Num Ano Qualquer escrita por Sak Hokuto-chan


Capítulo 3
Num Ano-Novo Qualquer III


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos ao Orphelin, o carneiro-beta, pelas múltiplas³ revisões.



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Num Ano-Novo Qualquer

Parte III

Passar a manhã no mercado, às vésperas do Ano-Novo, era um programa péssimo. Ter Aiolia resmungando sobre a quantidade de pessoas no local e sobre a maioria delas estar secando Mu não ajudava. Tal rabugice só podia ser o jeito dele demonstrar que não estava feliz por ter sido acordado tão cedo.

Se bem que Aiolia vivia achando que todo mundo admirava demais a sua suposta beleza exótica. Era a beleza atlética dele que atraía olhares alheios, isso sim. O problema era que ele discordava.

Mu passou a fila do caixa inteira com a cabeça abaixada para evitar chamar qualquer atenção que piorasse o momento. Mal reparou no trajeto de volta para casa, mas, assim que entrou na cozinha, não perdeu tempo em retomar os preparativos para a festa.

— Eu vou preparar o vasilopita.— Mu trançou os cabelos e arregaçou as mangas da blusa. – Você termina de arrumar a sala. Guarde os objetos em seus devidos lugares. Eu deixei meu quarto em ordem, não se atreva a esparramar tudo por lá.

— Okay. – Aiolia colocou o infame avental lilás com estampa de carneiro em Mu, mas não se moveu.

— Pare de ficar me encarando com esse sorriso bobo e vá logo.

Mu cozinhou em paz por meia hora. Até que o ruído de algo caindo tirou sua concentração. Hum, fosse o que fosse, não valia a pena se manifestar. Já tinha caído mesmo.

Uma sequência de baques se seguiu. Certo. Mu inspirou o aroma doce do bolo assando. O que esse ser abençoado estava aprontando?

— A estante me atropelou, daí uns livros me atacaram feito um bando de selvagens. – Aiolia voltou para a cozinha e parou atrás de suas costas, tão próximo que quase dava para sentir o corpo dele. – No final, eu venci. Você não vai ser atacado também.

— Meu herói. – Mu desviou para o lado. Já tinha um longo histórico de distrações na cozinha, causadas por Aiolia, e este não era um dia em que podia arriscar deixar algo queimar. – Nem vem. Ainda vou preparar outros pratos.

— Hmph, e o que eu faço agora?

— Dê um jeito no seu covil. Faz um mês e pouco que nos mudamos para cá e você nunca o organizou.

Graças aos céus por terem concordado em manter quartos separados por causa de seus estilos diferentes. Não que isso os impedisse de dormirem juntos no quarto de Mu, claro.

Naah, vou levar eras pra arrumar.

É claro que demoraria. O quarto de Aiolia parecia uma área de diversões. Mu não permitia tecnologia no local onde dormia, de modo que computador, videogames e TV estavam no covil dele.

— Não posso trancar a porta e pronto?

— Não. Como lá é a central de entretenimentos, imagino que vá ser o cômodo interessante para o pessoal. Além disso, seria ótimo começar o ano com a casa inteira livre de desordem.

E um alívio. Toda vez que entrava lá era atingido pela sobrecarga sensorial do lugar repleto de informações. Só não havia roupas amontoadas no chão porque Mu o adestrara sobre como lidar com elas.

Aiolia coçou a nuca, fazendo careta e emanando contrariedade. 

— Lembre-se de que se fizer tudo direitinho, ganhará alguns amassos em um…

O atrevido disparou escada acima.

— … momento adequado. Hey!

*

Passar a tarde inteira e boa parte da noite ajudando Aiolia com o quarto era um programa terrível.

Parecia demais um covil, escuro e fechado, com cheiro de pipoca no ar e migalhas no chão. Pôsteres de bandas de rock cobriam as quatro paredes; jogos e mangás se empilhavam nas superfícies; dava para encontrar baquetas e palhetas em todos os cantos.

Mu estremeceu. Tanta bagunça! Encontrou até a lista de compras perdida ali. Seus músculos doíam de tanto mover objetos. A organização os deixou com menos de uma hora para se prepararem antes dos amigos chegarem.

Para completar, Aiolia resolveu cobrar os amassos no meio do banho. Ou seja, Mu corria, terminando de se trocar, quando bateram na porta. Mu precisou atender ainda ofegante, com os cabelos úmidos e o rosto acalorado.

Máscara da Morte o encarou de cima a baixo.

— Alguém acabou de ter a última rapidinha do ano, hein?

*

Mu expirou o ar gelado devagar, formando uma fumacinha branca na noite. Parado no jardim, mal conseguia acreditar que sobrevivera à véspera de Ano-Novo sem grandes danos. Em termos. Aiolia poderia aparecer com alguma novidade a qualquer instante.

— Por que está aqui sozinho? – Aiolia envolveu sua cintura com um braço. – Tem uma festa rolando ali dentro, sabe? Sua presença é apreciada.

— Oh, estou descansando. Tentando me recuperar da correria do dia. E você? Por que veio aqui fora?

— É que o Kanon resolveu me perseguir dizendo coisas bizarras.

— Tipo?

Ai-chan, você deveria me chamar de sensei. – Aiolia bufou. – Quem, em sã consciência, faria isso?

