Café escrita por Phoenix


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Essa história é um presente de amigo secreto. Foi inspirada em um comercial que eu deixarei o link disponível no final.



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É dezembro e a cidade já está com aquele clima natalino, que eu não entendo muito. Não me leve a mal, mas não é estranho que as pessoas tornem-se mais amáveis e caridosas apenas nessa época? Bom, no fim é melhor que sejam boas, seja lá quando decidirem, não é mesmo? Enquanto isso vou fazendo minha parte sempre que dá. Como agora, deposito a minha nota diária na velha lata do morador de rua que sempre está na frente do café que costumo frequentar, e como de costume deixarei sua refeição paga.

Gosto desse café, principalmente porque o dono entende, fala minha língua e conhece minhas preferencias. O lugar é simples, mas aconchegante. São várias mesas enfileiradas uma atrás da outra ao lado da janela e um grande balcão que acomoda várias pessoas. Nas mesas existem um grande lustre com lâmpada, isso é bom para deixarmos ainda mais iluminado, ficando a escolha do freguês, na mesa têm guardanapos e molhos. Após observar esses detalhes, sinto a presença de alguém ao meu lado, ao levantar meus olhos, posso contemplar a figura mais bela e angelical que já vi na vida. Parece que trocaram o garçom e realmente não sei se isso é bom ou ruim.

Esse pensamento dura pouco tempo, afinal o dono do estabelecimento poderá me atender normalmente e felizmente já criei camadas de proteção contra relacionamentos. Já fui muito ferido no passado e, apesar de não carregar os fantasmas dessas pessoas comigo, tenho as cicatrizes que não me deixam esquecer. E elas já estão em alerta! Aceito o cardápio e sinalizo que depois farei o pedido. Vejo aquela bela figura feminina se afastando e cada vez mais tenho a certeza de que ela jamais me olharia com outras intenções, o que é bom.

Alguns minutos depois, faço o meu pedido para o dono do restaurante. Café e torta de frango, que chegam cinco minutos depois que pedi. E novamente, aquela bela mulher vem à minha mesa. Enquanto ela me serve, aproveito para ler as papeladas do trabalho, evitando contato visual com a garçonete. Finalizo minha refeição, deixo o dinheiro e sigo meu caminho como todos os dias, vou trabalhar e do trabalho sigo para casa. Já faz algum tempo que tem sido assim e assim continuará.

*

 

Já faz dez dias desde que a nova garçonete entrou no Café e eu me sinto ansioso para vir aqui. É tão esquisito, pois meu cérebro é completamente cético, mas porque meu coração insiste em acelerar quando sinto o perfume doce dela? Alguém consegue me explicar a razão de gostar do All Star preto dela, sendo ele tão comum? É normal achar que ela fica tão bonita com os cabelos presos e usando esse jeans surrado? Só posso estar ficando louco!

Ela sempre me trás o cardápio, e eu sempre sinalizo que pedirei depois. Sempre peço café e torta de frango e sempre peço ao dono do local, pois, como já contei, ele conhece minhas necessidades. E sempre, sempre é ela quem trás o pedido, e nunca, nunca a olho nos olhos, tendo em vista que ela pode destruir minhas camadas de proteção e roubar meu coração. E pior, pode roubar, sem intenção de quere-lo para si, afinal não seria qualquer pessoa a querer ficar comigo, eu sei muito bem disso.

Enquanto meu cérebro e meu coração lutam para entrar em acordo, vou seguindo minha rotina. Nota na lata do morador de rua, pagar a sua refeição, beber café e comer torta, admirar de longe a garçonete, ir trabalhar e voltar para casa. Todos os dias.

*

 

Quanto tempo levamos para nos apaixonar? Existe um tempo ideal ou específico?

Já estamos no décimo sétimo dia e me sinto maluco! Confesso que enquanto ela faz suas tarefas diárias eu a observo. Já a vi lavando a louça inúmeras vezes e sei que ela começa com os pratos, seguido dos copos e talheres. Ah! Ela sempre retira a sujeira com a água primeiro, o que considero um desperdício, enquanto ela mexe a boca diversas vezes cantarolando algo, mas eu não sei o que é.

