daquela tarde não iriam.