— Bem, faz sentido. Você confabulava com o Kanon o tempo todo quando era mais novo. Lembro, pois o Aiolos reclamava bastante disso. – Mu encostou a cabeça no ombro dele. – Você deve ter adquirido vários aprendizados com ele.

Era tão estranho. Afinal, aquilo começou quando Aiolia tinha doze anos, ou seja, Kanon tinha uns dezessete. O que eles poderiam ter em comum na época? Quando Mu virou alvo do interesse de Aiolia, ele estava com quinze. Quanto Kanon já teria influenciado no comportamento dele? Talvez até Saga, na versão alterada, tivesse se envolvido.

— Ehh, qual é? Eu vivia na casa dos gêmeos por causa do Aspros e do Defteros.

Apenas pelos gatos?

— Lógico. Enfim. – Aiolia fez um gesto de dispensa com a mão. – Eu estava comendo os cereais e…

— Por favor, não me diga que você serviu os benditos cereais coloridos na festa.

— Não viaja. Foi durante a pausa que a gente fez. – Aiolia procurou algo no bolso dos jeans. – Isso veio de brinde na caixa.

Era um anelzinho de plástico roxo. Será que Aiolia já estava embriagado e pretendia encenar um pedido de casamento com isso? Pelo tamanho, nem serviria em seus dedos.

— É por você ter concordado com a festa. – Aiolia segurou sua mão e deslizou o anel pelo dedo mínimo com tanta dificuldade que emperrou entre as falanges. – Pra você saber que estou consciente do trabalho que dei hoje e acho incrível você não ter reclamado de nada.

Oh, Mu o encarou. Três anos antes, Aiolia não teria se importado. Ou teria, mas não admitiria.

— Você pensou nisso agora, não é?

— Aff, você e suas injustiças. Eu comprei aqueles cereais pensando nisso.

Mu estreitou os olhos para ele.

Okaay, eu teria comprado de qualquer forma porque são meus favoritos. Você entendeu, vai.

— Sim, terei este símbolo da sua conscientização por toda a eternidade. Isso nunca vai sair de mim. – Mu puxou o anelzinho em vão, era tão absurdo ter isso entalado em seu dedo que sorriu. – Você tem cada ideia.

— Ué, você está legal? Cadê o peteleco? – Aiolia apontou para a própria testa. – Vai aceitar assim, de bom humor?

— Acho que não tenho opção, tenho?

— Sei lá. Acha que o Afrodite aceitaria? Acho que tentaria me fazer engolir esse anel. Você deve me amar pra caramba. Se aceita um negocinho de plástico sem criticar, vai aceitar qualquer coisa, né?

— Também não é assim.

— Em relação a presentes, quero dizer.

— Hmm… – O anel não poderia ser chamado de fascinante, porém, considerando que Aiolia nem de longe era uma pessoa romântica, o gesto era adorável. – Espera. Isto, por acaso, era um teste para ver minha reação? Você tem outro presente para mim?

Uma gargalhada alta e sinistra reverberou pela casa afora, disparando um arrepio pelas costas de Mu.

— Putz, o lado B do Saga resolveu se manifestar. Melhor a gente entrar.

— Você não me resp–

— Olha! – Aiolia esticou o braço para o céu. – Está nevando.

Mu comprimiu os lábios, mas não insistiu. Ergueu a cabeça para os flocos que caíam.

Uma altercação dentro da casa interrompeu sua contemplação.

Milo e Shina exclamaram pega ele! várias vezes. Um barulho de passos acelerados teve início. Aiolos gritou que queriam matá-lo. Aldebaran anunciou, em um tom alto e claro, que os coquetéis estavam prontos. Diversas vozes desataram a falar ao mesmo tempo e não foi possível compreender nada.

Por fim, a voz de Shion se impôs sobre as demais, pedindo silêncio, e os sons sumiram.

Apesar de estarem do lado de fora, Aiolia e Mu se entreolharam e não ousaram dizer uma palavra.

Shion queria saber onde estavam os anfitriões. Um dos gêmeos insinuou que eles deveriam estar se pegando em algum canto da casa. Isso causou uma risada tão forte em Máscara da Morte que Mu fez questão de encarar Aiolia. Ele apenas encolheu os ombros, exibindo um sorriso para lá de culpado.

Pelo menos Shaka teve a sensatez de dizer que era quase meia-noite e, portanto, era provável que eles estivessem no jardim.

Alguns fogos de artifício adiantados estouraram ao longe, enchendo o céu escuro de fagulhas coloridas. Antes que o pessoal se juntasse a eles, Mu aproveitou para abraçar Aiolia. Ele lhe deu um beijo cálido e firme na boca.

— O último ano foi uma droga até a gente vir morar junto. Pra compensar, este vai ser o melhor ano da sua vida!

— Convivendo com você no dia-a-dia? – Mu fitou de soslaio o anel de plástico roxo apertado em seu dedo. – O melhor e mais imprevisível, com certeza.

*


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Notas finais do capítulo

Bem, a ficlet de Ano-Novo acaba aqui, então o próximo capítulo já será outra situação nesse ano da vida deles (hmm, Valentine's Day?). Acho que essa foi leve, mas percebam que o Aiolia já está com novas ideias... '-'

Obrigada pelas reviews: Suh Domingues, Orphelin, Angélica, Wolf White e Svanhild ♥

Que tal este capítulo? :3



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