Hoje é um dia diferente, tem um pedestal com microfone e pelo que parece, ela vai cantar. Eu não entendo o que ela canta, pois é em outra língua, contudo posso sentir as vibrações da melodia dentro de meu corpo, como se estivesse vindo diretamente ao meu coração. Por isso, aprofundo-me ainda mais na papelada do meu serviço, meu pobre coração não aguentaria encarar tal cena de frente.

Vocês percebem? O que uma garota tão adorável e que ainda canta faria com um cara como eu? Alguém que não é capaz de apreciar sua arte, pois jamais a compreenderia e ainda por cima cheio de questões a lidar, eu deveria deixar essa paixão platônica de lado de uma vez. Inclusive, o mais importante seria a reciprocidade do sentimento, o que aqui claramente não acontece. Será que algum dia ela me enxergou?

*

 

Hoje é véspera de Natal. Sim, eu sei que é estranho, mas tenho muito trabalho a fazer e precisei vir ao escritório, não tem jeito é meu dever. Como sempre, sigo minha rotina. Deixei uma nota de maior valor para o morador de rua junto de um presente: um kit de roupas, sapato e cobertor. Ele ficou muito emocionado e confesso que fico também, porém como sempre, não deixo que transpareça. Entro e o clima está diferente, tudo mais enfeitado e bonito e como de costume, ela está lá, linda, cheirosa, de jeans e All Star, lavando a louça com a sua forma esquisita de todos os dias.

Estranho ela não vir me trazer o cardápio. Então as luzes se apagam e apenas uma ilumina a linda garçonete. Em outra ocasião, não a olharia, entretanto apenas a luz da minha mesa se acende.

Meu coração parece querer saltar do meu peito, o que será que aquilo significa?

Ela cantará outra canção e qual será o motivo dessa mudança?

Estou atento e ela começa cantando a canção na minha língua. A língua de sinais.

A letra diz:

Você ilumina todo esse lugar,

(como eu poderia ilumina-lo?)

você nem imagina o quanto

(será que ela não sabe o quando ilumina meu dia?)

e a única coisa que eu posso fazer,

É deixar você em paz.

(por favor, não deixe)

Não me traga flores,

 Você se preocupa demais

Oh, meu amor,

Saber que você me vê

( – Sim, te vejo, respondo a ela)

É o suficiente.

 

Podemos dançar pela cozinha,

Com luz de velas,

Você pode me fazer um anel

Com a tampa de uma garrafa de leite.

Quando o dinheiro acabar,

E o sentido das coisas talvez parem.

 

Mas você ilumina todo esse lugar

(desde quando ela me vê assim?)

E você nem faz ideia,

Então tudo que posso fazer,

É deixar você em paz.

Amor, quem precisa de chocolate,

Champangne e todas essas coisas?

Oh, meu amor

Saber que você me ama me basta.

É inacreditável saber que eu poderia iluminar o dia dela, da mesma forma que ela ilumina o meu.

Depois daquela emocionante apresentação todos a aplaudem, eu a chamo para sentar-se comigo e conversar. Ela aceita e com um pouco de dificuldade me conta que desde o primeiro dia olhou para mim, mas eu não correspondia. Ela se chateou por todas as vezes que cantou e eu não a olhei, então um dia me viu conversando com um amigo que também é surdo e entendeu tudo. Nesse mesmo dia o morador de rua veio pedir a refeição que eu sempre pago, mas eu havia esquecido (e nem me dei conta disso), ele ia embora, mas a garçonete pagou sua refeição, quando o homem foi embora, ela percebeu um livro que ele esqueceu e era introdução a língua de sinais, faz cinco dias que está treinando e por isso ainda tem dificuldade, entretanto se matriculou em uma escola para aprender.

Anotei seu número e continuamos a nos comunicar. Além de bonita, é carismática, divertida e muito bondosa. Eu já desejei muitas coisas no Natal, já quis inúmeros presentes desde minha infância, mas nenhum se igualou a saber que alguém que eu observava, me olhava também, e que assim como eu notei as particularidades dela, ela notou as minhas, indo além, ela se adaptou a mim.

*

 

E assim tem sido. Cada dia mais, aquela linda garçonete remove cada uma de minhas camadas, curando cada uma de minhas cicatrizes. Como um verdadeiro milagre de Natal.


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Notas finais do capítulo

A história foi baseada nessa propaganda: https://youtu.be/q6KAR_FeABs


Assista para entender quem é o morador de rua!

Minha amiga secreta é...


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Espero que tenha gostado!



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